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Italo Calvino. Foto: Ugo Mulas.
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LANÇAMENTOS
Em comemoração ao centenário de
nascimento de Italo Calvino em 2023, a edição de Todas as
cosmicômicas
ganha ilustrações coloridas de Marcelo Cipis e projeto
gráfico especial.
Todas as cosmicômicas resulta da reunião de dois livros que Italo
Calvino publicou na década de 1960: “As cosmicômicas” e “T = 0”. São narrativas
que começam com um enunciado científico (ou pseudocientífico) sobre as origens
do universo e dos planetas e outros temas do passado cósmico remoto para dar,
em seguida, a palavra ao personagem central de todas elas, que tem o
palindrômico e impronunciável nome de Qfwfq. O livro ainda inclui os “contos
dedutivos”, nos quais o narrador parece mais interessado em examinar as
ramificações de uma ideia do que em contar uma história, desenvolvendo uma
espécie de raciocínio obsessivo, paranoico e labiríntico não estranho a certos
textos de Kafka. Os textos, que reafirmam a posição de Calvino como um dos
grandes exploradores dos novos caminhos da narrativa e um dos maiores clássicos
do século XX, ganham uma nova dimensão com as ilustrações de Marcelo Cipis e
projeto gráfico de Raul Loureiro, produzidos especialmente para este volume. A
tradução de Ivo Barroso e Roberta Barni é reeditada pela Companhia das
Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
Um novo livro de ensaios da helenista,
poeta e tradutora, Anne Carson.
A coletânea
Sobre aquilo em que
eu mais penso reúne textos de Anne Carson em que a autora transita por
diferentes modos de prosa e poesia e foi organizada por Sofia Nestrovski e
Danilo Hora com o intuito de apresentar essa obra pelo prisma do ensaísmo. Ao
longo de onze textos, escritos num arco de mais de uma década e todos eles
inéditos no Brasil, o livro oferece uma visão abrangente dos principais
interesses que movem o pensamento desta que é uma das autoras mais originais da
contemporaneidade. Nestes ensaios, Anne Carson é capaz de aproximar os autores
aparentemente mais distantes, por meio de um olhar investigativo extremamente
sensível a elementos perenes da experiência e da cultura humanas: o tempo em
Virginia Woolf e Tucídides, o sono em Homero e Elizabeth Bishop, o documental
em Longino e Antonioni, o intraduzível em Francis Bacon e Joana D’Arc. O livro sai
pela Editora 34.
Você pode comprar o livro aqui.
Uma Odisseia contemporânea em três volumes traduzida diretamente do
grego.
Poena Damni reúne
três livros do poeta grego Di
mitris
Lyacos. Z213: EXIT, o primeiro, confronta-nos com a ideia de terror no
seu estado mais puro. Fugido de uma prisão, de um hospital ou de uma cidade
destruída, o protagonista — um Ulisses lançado a um cosmos sem deuses —
atravessa os escombros de um mundo arrasado por uma catástrofe bélica. Ao
chegar a uma estação de trem, compra um casaco velho que pertenceu a um
soldado, e no seu bolso encontra uma Bíblia repleta de anotações misteriosas. A
partir desse momento, ele decide escrever um diário para contar a história da
viagem que o levou até lá: a fuga de uma morte coletiva, de um Apocalipse em
que não há esperança de salvação. O segundo volume, Com as pessoas da ponte,
evoca um mundo em que a morte é uma experiência reversível. A jornada do
protagonista prossegue. O homem chega a um lugar envolto em escuridão,
pontilhado de figuras humanas jogadas em uma esquina, cães vadios e prédios
degradados; um ambiente que logo se transforma em uma cena teatral, na qual é
representado o drama de um homem e sua tentativa de arrebatar da morte a mulher
que amava. Entre a sucessão de vozes nos becos e o ruído branco de uma TV que
não funciona, a realidade confunde-se, pontuada apenas por trens que continuam
circulando. Por fim, o terceiro volume da trilogia dá voz a um delírio
alucinatório que surge na sequência da tragédia. A primeira morte é o
título de um livreto encontrado pelo protagonista durante uma viagem de trem,
cujo conteúdo aqui lemos: um homem perde-se numa ilha deserta, e nas catorze
seções que compõem o poema, seguimos as suas tentativas de sobreviver em um
mundo engolfado pela morte. A destruição parece atingir seu ápice, até que
algo, um clarão na escuridão, afasta o homem do seu destino, projetando-o no
espaço como uma partícula à deriva, rumo a um lugar onde talvez um dia possa
voltar a viver. Com tradução de José Luís Costa, o livro é publicado pela
Relicário. Você pode comprar o livro aqui.
