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Jon Fosse Foto: Tor Stenersen |
LANÇAMENTOS
Um romance hipnótico e inesquecível de um dos grandes nomes da ficção
literária norueguesa.
Signe está deitada em um banco de sua casa no fiorde e tem uma visão de
si mesma há mais de vinte anos: parada na janela esperando por seu marido Asle,
no fatídico dia de novembro quando ele saiu com seu barco e nunca mais voltou.
Suas memórias se ampliam para incluir a vida do casal e mais: os laços de
família e os dramas que remontam a cinco gerações, até Ales, a trisavó de Asle.
Na prosa vívida e alucinante que fez de Jon Fosse um dos mais destacados
autores contemporâneos, esses momentos — assim como os fantasmas do presente e
do passado — coexistem no mesmo espaço.
É a Ales é uma obra-prima
visionária e oferece uma reflexão assombrosa sobre o amor, a perda e o legado
de nossos antepassados. Com tradução de Guilherme da Silva Braga, livro sai
pela Companhia das Letras.
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O novo título no projeto de
reedição da obra de Autran Dourado.
O suposto roubo de uma arma de
fogo mexe com todas as pessoas da pequena e pacata ilha de Boa Vista.
Fortunato, uma pessoa com deficiência intelectual, rapidamente se torna
suspeito e alvo de uma grande comoção e comitiva para encontrá-lo, vivo ou
morto. Cerceados pelo mar e movidos pelo medo em um momento de perseguição e
tensão, os moradores da ilha serão levados aos limites de seus próprios
conflitos, nos quais vontades reprimidas aparecerão como uma forte ressaca do
mar. Vencedora do prêmio Fernando Chinaglia, esta obra-prima é, nas palavras do
próprio autor, “uma história de caça e pesca”. A nova edição de
A barca dos
homens publicada pela HarperCollins Brasil tem prefácio de Oscar Fussato
Nakasato, autor de
Nihonjin, vencedor do prêmio Jabuti.
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A continuidade da publicação da
obra completa de Augusto Abelaira.
O terceiro romance de Augusto
Abelaira, publicado em 1963, localiza a ação no período da revolução
republicana. Se o enredo gira à volta das relações políticas e amorosas entre
Vasco Miroto, Maria Brenda e Bernardo Lória, é a relação com o Tempo o traço
narrativo mais original deste romance.
As boas intenções sai no Brasil
pelo selo Minotauro no âmbito do projeto Obras Completas de Augusto Abelaira.
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Em sete breves relatos,
Margarita García Robayo demonstra sua habilidade para mostrar o lado mais
difícil das coisas.
Seus personagens, expostos em sua
complexa humanidade, lutam desesperadamente em um mundo no qual simplesmente
não se encaixam. Uma mulher que tenta colocar ordem em sua nova vida de
enferma; um homem preso em um enorme hotel; as incertezas de um casal frente a
seu filho obeso; uma reunião de família desconcertante; a morbidez, a falta de
comunicação e o desencontro são alguns dos temas em torno dos quais giram estes
relatos inquietantes. A escrita rápida e o humor, às vezes brutal e às vezes
compassivo, desta jovem escritora são, como na boa literatura, ferramentas
poderosas para explorar e confrontar o leitor com as pequenas e grandes
misérias da vida cotidiana. Traduzido por Silvia Massimini Felix,
Coisas
piores é obra que conversa com a realidade do ser humano, revelando suas
mazelas inseridas na rotina do dia a dia, de forma direta e impactante. O livro
sai pela Editora Moinhos.
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Contundente e controverso, este
romance autobiográfico causou furor por onde passou.
Uma mulher tem o rosto desfigurado
depois de ser atacada com ácido pelo marido. Ao seu lado está o filho, que a
partir de então a acompanhará no lento processo de reconstrução de sua
identidade. Baseado em catastróficos episódios reais, vividos pelo autor e por
seus pais na Argentina dos anos 1960,
O deserto e sua semente é um
romance assombroso e comovente. No centro da tragédia está Eligia, que sofre um
ataque brutal. Quando estão prestes a oficializar o divórcio, o marido, Arón,
com quem fora casada por vinte e oito anos, arremessa contra o rosto da mulher
uma jarra de ácido sulfúrico. No dia seguinte, o homem se suicida com um tiro
na cabeça no apartamento onde vivia. “Que nos oculta a pele?”, indaga o médico
responsável pela tentativa de reconstruir o rosto de Eligia. A certa altura,
ele propõe que se plante a semente no deserto, para que se comece algo do zero.
