Boletim Letras 360º #551

Nelson Rodrigues. Foto: Arquivo O Globo


LANÇAMENTOS
 
Livro reúne 25 histórias inéditas de A vida como ela é..., de Nelson Rodrigues.

O escritor brasileiro estreou a coluna A vida como ela é... nos anos 1950 já com grande sucesso. Essas histórias de ciúme, obsessão, dilemas morais, inveja, desejos desgovernados, adultério e morte fascinaram os leitores da época e continuaram fazendo sucesso durante mais de setenta anos, provando ser um verdadeiro clássico. A popularidade dos textos é tamanha que sofreu inúmeras adaptações, passando das páginas do jornal a programa de rádio, fotonovela, filme, peça de teatro e até seriado para a televisão. A Nova Fronteira reuniu numa coletânea 25 histórias que permaneceram inéditas em livro. Você pode comprar o livro aqui.
 
Colm Tóibín elabora um retrato ficcional da vida de Thomas Mann.
 
Crescendo entre os privilégios burgueses da Alemanha do início do século XX, o jovem Thomas Mann começa, não sem dificuldades, a embarcar na carreira literária. Sua sensibilidade artística é acompanhada por uma forma intensa e apaixonada de vivenciar as relações. O casamento com Katia — herdeira de uma rica família judia de Munique — parece apaziguar as energias criativas de Mann, trazendo-lhe seis filhos e uma estrutura doméstica que o desviava do estigma que à época sua homossexualidade atrairia. No entanto, seus anos de fama coincidem com a ascensão de Hitler ao poder. A antecâmara da Segunda Guerra Mundial e do nazismo é para o autor e sua família o início de um exílio que os levará da Alemanha aos Estados Unidos, passando por Suíça, França e Suécia. Enquanto o protagonista continua se interrogando sobre a natureza, a autenticidade e a adequação das próprias ideias e emoções, retornará à sua pátria — e a encontrará desfigurada pelo horror irreparável da guerra. O mágico sai pela Companhia das Letras; tradução de Christian Schwartz e Liliana Negrello. Você pode comprar o livro aqui.
 
A nova tradução de uma das mais célebres novelas de Liev Tolstói.
 
Já na primeira página Ivan Ilitch morre, irremediavelmente. Os colegas de trabalho pensam que agora seu cargo estará vago, Praskóvia Fiódorovna pensa no valor da pensão que receberá, um amigo pensa em não se demorar no velório para não perder o jogo de cartas da noite. Ivan Ilitch é um burocrata, funcionário público do sistema judiciário da Rússia tsarista. Ambicioso e calculista, suas ações têm sempre como objetivo ascender na sociedade. Casa-se com Praskóvia Fiódorovna, não apenas porque enamora-se dela, mas principalmente porque as pessoas da alta classe social consideram a escolha acertada. O casal tem cinco filhos, dos quais sobrevivem dois. A vida vai seguindo seu curso, com dificuldades, bajulações, com desentendimentos cada vez mais constantes do casal e, finalmente, promoções. Ivan Ilitch fere-se na região dos rins num acidente bobo em sua casa nova, quando cai de uma escadinha ao mostrar ao tapeceiro como queria as cortinas. O ferimento começa a incomodar, os médicos não acham um diagnóstico. Ivan Ilitch piora a cada dia. Angustiado, vislumbra a proximidade da morte. É tomado por intensas reflexões solitárias sobre os mecanismos que regem as relações humanas. Dá-se que se sua morte é irremediável, sua vida também foi. Das novelas mais poderosas já escritas, em que um homem se julga e à própria existência humana quando a vida dele se esvai, A morte de Ivan Ilitch é um retrato profundo da alma humana por um dos maiores escritores de todos os tempos. A nova tradução direta do russo de Cecília Rosas, sai pela coleção A arte da novela, editada no Brasil pela Grua Livros. Você pode comprar o livro aqui.
 
O novo romance de Mauro Paz.
 
O protagonista deste notável romance está com a vida acertada. Até que um caos assola o mundo: os prédios começam a cair. Primeiro um bloco residencial em Hong Kong, uns dias depois um edifício no centro de São Paulo. E é assim, tirando o tapete de debaixo do leitor, que Mauro Paz conduz esse livro vertiginoso, em que o drama coletivo dos prédios serve como pano de fundo para um drama maior: a busca pelo outro, por nós mesmos, por algum significado para as coisas. Quando os prédios começaram a cair sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
O livro vencedor do Booker Prize de 2022 chega ao Brasil.
 
