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Milan Kundera. Foto: Profidia |
LANÇAMENTOS
Reunidos pela primeira vez em
livro, o célebre ensaio que dá nome a este volume e um discurso praticamente
desconhecido de Milan Kundera. Inédito sai em novembro, mas pré-vendas já começaram.
A publicação de “Um Ocidente
sequestrado” no
Le Débat, em novembro de 1983, soou tanto como um apelo
quanto uma acusação. Um apelo à defesa da Europa Central (Hungria, Polônia,
Tchecoslováquia), que do ponto de vista cultural sempre pertenceu ao Ocidente,
mas que, por seu regime político, era vista pelas próprias nações ocidentais
como parte do Oriente. Uma acusação, porque o triste destino dessas “pequenas
nações” indicava também os rumos trágicos da Europa. Traduzido para diversas
línguas e com imensa repercussão internacional à época, o texto demonstra toda
a habilidade argumentativa de Milan Kundera e é marcado pela voz pessoal e
angustiada do autor, que já se destacava como um dos grandes escritores
europeus. Além do ensaio, apresentado pelo historiador Pierre Nora, este volume
ainda inclui o discurso do jovem Kundera no Congresso dos Escritores
Tchecoslovacos de 1967, em plena Primavera de Praga, com uma introdução do
cientista político Jacques Rupnik. Com tradução de Mariana Delfini, o livro com
mesmo título do ensaio original é publicado pela Companhia das Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
Duas vezes Walter Benjamin pela
Editora 34 e Duas Cidades.
1. Foram apenas alguns meses de
1932 e 1933 em Ibiza, na Espanha. Tempo que marcou a vida de Walter Benjamin
profundamente, de modo nunca antes revelado como neste livro de Vicente Valero.
Com sensibilidade, pesquisa minuciosa e conhecimento histórico e geográfico da
ilha do Mediterrâneo, o autor nos mostra que o escritor alemão não estava
sozinho em sua errância — a qual, com a ascensão do nazismo e das tensões que
levariam à Segunda Guerra Mundial, logo se transformaria em exílio permanente.
Foi nesse lugar ainda isolado, com uma economia de subsistência e uma população
nativa de cultura milenar, que se cruzaram alguns destinos de artistas e
intelectuais europeus. Com o mínimo de recursos e próximo à natureza, Benjamin
escreveu em Ibiza textos decisivos, como “Experiência e pobreza” e “Infância em
Berlim”. O livro tem tradução de Daniel Lühmann.
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2. Ao publicar
Rua de mão única,
em 1928, Walter Benjamin sinalizou uma guinada em sua carreira, deixando para
trás as convenções da vida acadêmica e partindo para uma experimentação
intelectual que surge na própria forma do livro, constituído de 60 textos
breves inspirados pela vivência na metrópole moderna, onde as normas literárias
são substituídas por “imagens do pensamento”. A obra é dedicada a Asja Lacis, a
militante de Riga e diretora de teatro por quem Benjamin se apaixonou nos anos
1920 — e que muito o estimulou na época, aproximando-o das vanguardas
artísticas alemãs e soviéticas, como assinala Jeanne Marie Gagnebin na
introdução ao volume. Completam a edição dois textos de Asja Lacis, que abordam
o período em que se conheceram em Nápoles e Capri, um deles redigido com o
próprio Benjamin, além de três resenhas de
Rua de mão única assinadas por
Siegfried Kracauer, Ernst Bloch e Theodor W. Adorno. A tradução é de Rubens
Rodrigues Torres Filho.
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Um novo resgate na obra de
Dinah Silveira Queiroz.
Em
Verão dos infiéis,
romance ambientado no Rio de Janeiro no final da década de 1960, Dinah Silveira
de Queiroz narra um fim de semana chuvoso na vida de uma família de classe
média abalada por questões psicológicas, religiosas e políticas num dos
períodos mais turbulentos da história do Brasil.
A trama tem início com o pedido de ajuda de
Valentina ao cunhado Domingos, que só chegará à cidade dentro de três dias. Ela
é a matriarca viciada em comprimidos de benzedrina que, após tomá-los, se
refugia no “mundo dos mortos”, no qual, em alucinações que envolvem a infância,
reencontra a mãe e o tio já falecidos e tem os melhores momentos do dia.
