Boletim Letras 360º #537
Édouard Louis. Foto: Jean-François Robert |
LANÇAMENTOS
A editora Todavia tem agora no
catálogo a obra de Édouard Louis.
1. Lutas e metamorfoses de uma
mulher é uma continuação de seu ambicioso projeto autobiográfico. Neste
livro, o autor conta a história de libertação da mãe, “que lutava pelo direito
de ser mulher contra a não existência que lhe impunham”. Através de uma foto,
traçando a arqueologia de sua mãe, ele descobre uma mulher que sobreviveu
àquilo que deveria tê-la destroçado. Você pode comprar o livro aqui.
2. Quem matou meu pai é uma
narrativa breve e dilacerante, que reflete sobre a relação com o pai, fraturada
pela indiferença, pela vergonha e pelo conflito. “Não tenho medo de me repetir,
porque o que escrevo, o que eu digo, não atende às exigências da literatura,
mas às da necessidade e da urgência, às do fogo”, é o que diz Louis. Esse é o
tom de manifesto inadiável que percorre a obra e se faz sentir na figura do pai
doente e moribundo, que o narrador visita para prestar ajuda mas, acima de
tudo, em busca de reconciliação. Os dois livros foram traduzidos por Marília
Scalzo. Você pode comprar o livro aqui.
Livro do escritor considerado
fundador da tradição revolucionária na literatura russa ganha primeira tradução
no Brasil.
Publicado pela primeira vez também
com tradução direta do russo, Viagem de Petersburgo a Moscou é
a principal obra de Aleksandr Radíschev, considerado o fundador da tradição
revolucionária na literatura russa. Em seu relato de uma viagem fictícia de São
Petersburgo a Moscou, através de uma rota postal que passa por diferentes
cidades, Radíschev retrata um quadro em que sobressaem a injustiça social, a
miséria e a brutalidade. Incorporando elementos diversos para construir sua
narrativa, o autor, ao expor as mazelas do Império Russo, oferece também uma
crítica à servidão, à autocracia e à censura. Considerado por muitos
revolucionários o primeiro de uma linhagem de escritores russos que fizeram de
sua obra veículo privilegiado para transmitir uma mensagem de transformação
social, o autor cria uma língua literária singular. Lançado pela primeira vez
em 1790, no reinado de Catarina II e um ano após a Revolução Francesa, a obra
irritou a imperatriz. Condenado, Radíschev foi enviado para um exílio interno
na Sibéria, onde passou quase seis anos longe de sua família. Pouco tempo
depois do cumprimento de sua pena, Radíschev colocaria fim a seus dias, vindo a
falecer em 24 de setembro de 1802. Com tradução apresentação e notas de
Paula Vaz De Almeida, o livro é publicado pela Boitempo. Você pode comprar o livro aqui.
Mia Couto publica uma antologia
com contos dirigidos ao público de leitores brasileiros.
As pequenas doenças da eternidade
traz histórias que tratam de grandes males que assombram a sociedade, dos
tempos mais remotos aos dias atuais. A perspectiva da finitude, o medo do
abandono, indiferença, traições, guerras e pandemias — são estes alguns dos
temas que perpassam os textos aqui reunidos. O título remete a dos contos em
que uma mãe e seu filho rezam para evitar graves enfermidades e tentam, sem
sucesso, postergar o próprio fim. A saúde — assim como a paz, a igualdade, a
dignidade — é a súplica que permeia todas estas páginas. O velho que recebe em
casa um enfermeiro em serviço de rastreio da covid-19; uma mulher que aguarda a
volta do marido; um rapaz que retorna à sua aldeia e não é reconhecido; as
sombras do abandono numa sala de espera de hospital. Entre uma reflexão e
outra, o leitor encontra personagens e cenas que não lhe sairão tão cedo da
memória. Os textos reunidos no livro saíram inicialmente na revista portuguesa Visão
e para a edição brasileira, o escritor moçambicano introduziu várias alterações
em relação à edição portuguesa, desde o título, passando à seleção dos textos e
aos muitos detalhes de outros. O livro é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Um novo título de Carla Maliandi chega aos leitores brasileiros.
