Boletim Letras 360º #549

DO EDITOR
 
1. Olá, leitores! Nesta semana, ficou disponível dois outros livros para venda no nosso pequeno bazar, realizado desde há quatros com o interesse de arrecadar fundos para custeio do domínio e hospedagem deste blog na web. Saiba destes e de outros títulos por aqui. Caso não consigam aceder ao Facebook, podem solicitar as informações que precisarem pelo nosso e-mail blogletras@yahoo.com.br
 
2. Confira ainda outras maneiras de ajudar; e, lembramos mais adiante, uma dessas maneiras é a aquisição de quaisquer livros pelos links disponibilizados neste boletim e nas nossas redes ou ainda a aquisição de quaisquer outros produtos neste endereço.

3. Agradecemos a todos que seguem conosco fazem este projeto permanecer online da maneira como acontece hoje, livre, independente.


Italo Calvino. Foto: Pepe Fernandez


LANÇAMENTOS
 
No mês de centenário de Italo Calvino, dois livros inéditos do escritor.
 
1. Italo Calvino por ele mesmo. Um volume monumental de entrevistas feitas com o autor espalhadas ao longo de mais de três décadas e reunidas pela primeira vez em livro. Uma janela para uma das mentes mais fascinantes do século XX. Organizadas em ordem cronológica, as 101 entrevistas de Nasci na América... abarcam o período que vai de 1951 a 1985. No diálogo com seus interlocutores — em muitos casos, com perguntas possivelmente elaboradas pelo próprio Calvino —, o autor trata dos mais variados temas: a situação da literatura italiana e estrangeira; a relação entre língua e dialeto; a paixão pelo cinema e pelo teatro; os escritores favoritos, tanto clássicos quanto contemporâneos; sua juventude e seu envolvimento político; a descoberta dos Estados Unidos; o terrorismo dos anos 1970 e o “neoindividualismo” dos anos 1980; sua relação com cidades como Sanremo, Turim, Veneza, Paris e Nova York; o futuro do homem e do universo. São textos que, apesar da brevidade, carregam o rigor e a elegância de Calvino e oferecem uma compreensão inédita de aspectos que permaneceram em segundo plano em sua produção narrativa. O resultado, para Mario Barenghi, que assina a introdução do livro, é o de uma autobiografia em construção e multifacetada. Com tradução de Federico Carotti. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. Um trio de ladrões gananciosos assalta uma confeitaria; um rapaz que presenteia uma moça com sapos e insetos da horta; uma família abastada que convida um jovem de origem simples para almoçar — apenas para tirar sarro dele; um rapaz das montanhas, recrutado pelos partigiani por sua hábil mira, enfrenta um soldado nazista. A Itália cindida pela guerra é o pano de fundo desta coletânea, publicada pela primeira vez em 1949, que reúne narrativas curtas do jovem Italo Calvino. Este volume reproduz os trinta contos da edição original, inclusive aqueles escritos nos meses seguintes à Libertação e que ficaram de fora de compilações posteriores organizadas pelo autor: “A mesma coisa que o sangue”, “À espera da morte em um hotel” e “Angústia na caserna”. Um mergulho no trabalho de Calvino em formação, Por último vem o corvo carrega a essência do projeto literário e o talento do autor que conquistaria leitores de várias gerações nas décadas seguintes. A tradução é de Maurício Santana Dias. Os dois livros saem pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
A chegada do húngaro Péter Nádas aos leitores brasileiros.
 
A trajetória de um livro encadernado em couro preto nos leva do cerco soviético que libertaria Budapeste da ocupação nazista à condição miserável em que vivem os desfavorecidos no regime socialista. Sempre na iminência de um acontecimento surpreendente, acompanhamos, nesta extraordinária novela, um adolescente que descobre o poder da sexualidade nascente e a sua inesperada capacidade de ser violento e cruel. A bíblia, de Péter Nádas, sai com tradução de Paulo Schiller pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
O livro de Sara Mesa considerado pela crítica espanhola o melhor romance de 2020.
 