Enquanto o narrador, o filho do casal, Mario, vaga de hospital em hospital,
primeiro na cidade de Buenos Aires e mais tarde em Milão, em busca da
reconstrução física de sua mãe, somos arremessados numa narrativa maior de
desintegração, tanto pessoal quanto social. Depois de ser rejeitado por
diversas editoras,
O deserto e sua semente foi publicado em 1998, numa
edição custeada pelo autor. “O livro foi bem recebido, sim. Mas lido numa chave
muito autobiográfica, e o sofrimento não legitima a literatura. O que legitima
a literatura é o texto”, declarou Jorge Baron Biza numa entrevista, em 1999.
Três anos depois da publicação, tendo recebido uma avalanche de boas críticas
pela obra, o autor se suicidou, lançando-se do 12.º andar de um prédio — o
mesmo no qual seu pai havia se matado. Um romance que expõe a dor e o horror a ponto
de parecer anular o sentido humano dos acontecimentos. Uma obra-prima sinistra
e absolutamente única. Com tradução de
Sérgio Molina, o livro sai pela Companhia das Letras.
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A Arte & Letra acrescenta
um novo título à sua coleção Alfaiate.
A menina invisível e outras histórias
de visagem reúne um ensaio e três contos da autora Mary Shelley. “Sobre Fantasmas” é um ensaio sobre o medo — que passeia pelas noções
desse sentimento desde a Antiguidade — e de como ele está presente nas
histórias sobrenaturais. O primeiro conto é “A Menina Invisível” que junta
elementos clássicos dos textos do gótico inglês, tais como ambientes em ruínas,
uma pintura de mulher que enquadra a fantasmagoria de alguém que não se sabe se
vive ou se já morreu, e a impossibilidade de um amor. Em “O Imortal Mortal” a
voz narradora é o próprio fantasma de um humano que ele mesmo já foi. Ou
melhor, ele deixa a pergunta: um humano que já vive há mais de três séculos
ainda é um corpo com vida? O “Mau Olhado” é um dos textos mais complexos de
Mary Shelley por ser bastante representativo sobre seu imaginário contemporâneo
e narra questões familiares sobre grupos que habitavam a região da Albânia. A
tradução é de Emanuela Siqueira.
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Nova edição e tradução do
primeiro romance de Gaël Faye.
Pequeno país nasceu de um
desafio. A editora Catherine Nabokov, fascinada pelo talento narrativo do
rapper Gaël Faye, que conheceu por meio de seu filho, sugeriu que ele
escrevesse um livro. Foi assim que Gaël Faye estreou na literatura com um
romance sólido e cativante. Nada no livro sugere inexperiência do autor, que
tinha 34 anos em agosto de 2016, quando
Pequeno país foi lançado na
França. Naquele mesmo ano, que encerrou com mais de 700 mil exemplares
vendidos, o livro ganhou o Goncourt des Lycéens, versão do principal prêmio
literário do país, escolhido por um júri formado por 2 mil estudantes do ensino
médio. O romance tem tradução de Marília Garcia e posfácio do escritor angolano
Kalaf Epalanga, com quem Faye dividiu a mesa na Flip, em 2019. O “pequeno país”
é o Burundi, na região central da África, onde nasceram Faye e seu personagem
(e narrador), Gaby, um garoto que passa dos 10 aos 11 anos durante a narrativa.
A história tem fortes traços autobiográficos, e o livro não seria tão comovente
sem o suporte da vivência do autor. Gaby é filho de um casal de classe média
morador de Bujumbura, antiga capital do Burundi, sendo a mãe negra e nascida em
Ruanda (país vizinho ao Burundi) e o pai, branco e francês. Com a pele cor de
caramelo, o garoto é, socialmente e até em casa, considerado branco. No início,
a mãe viaja a Ruanda para procurar seus parentes depois de notícias de que a
etnia tútsi, a que ela pertence, está sendo alvo de violência e assassinato. O
romance deixa claro que o conceito e a configuração de etnias nos dois países
se baseiam em fundamentos questionáveis que foram convenientes à dominação
imperialista europeia de séculos.
