Por Javier Yuste
Considerado como um dos melhores
romancistas estadunidenses de sua geração, Cormac McCarthy teve uma relação estreita
com o meio audiovisual, ele mesmo escrevendo roteiros para o cinema ou acompanhando
como seu trabalho se adaptava às telas. Diretores como os irmãos Coen, Ridley
Scott ou Billy Bob Thornton trataram de capturar o véu poético de sua literatura,
adentrando-se num mundo que gravita entre o noir e o western.
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Matt Damon e Henry Thomas na adaptação de All the Pretty Horses. |
Todos os belos cavalos
(2002), de Billy Bob Thornton
O primeiro dos romances da
Trilogia da Fronteira de Cormac McCarthy é o mais romântico, o que ajudou o
escritor a ganhar leitores e dois prêmios importantes: o National Book Award e
o National Book Critics Circle Award. O ator Billy Bob Thornton, que estreou na
direção uns anos antes com Na corda bamba (1997), foi encarregado de
dirigir esta adaptação meio descafeinada e plana em relação ao material
original.
Na tela vemos como o jovem John
Grady Colle cruza a fronteira com o México em busca de aventuras e se apaixona
pela filha de um rico fazendeiro, o que resulta em conflito com sua família e a
lei e acabe com seus ossos na prisão. Matt Damon, trazido à cena pelo sucesso
de Gênio indomável (Gus van Sant, 1997) e de O talentoso Ripley
(Anthony Minghella, 1999), e Penélope Cruz, em um de seus primeiros papéis em
Hollywood, interpretam os protagonistas. Segundo alguns rumores, Harvey
Weinstein massacrou o corte final de Thornton, retirando uma hora do filme.
Onde os fracos não têm vez
(2007), dos irmãos Coen
A melhor adaptação de McCarthy até
a data. O filme alcançou quatro estatuetas no Óscar de 2008: Filme, Direção, Roteiro
Adaptado e Ator Coadjuvante para Javier Bardem, que interpreta com brilhante
laconismo o enervante e monstruoso assassino de aluguel Anton Chigurh, um vilão
de marca da casa McCarthy.
A história, ambientada em 1980 na
fronteira do Texas, segue Llewellyn Moss (Josh Brolin), um caçador de antílopes
que um bom dia se encontra com um dos homens crivados de balas, um carregamento
de heroína e dois milhões de dólares em efetivo. A história se acomoda
perfeitamente ao modelo dos Coen, interessados pela fatalidade irônica do
destino, que já se manifestavam em Gosto de sangue (1984) ou Fargo
(1996). Inesquecível também é a interpretação que realiza Tommy Lee Jones desse
crepuscular e desolado xerife que não entende o mundo sinistro que se desfaz
ante seus olhos.
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Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee na adaptação de The road. |
A estrada (2009), de John
Hillcoat
O romance que disparou
definitivamente a popularidade de Cormac McCarthy e que lhe rendeu o Prêmio
Pulitzer em 2007. Nele, um misterioso cataclismo arrasou com o planeta e um pai
e um filho se dirigem para a costa em busca de um lugar onde se fixar enquanto
se cruzam com outros sobreviventes, alguns convertidos em canibais.
O filme conta com uma
interpretação intensa e desgarradora de Viggo Mortensen e uma fotografia
prodigiosa do espanhol Javier Aguirresarobe. O diretor John Hillcoat se mantém
fiel ao texto original (é um dos romances mais curtos de McCarthy) e trata de
destilar a poesia e a emoção da narrativa, alcançando uma obra desoladora e
brutal que se coloca entre o melhor que foi levado à tela a partir da pena do
autor estadunidense.
No limite do suicídio
(2011), de Tommy Lee Jones
O próprio Cormac McCarthy adapta
para a televisão sua segunda obra de teatro, datada de 2006. A história gira em
torno de um ex-condenado chamado Black (Samuel L. Jackson) e um professor de
humanidades chamado White (Tommy Lee Jones).
A partir desse momento, confinados
num apartamento, ambos estabelecem uma intensa relação em que manterão intensas
discussões de caráter ideológico, marcadas pela sabedoria de vida de Black e o
niilismo de White. Um tour de force interpretativo entre Samuel L.
Jackson, em um de seus melhores trabalhos, e Tommy Lee Jones, que parece
desfrutar do brilhante diálogo orquestrado por McCarthy.
Filho de Deus (2013), de
James Franco
O ator James Franco dirige esta
adaptação do terceiro romance de Cormac McCarthy, um dos mais enigmáticos do
autor, num filme enquadrado dentro dos esquemas do cinema indie
estadunidense que estreou na seção oficial do Festival de Veneza.
Ambientado no Tennessee, a
narrativa fílmica conta a história de Lester Ballard, um homem violento que
trata de viver à margem da ordem social. Um filme desconcertante, cru e duro,
que não recebeu muito amor da crítica apesar do grande trabalho de Scott Haze
dando vida ao protagonista.
O conselheiro do crime
(2013), de Ridley Scott
O único roteiro original de
McCarthy que chegou ao cinema. Vemos como um reconhecido advogado vivido por
Michael Fassbender se infiltra numa operação de tráfico de drogas na fronteira
mexicana com o fim de multiplicar os zeros de sua conta corrente.
O filme, dirigido por Ridley Scott,
segue a linha de cinema noir de Onde os fracos não têm vez e
acrescenta uma importante carga de erotismo, com uma cena difícil de esquecer:
Cameron Diaz em sexo com um carro de luxo. A peça, que inclui também Brad Pitt,
Penélope Cruz, Javier Bardem e Bruno Ganz, completa uma proposta que se adentra
no lado escuro do ser humano, com uns impactantes estalidos de violência.
* Este texto é a tradução livre para “Cormac
McCarthy y el cine, una relación intensa con cumbres como ‘No es país para
viejos’ o ‘La carretera’”, publicado aqui, em El Cultural.
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