Depois de um ligeiro vexame em sua cidade natal, Nat, uma tradutora que não sabe se é independente ou solitária, se recolhe num lugarejo ermo, a salvo de olhares julgadores, para se pôr de pé novamente e retomar o controle da vida. Em sua estadia no campo, precisa lidar com uma casa precária, um jardim abandonado e um proprietário canalha, e vê que o sonho da horta própria dificilmente sobreviverá à saga das goteiras eternas. Sara Mesa nos apresenta um romance envolvente que permite aos leitores construir um ambiente simultaneamente pacato, estranho e familiar. Os mistérios das personagens vão se revelando aos poucos, e nos enredando, enquanto a protagonista explicita seus medos e seus motivos para se mudar, sozinha, da cidade grande para um pequeno povoado espanhol. Na alternância entre a voz de Nat e a do narrador, estamos às voltas com cenas silenciosas e inquietantes, contadas de maneira direta. Cercada por homens desejosos e por um cão indiferente, Nat se torna nosso vetor para observar os pequenos dramas vividos no povoado de La Escapa. Com tradução de Silvia Massimini Felix, Um amor sai pela Autêntica Contemporânea. Você pode comprar o livro aqui.
 
O novo romance de Fernando Bonassi é uma síntese crua e brutal do Brasil.
 
Com ironia e precisão, a trama e seus personagens retratam as violências políticas e sociais de uma nação erguida sobre heranças coloniais. É sábado à noite quando um assessor político recebe, em sua casa, um escritor e sua esposa, professora universitária. O objetivo do assessor, ao convidá-los para o jantar, é o de conseguir o apoio do escritor à campanha de seu candidato. Mas um assalto à mão armada surpreende a todos e vai desvelar as camadas mais profundas dos atos violentos que atravessam o cotidiano brasileiro ― físicos, políticos, sexuais, raciais, de classe e de gênero. Com narrativa crua e brutal, que se passa em um final de semana, Violência retrata um Brasil construído a partir da escravidão, do preconceito e da desigualdade social. Os capítulos, curtos, sibilam pelas hipocrisias, privilégios e vícios da classe política dominante; pela corrupção e brutalidade policial, assim como sua vulnerabilidade; pelo racismo doméstico, político, carcerário, de sua manifestação mais sutil àquela que mata. Fernando Bonassi, mais uma vez, constrói um enredo extremamente crítico das atuais estruturas de poder e controle, com uma narrativa cômica e de forte teor cinematográfico, e personagens marcantes, extremamente reconhecíveis ao imaginário brasileiro. Sem se esquivar das brutalidades, complexidades e contradições sociais, o volume encerra uma espécie de trilogia do autor, composta ainda por Luxúria e Degeneração. Violência sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Outra estreia no Brasil: a do escritor francês Jean-Baptiste Del Amo.
 
O filho do homem é uma história extraordinária, dolorosa e profundamente humana, que explora a transmissão da violência de geração em geração e a eterna tragédia que se desenrola entre pais e filhos. Tudo isso sob o signo do trauma, da busca pela identidade e do poder de uma natureza tão exuberante quanto inescrutável. Com este romance repleto de tensão, Jean-Baptiste Del Amo se afirma como um dos autores mais brilhantes da literatura francesa contemporânea. Com tradução de Julia da Rosa Simões, o livro sai pela Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Rafael Gallo reescreveu seu primeiro romance com o qual ganhou Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e o livro sai em nova versão.
 
Rebentar conta a história de Ângela, uma mãe cujo filho desapareceu aos 5 anos de idade e jamais foi encontrado. Desde então, ela passa a viver em função da procura por Felipe: parou de trabalhar, juntou-se a instituições de busca por crianças desaparecidas, rompeu relações, não teve outros filhos e viveu um luto particular ― “alguém que não é reencontrado nunca se perde em definitivo.” Mas, depois de trinta anos sem resultado, Ângela renuncia à busca, e a narrativa parte do momento em que sua decisão é anunciada. A protagonista, convivendo com os sentimentos de culpa, desamparo e dor causados por essa ausência que, agora, é definitiva, precisará desintegrar a própria casa, literal e metafórica, para reconstruí-la por dentro. Publicado pela primeira vez em 2016, Rebentar ganha agora uma nova versão. Não se trata apenas de uma nova edição; nas palavras de Rafael Gallo, “este é um novo tratamento da história. O que faz dela, em algum grau, uma nova história”. Sensível e arrebatadora, a escrita de Rafael Gallo se reencontra consigo mesma para entregar desfecho e descanso definitivos à dolorosa trajetória de Ângela. O livro sai pela Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma antropologia da figuração.
 
