Boletim Letras 360º #529

DO EDITOR
 
1. Olá, leitores, tudo bem vocês? Esta é a edição da post semanal apresentada aos sábados aqui no blog. Criada há 529 semanas, a ideia é reunir um pouco do que circulou em matéria de notícias no universo dos livros, especificamente, na linha editorial de interesse nosso, em nossa página no Facebook.
 
2. Aproveitamos sempre o espaço para sempre reforçar sobre como você pode ajudar ao Letras com as despesas de hospedagem e domínio online. Uma delas é a aquisição de livros pelos links ofertados neste Boletim. Você pode garantir um bom desconto nas suas compras, ganhar frete grátis e ainda ajudar o blog sem pagar nada mais por isso. Para o frete grátis você precisa ser cliente do Amazon Prime. Para assinar ou comprar qualquer outro produto que não os apresentados nesta publicação, vá por aqui.

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Patrick Modiano. Foto: Lea Crespi


 
LANÇAMENTOS

O Nobel de Literatura Patrick Modiano explora os enigmas do tempo e da memória em um romance perturbador.

O período de memórias fugidias e acontecimentos obscuros narrado por Patrick Modiano em seus três aclamados romances semiautobiográficos ― Primavera de cão, Remissão da pena e Flores da ruína ― é retomado em Cena de um crime. O autor Nobel de Literatura revisita lugares e eventos de sua infância na Rue du Docteur-Kurzenne, numa época marcada por mães substitutas, eventos misteriosos e um roubo infame jamais solucionado pela polícia. Neste livro, Modiano evoca o desdobrar daqueles anos. Jean Bosmans, agora com vinte e poucos anos, se vê em uma série de coincidências perturbadoras que envolvem uma mulher elusiva, a casa onde passou parte de sua infância e um grupo de personagens que lhe parecem excessivamente interessados em seu passado, por motivos que ele é incapaz de compreender. Conforme atravessa os ecos da memória, passado e presente se entrelaçam cada vez mais, formando uma teia que abrange meio século de sua vida. Com o suspense de um romance policial, Cena de um crime aos poucos remove as camadas do tempo e do esquecimento para revelar os legados aterrorizantes, ameaçadores e trágicos do que se pensa que se sabe da própria vida. A tradução é de Ivone Benedetti e sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.

Antologia reúne seleção de poemas de Czesław Miłosz.
 
Vencedor do prêmio Nobel de literatura em 1980 por sua capacidade de “expressar com lucidez a condição humana em um mundo repleto de conflitos”, Czesław Miłosz foi uma testemunha singular dos principais acontecimentos que moldaram a história mundial recente. Autor de poemas, ensaios, romances, memórias, cartas e traduções, o escritor esmiuçou um período dominado por implacáveis e turbulentas transformações: a Primeira Guerra Mundial, a ocupação nazista na Europa, o Holocausto, a ascensão do fascismo, a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a divisão geopolítica causada pela Guerra Fria, a derrocada da União Soviética e a virada para o século XXI. Com tradução do polonês, apresentação e seleção de Marcelo Paiva de Souza — professor do departamento de polonês, alemão e letras clássicas da Universidade Federal do Paraná —, Para isso fui chamado percorre, de forma cronológica, toda a produção poética de Miłosz, desde seu livro de estreia, publicado em 1933, até seus últimos poemas, escritos no começo dos anos 2000. O livro sai pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
De grão em grão. Um novo livro de Grazia Deledda chega aos leitores brasileiros.
 
O caminho do mal narra a complexa história de amor de Maria Noina, filha de proprietários de terras, e de seu servo Pietro Benu. Incapazes de encarar as contingências da divisão de classes, eles têm seus desejos contrariados pelos códigos sociais de sua época, acarretando autocensura, relações de ódio e a constante tensão entre as suas pulsões e as convenções da comunidade em que vivem. Esses sentimentos de atração e repulsa, paradoxalmente, os unem. Maria e Pietro se amam. E seu amor é possível somente se ambos seguirem pelo caminho do mal. Com tradução. notas e posfácio de William Soares dos Santos, o livro é publicado pela editora Patuá.
 
Quase vinte anos depois, a Ateliê publica o segundo volume de Orlando Furioso completando a íntegra do poema de Ludovico Ariosto.
 