Em A legibilidade do mundo
,
publicado originalmente em 1981, Hans Blumenberg percorre, a seu modo, isto é,
perseguindo temática e analiticamente o movimento cinético das imagens metafóricas,
a história da relação metafórica mundo-livro.
Essa trajetória histórica, segundo
o autor, afirma, por meio de diferentes premissas epistemológicas, a ideia de
que o mundo é, por princípio, alguma coisa decifrável pela consciência. Em
outras palavras, se o mundo é como um livro, a totalidade das experiências
possíveis nesse mundo se torna acessível à consciência. Todavia, o acesso ou o
meio para que a consciência organize essa totalidade é justamente a operação
que permite a construção da ideia de mundo como livro: a metáfora. A concepção
do mundo como livro estabelece uma relação homóloga entre o mundo e a
consciência, permitindo que a infinidade de experiências possíveis apareça como
uma dimensão apreensível. A representação metafórica mobiliza a um só tempo uma
visão da forma do mundo (como um livro) e uma concepção de leitura. Blumenberg
estuda os sentidos e usos dessa metaforização, nos fazendo compreender que, em
primeiro lugar, ela supõe uma “ideia cultural do livro” e, em segundo lugar,
que ela requer a condição de existir um autor. É aqui que as coisas se tornam
interessantes porque, voltando ao tema da teodiceia-problema
teológico-filosófico caro ao filósofo alemão —, o mundo-livro se configura como
uma tensão entre a natureza e a Revelação. Essa tensão é reconfigurada na
modernidade, quando o livro deixa de ser o Livro de um Autor e passa a ser um
dispositivo incessantemente redigido. A trajetória percorrida por Blumenberg
marca um traço fundamental para o entendimento do conceito de “metáfora absoluta”:
a imagem do livro, em seu movimento, irrealiza o mundo na medida em que o abre
ao inapreensível. A reflexão levada a cabo neste livro não é simplesmente uma
história de uma metáfora. Ao relacionar o livro à curiosidade ou ao desejo de
saber, Blumenberg nos convida a pensar sobre o que nós queremos do mundo quando
o projetamos como legível. (Aline Magalhães Pinto) Com tradução de Georg Otte,
o livro é publicado pela Editora Ufmg.
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Um segundo livro de Alia
Trabucco Zerán no Brasil.
“Assassinas, respondo eu,
repetidas vezes, quando me perguntam sobre o assunto deste livro. Estou
pesquisando casos de mulheres assassinas. E, diante de mim, como um roteiro
teimoso, […] em vez de ouvir a palavra ‘assassinas’, um estranho lapso mental
os leva a entender o oposto: ‘assassinadas’.” É deste modo que Alia Trabucco
Zerán inicia
As homicidas, livro em que se dedica a investigar quatro
assassinatos que chocaram o Chile no século 20. Além de bárbaros, esses crimes
também causaram comoção porque suas perpetradoras eram mulheres. Mesclando
pesquisa documental e impressões pessoais, a autora, que com este livro venceu
o British Academy Booker Prize de 2022, faz uma apuração detalhada na busca por
compreender as motivações, explicar o tratamento dispensado a essas mulheres
pela justiça e mostrar como os assassinatos e suas executoras foram
representados nas artes. Mulheres jovens, trabalhadoras braçais ou
intelectuais, ricas ou pobres, nenhuma dessas quatro personagens se viu livre
de julgamentos tendenciosos e representações fantasiosas de suas personalidades
pela imprensa sensacionalista. Por darem lugar ao ódio e à violência,
incompatíveis com o que o patriarcado insiste em tratar unicamente como frágil e
maternal, os crimes subverteram o que se esperava do comportamento feminino.
Como diz a autora, “no corpo das mulheres, a raiva costuma ser adjetivada como
desmedida, irracional ou de origem histérica, denominações que cumprem a função
de deslegitimar as causas dessa raiva e de apagar seu responsável”. Neste
livro, que nada deve às melhores narrativas do
gênero true crime, Alia
Trabucco Zerán aborda de forma magistral e surpreendente um tema ao mesmo tempo
incômodo e revelador, indo na contramão do imaginário coletivo ao colocar a
mulher em uma posição de ataque. Publicação da editora Fósforo com tradução de
Silvia Massimini Félix.