A capacidade de fazer rir de uma tragédia, de afligir com uma letargia,
de angustiar com o desespero alheio e chocar com o rumo que uma história pode
tomar. Talvez essa seja a definição de A estirpe. Em plena festa de
aniversário, um globo espelhado cai do teto sobre a cabeça de Ana. Um tanto
cômico, se não fosse trágico. O ocorrido faz com que perca a memória, as
palavras, os afetos. Não se lembra do esposo, da mãe, do filho, da empregada. A
resposta pode estar em seu escritório, repleto de fotos, caixas e documentos
sobre uma campanha militar do fim do século XIX. Materiais para um livro que
estava a escrever, mas o vasculhar de objetos a transporta a algo inesperado,
incompreensível, para lembranças que não são suas, para palavras que não
imaginava conhecer. Originalidade descreve bem a escrita de Carla Maliandi e A
estirpe é prova do merecido adjetivo. Ela nos encanta sem floreios,
surpreende como um tropeço e nos faz questionar como foi capaz de unir eventos
corriqueiros, acontecimentos e reparações históricos, dilemas pessoais e
familiares e a agonia e insanidade que tomam conta da protagonista (e
ultrapassam as páginas) em uma novela sólida e, ao mesmo tempo, insólita. A
estirpe poderia ser um romance histórico, ou um drama familiar, ou um
relato introspectivo de uma mulher vazia, mas é um livro único, para ser lido
de modo alucinante e refletido por dias a fio. (Aline Teixeira) Com tradução de
Sérgio Karam, o livro sai pela editora Moinhos.
Novo livro de Mariana Enriquez reúne doze histórias de terror
perturbadoras e que modernizam o gênero.
Uma menina descobre ossos no quintal, e não são de um animal. Uma cena
bucólica de verão, garotas se banhando no lago de uma pedreira, transforma-se
num inferno motivado por ciúme e inveja. Um homem marginalizado semeia
desgraças em um bairro rico após ser maltratado. Barcelona se transforma em um
cenário perturbador, marcado pela culpa e do qual é impossível escapar. Uma
presença fantasmagórica busca um sacrifício em um balneário. Uma garota que tem
fetiche por homens com doenças cardíacas. Uma estrela do rock vítima de uma
morte horrível é homenageada por fãs de um jeito inimaginável. Um sujeito que filma
clandestinamente casais transando e mulheres de salto alto andando pelas ruas
recebe uma proposta que mudará sua vida. Em Os perigos de fumar na cama,
Mariana Enriquez reúne doze histórias fantásticas, lançando mão de um amplo
repertório de recursos narrativos inspirados nos clássicos do terror:
fantasmas, bruxas, brincadeiras com espíritos, visões e mortos que voltam à
vida. Mas, muito além de apenas revisitá-los, ela renova o gênero pelo qual
ficou conhecida, demonstrando mais uma vez a força de sua voz radicalmente
contemporânea. Suas histórias mergulham no sinistro que espreita o cotidiano,
exibem um erotismo obscuro e tecem imagens poderosas cuja marca é inegável. Quem
gostou de As coisas que perdemos no fogo e Nossa parte de noite
tem agora a oportunidade de adentrar mais uma vez a mente fantástica dessa
autora, que se conecta com mestres da literatura como Shirley Jackson, Thomas
Ligotti e Julio Cortázar. Mariana Enriquez perscruta os abismos mais sombrios
da alma humana, as correntes ocultas da sexualidade e da obsessão. Com tradução
de Elisa Menezes, o livro sai pela editora Intrínseca. Você pode comprar o livro aqui.