“Pedro Garcez Ghirardi ao todo traduziu poeticamente nada menos do que 38.576 versos, distribuídos em 4.822 oitavas-rimas por 46 cantos. Lembro ainda que a tradução parcial do poema (Orlando Furioso – Cantos e Episódios) publicada pela Ateliê em 2002 recebeu o Prêmio Jabuti de Tradução em 2003, de sorte que estamos aqui diante de um trabalho cuja excelência já é publicamente reconhecida. Entenda o leitor que, assim como é monumental a obra original de Ariosto, em correlata e obrigatória medida é também monumental sua versão poética, formalmente análoga e integral. A tradução, sendo, como é evidente, lavor extenso, mostra-se também intenso, conforme relata no Posfácio o próprio tradutor, quando de Ariosto diz que ‘cada uma de suas oitavas é, em si mesma, uma obra de arte. Nas estrofes, o admirável trabalho das rimas mereceria, por si só, estudo particular. A perfeita construção da ottava d’oro foi um dos mais preciosos legados de Ariosto a grandes poetas, dele diferentes em tantos aspectos, como Camões e Tasso’.” (João Angelo Oliva Neto). A edição ilustrada com xilogravuras de Gustave Doré, reúne outras contribuições de Pedro Garcez Ghirardi, as notas e o texto de introdução. Junto com o volume 2, a editora publica uma segunda edição do primeiro tomo.
 
O ponto final da trilogia de Coetzee com a formação de Jesus.
 
Após anos buscando uma educação adequada para David, seus guardiões Simón e Inés seguem sem saber como direcionar a potência intelectual e espiritual do menino. A Academia de Música, na provinciana Estrella, parecia sugerir um caminho promissor, fora da rigidez do ensino tradicional. Mas um assassinato brutal interrompe o processo; a Academia é dissolvida, e Simón e Inés retornam ao dilema de como educar o jovem David. Certo dia, o menino é visto jogando futebol pelo dono de um orfanato local. David se encanta com a possibilidade de viver na instituição. Ele é voluntarioso, impulsivo, carismático, mas também frágil, e sua decisão de abandonar a própria casa dá início a uma série de episódios. Os primeiros dois volumes da trilogia do ganhador do Nobel J.M. Coetzee tinham se prestado a retratar um mundo ligeiramente distinto do nosso, em que a memória parece limitada, e a benevolência do Estado guiada por um racionalismo asséptico por vezes sinistro. No terceiro e último volume, este mundo, com sua lógica implacável, já não parece mais tão distante de nós, e Coetzee nos carrega por uma jornada existencial única, exigindo da ficção muito mais do que um mero comentário do presente. Com tradução de José Rubens Siqueira, A morte de Jesus é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Conhecer a poesia de Patrizia Valduga

Ela trabalha um erotismo que não é apenas temático, mas é elaborado também na tensão entre a forma e o conteúdo, entre as estruturas poéticas da tradição italiana e os temas tão caros à autora. Apesar de parecer haver uma submissão à forma, a leitura dos poemas sugere, por sua vez, uma subversão: há um embate violento entre as regras poéticas e a linguagem de Valduga — direta, obscena, impudica. À forte dramaticidade dos versos alia-se a sobreposição de falas e um andamento dialógico pouco natural. Aliás, trata-se de poemas pouco ligados à naturalidade da fala. Aqui, tudo é artifício. Sabe seduzir a carne a palavra sai pelas Edições Jabuticaba com tradução de Agnes Ghisi e Elena Santi.
 
O regresso de Manoel Herzog ao romance.
 
Este é um romance complexo e múltiplo, sem paralelos na literatura brasileira. Após uma catástrofe ambiental, a América Latina, ou o que sobrou dela, é agora a nação Bolivana-Zumbi, o “gigante dócil e inofensivo” onde a moeda se chama bênção e o poder dominante, fantoche dos desígnios chineses, é a Eclésia, gerida pela igreja evangélica Bola de Fogo. Aqui a natureza é a principal preocupação: é expressamente proibido desmatar e caçar animais silvestres, e os infratores pagam com a morte. Em Bolivana-Zumbi se fala o portunhol, pois o português se tornou a língua submersa — e proibida. Manoel Herzog nos leva, com contundência e um humor desconcertante, às entranhas dessa nova sociedade que habita as antigas regiões de Santos e Cubatão. Em pequenas sagas que se sobrepõem e se complementam, conhecemos um mundo novo e perturbador, onde a própria realidade é tecida de pesadelos. A linguagem submersa sai pela Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
 
O novo livro de Edgard Telles Ribeiro.
 
Como ocorre em algumas das obras de Edgard Telles Ribeiro, um escritor assume as vestes do personagem. Desta feita, contudo, vamos achá-lo em um apartamento carioca, no qual, há décadas, reside com a mulher. Apesar do cenário falsamente claustrofóbico, o livro voa como um pássaro — que nem por isso deixa de lidar com suas gaiolas. Visto em perspectiva, Jogo de Armar assume a forma de uma sinuosa história de amor — um Jogo de Amar. O livro é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Miguel Sanches Neto e o romance de investigação familiar.
 
Três filhos adultos, todos com o mesmo nome e, por isso, chamando-se de Primeiro, Segundo e Terceiro, vivem em uma antiga casa de madeira com a mãe já idosa, em uma cidade do interior do país. Controlados pela velha senhora e pela relação de dependência que juntos construíram, os três vivem fechados em si mesmo para manter os costumes da família e a memória do pai, morto quando eles ainda eram muito pequenos. Até o momento em que o mais jovem, Terceiro, um professor primário, faz a primeira viagem de sua vida e nela descobre o amor e o desejo de conhecer as origens de sua família, a chegada do avô espanhol ao Brasil, no começo do século XX. Inventar um avô é publicado pela Maralto Edições. Você pode comprar o livro aqui.
 
