Boletim Letras 360º #529
3. Para conhecer outras formas de ajuda, visite aqui. Obrigado pela companhia e, desde já, um rico fim de semana com boas leituras!
Patrick Modiano. Foto: Lea Crespi |
O Nobel de Literatura Patrick Modiano explora os enigmas do tempo e da
memória em um romance perturbador.
O período de memórias fugidias e acontecimentos obscuros narrado por
Patrick Modiano em seus três aclamados romances semiautobiográficos ― Primavera de cão, Remissão da pena e Flores da
ruína ― é retomado em Cena de um crime. O autor Nobel de
Literatura revisita lugares e eventos de sua infância na Rue du
Docteur-Kurzenne, numa época marcada por mães substitutas, eventos misteriosos
e um roubo infame jamais solucionado pela polícia. Neste livro, Modiano evoca o desdobrar daqueles anos. Jean Bosmans,
agora com vinte e poucos anos, se vê em uma série de coincidências
perturbadoras que envolvem uma mulher elusiva, a casa onde passou parte de sua
infância e um grupo de personagens que lhe parecem excessivamente interessados
em seu passado, por motivos que ele é incapaz de compreender. Conforme
atravessa os ecos da memória, passado e presente se entrelaçam cada vez mais,
formando uma teia que abrange meio século de sua vida. Com o suspense de um romance policial, Cena de um crime aos
poucos remove as camadas do tempo e do esquecimento para revelar os legados
aterrorizantes, ameaçadores e trágicos do que se pensa que se sabe da própria
vida. A tradução é de Ivone Benedetti e sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Antologia reúne seleção de
poemas de Czesław Miłosz.
Vencedor do prêmio Nobel de
literatura em 1980 por sua capacidade de “expressar com lucidez a condição
humana em um mundo repleto de conflitos”, Czesław Miłosz foi uma testemunha
singular dos principais acontecimentos que moldaram a história mundial recente. Autor de poemas, ensaios,
romances, memórias, cartas e traduções, o escritor esmiuçou um período dominado
por implacáveis e turbulentas transformações: a Primeira Guerra Mundial, a
ocupação nazista na Europa, o Holocausto, a ascensão do fascismo, a eclosão da
Segunda Guerra Mundial, a divisão geopolítica causada pela Guerra Fria, a
derrocada da União Soviética e a virada para o século XXI. Com tradução do
polonês, apresentação e seleção de Marcelo Paiva de Souza — professor do
departamento de polonês, alemão e letras clássicas da Universidade Federal do
Paraná —, Para isso fui chamado percorre, de forma cronológica, toda a
produção poética de Miłosz, desde seu livro de estreia, publicado em 1933, até
seus últimos poemas, escritos no começo dos anos 2000. O livro sai pela
Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
De grão em grão. Um novo livro
de Grazia Deledda chega aos leitores brasileiros.
O caminho do mal narra
a complexa história de amor de Maria Noina, filha de proprietários de terras, e
de seu servo Pietro Benu. Incapazes de encarar as contingências da divisão de
classes, eles têm seus desejos contrariados pelos códigos sociais de sua época,
acarretando autocensura, relações de ódio e a constante tensão entre as suas
pulsões e as convenções da comunidade em que vivem. Esses sentimentos de
atração e repulsa, paradoxalmente, os unem. Maria e Pietro se amam. E seu amor
é possível somente se ambos seguirem pelo caminho do mal. Com tradução. notas e
posfácio de William Soares dos Santos, o livro é publicado pela editora Patuá.
Quase vinte anos depois, a Ateliê
publica o segundo volume de Orlando Furioso completando a íntegra
do poema de Ludovico Ariosto.
“Pedro Garcez Ghirardi ao todo
traduziu poeticamente nada menos do que 38.576 versos, distribuídos em 4.822
oitavas-rimas por 46 cantos. Lembro ainda que a tradução parcial do poema (Orlando
Furioso – Cantos e Episódios) publicada pela Ateliê em 2002 recebeu o
Prêmio Jabuti de Tradução em 2003, de sorte que estamos aqui diante de um
trabalho cuja excelência já é publicamente reconhecida. Entenda o leitor que,
assim como é monumental a obra original de Ariosto, em correlata e obrigatória
medida é também monumental sua versão poética, formalmente análoga e integral.
