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Sylvia Plath no topo da Torre dell'Orologio, Veneza, 1956. Arquivo Faber Books |
LANÇAMENTOS
A Biblioteca Azul publica uma
edição especial ilustrada de A redoma de vidro.
Único romance escrito por Sylvia
Plath, publicado em 1963,
A redoma de vidro retorna em uma edição
especial. Em capa dura, com nova tradução assinada por Ana Guadalupe e
ilustrações em giz pastel da artista francesa Beya Rebaï, esta edição celebra
uma das obras mais importantes do século XX e um grande marco da literatura
feminista. O livro conta a história de Esther Greenwood, uma jovem estudante
universitária e aspirante a escritora. Nascida no subúrbio, ela se muda para
Nova York para estagiar em uma prestigiada revista de moda, onde a pressão pelo
sucesso e a sensação de distanciamento em relação às demais pessoas a faz
desenvolver um quadro sério de depressão e ansiedade. A obra reflete a batalha
da própria autora contra a depressão e a bipolaridade, que acabou culminado no
seu suicídio um mês depois do lançamento deste livro. Também estão presentes a
pressão social sobre as mulheres na década de 1950, tanto no ambiente de
trabalho, quanto nos padrões de beleza e comportamento. Sessenta anos após sua
publicação original, o texto de Sylvia Plath ainda conversa com questões
atuais, o que o coloca na condição de clássico absoluto, que todos devem ler.
Uma narrativa atemporal sobre os sonhos e aspirações de uma jovem que busca
encontrar seu lugar no mundo.
Você pode comprar o livro aqui.
Proust antes de Proust.
Este volume reúne, em sua primeira
parte, divertidos exercícios estilísticos e narrativos, nos quais Proust
resgata um caso real ocorrido no início do século XX, o “Caso Lemoine”,
emulando e parodiando a prosa de autores como Balzac, Flaubert e diversos outros.
Na “Miscelânea” que compõe a segunda parte, destaca-se, entre outros temas, o
fascínio de Proust pelo crítico e artista inglês John Ruskin — sentimento que
encontra aqui seu mais conspícuo registro. Entre o ensaio e a literatura, este
livro permite que leitores de Proust se surpreendam com novas facetas, e que
aqueles que ainda não se aventuraram pelo “tempo perdido” encontrem uma
saborosa porta de entrada para a obra do imortal autor francês. Com tradução de
Jorge Coli,
Pastichos e Miscelânea é publicado pela Editora Unesp.
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A editora Grua publica um novo
título russo na Coleção A Arte da Novela.
Na Moscou de 1878, o solitário e
casto jovem Iákov Arátov mora com a tia Platonida Ivánovna, sua única parente
viva. Tem apenas um amigo, o sociável e alegre Kupfer, que o convence a ir a um
espetáculo de variedades na casa de uma princesa georgiana. Sentindo-se
oprimido e intimidado, Iákov logo vai embora. Dias depois, ele é arrastado por
Kupfer a outro concerto no qual a cantora lírica Clara Militch apresenta lindamente
uma peça de Tchaikóvski. Ela parece não desgrudar os olhos dele, e o rapaz se
abala sem entender bem o porquê. Em casa, Iákov recebe um bilhete sem
assinatura, mas que ele sabe ser de Clara, marcando um encontro no bulevar
Tverskoi. Entre relutante, ofendido e ansioso, Iákov chega na hora marcada. O
que se dá, num jogo de percepções enviesadas, é um desencontro entre os dois. Iákov
não consegue se desvencilhar da imagem hipnótica da cantora, que o perturbará
dia e noite, atrapalhará seus estudos, mudará sua vida. E se o drama tem essa
alcunha pois existe a esperança fugidia de um bom desfecho, a tragédia é uma
solução que não se pode remediar. Como grande naturalista, Turguêniev traz
nesta novela o embate entre as ciências naturais como forma de entender o mundo
e o deslumbramento com a sociedade da época. Misturando realismo e simbolismo,
com uma pitada de fantástico e comédia, o leitor é fisgado pela fulminante
paixão entre os jovens Iákov e Clara. Último escrito de Ivan Turguêniev,
Clara
Militch, obra inédita no Brasil ganha tradução direta do russo, e notas, de
Giselle Moura.
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Os indispensáveis contos de
Eudora Welty.