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Um romance em que os velhos vivem
quase para sempre e o resto das pessoas morre ainda jovem.
Em um futuro próximo, onde os
idosos vivem quase para sempre e o resto das pessoas morre ainda jovem, um
homem luta para manter vivo seu querido bisneto. Este romance de Yoko Tawada
conta uma história onírica de esperança cintilante em meio ao apocalipse do
mundo natural. Uma distopia em que o amor familiar pode vencer a devastação da
humanidade, trazendo um vislumbre delicado do nosso futuro, escrito por uma das
autoras contemporâneas mais celebradas do Japão. Com tradução de Satomi Takano Kitahara,
As últimas crianças de Tóquio é publicado pela editora Todavia.
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Um romance hilário, ousado e
diferente de tudo o que já se viu. Parece invenção, mas é (quase) tudo nossa
história.
Numa pátria chamada Plazil,
Bráulio Garrazazuis Bestianelli elegeu-se presidente. Neste misto de ficção
histórica e pornochanchada política, acompanhamos desde a infância do
protagonista até a instauração de uma ditadura autoproclamada, em episódios que
certamente soarão familiar ao leitor. Isso porque, para construir Bráulio,
Bruna Kalil Othero mergulhou em nossa história republicana e pinçou
características de todos os homens que ocuparam o mais alto cargo de poder. Já
o que acontece entre quatro paredes fica por conta da autora. Com muito bom
humor e inventividade, Bruna nos convida a olhar para nosso passado para ver o
que constitui o Brasil — e nós mesmos. Repleto de referências que vão de
Machado de Assis, Hilda Hilst e Nelson Rodrigues a memes da internet,
O
presidente pornô é o romance de estreia de uma das vozes mais instigantes
da literatura contemporânea brasileira. O livro é publicado pela Companhia das
Letras.
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Uma história de reconexão
familiar.
Uma jovem mexicana parte para a Espanha com o irmão para reencontrar a mãe,
ausente desde a infância dos dois. Porém, no novo país, a perspectiva de
reconexão familiar vai ruindo diante de uma sociedade que é cruel com
imigrantes. Resta viver à margem, cuidando de idosos ou limpando banheiros,
enquanto se questiona sobre o quê, afinal, dá sentido aos seus dias. Esse
conflito se intensifica após o suicídio do irmão, quando ela tem que carregar
as cinzas dele de volta para o México ― e aí somos tragados pela prosa brutal e
inebriante de Brenda Navarro. Com tradução de Julia Dantas,
Cinzas na boca
é publicado pela editora Dublinense.
Você pode comprar o livro aqui.
Os bastidores do trabalho de
editora por Vanessa Ferrari, mas não só.
Ser editora é dizer não; e alguns
sim. Mas com base em que critérios? As escolhas das editoras são justificáveis?
O dito feeling pode ser aprendido? Vanessa Ferrari é uma profissional
experiente que já analisou centenas de originais. Neste livro ágil e envolvente,
ela revela segredos do ofício, começando pela leitura de obras que pretendem
ser publicadas. Na sequência, a autora — aqui ocupando o outro lado da mesa,
isto é, foi lida, examinada, respondida e editada — propõe cinco tipos de
narrador e suas características, mostrando, com fartura de exemplos, as
armadilhas estilísticas dos primeiros rascunhos, das frases prontas e, em uma
escala mais ampla, desmonta o que o senso comum entende como escrita literária.
No final, depois de suas palavras honestas à guisa de considerações finais,
Vanessa Ferrari sugere obras que contribuem para uma formação consistente aos
que desejam editar e seguir uma carreira literária. (Ana Elisa Ribeiro)
O
lugar das palavras: primeiros embates do narrador contemporâneo sai pela Editora
Moinhos.
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A sabedoria de Maya Angelou
pautada por grandes desafios e conquistas ainda mais notáveis.
