LANÇAMENTOS
Depois do Prêmio Nobel de
Literatura, o próximo livro de Jon Fosse no Brasil.
Neste breve romance em que a
atmosfera onírica se mescla à transcendência, um homem começa a dirigir sem
rumo e, desconhecendo as próprias motivações, conduz seu carro até uma
floresta. Logo escurece e começa a nevar. Obedecendo à lógica trágica e
misteriosa que opera nos pesadelos — ou no encontro inescapável com o destino
—, em vez de procurar ajuda, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se
depara com um ser de brancura reluzente. Como as vozes que o protagonista
escuta em sua errância, tudo nesta breve narrativa é ao mesmo tempo estranho e
excessivamente familiar. Num jogo de claro e escuro, concreto e sublime, Jon
Fosse tensiona a escrita num fluxo de consciência que escala depressa para uma
voltagem inesperada, tragando o leitor e fazendo-o experimentar fisicamente a
radicalidade de seu projeto literário. Considerado um dos maiores escritores
europeus da atualidade, frequentemente comparado a Beckett, Ibsen e Bernhard,
Fosse é dono de uma vasta obra que se debruça sobre questões existenciais como
a morte, o amor, a fé e o desespero. Sua escrita é construída de modo a
replicar o ritmo e a repetição de uma oração, e a precisão obsessiva de seu
trabalho fez com que ele ultrapassasse os limites do estilo para forjar algo
próximo de uma nova forma literária, na qual a relação com a metafísica vai além
do conteúdo, inscrevendo-se também na composição formal. Por isso, a
experiência de ler seus livros é comparável à da meditação. A singularidade da
voz de Fosse também se deve ao fato de que ele é um dos poucos autores a
escrever em neonorueguês, ou nynorsk — variante minoritária da língua, uma
compilação de dialetos falados sobretudo na costa da Noruega e criada em meados
do século 19, durante o nacional-romantismo.
Brancura é a primeira obra
de Jon Fosse após
Septologia, o monumental romance que o consagrou como
um clássico contemporâneo. Meticulosamente traduzido por Leonardo Pinto Silva,
que soube preservar o lirismo e a oralidade do idioma original, esta breve
narrativa é uma excelente porta de entrada para a literatura do maior autor
norueguês vivo e uma experiência literária única. O livro sai pela editora
Fósforo.
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Um novo romance do premiado
escritor chileno Benjamín Labatut.
Um menino-prodígio húngaro se
encanta com o tear mecânico que o pai, um rico banqueiro judeu, mostra em casa
para a família. A máquina é capaz de produzir tapeçarias automaticamente a
partir de cartões perfurados, e o menino percebe que “qualquer padrão, fosse
natural ou artificial, poderia ser decomposto e traduzido para a ‘linguagem’ do
tear”. Décadas mais tarde, trabalhando para o governo americano no despertar da
Guerra Fria, aquele menino inventaria algo capaz de “transformar todas as áreas
do pensamento humano e agarrar a ciência pela garganta, liberando o poder do
cálculo ilimitado”: o primeiro computador digital. O menino é o matemático John
von Neumann, personagem central deste novo romance de Benjamín Labatut. Além de
inventar o computador moderno como o conhecemos, Von Neumann contribuiu para os
fundamentos da física quântica, teve importante participação no Projeto
Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica, e foi um dos criadores da teoria
dos jogos, que exerceu enorme influência em áreas como a economia e a
inteligência artificial. Ao se debruçar sobre a trajetória conturbada de uma
das maiores mentes que o mundo já viu, Labatut está menos interessado em
exaltar um gênio particular do que em desvelar as consequências perturbadoras
de uma quantificação excessiva do mundo, que em Von Neumann tinha a
contrapartida de uma “quase infantil cegueira moral”, capaz de ver
inevitabilidade lógica no apocalipse nuclear ou na nossa substituição por
máquinas autorreplicantes que se espalhariam pelo cosmo. Narrado do ponto de
vista de uma ampla galeria de figuras reais que determinaram os rumos do
conhecimento no último século, e trazendo a hipnotizante modulação entre
realidade e invenção que deu fama mundial a Labatut,
MANIAC é um
thriller sobre o passado e o futuro de uma humanidade que teve a alma capturada
pelo feitiço das operações matemáticas. Não por acaso, os eletrizantes
capítulos finais, em que humanos e computadores se enfrentam em partidas de go
pela supremacia das faculdades do raciocínio, têm algo da tensão pesarosa de um
julgamento. Com tradução de Paloma Vidal, o
livro sai pela editora Todavia.
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Outro épico de Victor Hugo em
nova tradução e edição no Brasil.