Morgana é uma cidadezinha no
Mississippi em que todos se conhecem. Crianças e idosos convivem com adultos de
diferentes posições sociais. A natureza — rio, árvores, pássaros, bosques e
trilhas — se mistura com as casas e os pequenos negócios. Esse lugar fictício,
com as características do sul dos Estados Unidos, é o elemento central de As
maçãs douradas. O livro reúne sete contos interligados, com personagens em
comum, que se estendem por cerca de quarenta anos. Inédito no Brasil, é
considerado a obra-prima de uma das maiores escritoras americanas do século XX,
Eudora Welty (1909-2001), dona de um estilo bem particular, em que a oralidade
evolui para uma linguagem elaborada como uma tapeçaria. A edição da Carambaia
tem tradução e posfácio de José Roberto O’Shea, tradutor de autores como Robert
Louis Stevenson, Flannery O’Connor, Mark Twain, Joseph Conrad e James Joyce. O
apego de Welty à paisagem e às relações marcadas por tradições familiares, além
de certo isolamento, evocam sua cidade natal, Jackson, também no Mississippi. A
associação apressada a outros escritores do Sul, como William Faulkner e Carson
McCullers, levou a escritora a ser frequentemente classificada como
representante de um filão regionalista. Welty foi amiga e correspondente de
Faulkner, mas rejeitava a filiação comum. Sua escrita original levou-a a ser a
primeira escritora americana a ter já em vida sua obra incluída na coleção
Library of America (Philip Roth e Saul Bellow mereceriam posteriormente a mesma
distinção). Com o passar do tempo, Welty passou a ser comparada a escritores de
outros continentes — como Virginia Woolf e James Joyce — e outras eras — como
Homero e Ovídio. Seus livros, entre eles
As maçãs douradas, se
valem em alguma medida da mitologia grega e de outros arquétipos, mesmo sendo o
oposto da jornada heroica. O título do livro é tirado de um poema de W.B. Yeats
e se refere a uma distinção entre as pessoas que colhem maçãs prateadas e
aquelas que, num momento especial da vida, encontram uma maçã dourada. Como
observa O’Shea no posfácio: “Welty é a mestra do ‘ordinário’ transmutado em
‘extraordinário’”. As histórias de
As maçãs douradas são povoadas de
figuras bem diversas, sobretudo os membros de oito famílias principais, alguns
mais desajustados do que outros. A violência, a morte e os preconceitos se
apresentam de forma latente, às vezes quase cômicas, ao lado de pequenas
rusgas. A música tem um papel central e assume feições de evasão para seus
personagens.
Uma saga de quase cem anos pelo
Brasil profundo que nos lembra de que natureza e humanidade são uma coisa só e
nos devolve a esperança em dias melhores.
Nos anos 1920, Minino, garoto
órfão criado por uma mulher indígena, decide abandonar a terra deixada pelos
pais, em Goiás, e acompanhar a Coluna Prestes. Graças à sua coragem e
esperteza, e também por possuir o dom de “farejar” águas de nascentes de rios,
ele logo passa a ter relevância no grupo e a caminhar na frente da marcha, a
fim de também farejar jagunços escondidos na vegetação, prontos para
emboscadas. É nessas andanças que Minino desenvolve a vontade de lutar por
aquilo em que acredita, além do amor pela natureza e por Maria Branca, que se
torna sua companheira de toda a vida. Com o fim da Coluna, decide voltar para
sua pequena propriedade, mas isso não o impede de continuar perseguindo seus
ideais. Maria José Silveira, autora de
Maria Altamira ― obra finalista
dos prêmios Jabuti, Oceanos e São Paulo em 2021 e com mais de 40 mil exemplares
vendidos ―, por meio da trajetória do patriarca de uma família de lavradores em
Goiás, volta a denunciar a exploração da natureza com sensibilidade e força
narrativa em uma trama repleta de personagens cativantes reais e ficcionais na
qual aborda temas relevantes para o atual momento, como questões indígenas,
direitos sobre a terra, devastação ambiental, entre tantos outros.
Farejador
de águas é publicado pela editora Instante.
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Três novelas que tocam em dois
temas caros a Yoko Ogawa: memória e ausência.