Com a habilidade de uma exímia
contadora de histórias, que compartilha suas experiências com palavras simples
e generosas, Angelou costura uma diversidade de assuntos — alguns deles
invisibilizados até os dias de hoje, como a solidão da mulher negra — para
tecer uma obra repleta de ensinamentos sobre como viver com autenticidade e
sabedoria. Entre meditações e narrativas de sua própria biografia, por vezes em
um tom proverbial que evoca os saberes ancestrais, a escritora aborda com
sensibilidade temas que atravessam boa parte de nós, como o racismo, a
intolerância, o luto, o poder das palavras, a fé, a necessidade de saber quem
se é e se autoafirmar no mundo. Em
Não trocaria minha jornada por nada,
somos envolvidos em uma conversa íntima que nos motiva a nos reconectarmos com
nossa essência, desenvolvermos um senso de coletividade e mantermos a mente e o
coração abertos ao navegar pela vida. Uma leitura para ser feita com olhar
atento e uma lupa, pois em cada frase aparentemente despretensiosa podemos nos
deparar com um insight capaz de nos transformar. A editora Nova Fronteira publica
o livro com tradução de Julia Romeu e prefácio de Vilma Piedade.
Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Mais Hermann Hesse no Brasil.
A Todavia anunciou para agosto de 2023 a publicação de
Rosshalde,
romance em tom autobiográfico em que Hesse retrata a história de um homem
cindido entre as obrigações familiares e o desejo de realização artística, que
só pode ser alcançado fora dos limites da sociedade convencional.
Italo Calvino, 100. Além das
edições que merecem o nome de especiais, a revista da Companhia das Letras
inicia neste sábado uma contagem regressiva para até o dia 15 de outubro de
2023, data da celebração do centenário do escritor italiano, com publicações
diárias sobre a sua obra.
Mais William Carlos Williams 1. O clube
Círculo de Poemas, das editoras Fósforo e Luna Parque, prepara a publicação de
Paterson
que sai em agosto com tradução, prefácio e notas de Ricardo Rizzo.
Mais William Carlos Williams 2. Depois de uma longa ausência esta
é uma segunda obra do poeta estadunidense a galgar espaço no Brasil;
recentemente, a Companhia das Letras recolocou em circulação a antologia
organizada e traduzida por José Paulo Paes.
Lygia Fagundes Telles nos Correios. Um novo selo da casa traz a estampa da escritora brasileira realizada por Cecília Langer. O lançamento acontece na sede da Academia Brasileira de Letras, ocasião quando será entregue o Prêmio Machado de Assis para Marina Colasanti.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
A mulher ruiva, de Orhan
Pamuk (Trad. Luciano Vieira Machado, Companhia das Letras, 280 p.) A narrativa
acompanha um jovem abandonado pelo pai que se torna um cavador de poços. O aparecimento
de uma figura enigmática favorecerá outro destino para o enlace dos dois.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
Sobrevidas, de Abdulrazak
Gurnah (Trad. Caetano Galindo, Companhia das Letras, 282 p.) Um romance que
lança luz sobre as consequências devastadoras da opressão e do colonialismo no
continente africano a partir de várias narrativas em que as personagens estão ao
mesmo tempo em trânsito e em busca de suas raízes, da luta e da esperança da conquista.
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3.
Cidade aberta, cidade fechada, de Ricardo Ramos Filho (Record, 112 p.)
O neto de Graciliano Ramos regressa com um livro de crônicas (ou entre contos e
crônicas, como designa o escritor Antônio Torres) de dicção urbana que constrói
um antes e um durante a pandemia de covid-19 na maior cidade da América Latina.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
A semana que agora termina foi
marcada pela memória de Franz Kafka; no último dia 3 de julho de 2023, passou-se
o 140.º aniversário do escritor tcheco. Sublinhamos a efeméride recordando, do
Tumblr do Letras, uma sequência com de dez dos seus desenhos.
BAÚ DE LETRAS
Ainda Franz Kafka. A entrada mais recente no
Letras
sobre o escritor, é
este texto de Pedro Fernandes sobre a recente e primorosa
edição da Bandeirola para o primeiro romance de Kafka.
Um dia antes de Franz Kafka, mas
em 1877, nasceu Hermann Hesse. Sobre o escritor alemão e sua obra, uma das entradas
mais recentes neste baú é a tradução
deste texto de Domínguez Michael.
DUAS PALAVRINHAS
A vida de cada pessoa é um caminho
para si mesmo, a tentativa de um caminho, a insinuação de uma trilha. Nenhum
ser humano jamais foi inteiramente si mesmo, mas cada um de nós luta para
tornar-se si mesmo.
— Hermann Hesse,
A magia de
cada começo.
...
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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