Noventa e três, publicado
originalmente em 1874, depois do levante da Comuna de Paris, é um épico de
Victor Hugo sobre a Revolução Francesa. Nome maior do romantismo francês, o
escritor traz uma vez mais as contradições que fizeram de seus personagens o retrato
fidedigno da humanidade. O romance conta a história de um trio durante as
revoltas contrarrevolucionárias de 1793, período correspondente à Convenção.
Lantenac, o homem do rei e de uma França prestes a deixar de existir para
sempre; Cimourdain, ex-padre e um implacável gênio da revolução; e Gawain,
sobrinho de Lantenac e herdeiro espiritual de Cimourdain. Dividida em três
partes, cada uma com visões diferentes daqueles eventos, a história tem como
palco, principalmente, a Bretanha e Paris. A tarefa de Victor Hugo, já no
crepúsculo de sua longa trajetória, de escrever este que foi seu último
romance, era considerada por ele necessária e, ao mesmo tempo, impossível.
“Impossível, a menos que você adicione o sonho”, revelou o monumental autor. Com
tradução de Mauro Pinheiro, o livro pela editora Estação Liberdade.
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O primeiro volume da adaptação
para os quadrinhos de O nome da rosa
, obra-prima de Umberto Eco.
Uma verdadeira obra de arte, a
adaptação utiliza diferentes estilos gráficos em busca da perfeição visual para
tecer comentários sobre nosso tempo e sobre o passado, com suas maravilhas
esculpidas em pedra e eternizadas em tinta. Cada estilo retrata uma dimensão do
livro de Eco: as esculturas, os relevos dos portais e as maravilhosas e
surreais iluminuras dos livros da biblioteca; o romance de formação de Adso,
com a descoberta da sensualidade e da Mulher; e a história de vida dos
dolcinianos, cujos valores de pobreza, não conformidade e dissidência são
cruciais até hoje. É a Idade Média como nunca vista. O frade franciscano
Guilherme de Baskerville chega, em 1327, acompanhado pelo noviço Adso de Melk,
a uma abadia de monges beneditinos para investigar uma suspeita de heresia, mas
tem seu trabalho interrompido por uma série de assassinatos misteriosos.
Enquanto Guilherme investiga e se aproxima da perigosa verdade, seu jovem
aprendiz descobre os segredos de um mundo obscuro e repleto de sensualidade.
O nome da rosa de Manara encontra espaço na matrioska literária de
Umberto Eco, que é também um livro sobre livros que contêm outros livros. Essa
adaptação para os quadrinhos não é, desta forma, uma simples transcrição de um
texto para outro meio, mas um acréscimo de uma nova dimensão à obra original,
publicada em 1980. O primeiro volume sai com tradução Raphael Salomão Khède
pela editora Record.
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A Tinta-da-China Brasil inicia
uma nova coleção em parceria com o Programa de Internacionalização Capes‑Print
entre a Universidade NOVA de Lisboa e a Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro; dois livros chegam agora:
1.
A parte maldita brasileira,
de Eliane Robert Moraes. Com os olhos voltados para a literatura brasileira de
fins do século XIX até os nossos dias, o volume reúne os ensaios que marcam a
notável trajetória de Moraes como crítica literária. Machado de Assis, Hilda
Hilst, Nelson Rodrigues, Roberto Piva e Reinaldo Moraes são alguns dos nomes
aos quais a ensaísta dedica sua reflexão, inspirada pelas concepções de Georges
Bataille em torno da falta e dos excessos.
Desse percurso tão original quanto rigoroso
resulta uma contribuição definitiva para o reconhecimento do lugar do erotismo
no cânone literário brasileiro.
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2.
Não escrever [com Roland
Barthes], de Paloma Vidal. Depois de publicar ensaios sobre a escrita e
teorizar a morte do autor, o crítico francês Roland Barthes quis escrever um
romance. Enquanto se lançava à tarefa, refletia sobre esse desejo num curso no
Collège de France. A obra,
Vita Nova, ficou no esboço. O que o levou a
não escrever? Esse é o ponto de partida de Paloma Vidal. Aproximando-se da
rotina, das buscas, dos medos, do corpo e da obra de Barthes, ela se lança numa
investigação que navega entre a criação e a reflexão. A poesia contracena com a
teoria para dar corpo a este livro, que reúne textos produzidos nos anos 2010,
seja em formato de diário, seja em formato de palestra-performance. Tais
palestras foram apresentadas em diferentes universidades e outras instituições,
e seu registro em livro guarda marcas dessa experiência performática.
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A aclamada trilogia
autobiográfica de Tove Ditlevsen chega enfim ao Brasil.