Ao criar um universo exuberante, Shehan Karunatilaka satiriza a realidade política de seu país e traz reflexões surpreendentes sobre as mais profundas questões humanas. Colombo, Sri Lanka, 1990. Maali Almeida descobre da pior maneira possível que existe vida após a morte: ele acorda no Interstício, um lugar cheio de almas confusas e perdidas. Nessa espécie de purgatório, ele descobre que foi assassinado e que seu corpo desmembrado está afundando no Lago Beira, mas não faz ideia de quem o matou. Numa época em que o acerto de contas é feito por esquadrões da morte, capangas e homens-bombas, a lista de suspeitos é enorme. Maali era fotógrafo de guerra, viciado em apostas e, apesar de ter se relacionado com muitos homens, nunca se assumiu gay. Antes de morrer, ele tirou fotos que poderiam abalar o seu país e as guardou em envelopes, cada um representado por uma carta de baralho. Para que a morte dele não seja em vão, ele precisa entrar em contato com as pessoas que ama, guiá-las até o esconderijo das fotografias e dar sua cartada final. Só tem um problema: se ele quiser ir para a Luz, precisa fazer isso antes da sétima lua. As sete luas de Maali Almeida é um romance cheio de fantasia e realidade. Shehan Karunatilaka, um dos autores mais proeminentes do Sri Lanka, usa seu humor mordaz e transforma os leitores em testemunhas da brutalidade da guerra civil no país. Ao vagarmos com Maali pelo além, somos confrontados com verdades perturbadoras sobre a vida e a morte. Com tradução de Adriano Scandolara, o livro é publicado pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.

Outra vez Colson Whitehead, autor duas vezes vencedor do Pulitzer de Ficção.  
 
O pior da praga passou e poucos zumbis ainda povoam o país. Agora, as forças armadas estão encarregadas de retomar a parte sul da ilha de Manhattan, área conhecida como Setor Um. E Mark Spitz é membro de uma das unidades de varredores responsáveis por se livrar dos últimos zumbis que ainda habitam as ruas desertas dessa Nova York distópica. No entanto, os resquícios de vidas passadas que encontra pelo caminho o fará questionar as próprias ações e a esperança pelo retorno à normalidade em um mundo devastado. Setor um, de Colson Whitehead, autor vencedor por duas vezes do Prêmio Pulitzer de Ficção, sai pela HarperCollins Brasil com tradução de Érico Assis. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um novo romance de Gabriela Cabezón Cámara.
 
Nossa Senhora do Barraco é uma narrativa cheia de inventividade e com múltiplas camadas de interpretação. Cleópatra, uma travesti, depois de sofrer uma atrocidade enquanto estava presa, acaba por ter uma revelação mística: a Virgem Maria surge para conversar com ela. Decide, então, que não irá mais se prostituir e começará a cuidar do seu povo. Quando Cleópatra adquire um novo status, quase o de uma santa milagreira, passa a ser respeitada e conhecida por suas ações, que começam a ecoar e a chamar a atenção. Qüity, uma jornalista da imprensa sensacionalista que busca retratar histórias marginalizadas, fica a par de tudo que está por trás da figura de Cleópatra e resolve entender um pouco mais sobre esse “fenômeno”, envolvendo-se cada vez mais com a vida cotidiana da favela e com a própria travesti. Gabriela Cabezón Cámara se utiliza da dor, do humor, do choro e das drogas para mostrar como a nossa humanidade, até quando ao lado de Nossa Senhora, de nada vale frente a um contingente policial que nos criva de balas. Este é um romance que não conta apenas a vida de pessoas consideradas à margem da sociedade: ela evidencia toda a brutalidade sofrida pelo povo de El Poso, uma violência que se estende a todas as periferias do mundo. Com tradução de Silvia Massimini Felix, o livro é publicado pela Editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
 
O ridículo do estado atual do mundo é, desde sempre, um assunto recorrente entre satiristas. Adriano Scandolara vislumbra uma dimensão metafísica para esse fenômeno.
 
Tudo começa com o deus Momo, filho da Noite, uma dessas divindades menores, mais lado B, da mitologia grega, tendo como seu domínio o ridículo, o deboche e o escracho. Momo, além de fazer uma pontinha em Hesíodo e em Platão, aparece na obra do fabulista Esopo, que narra o episódio em que ele acaba expulso do Olimpo por criticar a criação do ser humano. Enquanto isso, no Brasil, até hoje temos o costume de celebrar uma figura carnavalesca chamada de rei Momo. Há um estranho silêncio em meio aos mitógrafos no que diz respeito a esse período entre a sua expulsão do Olimpo e o naturalizar-se brasileiro. E o silêncio é território fértil para a imaginação febril. Num estilo verdadeiramente momesco, combinando referências mitológicas, literárias, esotéricas e de cultura de massa de um modo vertiginoso, Momo Rei narra o que teria acontecido enquanto isso, concebendo uma cosmologia que tem, em seu centro, o ridículo entronizado como o senhor deste mundo. O livro é publicado pela editora Kotter. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura Herman Hesse, Narciso e Goldmund conta a história de uma improvável amizade, uma longa jornada e o retorno de um espírito livre.
 