Moradora de Copacabana, seu marido, “delicado demais para viver num mundo de
grosseria”, suicidou-se alguns anos antes, deixando-a com três filhos pequenos,
os agora adultos Geraldo, Carminho e Aloísio, cada qual enfrentando um dilema
distinto.
Numa narrativa marcada por
encontros e reencontros, bem como por tempestades impiedosas, a escritora
constrói um enredo que segue num crescendo e atinge proporções inesperadas. Um
livro que mais uma vez comprova a genialidade de Dinah como romancista
versátil, capaz de surpreender o leitor com uma história envolvente e repleta
de críticas sociais. O livro é publicado pela editora Instante.
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Romance mais emblemático de
Abdulrazak Gurnah, Paraíso
acompanha o amadurecimento de um menino na
África Oriental nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
Yusuf tem doze anos e foi entregue
por seu pai ao comerciante Aziz como pagamento de uma dívida. Nessa nova
realidade, o garoto parte em uma caravana de seu senhor pelo interior do
continente, onde se vê lançado nas complexidades da África Oriental. A viagem é
marcada por doenças, guerras e dificuldades e revela os meandros de um paraíso
ameaçado, no qual a chegada dos europeus está apenas começando a deixar suas
marcas. Publicado originalmente em 1994 e finalista do Booker Prize,
Paraíso
é considerado o principal romance de Abdulrazak Gurnah, responsável por
projetá-lo na cena literária britânica e exemplo emblemático de sua “percepção
firme e compassiva dos efeitos do colonialismo”, destacada pelo comitê do
prêmio Nobel de literatura. Com uma prosa magistral que une o melhor da ficção
histórica a referências que vão de mitos populares ao Corão, o autor descreve o
amadurecimento de um menino sob a ameaça iminente do colonialismo. Com tradução
de Caetano W. Galindo, o livro é publicado pela Companhia das Letras.
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O herói atrapalhado e
carismático que conquistou o coração de milhares de leitores em As desventuras
de Arthur Less
e deu a Andrew Sean Greer o Pulitzer de Ficção em 2018 está
de volta em uma road trip inesquecível pelos Estados Unidos.
Contrariando todas as
expectativas, a vida vai bem para Arthur Less: ele é um autor relativamente
bem-sucedido, que vive uma relação relativamente estável com seu companheiro,
Freddy Pelu. Mas nem tudo são flores: a morte de um antigo amor e uma repentina
crise financeira fazem Less fugir dos seus problemas mais uma vez ao aceitar
uma série de bicos literários que o forçam a atravessar os Estados Unidos Less
perambula da costa do Pacífico à costa do Atlântico, onde nasceu, e no caminho
encontra uma miríade de personagens no mínimo peculiares ao lado de sua dupla
fiel: uma pug preta chamada Dolly e uma van convertida em motor-home chamada
Rosina. Ele deixa crescer um bigode, abandona seu característico terno cinza e
se disfarça, com uma gravata e um chapéu de caubói, de legítimo
estadunidense... um disfarce que nem sempre funciona tão bem assim, porque ele
segue sendo confundido ou com um holandês — longa história, melhor ler o livro
para entender ―, ou com outro Arthur Less ― não o padre nem o fazendeiro nem o
ator ―, ou, o pior de todos, com um “péssimo gay”. Mas essa viagem de Less
deixa bem claro que não se pode fugir de si mesmo ― não importa quantos
desertos, pântanos e costas sejam cruzados. Arthur Less precisa encarar seus
demônios pessoais: do seu pai distante e seu relacionamento agora a distância
com Freddy a reconhecer e encarar seus privilégios. Com a perspicácia e a
musicalidade que fizeram de
As desventuras de Arthur Less um
best-seller vencedor do Pulitzer,
Less está perdido é um romance
profundo e divertido sobre os mistérios da vida, os enigmas do amor e as
histórias que contamos pelo caminho. Com tradução de Irinêo Baptista Netto, o
livro é publicado pela editora Record.
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Chega ao Brasil um novo romance
de Isabela Figueiredo.
Este é um romance poderoso sobre o
encontro de duas personagens cuja amizade nasce a partir da solidão profunda em
uma sociedade habituada ao desperdício. Num estilo vívido e que esbanja
empatia, característico de seus livros, a portuguesa Isabela Figueiredo — um
dos nomes mais destacados da literatura lusófona contemporânea — faz neste Um
cão no meio do caminho um estudo da solidão e de como nos habituamos a
descartar tudo em nossas vidas, até mesmo nossos amores.