A tradução, sendo, como é evidente, lavor extenso, mostra-se também intenso,
conforme relata no Posfácio o próprio tradutor, quando de Ariosto diz que ‘cada
uma de suas oitavas é, em si mesma, uma obra de arte. Nas estrofes, o admirável
trabalho das rimas mereceria, por si só, estudo particular. A perfeita
construção da ottava d’oro foi um dos mais preciosos legados de Ariosto
a grandes poetas, dele diferentes em tantos aspectos, como Camões e Tasso’.”
(João Angelo Oliva Neto). A edição ilustrada com xilogravuras de Gustave Doré,
reúne outras contribuições de Pedro Garcez Ghirardi, as notas e o texto de
introdução. Junto com o volume 2, a editora publica uma segunda edição do
primeiro tomo.
O ponto final da trilogia de
Coetzee com a formação de Jesus.
Após anos buscando uma educação
adequada para David, seus guardiões Simón e Inés seguem sem saber como
direcionar a potência intelectual e espiritual do menino. A Academia de Música,
na provinciana Estrella, parecia sugerir um caminho promissor, fora da rigidez
do ensino tradicional. Mas um assassinato brutal interrompe o processo; a
Academia é dissolvida, e Simón e Inés retornam ao dilema de como educar o jovem
David. Certo dia, o menino é visto jogando futebol pelo dono de um orfanato
local. David se encanta com a possibilidade de viver na instituição. Ele é
voluntarioso, impulsivo, carismático, mas também frágil, e sua decisão de
abandonar a própria casa dá início a uma série de episódios. Os primeiros dois
volumes da trilogia do ganhador do Nobel J.M. Coetzee tinham se prestado a
retratar um mundo ligeiramente distinto do nosso, em que a memória parece
limitada, e a benevolência do Estado guiada por um racionalismo asséptico por
vezes sinistro. No terceiro e último volume, este mundo, com sua lógica
implacável, já não parece mais tão distante de nós, e Coetzee nos carrega por
uma jornada existencial única, exigindo da ficção muito mais do que um mero
comentário do presente. Com tradução de José Rubens Siqueira, A morte de
Jesus é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Conhecer a poesia de Patrizia
Valduga
Ela trabalha um erotismo que não é apenas temático, mas é elaborado também na
tensão entre a forma e o conteúdo, entre as estruturas poéticas da tradição
italiana e os temas tão caros à autora. Apesar de parecer haver uma submissão à
forma, a leitura dos poemas sugere, por sua vez, uma subversão: há um embate
violento entre as regras poéticas e a linguagem de Valduga — direta, obscena,
impudica. À forte dramaticidade dos versos alia-se a sobreposição de falas e um
andamento dialógico pouco natural. Aliás, trata-se de poemas pouco ligados à
naturalidade da fala. Aqui, tudo é artifício. Sabe seduzir a carne a palavra
sai pelas Edições Jabuticaba com tradução de Agnes Ghisi e Elena Santi.
O regresso de Manoel Herzog ao
romance.
Este é um romance complexo e múltiplo,
sem paralelos na literatura brasileira. Após uma catástrofe ambiental, a
América Latina, ou o que sobrou dela, é agora a nação Bolivana-Zumbi, o
“gigante dócil e inofensivo” onde a moeda se chama bênção e o poder dominante,
fantoche dos desígnios chineses, é a Eclésia, gerida pela igreja evangélica
Bola de Fogo. Aqui a natureza é a principal preocupação: é expressamente
proibido desmatar e caçar animais silvestres, e os infratores pagam com a
morte. Em Bolivana-Zumbi se fala o portunhol, pois o português se tornou a
língua submersa — e proibida. Manoel Herzog nos leva, com contundência e um
humor desconcertante, às entranhas dessa nova sociedade que habita as antigas
regiões de Santos e Cubatão. Em pequenas sagas que se sobrepõem e se
complementam, conhecemos um mundo novo e perturbador, onde a própria realidade
é tecida de pesadelos. A linguagem submersa sai pela Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
O novo livro de Edgard Telles
Ribeiro.
Como ocorre em algumas das obras
de Edgard Telles Ribeiro, um escritor assume as vestes do personagem. Desta
feita, contudo, vamos achá-lo em um apartamento carioca, no qual, há décadas,
reside com a mulher. Apesar do cenário falsamente claustrofóbico, o livro voa
como um pássaro — que nem por isso deixa de lidar com suas gaiolas. Visto em
perspectiva, Jogo de Armar assume a forma de uma sinuosa história de
amor — um Jogo de Amar. O livro é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Miguel Sanches Neto e o romance
de investigação familiar.