Pequeno país é ambientado em 1993, no
momento da eclosão de uma guerra civil entre os tútsis e os hútus, conflito
que, em Ruanda, culminou no genocídio de quase 1 milhão de pessoas. Mais do que
um retrato de vidas dilaceradas pela guerra, trata-se de um romance de
formação. O texto poético de Faye evoca uma infância idílica que aos poucos vai
se transformando numa sequência de situações desafiadoras. Um exemplo é a tentativa
de recuperar uma bicicleta roubada, acontecimento banal que encerra questões
sociais e familiares complexas. Além dos
perigos e tragédias do ambiente de confronto armado, Gaby se vê diante da
corrosão da própria família e do despertar amoroso desencadeado pelo diálogo
por carta com uma garota francesa que não conhece pessoalmente. Ao mesmo tempo,
o personagem vive, na companhia de um grupo de amigos, as delícias de uma
infância passada em contato com uma natureza exuberante — e às vezes perigosa —
à beira do imenso lago Tanganica. Eles roubam mangas e fumam cigarros
escondidos, descem um rio numa jangada feita de tronco de bananeira e brincam
de patrulhar as ruas do bairro em que moram, até que a guerra os leva para
atividades mais perigosas. Entre os acontecimentos que os meninos presenciam
está a primeira eleição direta para presidente no Burundi e, em poucos meses, o
assassinato do vencedor, que foi o estopim da guerra. Faye também nasceu em
Bujumbura e seus pais eram como os de Gaby: a mãe ruandesa e o pai francês.
Escreveu seu primeiro poema aos 13 anos, e o tema era o medo – sentimento que o
escritor rememora como predominante nessa fase de sua vida. No mesmo ano, ele
se mudou para a França, fugindo da guerra, para ir viver com a mãe. Até hoje Faye
vive entre Versalhes, na região de Paris, e Kigali, a capital do Burundi, país
que ele preferia nunca ter deixado. A saudade do “pequeno país” é um tema
recorrente de suas canções. Foi também um dos assuntos de sua palestra na Flip
de 2019, onde recebeu demorados aplausos da plateia. Ao público do evento, ele
disse: “Não cresci numa casa com uma grande biblioteca, mas tenho uma urgência
de falar e não espero permissão dos outros. Foi isso que o hip-hop me ensinou”.
Outra de suas canções é a “Balade brésilienne”, num ritmo que remete ao samba. O
livro sai pela editora Carambaia.
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Os últimos dias de um pai à
vista de um filho.
Toda narrativa é um recorte. O
universo daquilo que uma filha poderia narrar sobre o fim da vida de seu pai é
um campo de vastas possibilidades — do frio distanciamento que, para não ceder
ao ‘dramalhão’, acaba enxugando as possibilidades de empatia, até a desmedida
indulgência na angústia e na autocomiseração. Neste relato, Emmanuelle Lambert
escolhe a terceira margem, da qual não estão ausentes o profundo sentimento (do
contrário, por que narrar esta história?) nem a quase banal atestação de que,
no fim das contas, o chavão nunca deixou de estar correto: acompanhar a morte
pode ser, também, nos casos mais afortunados, celebrar quem se vai e quem, ao
permanecer, ao ultrapassar seus mortos no tempo, de certo modo lhes confere
sobrevida. Ao narrar os últimos cinco dias de seu pai, levado por um câncer, a
autora justapõe memórias íntimas e coletivas, que tanto problematizam quanto
conferem sentido umas às outras. A aventura da vida de uma família em seu
contexto social e político e as anedotas mais íntimas, dolorosas e
afetuosamente irônicas se conjugam para a composição de um texto quase
inclassificável, belo, comovente, cheio de verve. Desse modo, a autora — ela
era ‘o garoto do seu pai’, que só teve filhas — presta homenagem não só a um
ente querido, mas à própria arte de narrar: outra grande aventura, da ordem da
morte, da ordem da vida. (Adriana Lisboa) Com tradução de Adriana Lisboa,
O
garoto do meu pai é publicado pela Autêntica.
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REEDIÇÕES
Duas edições
em capa dura de dois livros de Italo Calvino. Marcos da Companhia das Letras
pelo centenário do escritor italiano.
1. Nesta
obra-prima, Italo Calvino faz do próprio Leitor seu personagem principal, cuja
grande missão é ler romances. E tal como você, leitor(a), ele compra um
exemplar de
Se um viajante numa noite de inverno e se vê imerso em uma
trama fascinante, cheia de mistério e expectativa, mas que se interrompe por
volta da página 30. Há um erro de encadernação e é preciso voltar à livraria e
trocar o exemplar para prosseguir a leitura. Assim começam os obstáculos que o
herói vai encontrar: erros de encadernação, roubo de livro, suicídio do autor,
confisco, uma prisão inesperada. Na busca da satisfação do prazer da leitura, o
Leitor envolve-se em situações kafkianas, encontra personagens bizarros, vive
momentos cômicos e, como nas grandes histórias de amor, conhece uma Leitora. Repleto
de engenhosidade, inteligência e humor, este livro é um elogio à literatura e à
arte do romance, feito por um dos grandes autores do século XX. A tradução de
Nilson Moulin sai acompanhada de prefácio de Mauricio Santana Dias.
