O escoteiro que escrevia
Por Daniel Herrera Jorge Ibargüengoitia. Foto: Joy Laville. Em 1958, o filho de Guanajuato comprou um livro de receitas e despesas Sistema Roca para anotar sua vida econômica. Durante todo o ano de 1959, ele escreveu apenas duas palavras: “Sem renda”. Sua estreia como escritor foi, para dizer o mínimo, complicada. Aquele ano de pobreza não foi o único que viveu assim. Como pôde Jorge Ibargüengoitia, renegado pelos colegas e até pelo próprio professor, Rodolfo Usigli, acabar vivendo confortavelmente em Paris e mudando-se de uma cidade para outra para se dedicar exclusivamente à escrita? Por mais estranho que possa parecer hoje em dia, ele só o fez através da sua obra literária. Não precisou de nenhum tipo de ajuda extraliterária para conseguir o êxito. Claro, ele é um daqueles raros casos do século XX: um escritor que estudou para escrever. Fez bacharelado e mestrado. Foi professor, escreveu resenhas, crônicas e artigos, ganhou bolsas e prêmios e fez todo o possível para viver da cr