Três filhos adultos, todos com o
mesmo nome e, por isso, chamando-se de Primeiro, Segundo e Terceiro, vivem em
uma antiga casa de madeira com a mãe já idosa, em uma cidade do interior do
país. Controlados pela velha senhora e pela relação de dependência que juntos
construíram, os três vivem fechados em si mesmo para manter os costumes da
família e a memória do pai, morto quando eles ainda eram muito pequenos. Até o
momento em que o mais jovem, Terceiro, um professor primário, faz a primeira
viagem de sua vida e nela descobre o amor e o desejo de conhecer as origens de sua
família, a chegada do avô espanhol ao Brasil, no começo do século XX. Inventar
um avô é publicado pela Maralto Edições. Você pode comprar o livro aqui.
Alexandre Vidal Porto reescreve
seu romance de estreia.
Matias Grappeggia tem quase
cinquenta anos. É casado, mas solitário; saudável, mas hipocondríaco;
mulherengo, mas incapaz de se conectar. Com essa vida sempre muito previsível,
não se espera que esse advogado bem-sucedido se arrisque em mais nada. Contudo,
quando Matias se encontra à beira de uma revelação amoroso-religiosa, ele
percebe que precisa fazer uma escolha definitiva. Percorrendo a cidade de São
Paulo durante quatro dias, o advogado revive parte importante de suas memórias,
mas também escancara seus desejos mais íntimos. A busca da conexão, do amor e
da identificação com o outro é o tema do primeiro romance de Alexandre Vidal
Porto, publicado originalmente em 2005 e que agora ganha segunda edição
totalmente revisada pelo autor. Matias na cidade é publicado pela Companhia
das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
García Márquez inédito. Pouco
tempo depois da morte do escritor colombiano saiu a notícia da existência de En
Agosto nos Vemos. A novela ganhará publicação em 2024, segundo anúncio do
grupo editorial Random House.
Carol Bensimon reeditada. O romance
que revelou a escritora, Pó de parede, ganha nova edição com outro
projeto editorial pela editora Dublinense.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Para onde vão os
guarda-chuvas, de Afonso Cruz (Dublinense, 544 p.) Parece que, pela
presença nas redes, o livro queridinho dos leitores brasileiros do escritor
português foi Vamos comprar um poeta. Se sim, foi uma boa. Depois dele,
começaram a sair por aqui vários títulos, incluindo este que até agora um dos
principais livros de Cruz. Perda, solidão, amor, religiosidade são alguns dos temas
desse inventivo romance que, situado num Oriente ficcional, coloca em
circulação figuras como um pragmático dono de uma fábrica de tapetes, sua
esposa herege, uma mulher que sonha em se casar, um hindu que deseja ser o seu marido,
um poeta mudo, uma criança perdida e outra encontrada. Você pode comprar o livro aqui.
2. Poemas de K. Kaváfis (Trad.
Ísis Borges da Fonseca, Odysseus, 406 p.) Apesar de tudo a presença da obra de um
dos poetas principais da poesia grega moderna não é objeto de raridade no Brasil.
Existe desde a magérrima edição feita de mais beleza que quantidade de textos editada
pela extinta Cosac Naify (certamente vendida a peso de ouro, mas que não vale o
tudo que os livreiros ofertem) e existe uma edição com 60 poemas da Ateliê
Editorial. A aqui recomendada é a mais abrangente. Copia muito da poesia do
homem que em vida fez dos seus poemas folhas ao vento e acresce aos textos
literários um estudo e notas. Você pode comprar o livro aqui.
3. As aventuras do bom soldado Švejk, de Jaroslav Hašek (Trad. de Luís Carlos Cabral, Alfaguara, 688 p.) Um marco da literatura que tomou como tema ou plano a Primeira Guerra Mundial. Substituindo a dicção trágica do front pela cômica, o romance do escritor tcheco denuncia pela figura memorável do bravo e hilariante soldado Švejk os horrores e dissensos do conflito histórico e também de todas as formas de barbárie do gênero já uma fez experimentadas pela humanidade. Você pode comprar o livro aqui.
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