Uma máscara yup’ik do Alasca, uma pintura aborígene em casca de árvore, uma paisagem em miniatura da dinastia Song, um quadro de interior holandês do século XVII: pelo que mostra ou deixa de mostrar, uma imagem revela sempre um esquema figurativo particular, identificável pelos meios formais que utiliza e por certa potência que ela manifesta. As imagens nos permitem acessar, às vezes mais do que as palavras, aquilo que distingue as maneiras contrastantes de viver a condição humana. Ao comparar com precisão as imagens de uma diversidade impressionante de culturas, Philippe Descola lança, neste livro magistral, as bases teóricas de uma antropologia da figuração. A figuração não é fruto exclusivo da fantasia expressiva daqueles que se põem a produzir imagens: só figuramos o que somos capaz de detectar ou imaginar, e só imaginamos e detectamos o que o hábito nos ensinou a discernir. O caminho visual que traçamos espontaneamente em meio às dobras do mundo depende, para Descola, de nossa imersão em uma das quatro regiões do arquipélago ontológico: animismo, naturalismo, totemismo ou analogismo. Cada uma dessas regiões corresponde a uma forma de conceber a ossatura do mundo e fazer seu inventário, de perceber as suas continuidades e descontinuidades — em particular, as diversas linhas de união e de fratura entre seres humanos e não humanos. As formas do visível. Uma antropologia da figuração sai com tradução de Mônica Kalil no âmbito da coleção Fábula da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Susan Sontag vista pela nora.
 
Em 1976, a ensaísta e romancista Susan Sontag tinha quarenta e três anos e uma carreira consolidada. Enquanto se recuperava de uma mastectomia radical, contratou a recém-formada Sigrid Nunez para datilografar sua correspondência. Em meio a essa convivência, Nunez e David Rieff, filho de Sontag, começaram a namorar. Não demorou para que o icônico apartamento de Sontag em Manhattan se tornasse também a casa de Nunez por pouco mais de um ano. Sempre Susan examina de perto uma das pensadoras mais relevantes do século XX, explorando a diferença entre a percepção pública acerca da intelectual e sua realidade cotidiana (como se divertia, com o que se angustiava, do que tinha medo ou vergonha). O sentido de uma existência muitas vezes está nos detalhes, por isso não se trata de uma biografia, mas do caleidoscópio de lembranças que Sigrid Nunez formou sobre Susan Sontag — e, como tal, segue o movimento da memória: elíptico, lacunar, sem ordenação, sem conexões óbvias. Este livro é, portanto, um relato profundo e ambivalente de uma escritora talentosa sobre outra. Com tradução de Carla Fortino, Sempre Susan: um olhar sobre Susan Sontag sai pela editora Instante. Você pode comprar o livro aqui.
 
C. S. Lewis e a escrita.

Uma coletânea sobre os estilos de escrita e uma celebração do poder transformador da palavra reúne textos de um dos escritores mais influentes da era moderna, o autor de As Crónicas de Nárnia e outros livros amados. Com mais de uma centena de excertos ― alguns curtos e outros ensaísticos ― retirados do seu vasto conjunto de cartas, livros e ensaios, Sobre escrever reúne as reflexões de Lewis sobre as alegrias e os desafios de uma vida dedicada à escrita. Também contém os comentários do autor sobre obras e escritores populares, como J.R.R. Tolkien, Jane Austen e George Orwell. Prático e sábio, este é o livro ideal para todos os aspirantes a escritor ― e, claro, para os admiradores de Lewis. Com traduções de Elissamai Bauleo, Giuliana Niedhardt e Francisco Nunes, o livro integra a Coleção C. S. Lewis editada pela Thomas Nelson Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Romance de Hiromi Kawakami, está de volta ao catálogo da Editora Estação Liberdade.
 
