LANÇAMENTOS
Publicado pela primeira vez em 1978, Sim
é o relato exasperado e
convulsivo de um cientista sem perspectivas e seu encontro com uma mulher tão
sombria quanto ele.
O narrador desta novela tinha acabado de chegar à casa de seu amigo
Moritz quando passos se fizeram ouvir na porta da frente. Os suíços, anunciou o
velho negociador de imóveis. O plural, porém, deveria estar no singular: um
suíço, sim, e sua esposa, mas ela talvez armênia, ou persa. O casal havia
aparecido de surpresa para jantar e discutir novos negócios na região, sendo o
suíço o responsável por conduzir a conversa, enquanto a mulher se mantinha em
silêncio. Sua introspecção chama atenção do narrador, um homem também
introspectivo que procurara Moritz para desabafar sobre seus pensamentos
sombrios, quase suicidas, quando se deparou com alguém que poderia entendê-lo.
A solidão a que se propôs quando decidiu dedicar-se a seus estudos científicos
no interior, longe das distrações dos amigos, dos amores e das emoções da
cidade grande, afundaram o narrador em um processo depressivo que parecia não
ter volta — até o encontro com a persa. Combinados de passear numa floresta de
lariços, os dois nutrem diálogos filosóficos e trocam angústias e tormentas que
culminam na resposta definitiva que dá título a este livro. O relato frustrado
e frustrante de seu narrador, em um ciclo que tira o fôlego ao mesmo tempo que
provoca o riso e o desespero absoluto, é o exemplo perfeito da literatura de Thomas Bernhard — hipnotizante, inquietante, única.
Sim é mais uma de suas
obras-primas. A tradução de Sergio Tellaroli é publicada pela Companhia das
Letras.
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A estreia de Rui Couceiro
também chega ao Brasil.
Os leitores de Valter Hugo Mãe e
Gabriel García Márquez vão se apaixonar por essa obra envolvente, com doses de
ironia e um toque de realismo fantástico. Com grande habilidade em contar
histórias pitorescas de pessoas comuns da zona rural de Portugal, o escritor
português Rui Couceiro estreia na ficção com maestria. Sua escrita é marcada
por personagens complexos e pelo humor descontraído ao abordar assuntos mais
sérios, como a morte, a velhice e a curiosidade mórbida pela intimidade alheia.
É nesse contexto que conhecemos Joaquim Baiôa, um idoso que se dedica a
restaurar casas abandonadas de sua pequena aldeia, Gorda-e-Feia, localizada em
Alentejo. O vilarejo é um lugar monótono, com moradores velhos à espera da
morte, e uma sensação constante de abandono. Quando um jovem professor descobre
que a antiga casa de seus avós foi restaurada por Baiôa, ele decide largar a
vida agitada da cidade para morar na aldeia, e acaba ajudando o velho homem na
reconstrução do vilarejo. Com a esperança de atrair novas pessoas e fazer
renascer a vida do local, Baiôa se dedica arduamente ao trabalho antes que
chegue o dia de sua morte. E, por incrível que pareça, ele sabe quando todos os
moradores de Gorda-e-feia vão morrer, só não faz a mínima ideia de quando ele
próprio irá partir.
Baiôa sem data para morrer é um romance autêntico e
reflexivo sobre a vida no interior, a dicotomia entre o urbano e o rural, e a
luta de um homem pela defesa de seu lugar de origem. O livro é publicado pela
Biblioteca Azul/ Globo Livros.
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O novo livro de Alberto Martins.
Um grupo de teatro amador tenta montar uma peça do poeta russo Vladímir
Maiakóvski na zona portuária de Santos, na década de 1940. Aquilo que poderia
ser tão só a aventura de um punhado de jovens movidos pelo desejo de
experimentação acaba por se tornar o acontecimento decisivo de suas vidas.
Violeta:
uma novela — o terceiro livro da série “A História dos Ossos”, de Alberto
Martins, iniciada em 2005 — mescla, de forma inventiva, registro factual,
negativos fotográficos e fabulação poética. Em suas páginas, um narrador
contemporâneo se desloca por Santos e seus canais na tentativa de recompor a
juventude desconhecida de seu pai, atravessando um emaranhado de tempos e
lugares que, ao fim, fazem aflorar um sinistro espelhamento entre os anos de
1946 e 1964, que ainda ecoa no presente. Relato lírico, geográfico e político,
Violeta propõe ao leitor uma investigação que, ao entremear realidade e ficção,
expande um lugar até o limite de suas possibilidades. O livro é publicado pela
Editora 34.