Trilogia de Copenhagen é a
obra-prima de Tove Ditlevsen (1917-1976), uma das principais vozes da
literatura dinamarquesa do século XX, e reúne três volumes autobiográficos. Em
“Infância”, acompanhamos a história dos primeiros anos da escritora, que
cresceu em um bairro operário e sonha em se tornar poeta. “Juventude” descreve
suas primeiras experiências sexuais e profissionais e a conquista de sua
independência. No terceiro volume, “Dependência”, Tove já é conhecida nos
círculos literários — mas sua vida pessoal entra em colapso com casamentos
conturbados e o vício em opioides. Ao longo de todo o livro, está
presente o embate entre a vocação literária de Tove e as expectativas
reservadas a uma mulher de classe trabalhadora. Sucesso internacional de
público e crítica, a
Trilogia pode ser considerada uma antecessora
intelectual e temática da obra de Annie Ernaux e Elena Ferrante, destacando-se
por sua honestidade brutal e pela representação das amizades femininas. Tradução
de Heloisa Jahn e Kristin Lie Garrubo; publicação da Companhia das Letras.
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A Ateliê Editorial em coedição
com Edições Sesc publicam História do livro e da edição: produção &
circulação, formas & mutações
, do bibliotecário e historiador francês
Yann Sordet, cuja tradução é de Antonio de Padua Danesi.
Dividido em sete partes, o volume
aborda a evolução do livro por mais de três milênios, passando por diversas
épocas importantes do mundo, como Renascimento, Idade Medieval, pré e pós
Gutenberg, Humanismo, Revolução Francesa, entre outros. Sordet, em um estudo
complexo e admirável, também aponta os mecanismos e estruturas do livro através
dos séculos. A obra, que faz parte da Coleção Artes do Livro, vem com
ilustrações e conta com o projeto gráfico de Gustavo Piqueira, da Casa Rex. A
edição da Ateliê Editorial e Edições Sesc sai com o prefácio “Uma história do
livro à moda francesa”, da professora e pesquisadora Marisa Midori Deaecto, e o
posfácio do historiador cultural e bibliotecário estadunidense Robert Darnton,
que escreveu: “Este livro se lê de duas maneiras: de ponta a ponta, ao longo de
uma narração que retraça a evolução do livro através de três milênios, e como
manual em que o especialista ou o simples curioso pode se abeberar,
informando-se sobre assuntos precisos a partir de um sumário bem detalhado ou
do índice remissivo”.
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REEDIÇÕES
Mais um título do catálogo da
extinta Cosac Naify sai pela Editora 34.
Ivan Turguêniev (1818-1883) é
considerado, ao lado de Dostoiévski e Tolstói, um dos três grandes romancistas
russos do século XIX. Diferentemente do mergulho na psicologia humana
empreendido pelo primeiro e dos grandes painéis históricos retratados pelo
segundo, Turguêniev se notabilizou pela delicadeza de sua escrita e uma
incrível capacidade de revelar, sem panfletarismo, as estruturas mais profundas
da sociedade de seu país. Publicada em 1857, a novela
Ássia é um dos
exemplos mais acabados de seu talento. O enredo aparentemente singelo — em que
um nobre russo viajando pela Alemanha faz amizade com um casal de irmãos,
também russos, e se apaixona pela irmã mais nova, Ássia — traz, em uma camada
mais profunda, uma discussão sobre as relações entre as elites do país e os
servos emancipados. Ao mesmo tempo, o livro aborda o tema do “homem supérfluo”,
já presente em outras obras deste autor que analisou, com agudeza ímpar, aquela
geração de jovens da nobreza russa que tinha grandes ideais, mas era incapaz de
colocá-los em prática. No posfácio ao volume, a tradutora Fátima Bianchi,
professora da Universidade de São Paulo, aponta os fortes elementos
autobiográficos inscritos na narrativa, e demonstra que esta novela concisa
ocupa um lugar central na vida e nos processos de criação literária de
Turguêniev.
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A editora Hedra reedita O
Rabi de Bacherach e três artigos sobre o ódio racial.
O texto que dá título a esta
edição é um “fragmento de romance” publicado em 1840 e o ensejo imediato para a
narrativa, que pretendia ser um romance histórico, foi a a intenção de Heine de
contrapor-se à escalada de antissemitismo que se manifestava então na Alemanha.