Em “A piscina”, a jovem Aya precisa
lidar com o amadurecimento que a deixa entre a lembrança de um passado mais
simples, que fica para trás, e o vislumbre de um futuro complexo, difícil e
sofrido. Amadurecer será para ela conciliar os novos sentimentos e uma época em
que “não conhecia a tristeza nem a dor no coração”. “Diário de gravidez” é
narrada mesmo em forma de diário pela irmã da grávida. Yoko Ogawa usa a força
da sugestão para gerar algo que a um só tempo existe e não existe — uma versão
literária do gato de Schrödinger, por assim dizer. Várias entradas do diário
descrevem uma gravidez que parece um delírio. Mas, se é mesmo o caso, quem será
que delira: a narradora, a irmã ou os leitores? Em “Dormitório”, uma mulher
retorna ao dormitório universitário em que viveu durante os tempos de
estudante, nos arredores de Tóquio. O local, administrado por um estranho
professor, aos poucos se deteriora e deixa de ser como a mulher recorda. Seu
retorno é como o de alguém que vai à periferia de uma mente e lá encontra
memórias que aos poucos desaparecem ou se transformam. Com tradução de Eunice
Suenaga
A piscina; Diário de gravidez; Dormitório: três novelas sai pela
editora Estação Liberdade.
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Um novo título da série
noir
editada pela Tabla.
Bagdá noir faz parte da
premiada série de antologia
noir da Akashic Books. Uma das cidades do mundo
mais devastadas pela guerra entra para a coleção com um volume de histórias
sombrias, reunindo 14 contos ambientados em diferentes regiões de Bagdá, que
formam um complexo mosaico de experiências e perspectivas. Organizado por
Samuel Shimon, o livro sai no Brasil com tradução de Jemima de Souza Alves pela
editora Tabla.
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Uma viagem espectral entre a
vida e a morte, entre o amor e a perda nessa impressionante estreia de Mateo
García Elizondo.
“Vim a Zapotal para morrer de uma
vez por todas. Assim que pus os pés no povoado, livrei-me do que trazia nos
bolsos, das chaves da casa que deixei abandonada na cidade, de todos os
cartões, de tudo o que tinha meu nome ou a fotografia do meu rosto. Não me
sobram mais de três mil pesos, vinte gramas de pasta de ópio e sete gramas de
heroína, e isso tem de ser suficiente para me matar.” O protagonista e narrador
de
Um encontro com a Lady busca um último encontro com sua lady na forma
de um pó branco a ser injetado no braço, e para isso ele embarca em uma jornada
até um vilarejo esquecido no tempo. Lá, ele encontra figuras perturbadoras e
fantasmas de amigos que o aguardam do outro lado e, em sua caminhada para o fim
de tudo, tem de lidar com as lembranças da cidade de onde veio e de seu
passado.
A primeira frase do romance
evoca o começo mítico de
Pedro Páramo, de Juan Rulfo, e em suas páginas
há ecos do carnaval de autodestruição grotesco de
Debaixo do vulcão, de
Malcolm Lowry. Com uma prosa envolvente e hipnótica, Mateo García Elizondo
narra, nesta estreia extraordinária, vencedora do Premio Ciutat de Barcelona
2019, uma viagem ao coração das trevas, uma queda espectral ao inframundo de um
viciado que entra em um caminho com um único destino possível, que se aproxima
cada vez mais. Com tradução de Ivone Benedetti, o livro é publicado pela
editora Record.
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Novo livro na coleção com a obra
de Virginia Woolf na editora Nós.
Reverberando o incômodo que a
própria Virginia passou em vida, quase sempre se sentindo inadequada e
malvestida para as festas às quais era convidada, vemos em
O vestido novo
a pobre Mabel sentir-se “como uma manequim de modista, ali parada para que as
jovens lhe espetassem alfinetes”, sofrendo profundamente com o julgamento e o
desprezo daqueles que reprovam não a sua constituição intelectual ou moral, mas
a sua roupa. Escrito com a conhecida maestria de Virginia, o conto é uma
daquelas preciosidades que ganham uma grandeza insuspeita quando lido assim, em
separado, num volume único que lhe dá o valor que tem em si e que tantas vezes
passa despercebido. A tradução de Ana Carolina Mesquita é publicada pela
editora Nós.
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Livro homenageia um dos nomes
mais importantes da crítica brasileira.