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O segundo volume da Quadrilogia das Estações, uma enciclopédia pessoal
em que o autor da aclamada série autobiográfica Minha Luta descreve
brevemente a vida como ela se apresenta: em sua grandiosidade e pequenez.
É inverno, e Karl Ove Knausgård experiencia ao lado da esposa o último
semestre da gestação da filha. Assim como em
Outono — mas agora motivado
por um clima mais austero e vagaroso — ele elabora ensaios singulares sobre o
mundo que ela irá encontrar ao nascer. Na carta que abre este volume, o destinatário era a filha ainda não
nascida do autor. Por quase dois meses, a preparação para a sua chegada era
feita através de pequenas mas extraordinárias reflexões sobre a neve, alguns
objetos de casa, Natal e Papai Noel, animais, amigos. No meio da escrita do
livro, porém, uma surpresa: o nascimento, um mês antes do planejado. Na
passagem da filha ainda na barriga para a da criança em seus braços, a
percepção de mundo de Karl Ove Knausgård é aguçada, criando um repertório
poético da existência que perpassa temas como limites, hábitos, sexo e o “eu”,
ao mesmo tempo que trata de bichos de pelúcia, cotonetes, fogos de artifício e
cadeiras. Aqui, de certa forma, Knausgård mostra a vida como ela realmente é:
mundana e sublime.
Inverno é publicado pela Companhia das Letras com
tradução de Guilherme da Silva Braga.
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A saga de uma família e as
tradições da comunidade armênia.
Descendente de armênios, Meliné
cumpriu todas as expectativas ancestralmente depositadas nela: casou-se com
Zohrab, cuidou da casa e da filha, Aline, honrou e frequentou a família, os
eventos, as práticas. Um dia, em um telefonema, uma notícia invade seu mundo na
frequência de um abalo sísmico. Incapaz de lidar com a mudança, Meliné mergulha
em suas origens procurando se abrigar nas lembranças e particularidades da
cultura armênia — costumes, uma língua própria, os pratos típicos da culinária —
e nas vozes das mulheres, todas como ela. Nesse processo, vive a delicada
tensão entre submeter-se ou libertar-se de uma tradição que oprime, mas também
acolhe; que amarra, mas também afaga; que protege, mas também limita. Em
Um
amor de filha, Meliné compartilha protagonismo com a saga de sua família e
as tradições da comunidade armênia. Assim, abre espaço para pensarmos a relação
entre mãe e filha e a condição feminina. Tudo isso a partir de um ponto de
vista até agora pouco explorado na literatura brasileira. O livro é publicado
pelo selo Autêntica Contemporânea.
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Um dos poetas mais expressivos em
atividade no país, Ruy Espinheira Filho reúne suas criações líricas em A invenção da poesia.
Considerado por Carlos Drummond de
Andrade um autor de uma “poesia concentrada e de sutil expressão”, Ruy
Espinheira Filho é consagrado pela crítica e ganhador dos principais prêmios
literários do país. Em
A invenção da poesia, o poeta baiano reúne suas
criações líricas produzidas entre 2019 e 2022. Divididos em três partes, os
poemas revelam dores que o passado ainda remonta, voltando a sentimentos e
questões que se prolongam no presente. Um livro repleto de recordações. Na
primeira parte, Ruy percorre temas e espaços regionais, com a mesma
desenvoltura que se detém naqueles de cunho universal. Na segunda parte, faz
referência aos dias mais obscuros da pandemia. E finaliza com uma homenagem aos
ilustres Machado de Assis e Graciliano Ramos, a partir de possíveis diálogos
estabelecidos com suas obras.
A invenção da poesia apresenta um eu
lírico que se mostra impressionado e reflexivo acerca da passagem do tempo. Com
caráter intimista e destreza para revelar minúcias, Ruy Espinheira Filho
evidencia brilhantemente como a natureza humana se manifesta em épocas e
situações as mais diversas. O livro é publicado pela editora Record.
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Um relato delicado e emocionante
sobre as paixões e angústias de Amós Oz, o mais renomado escritor de língua
hebraica do século XX, a partir do olhar sensível e apaixonado de sua esposa.