Alexandre Vidal Porto reescreve seu romance de estreia.
 
Matias Grappeggia tem quase cinquenta anos. É casado, mas solitário; saudável, mas hipocondríaco; mulherengo, mas incapaz de se conectar. Com essa vida sempre muito previsível, não se espera que esse advogado bem-sucedido se arrisque em mais nada. Contudo, quando Matias se encontra à beira de uma revelação amoroso-religiosa, ele percebe que precisa fazer uma escolha definitiva. Percorrendo a cidade de São Paulo durante quatro dias, o advogado revive parte importante de suas memórias, mas também escancara seus desejos mais íntimos. A busca da conexão, do amor e da identificação com o outro é o tema do primeiro romance de Alexandre Vidal Porto, publicado originalmente em 2005 e que agora ganha segunda edição totalmente revisada pelo autor. Matias na cidade é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

RAPIDINHAS
 
García Márquez inédito. Pouco tempo depois da morte do escritor colombiano saiu a notícia da existência de En Agosto nos Vemos. A novela ganhará publicação em 2024, segundo anúncio do grupo editorial Random House.
 
Carol Bensimon reeditada. O romance que revelou a escritora, Pó de parede, ganha nova edição com outro projeto editorial pela editora Dublinense.

DICAS DE LEITURA
 
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1. Para onde vão os guarda-chuvas, de Afonso Cruz (Dublinense, 544 p.) Parece que, pela presença nas redes, o livro queridinho dos leitores brasileiros do escritor português foi Vamos comprar um poeta. Se sim, foi uma boa. Depois dele, começaram a sair por aqui vários títulos, incluindo este que até agora um dos principais livros de Cruz. Perda, solidão, amor, religiosidade são alguns dos temas desse inventivo romance que, situado num Oriente ficcional, coloca em circulação figuras como um pragmático dono de uma fábrica de tapetes, sua esposa herege, uma mulher que sonha em se casar, um hindu que deseja ser o seu marido, um poeta mudo, uma criança perdida e outra encontrada. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Poemas de K. Kaváfis (Trad. Ísis Borges da Fonseca, Odysseus, 406 p.) Apesar de tudo a presença da obra de um dos poetas principais da poesia grega moderna não é objeto de raridade no Brasil. Existe desde a magérrima edição feita de mais beleza que quantidade de textos editada pela extinta Cosac Naify (certamente vendida a peso de ouro, mas que não vale o tudo que os livreiros ofertem) e existe uma edição com 60 poemas da Ateliê Editorial. A aqui recomendada é a mais abrangente. Copia muito da poesia do homem que em vida fez dos seus poemas folhas ao vento e acresce aos textos literários um estudo e notas. Você pode comprar o livro aqui

3. As aventuras do bom soldado Švejk, de Jaroslav Hašek (Trad. de Luís Carlos Cabral, Alfaguara, 688 p.) Um marco da literatura que tomou como tema ou plano a Primeira Guerra Mundial. Substituindo a dicção trágica do front pela cômica, o romance do escritor tcheco denuncia pela figura memorável do bravo e hilariante soldado Švejk os horrores e dissensos do conflito histórico e também de todas as formas de barbárie do gênero já uma fez experimentadas pela humanidade. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
O Instituto Moreira Salles disponibilizou online o filme Ulisses Lispector: um retrato. Dirigido por Eucanaã Ferraz, o vídeo reúne depoimentos, imagens e recortes da vida e da obra da autora de A paixão segundo G. H. centrados no seu amor pelos cães e também no bestiário clariciano. 
 
No dia 28 de abril de 2023, passou-se o aniversário de 70 anos de Roberto Bolaño. Para assinalar a data, a Alfaguara Espanha disponibilizou online um material reunindo vários recortes dos cadernos de notas do escritor. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
Iniciamos a semana com as bonitas imagens da entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque. O escritor brasileiro ganhou o galardão em 2019, mas diante da recusa do governo brasileiro de assinar o diploma do premiado, a entrega foi adiada indefinidamente. Recordamos os textos que publicamos no Letras por ocasião do 70.º aniversário de Chico. São sete posts que passam em revista as múltiplas facetas do criador brasileiro. 
 
Em julho de 2022 traduzimos este texto de Gustavo Arango que faz um comentário crítico sobre En Agosto nos Vemos, o inédito de Gabriel García Márquez que será publicado em 2024. Com a publicação, encontrará caminho para outra entrada, de agosto de 2014, que copia o primeiro capítulo dessa novela. 
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Quando escrevo, insisto nisso correndo o risco de soar pedante (o que provavelmente sou), a única coisa que me interessa é a escrita, ou seja, a forma, o ritmo, o enredo.
 
— Roberto Bolaño

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