Um cão no meio do
caminho sai no Brasil pela editora Todavia.
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O novo livro de contos de Marco
Severo evoca Nelson Rodrigues.
Conhecido por suas histórias
inquietantes, Marco Severo chega ao seu quinto livro de contos com um título
provocador:
Não há castigo maior do que um amor que dure para sempre. Um
título que pode nos causar, de saída, diversas sensações e questionamentos. Por
que um amor que dure para sempre seria um castigo? Pode um amor durar para
sempre, sendo a própria vida finita, ou seria aqui um “para sempre” nos moldes
de Vinicius de Moraes que, sabendo ser o amor fadado ao fim, “posto que é
chama”, que seja infinito enquanto dure? Qual é a real medida do eterno? A obra
evoca também Nelson Rodrigues, presente através dos “interlúdios rodrigueanos”,
em que Severo busca um diálogo com a obra do autor pernambucano — um provocador
de primeira — por meio de contos que ecoam sua obra, mostrando que a realidade —
fragmentada, tecnologizada, dura como seja, continua a mesma, porque o ser
humano, matéria-prima da qual são feitas estas histórias, também continua o
mesmo, não importa o tempo que passe. Em contos que evocam os mais diversos
tipos de relações humanas, Marco Severo coloca diante do leitor uma obra
profundamente eivada de dor e beleza, de recomeços e buscas por novos caminhos
e, sobretudo, da complexidade labiríntica que é estar vivo. O livro sai pela Editora
Moinhos.
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Em um de seus livros mais
íntimos, a poeta, ativista e ensaísta Nikki Giovanni celebra as lutas e
conquistas de uma vida inteira.
“Não vai ficar/ Tudo Bem/ [...]
Então eu devo aprender/ A chorar”, escreve Nikki Giovanni em um dos primeiros
poemas de Um bom choro. Consagrada entre as principais poetas norte-americanas
da atualidade, ela iniciou sua carreira nos anos 1960, quando o movimento pelos
direitos civis de pessoas negras fervilhava nos Estados Unidos. Desde então, já
são mais de cinco décadas de vida e obra dedicadas à arte e ao ativismo. Neste
livro, toda essa trajetória é revisitada, celebrada e, quando necessário,
lamentada. As dificuldades financeiras vividas na infância, o convívio com
familiares e amigos, a experiência na universidade e a luta política são
descritas com a mesma emoção e vulnerabilidade. Escrevendo sobre alegrias e
dores com uma sabedoria que só a idade permite alcançar, a autora registra o
próprio processo de olhar para trás e permitir que as lágrimas escorram. Com
tradução Nina Rizzi, o livro sai pela Companhia das Letras.
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REEDIÇÕES
A Nova Fronteira reedita
Valsa nº 6
, o único monólogo da obra de Nelson Rodrigues.
Na peça de 1951, a adolescente
Sônia, que é assassinada enquanto executa a “Valsa nº 6” de Chopin, tenta
montar o quebra-cabeça de suas memórias e reconstruir os acontecimentos de sua
vida. Sempre com a peça musical de Chopin como pano de fundo, a moça vai
revelando uma trama de assassinato, adultério, alucinações e conflitos entre o
real e o imaginário.
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Uma nova edição do livro de
crônicas de João Ubaldo Ribeiro.
Como que a desmitificar a imagem
do artista erudito,
O conselheiro come traz também relatos do dia a dia
do escritor. Com a mesma habilidade em combinar leveza e erudição, crítica e
humor, e mantendo sempre sua qualidade literária característica, João Ubaldo
Ribeiro deixa registradas aqui impressões de amanheceres vistos de seu terraço,
caminhadas pelo calçadão da praia do Leblon em busca de uma vida saudável,
andanças pelas ruas do bairro, aventuras e desventuras com computadores e
conversas bem-humoradas nos botecos sobre as agruras da meia-idade. Esta nova
edição, também publicada pela editora Nova Fronteira, traz textos do cineasta
Cacá Diegues e do professor e poeta Cláudio Neves.