Amós Oz era ainda um adolescente
quando percebeu que estava apaixonado por Nili Zuckerman. Certa vez, ele a
observou dançar no refeitório do kibutz Hulda, onde os dois se conheceram e
passaram a conviver lado a lado. À época ele já usava o nome pelo qual se
consagraria como escritor, enquanto o anterior, Amós Klauzner, ficaria no
passado — assim como o suicídio de sua mãe e a nova família de seu pai. O que
continuaria com ele seria o desejo de escrever e Nili. Os traumas da infância,
as cicatrizes da solidão, a rotina no kibutz, os anos no exército, o casamento,
os primeiros livros, os filhos, os prêmios — tudo é retratado com singular
carinho e admiração neste livro, resultado de longas conversas entre Nili Oz e
sua prima Anat Neuberg-Petrover. Narradora privilegiada, Nili reconstrói os
sessenta anos da vida a dois com Amós, desde o primeiro encontro até a morte
dele, em 2018. Uma história real de amor, companheirismo e amadurecimento que
resgata o legado de um dos maiores escritores de todos os tempos. Com tradução
de Paulo Geiger,
Meu Amós sai pela Companhia das Letras.
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A prosa breve da escritora
argentina Mariana Sández.
Às vezes nos perguntamos qual a
história das pessoas que cruzamos na rua, nas filas, nas viagens, no trabalho.
Os contos de Mariana Sández são habitados por essas pessoas normais, comuns,
figuras que vemos todos os dias e que podem ou não carregar uma boa história.
Uma das habilidades da Mariana é desvendar estas histórias e trazê-las para
nós. As narrativas de
Algumas famílias normais podem parecer, a uma
primeira vista, simples, coisas do dia a dia, mas através do olhar da Mariana
Sández se transformam em histórias inesquecíveis. Com tradução de Nylcéa
Thereza de Siqueira Pedra, o livro é publicado pela editora Arte & Letra.
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REEDIÇÕES
A Edusp reedita livro que reúne quatro novelas de Mikhail Bulgákov.
“As aventuras de Tchítchikov”, “Diabolíada”, “
Os ovos fatais” e “Um
coração de cachorro” são as quatro novelas de Bulgákov incluídas neste
volume. Foram traduzidas diretamente do russo por Homero Freitas de Andrade e
são acompanhadas, nesta edição, de ensaio que analisa aspectos da prosa
satírica do escritor e apresenta uma visão geral do gênero nos primeiros anos
da literatura russo-soviética, destacando a contribuição de Bulgákov e de
Maiakóvski para a renovação do gênero. Para Bulgákov, a sátira cria-se a si
própria, de repente, quando surge um escritor que repara na imperfeição da vida
corrente e, indignando-se, inicia seu desmascaramento artístico. A prosa de
Bulgákov segue e dialoga com a rica tradição literária russa que o antecedeu,
especialmente de Gógol, referência explícita da novela “As Aventuras de
Tchítchikov”, que abre o volume.
Uma viagem interliterária do autor de O anticrítico
e Poesia
Antipoesia Antropofagia & Cia.
em nova edição revista pelo autor.
Publicado pela primeira vez em 1989,
À margem da margem é um mosaico
de ensaios em torno de pontos limítrofes do cânone literário mundial: uma
visita aos textos marginais de autores marginais, ou obras marginais de autores
consagrados. Escritos em momentos distintos e reunidos pelo próprio autor, os
textos que compõem este volume têm em comum o interesse pelos que “buscaram
caminhos não balizados, abriram sendas novas, estranhas ao território habitual
da poesia ou da literatura”. Um
dos fundadores da poesia concreta no Brasil, Augusto de Campos percorre desde
nomes pouco conhecidos a ícones como Gustave Flaubert e Ezra Pound, passando
também por brasileiros como Oswald de Andrade e Pagu, e o faz tanto no conteúdo
quanto na forma, incluindo poemas e intraduções — traduções-arte que integram a
concepção gráfica do livro às reflexões que este provoca. Como afirma o poeta:
“de algumas vozes dissonantes, minoritárias, pode provir, subitamente, uma
luminosidade inadvertida que desbanalize o som, vare o marasmo e sacuda o
tediário cotidiano”. O livro é reeditado pela Companhia das Letras.
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RAPIDINHAS
O ponto final da Pará-grafo 1. A
editora paraense que voltou a colocar em circulação a obra do necessário
Dalcídio Jurandir e revelou tantos novos autores do Norte do país fechou.