Para além de sua obra, Alice Walker
sempre esteve no olho do furacão dos debates e acontecimentos da sociedade
moderna. Neste livro inédito, conheça a autora de A cor púrpura através
dos escritos de sua vida pessoal.
Alice Walker é uma das mais
importantes personalidades da atualidade. Mulher negra, nascida em uma família
grande e de poucos recursos no Sul dos Estados Unidos, ela conseguiu ― com
esforço, talento e auxílio daqueles que acreditaram no poder de sua voz ―
galgar reconhecimento mundial. A necessidade de escrever é como a sede, diz
Walker, que começou a registrar ideias, percepções e sentimentos em diários aos
18 anos de idade e nunca mais parou. De lá para cá, suas confissões diarísticas
somam mais de 65 volumes e traçam aquilo que faz uma mulher se tornar ela mesma
― como observa Valerie Boyd, professora, escritora e crítica literária que
passou quase uma década organizando as entradas dos diversos cadernos. O
resultado é um registro apaixonado, íntimo e poético da construção de uma
artista única e irretocável. Além de célebre autora, Walker foi ativista no
Movimentos pelos Direitos Civis, marchando ao lado de Martin Luther King Jr.;
casou-se com um advogado judeu, desafiando as leis contra o matrimônio
inter-racial; escolheu realizar um aborto precoce; anos depois deu à luz a
filha em meio à escrita de seu primeiro romance; ganhou o Prêmio Pulitzer de
ficção; desafiou padrões ao assumir-se bissexual; e denunciou práticas de
mutilação genital feminina. Em meio a uma vibrante e conhecida vida pública, é
possível agora olhar para sua intimidade: a família, os amores, as amizades, os
problemas financeiros e as angústias espirituais, que formam as camadas do
indivíduo e dão o sabor de humanidade e identificação. Com tradução de Nina
Rizzi Colhendo flores sob incêndios: Os diários de Alice Walker: 1965–2000
sai pelo selo Rosa dos Tempos. Você pode comprar o livro aqui.
Nova tradução para os textos em
prosa de Charles Baudelaire.
Poeta fundamental do cânone
europeu, Charles Baudelaire também foi um prolífico autor de textos em prosa,
como se observa nesta seleção de Júlio Castañon Guimarães. A tradução, também
assinada por Guimarães, revela um trabalho cuidadoso e atento às nuances do
texto original, capturando o estilo melancólico de Baudelaire. Prosa
expõe a diversidade de interesses do autor francês, explorando sua faceta de
crítico literário e de arte, além de sua vida íntima, com entradas
fragmentárias de diário e a obra Paraísos artificiais, onde narra experiências
com haxixe. Central ao livro é “Spleen de Paris”, que inspirou pensadores como
Walter Benjamin pelo seu retrato da vida urbana e da chegada violenta da modernidade.
Trata-se de poemas em prosa que podem ser lidos como contos ou pequenos
instantâneos assombrados pela figura do flâneur — o caminhante das grandes
cidades. O livro é publicado pelo selo Penguin/ Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Em seu terceiro livro publicado
no Brasil, Abdellah Taïa nos apresenta Malika, uma mulher relegada à miséria
após o fracasso de seu casamento com Allal.
Ela abandona a vida de casada ao decidir combater na Indochina francesa, ao lado dos franceses. Malika é “salva” por um segundo casamento, com Mohammed, com quem terá nove filhos em Rabat. É lá que Malika travará sua grande batalha para impedir qualquer destino como o seu. Quer evitar que Khadija, sua filha, se torne empregada na casa de Monique, uma mulher que vive na França mas não consegue esquecer a beleza do Marrocos. Num terceiro momento, tenta convencer Jaâfar, amigo de seu filho Ahmed, a não voltar ao presídio de onde acabara de sair. São nas suas tentativas, e com a espessura do tempo, que conhecemos várias Malikas e suas estratégias de escapar às crueldades de uma vida que ela mais enfrentou do que viveu. Viver à sua luz sai pela editora Nós e a tradução é de Camila Vargas Boldrini. Você pode comprar o livro aqui.