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RAPIDINHAS
Reimpressões. A Ubu torna
disponível outra vez a caixa que reúne dois clássicos da literatura: os poemas
épicos
Odisseia e
Ilíada em edições caprichadas com traduções diretas do grego por Christian
Werner.
Outra tentativa de resgate.
A obra de John Williams começou a ser conhecida em nosso idioma pela
desaparecida casa editorial Rádio Londres. Agora, existe a previsão de que
Stoner saia ainda este ano pela Arte & Letra. A informação é do escritor e tradutor
Lucas Lazzaretti, autor da nova tradução.
OBITUÁRIO
Morreu Martin Walser.
Martin Walser nasceu em Wasserburg
a 24 de março de 1927. Iniciou sua carreira acadêmica em Filosofia em Letras,
que precisou ser interrompida quando passou a integrar uma unidade antiaérea
durante os dias finais da Segunda Guerra Mundial. Os estudos foram retomados
mais tarde e do bacharelado chegou ao doutorado com uma tese sobre a obra de
Franz Kafka. O autor tcheco influenciou diretamente o seu primeiro trabalho
literário: o livro
Um avião sobre a casa e outros contos, publicado em
1955. Parte dessa primeira obra é motivada pelo movimento que ele próprio esteve
entre os fundadores sob o título de Grupo 47, profundamente interessado nas conexões
entre literatura e compromisso social e pelo qual passaram nomes como Heinrich
Böll e Günter Grass. Destacou-se ainda no romance, com títulos como
Um homem
apaixonado, única obra de Walser publicada no Brasil e que no seu tempo
casou alvoroço pelas possíveis relações entre o conteúdo ficcional e o
biográfico: a narrativa do envolvimento amoroso de um homem um escritor de 73
anos com uma jovem de 19. Seu principal romance, no entanto, foi
Um cavalo
em fuga (1978). Também escreveu ensaios como
O escritor e a sociedade
(1957) e peças para o teatro de como
O cisne negro (1964). Sempre atuante,
o escritor esteve reiteradamente no centro do debate público por suas
convicções controversas em temas sensíveis à história do seu país, como sua
crítica à transformação da memória do Holocausto é tema perene, algo aparece no
seu discurso de recepção do Prêmio da Paz dos Livreiros Alemães em 1998.
Martin Walser morreu neste 28 de julho de 2023
em Überlingen.
Morreu Eduardo Pitta.
Eduardo Pitta nasceu em Lourenço
Marques, atual Maputo, a 9 de agosto de 1949. Viveu em Moçambique até novembro
de 1975, quando se transfere para Portugal, país onde estabeleceu todo o
restante da sua vida e sua obra situada entre a prosa (conto, crônica, memórias
romance e ensaio) e a poesia, gênero no qual se destaca. Colaborou com vários
periódicos, como as revistas
Ler e
Colóquio/ Letras e os jornais
Diário
de notícias e
Público. Dos livros publicados estão, entre outros:
Sílaba
a sílaba (1974),
A linguagem da desordem (1983),
Arbítrio
(1991) e
Desobediência (2011), na poesia, gênero no qual mais se
destacou;
Persona (2000) e
Devastação (2021), na ficção;
Um
rapaz a arder (2013), nas memórias;
Comenda de fogo (2002), no
ensaio;
Aula de poesia (2010), na crônica. Durante uma década trabalhou
na organização da obra completa de António Botto, projeto que se concretiza com
Poesia (2018). Eduardo Pitta morreu em 25 de julho de 2023, em Torres
Vedras.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Paris dos escritores
americanos, de Ralph Schor (Trad. Joana Angélica d’Avila Melo, L&PM
Editores, 232 p.) O que significou o contínuo exílio de uma geração de escritores
estadunidenses na Paris de entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e como
era o cotidiano da vida intelectual na capital francesa são algumas das perguntas
que o historiador busca investigar neste livro. A história de uma efervescência
cultural que Gertrude Stein, uma das figuras desse grupo, chamou de
geração perdida.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
A dor, de Marguerite
Duras (Trad. Luciene Guimarães de Oliveira e Tatiane França, Bazar do Tempo, 208
p.) A angústia vivida durante a Segunda Guerra Mundial numa França ocupada
pelos nazistas está no epicentro deste exercício de recordação nascido a
partir do reencontro de uma escritora em maturidade com a jovem que escrevia
diários para o registro do seu cotidiano.
Você pode comprar o livro aqui.
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