Rabi de Bacherach é situado no final do século XV, mas o narrador
remonta também a séculos anteriores para tocar nas raízes históricas do
antissemitismo na Alemanha. Apesar de seu entusiasmo pelo projeto, Heinrich
Heine não conseguiu vencer a amplitude e a aspereza do assunto. Entretanto, mesmo
em seu caráter fragmentário, a obra constitui expressivo exemplo da arte
narrativa de Heine e é o documento mais elucidativo de sua flutuante relação
com o judaísmo. Os três textos publicados como apêndice enfocam a questão do
fanatismo religioso e foram extraídos do volume
Lutetia, em que Heine
enfeixou 61 artigos escritos em Paris entre fevereiro de 1840 e maio de 1844,
bem como quatro artigos dos anos 1843 a 1846. Organizado e traduzido, o livro,
por Marcus Mazzari.
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RAPIDINHAS
Jon Fosse por vir 1. A
Companhia das Letras, que publicou recentemente o romance
É a Ales do
agora Prêmio Nobel de Literatura, promete para o ano seguinte outro livro do escritor,
Trilogia. São
três novelas de inspiração bíblica sobre o amor, o crime, o castigo e a
redenção.
Jon Fosse por vir 2. A editora
Fósforo anunciou duas antologias: uma reunindo uma amostra da poesia e outra
com algumas peças do escritor. Pela mesma casa, planeja-se a publicação do
romance
Septologia, mas só em 2025.
Uma nova caixa para Graciliano.
A Record reúne três dos principais romances do escritor em novas edições com pintura
trilateral e texto inédito do professor Ivan Marques. Os livros reeditados:
São
Bernardo (1934),
Angústia (1936) e
Vidas secas (1938).
PRÊMIO LITERÁRIO
Jon Fosse, Prêmio Nobel da Literatura de 2023.
Jon Fosse nasceu em Haugesund, Noruega, em 1959. Destacado dramaturgo,
ele estreou na literatura como romancista, mas tem publicado conto, novela,
poesia e ensaio, reunidos em mais de seis dezenas de livros. Dentre os títulos,
destacam-se os romances Septologia, série em sete partes considerada
pela crítica sua Magnum Opus, e Trilogia; e as peças Draum om hausten
(Sonho de outono), Namnet (Nome) e Ein sommars dag (Um dia, no
verão), para citar algumas das já encenadas no Brasil. Por aqui, saiu até 2023,
três livros: o díptico Melancolia, É a Ales e Brancura. No
anúncio da Academia Sueca, o prêmio é atribuído “por suas peças e prosa
inovadoras que dão voz ao indizível”.
RARIDADES
Um datiloscrito original de
Histórias de cronópios e de famas
revela sete textos inéditos do escritor
argentino Julio Cortázar.
O material é uma versão original
do livro; do conjunto de 46 contos, 35 saíram na primeira edição do livro em
1962 pela Editorial Minotauro e 4 foram incorporados noutras obras posteriores.
O datiloscrito batido à máquina Royal vai a leilão pela casa argentina Hilario.
Os inéditos são intitulados como “Inventário”, “Carta de uma fama a outra
fama”, “Mariposas automáticas”, “As viagens e os sonhos”, “Diminuto unicórnio”,
“Raiva de espelho” e “Rei do mar”.
DICAS DE LEITURA
Em rescaldo da atribuição do
Prêmio Nobel de Literatura, evento acontecido no último dia 5, resolvemos
destacar nesta seção três títulos de escritores que também receberam o galardão
e publicados recentemente entre os leitores brasileiros.
Na aquisição de
qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e
ainda ajuda a manter o Letras.
1.
Cena de um crime, de Patrick
Modiano (Trad. Ivone Benedetti, Record, 136 p.) O escritor francês investe aqui
na forma do romance policial para revelar os muitos estratos dos legados aterrorizantes,
ameaçadores e trágicos daqueles anos de infância recuperados pela memória fugidia.
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2.
Escrever é muito perigoso,
de Olga Tokarczuk (Trad. Gabriel Borowski, Todavia, 264 p.) Enquanto esperamos
o melhor da obra da escritora polonesa ser traduzido no Brasil, alimentamo-nos
com algumas migalhas e esta é feita de bons pedaços: doze textos, incluindo o
discurso de recepção do Prêmio Nobel, em que a escritora discorre sobre seu
processo criativo e algumas das urgências do mundo em curso.
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3.
Para isso fui chamado, de
Czesław Miłosz (Trad. Marcelo Paiva de Souza, Companhia das Letras, 280 p.) Esta
antologia organizada também pelo tradutor reúne poemas selecionados desde o
livro de estreia de Miłosz, publicado em 1933, aos escritos dos anos 2000.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Recentemente o
Suplemento Pernambuco
publicou trechos da correspondência de Katherine Mansfield; trabalho e
comentário de Talissa Ancona Lopez que podem ser lidos
aqui.
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