Pela potência de seus textos
críticos, a professora emérita Walnice Nogueira Galvão era descrita por Alfredo
Bosi como uma “intelectual que honra nossa cultura” e, por Alipio Freire, como
uma escritora de “elegância sem frescura”. Uma das grandes representantes do
legado feminino no desenvolvimento científico do país, Walnice se destaca na
análise e na crítica às artes nacionais e internacionais, nos estudos de gênero
e, também, é referência quando se trata dos escritores João Guimarães Rosa e
Euclides da Cunha. Por tantos motivos, este
Palavras para Walnice é um
livro-homenagem que resgata e reverencia a trajetória pessoal e acadêmica
da autora, explorando seu percurso pela crítica, pela docência e pela política,
sempre lutando por uma sociedade mais justa. Com contribuições de diversos
nomes ilustres do Brasil e do exterior, esta obra conta com testemunhos,
impressões, lembranças e releituras, celebrando uma história de vida dedicada
ao ensino, à pesquisa, à educação e à produção e difusão do conhecimento.
Organizado por Antonio Dimas e Ligia Chiappini, o livro é publicado pelas
Edições SESC.
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REEDIÇÕES
Reunião inédita dos cinco
romances do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, de Alberto Mussa, em caixa
exclusiva com capas novas e texto de livreto de Hermano Vianna.
Alberto Mussa, vencedor dos
prêmios Casa de las Americas, Biblioteca Nacional e ABL, entre outros, afirmou
certa vez que uma cidade não se define pelo temperamento de seu povo ou pela
sua cultura, mas pela história de seus crimes. Com este Compêndio Mítico, Mussa
conta a história do Rio de Janeiro em cinco romances policiais instigantes, um
para cada século desde a fundação da cidade, trazendo um recorte que expõe as
entranhas e a poderosa mistura de culturas e povos da capital fluminense. Obras
independentes, que podem ser lidas a qualquer momento, em qualquer ordem, os
livros do Compêndio pertencem, cumulativamente, a cinco gêneros tradicionais do
romance: o carioca, o histórico, o fantástico, o policial e o de adultério. Um
deleite para os leitores.
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RAPIDINHAS
Bioy Casares e Silvina Ocampo.
A única obra escrita pelo casal argentino, o policial
Os que amam odeiam
sai pela primeira vez no Brasil pela Companhia das Letras em 2024.
Leituras em conversa com nosso
tempo. Rodrigo Casarin do Página Cinco descreve na sua Newsletter o livro
que publicará pela Arquipélago.
A biblioteca no fim do túnel reúne reflexões
sobre a leitura e a relação com livros, os diálogos possíveis entre a literatura
e o contemporâneo e sobre escritores e obras. A previsão do livro é julho de
2023.
OBITUÁRIO
Morreu o escritor espanhol
Antonio Gala.
Antonio Gala nasceu a 2 de outubro
de 1930 em Brazatortas, província de Ciudad Real. Quando tinha nove anos, a
família se mudou para Córdoba, onde fez sua carreira literária e toda a sua
vida. Leitor precoce da poesia de Rainer Maria Rilke, Garcilaso, San Juan de la
Cruz, consignou o gosto pelas letras e os estudos, licenciando-se em Direito,
Ciências Políticas e Ciências Econômicas. No fim dos anos 1950 passou longa
temporada em Portugal e Itália. No regresso à Espanha, já era um poeta e
dramaturgo premiados. Sua vivência com a prosa de ficção é tardia, compondo
antes obras no teatro, pelas quais obteve extensa parte do seu reconhecimento,
no ensaio, no roteiro para televisão e nos artigos de imprensa em colaborações
para jornais como
El País e
El Mundo. Sua obra galgou pequena
circulação no Brasil, com títulos como
A regra de três (1996), a
narrativa de um escritor bissexual bem-sucedido que decide se exilar numa ilha
distante e pouco povoada a fim de preparar seu novo romance. O escritor morreu
neste 28 de maio de 2023.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Saia da frente do meu sol,
de Felipe Charbel (Autêntica Contemporânea, 136 p.) Um narrador especula sobre
o passado do tio-avô sobre o qual restam apenas os boatos das pessoas de seu
convívio e os registros fotográficos, materiais com os quais se arquiteta uma vida
possível.
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2.
A menina que não fui, de
Han Ryner (Trad. Régis Mikail, Ercolano, 256 p.) A história de François de
Taulane feita pelo percurso de busca entre cartas, diários e confissões uma
vida feita de impasses devido seus desejos e sua identidade.
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