Tobias Carvalho registra com primor literário essa revolução
cotidiana da vida sexual de jovens de vinte e poucos anos.
Narrado por Artur, um jovem gay
introvertido que às noites vira uma drag queen exuberante, Quarto
aberto conta a história de uma reviravolta pessoal inesperada. Quando
Artur se reconecta com Eric, um garoto com quem se envolvera anos antes, este
agora está em um relacionamento aberto com Antônio, jovem rico de beleza padrão
com quem Artur começa a se relacionar. A vida estável do narrador passa a expor
trincas e rachaduras quando Caíque, seu namorado, também entra na equação,
transformando o triângulo amoroso em algo ainda mais complexo. Tobias Carvalho retoma com
maturidade suas investigações literárias sobre a homossexualidade masculina em
tempos de aplicativos de sexo, tema de sua obra de estreia. Dotado de uma prosa
seca que remete ao mesmo tempo ao estilo pop de Sally Rooney e aos diálogos
elípticos de Raymond Carver, Quarto aberto mostra, sem moralismo, a
complexidade dos relacionamentos de uma geração de vinte e poucos anos para a qual
todas as opções se revelam disponíveis e sedutoras. O livro sai pela Companhia
das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Regressos. A Companhia das
Letras anunciou a reimpressão de cinco títulos do seu catálogo de esgotados. Entre
eles, estão outra vez disponíveis Uma questão pessoal e 14 Contos de Kenzaburō Ōe, Reparação de Ian McEwan e Febre e lança, o
primeiro volume da trilogia Seu rosto amanhã, de Javier Marías.
PRÊMIO LITERÁRIO
Marina Colasanti é a vencedora do
Prêmio Machado de Assis 2023.
O resultado do prêmio atribuído pela Academia Brasileira de Letras, o
mais longevo em atividade no Brasil, saiu na quinta-feira, 22 de junho. Marina
Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritréia, na África,
no dia 26 de setembro de 1937. Morou em Trípoli, na Líbia, na Itália e em 1948,
veio para o Rio de Janeiro. É escritora (romance, poesia, conto, literatura
infantil e infanto-juvenil), jornalista e tradutora. Seu livro mais recente é Vozes
de batalha, um rico retrato da sociedade carioca das décadas de 1920-40,
tendo como ponto focal a intimidade do casal Henrique Lage e Gabriella
Besanzoni.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você pode garantir um bom desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. A briga dos dois Ivans, de
Nikolai Gógol (Trad. Graziela Schneider, Grua Livros, 96 p.) Dois honoráveis
cidadãos de um povoado no interior da Ucrânia no século XIX atravessam o fim de
uma longa amizade depois de um se recusar trocar sua arma por uma porca e dois
sacos de aveia. Você pode comprar o livro aqui.
2. Murphy, de Samuel Beckett (Trad. Fábio de Souza
Andrade, Companhia das Letras, 272 p.) No romance de estreia, o escritor irlandês
explora uma consciência em tentativa de fuga dos encantos do mundo exterior a
partir de uma figura autolimitada depois de se amarrar por vontade própria a
uma cadeira de balanço num quarto de pensão no subúrbio de Londres. Você pode comprar o livro aqui.
3. O castelo de gelo, de Tarjei Vesaas (Trad. Leonardo Pinto Silva, Todavia, 144 p.) As angústias e paixões do fim da infância, e a devoção à amizade e à memória a partir da história de formação de um vínculo entre duas meninas. Você pode comprar o livro aqui.
O objetivo da poesia é aquele de desembaraçar a relação com o mundo e
com a vida do véu das generalidades e de abstrações que nosso pensamento por
conceitos jogou sobre eles.
— Yves Bonnefoy
A literatura não é um passatempo
nem uma evasão, mas uma forma — quiçá a mais completa e profunda — de examinar
a condição humana.
— Ernesto Sábato
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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