Você pode comprar o livro aqui.
2. A nova
edição de
Por que ler os clássicos inclui projeto gráfico especial e
posfácio inédito de Maria Cecília Gomes dos Reis, professora de filosofia da
Unifesp. É certo, como diz Italo Calvino, que “nenhum livro que fala de outro
livro diz mais sobre o livro em questão”. Ou seja, a leitura crítica jamais
substituirá a leitura da obra de criação — mas é fundamental, muitas vezes,
para chamar a atenção para detalhes importantes, revelar aspectos
despercebidos, projetar nova luz sobre autores já empoeirados. É o que o autor
de
As cidades invisíveis se propõe a fazer em
Por que ler os
clássicos. São textos sobre Voltaire, Balzac, Stendhal, Flaubert, Dickens,
Tolstói, Borges, Montale, Homero, Ovídio, entre outros, marcados pela
inteligência e argúcia de um dos mais celebrados autores do século XX. Um
passeio guiado pelas obras fundamentais da literatura, este volume se mostra um
clássico na definição do próprio Calvino: “um livro que nunca terminou de dizer
aquilo que tinha para dizer”.
O livro é
reeditado pela Companhia das Letras. Tradução de Nilson Moulin.
Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
George Orwell ensaísta. A Livraria
Gráfica publica uma edição com tiragem artesanal e limitada de alguns ensaios
do autor de
A revolução dos Bichos e
1984 dedicados ao livro e à
literatura. Organizado e traduzido por Gisele Eberspächer, as vendas estão disponíveis
até o dia 20 de agosto.
Michael Löwy artista. A 100/Cabeças publica uma edição com tiragem limitada bilíngue português-francês com imagens do pensador e crítico marxista — Luz negra: rabiscos, collages e
guaches surrealistas.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
A outra filha, de Santiago
La Rosa (Trad. Rafael Ginane Bezerra, Arte & Letra, 216 p.) O segundo
romance do escritor argentino acompanha o instante de um homem que a partir do
nascimento da filha procura no pai alguma possibilidade de ajuda para as novas
circunstâncias daí advindas, mas numa ocasião quando este desaparece sem quaisquer
explicações.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
Do fim ao princípio: poesia
completa (1973-1937), de Adalgisa Nery (José Olympio, 560 p.) Indispensável
à seção de poesia na biblioteca de todo leitor brasileiro. Pela primeira vez,
uma edição compila toda a obra poética de uma escritora que esteve entre os
principais nomes da cena modernista no Brasil; estão reunidos aqui os sete
livros de poemas de Adalgisa mais uma rica seleta de inéditos. Feito do também
poeta Ramon Nunes de Mello.
Você pode comprar o livro aqui.
3.
O cerco, de Alejo Carpentier (Trad. Silvia Massimini Felix, Companhia
das Letras, 136 p.) Situada numa Havana mergulhada na incerteza após a queda do
ditador Gerardo Machado em 1933, a narrativa acompanha poucas horas na vida de
duas personagens misteriosas: um aficionado por música e um ex-integrante das
fileiras da luta comunista.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
No dia 19 de agosto de 1929, nasceu o poeta Haroldo de Campos, nome singular para a poesia, o ensaio e a tradução no Brasil. O autor de
Galáxias foi recebido pelo programa Roda Viva da TV Cultura, em 1996. A entrevista completa
está disponível online aqui.
BAÚ DE LETRAS
Publicado incialmente pela
desaparecida Rádio Londres como
Meu pequeno país, o livro Gaël Faye
agora reapresentado entre os leitores brasileiros foi lido à época por Pedro
Fernandes e comentado
aqui no blog.
DUAS PALAVRINHAS
Acho necessário que a literatura
seja poética. Pela formulação poética tento fazer com que o texto seja menos
artificial, reflita a vida. Tento fazer com que as frases contenham mais do que
as palavras que estão ali. É o que me motiva a escrever. O que quero contar,
sei de imediato. A questão é como contar.
— Herta Müller, entrevista para O
Globo
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