O ponto final da Pará-grafo 2. O
editor Dênis Girotto de Brito publicou nota no Instagram da casa justificando a
decisão: “a tarefa de gerir sozinho uma micro editora numa cidadezinha no
interior da Amazônia não é fácil. Tudo é mais difícil, mais longe, mais custoso
e, no fim das contas, percebi que o retorno que tenho com a empresa (quando há
retorno) não vale o tempo que deixo de estar com minha família ou comigo mesmo”.
O ponto final da Pará-grafo 3. Parte
dos livros da casa estão à venda a preço módico e a parte não vendida será
doada a bibliotecas públicas e projetos sociais.
Zila, toda poesia. Duas décadas
depois, a Edufrn reedita a obra poética completa de Zila Mamede.
Rosa de
pedra,
Salinas,
O arado,
Corpo a corpo e
Exercício
da palavra e
Herança são publicados em edições individuais e com
novo projeto editorial construído a partir dos bordados de Angela Almeida.
Os microcontos brasileiros do século XX. A
antologia
Os cem menores contos brasileiros do século, organizada por
Marcelino Freire ganha 6.ª edição pela Ateliê Editorial. Desta vez, com três
textos inéditos, de Lygia Fagundes Telles, Reinaldo Moraes e Reynaldo Damazio.
OBITUÁRIO
Morreu Philippe Sollers.
Philippe Sollers nasceu em
Talence, Gironde, a 28 de novembro de 1936. Logo cedo, deixou os estudos
formais para se dedicar exclusivamente à literatura. Seu primeiro romance
publicado aos 22 anos foi logo bem recebido por parte importante da crítica
francesa. No segundo livro, três anos mais tarde, recebe o importante Prêmio
Médicis. A partir daí construiu uma vasta obra que se desdobra em mais de oito
dezenas de títulos e se destaca na prosa (ensaio e romance). Em 1960 ajuda a fundar
Tel Quel, revista em torno da qual reuniu parte importante dos
escritores de vanguarda e dos intelectuais que marcaram o pensamento na segunda
metade do século XX, tais como Claude Simon, Michel Butor, Francis Ponge,
Nathalie Sarraute, Alain Robbe-Grillet, Michel Foucault, Jacques Derrida,
Jacques Lacan e Roland Barthes. No Brasil, é conhecido alguns dos seus
principais livros: entre os romances,
O parque, livro de 1965, e
Mulheres,
que o destacou internacionalmente a partir de 1983; e no ensaio,
O paraíso
de Cézanne e
Sade contra o ser supremo. Sollers morreu no dia 5 de
maio de 2023, em Paris, conforme anúncio da Gallimard, sua casa editorial.
Morreu Kalliane Sibelli Amorim.
Kalliane Sibelli Amorim nasceu a
14 de junho de 1982 em Umarizal. Muito cedo mudou-se para Mossoró, cidade que
adotou com terra natal. Graduou-se em Letras/ Língua Portuguesa pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, instituição onde cursou Especialização
em Leitura e Produção Textual e Mestrado em Letras. Com a carreira de
professora, primeiro em várias escolas do ensino básico e mais tarde no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte,
construiu sua dedicação ao ofício literário. Foi colunista no jornal
Littera
e colaborou com frequência para antologias, cadernos e periódicos culturais e/
ou dedicados à literatura. Sua estreia na poesia é com o livro
Outonos,
em 2003, editado pela tradicional Coleção Mossoroense; depois vieram
Exercício
de silêncio (Queima-Bucha, 2006),
Relicário (Sarau das Letras, 2015)
e
Peregrina (Sarau das Letras, 2020). Em 2005, Kalliane Amorim recebeu o
Prêmio Luís Carlos Guimarães, da Fundação José Augusto. A poeta morreu no dia
10 de maio de 2023 em Mossoró.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Pureza, de Garth Greenwell
(Trad. Fabricio Waltrick, Todavia, 224 p.) Recém separado de R. e reintegrando-se
à vida fora do casamento, um professor estadunidense escolhe Sófia, capital de
Bulgária recém-democratizada, como novo ponto de aprendizagem de um mundo íntimo
e social em complexo impasse entre o passado e o presente.
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2.
Primeira memória, de Ana
María Matute (Trad. Nylcéa Thereza de Siqueira Pedra, Grua Livros, 240 p.) A
vida de uma menina um tanto incomum pelos tortuosos caminhos da difícil fase em
que a casca da infância se rompe e a adolescência explode.
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