No romance, a autora usa objetos e funcionários de uma loja de bricabraque em Tóquio para criar um “retrato em miniatura” da sociedade japonesa. O proprietário da loja, o senhor Nakano, que é um tanto filósofo e cheio de artimanhas, está em constante busca de aventuras amorosas; sua irmã Masayo é uma bem-humorada artista de pouca expressão. Hitomi, a narradora que tudo observa com seu olhar tão cool, e Takeo, o faz-tudo taciturno e enigmático e “péssimo nessas coisas de sexo”, como ele mesmo diria, os auxiliam o quanto podem. Da autora, a Estação Liberdade publicou também A valise do professor (romance vencedor do prêmio Tanizaki em 2001), cuja tradução é de Jefferson José Teixeira, assim como também a de Quinquilharias Nakano. A autora também foi laureada em 1996 com o prêmio Akutagawa, uma importante honraria dada a escritores em início de carreira. (Desde 2007, junto a Yoko Ogawa, integra o júri da premiação). Kawakami, nascida em Tóquio em 1958, se tornou uma importante narradora do Japão contemporâneo ao abordar temas como o cotidiano na metrópole, as metamorfoses da vida, o amor e a sexualidade. A tradução de é Jefferson José Teixeira.
 
RAPIDINHAS
 
Prêmio Oceanos. Foi divulgada a lista dos semifinalistas nas categorias prosa e poesia. Em 2023, 1.118 livros se inscreveram com interesse no galardão de R$150 mil cujo resultado sai no final de outubro.


DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Violeta, de Alberto Martins (Editora 34, 144 p.) Um grupo de teatro amador tenta montar uma peça do poeta russo Vladimir Maiakovski na zona portuária de Santos na década de 1940; uma narrativa fabulada por um narrador que tenta recompor a juventude desconhecida de seu pai em tempos e lugares diversos. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Umm Saad, de Ghassan Kanafani (Trad. Michel Sleiman, Tabla, 80 p.) A luta de um homem contra o desterro, o deslocamento, a desapropriação engendrada por ideias utópicos e desmedidos; a afirmação de pertencimento, de identidade e intimidade com a terra. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Um cão no meio do caminho, Isabela Figueiredo (Todavia, 246 p.) O encontro entre duas figuras cuja amizade nasce da solidão profunda numa sociedade habituada ao desperdício. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
No dia 13 de setembro de 1923 nasceu Natália Correia. Figura marcante das Letras e da política em seu país, ela se destacou na poesia. Voltamos ao blog da revista 7faces para catar este endereço que o apresentará a alguns dos poemas dessa portuguesa.
 
BAÚ DE LETRAS
 
No próximo dia 17, celebra-se o 140.º aniversário do poeta William Carlos Williams, nome singular da poesia modernista estadunidense. Aproveitamos a ocasião para recordar o recente texto de Pablo Ingberg que traduzimos aqui
 
No domingo passado, o Fantástico apresentou uma matéria sobre a escritora Socorro Acioli, ocasião quando recordamos nas nossas redes a leitura pioneira do seu primeiro romance, motivo da incursão no programa da TV Globo. O texto pode ser lido aqui.
 
Ainda Natália Correia. Aqui no Letras publicamos em 2016 “Natália Correia: um sopro de liberdade na poesia portuguesa”, de Maria Vaz. Trata-se de uma breve incursão pela obra e a biografia de Correia, com especial atenção para sua poesia. 
 
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Pareceu-me que era para isso que servia um poema, para falar por nós numa linguagem que possamos compreender. Mas antes que possamos entendê-la, a linguagem deve ser reconhecível. Devemos conhecê-la como nosso, devemos estar convencidos de que ela fala por nós. E, no entanto, deve continuar a ser uma linguagem como todas as linguagens, um símbolo de comunicação.

— William Carlos Williams

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