Narciso é um noviço de inteligência brilhante, um homem racional e contido. Goldmund é um jovem estudante, belo e de profundas inquietações existenciais. Os dois se conhecem em um convento e são atraídos quase magneticamente. Nesta obra, Hesse aborda o arrebatamento religioso e o êxtase da criação artística com a vida ascética e minimalista de Narciso em contraponto à vida boêmia e apaixonada de Goldmund. A polaridade dos diálogos entre os dois personagens, um solar e o outro lunar, oferece uma profunda lição de tolerância e aceitação, apesar das oposições. O enriquecimento mútuo que resulta desses diálogos encerra uma lição ainda atual para um mundo que permanece dividido entre fundamentalismos diversos. Em Narciso e Goldmund, os protagonistas são diferentes em sua essência, assim como em outras obras do autor, como Demian e Sidarta. Com sua genialidade, Hermann Hesse nos mostra que os opostos são apenas partes da ilusão do jogo da vida, imagens e projeções que fazem os seres humanos saírem em busca de uma síntese que funda os contrários na luz inefável do espírito. A tradução de Myriam Moraes Spiritus sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Coleção Machado de Assis. A editora Todavia divulgou mais detalhes sobre a publicação da obra do autor de Memórias póstumas de Brás Cubas anunciada desde há quatro anos e soubemos que sairão numa caixa os 25 títulos publicados em vida mais uma edição com textos reunidos. Trabalho coordenado por Hélio de Seixas Guimarães. 
 
Os cadernos de Pagu. É o título de um livro organizado pela professora Lúcia Teixeira e biógrafa da autora de Parque industrial que sai pelo selo Nocelli da editora Reformatório em coedição com a Universidade Santa Cecilia, de Santos. O livro reúne cinco cadernos manuscritos inéditos datados dos anos 1920 e 1960, ano da morte da escritora e é a publicação mais substancial da sua obra até agora.

Mais Carlos Drummond de Andrade reeditado. No mês de aniversário do poeta mineiro, a editora Record coloca nas livrarias mais três livros: Fazendeiro do ar, com texto de Mariana Ianelli; Corpo, que traz posfácio Eliane Robert Moraes; e O amor natural, com um escrito Manuel Graña Etcheverry, genro de Carlos Drummond — certamente o epílogo saído na edição espanhola desse livro em 2004.

DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Prosa, de Charles Baudelaire (Trad. Júlio Castañon Guimarães, Penguin/ Companhia das Letras, 1008 p.) Um compêndio de referência. Aqui estão O spleen de Paris acompanhado dos esboços e projetos do livro; recortes dos diários; ensaios como os dos Paraísos artificiais; a nouvelle A Fanfarlo; e textos de crítica literária, como os que dedicou a Madame Bovary de Flaubert, Os miseráveis de Victor Hugo e a monografia sobre Edgar Allan Poe; mais textos de crítica musical e artes plásticas. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Fragmentos de um diário encontrado, de Mihail Sebastian (Trad. Fernando Klabin, Hedra, 96 p.) Escrita em 1932 e afinada com as vanguardas da época a narrativa que se faz conhecida graças a um tradutor anônimo, o romance é um desafio aos limites de ficção, uma busca labiríntica de algo perdido e indefinível. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Últimos contos, Anton Tchékhov (Trad. Rubens Figueiredo, Todavia, 320 p.) As narrativas curtas do escritor russo realizadas no fim da sua vida, algumas já conhecidas do leitor brasileiro em outras traduções, como é o caso de “A dama do cachorrinho”, e outras ainda por se descobrir aparecem reunidas nesta antologia. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Algumas das traduções mais célebres da obra de Charles Baudelaire entre nós são as de Ivan Junqueira. O também poeta brasileiro nos ofereceu As flores do mal. No blog da revista 7faces é possível ler a tradução de Junqueira para cinco poemas do poeta francês.
 
No próximo dia 5 de outubro saberemos qual o escritor premiado com o Nobel de Literatura. Numa dessas vezes, a notícia gerou uma dessas imagens que se tornaram icônicas na história do prêmio: quando Doris Lessing soube que fora galardoada. Isso em 2007. Veja aqui.

BAÚ DE LETRAS
 
Por destacar a edição com histórias inéditas de Nelson Rodrigues publicadas na coluna “A vida como ela é”, recordamos este texto de março de 2015 sobre este trabalho do escritor brasileiro.

No dia 29 de setembro de 2023, passaram-se os 50 anos sobre a morte de W. H. Auden. Sublinhamos a data em algumas postagens em nossas redes, mas destacamos aqui duas entradas no blog envolvendo o nome do poeta estadunidense: esta, um breve perfil; e esta, sobre a relação de Auden com Tolkien.

DUAS PALAVRINHAS
 
Nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu significado e a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e os artistas mortos. Não se pode estimá-lo em si; é preciso situá-lo; para contraste e comparação, entre os mortos. Entendo isso como um princípio de estética, não apenas histórica, mas no sentido crítico.

— T. S. Eliot, Tradição e talento individual

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