LANÇAMENTOS
Dois volumes reapresentam em edição ampliada e revisada os diários de
Lúcio Cardoso.
1. “Penso nos outros, nos amigos que nunca tive, naqueles a quem eu
gostaria de contar estas coisas como quem faz confidências no fundo de um bar”,
escreve Lúcio Cardoso em seu diário, comungando com o leitor a escolha imposta
da escrita. É “esse diabólico e raro prazer da confidência”, para muitos “a
própria suma de suas inspirações e pensamentos”, que ele partilha conosco. Aqui
acompanhamos o percurso intelectual e psicológico, artístico e filosófico do
autor que produziu, entre 1934 (
Maleita) e 1959 (
Crônica da casa
assassinada), uma obra intimista e única em seu tempo. Escritos para ser
publicados em vida, estes diários são palco de elucubrações candentes sobre
literatura e cinema, música e teatro, Deus e moral, a filosofia niilista e os
desejos mais recônditos da carne e do espírito. Acima de tudo, Lúcio descreve a
confluência inadiável entre vida e literatura.
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2. De Dostoiévski à Bíblia, de Guimarães Rosa a Freud, as leituras e
citações feitas por Lúcio Cardoso nos seus diários e textos recolhidos iluminam
seu próprio processo criativo, sua angústia diante do papel, sua trajetória de
pensamento, o abismo entre a ideia e a escrita. Para Manuel Bandeira, “aqui
temos Lúcio contando na sua própria voz o seu próprio romance” — mais até que
em sua esmerada ficção, “vemos nestas páginas um homem em luta consigo mesmo,
com o seu destino, com o seu Deus”. No segundo volume, além dos diários de 1951
a 1962, graças aos imensos esforços de pesquisa e organização de Ésio Macedo
Ribeiro, encontramos escritos dispersos como o “Diário proibido — páginas
secretas de um diário e de uma vida”, “No meu tempo de estudante...” e “[Há
muitos anos]”, publicados pela primeira vez em livro neste volume, sem contar
os textos de “Diário não íntimo”, coluna de Lúcio Cardoso para o jornal
A
Noite. Este e o primeiro volume são publicados pela Companhia das Letras.
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Livro apresenta pela primeira vez aos leitores brasileiros a tradução de
J.R.R. Tolkien do poema clássico “A Batalha de Maldon”.
De autoria desconhecida, o poema em inglês antigo narra o ataque de
invasores vikings a uma força de defesa anglo-saxônica liderada pelo duque
Beorhtnoth. O combate ocorreu em 991 d.C., em Essex, próximo à Maldon, e é lembrado
como um dos mais brutais da história inglesa. Escrito logo após a batalha, o
poema original sobrevive apenas como um fragmento de 325 versos, mas seu valor
até hoje é incalculável; não apenas como um conto heroico, mas por expressar
vividamente a linguagem perdida daquela região da Inglaterra e celebrar ideais
de lealdade e amizade. Tolkien considerava “A Batalha de Maldon” “o último
fragmento sobrevivente da antiga tradição literária heroica inglesa”, e isso o
inspiraria a compor, durante a década de 1930, seu próprio poema dramático, “O
Regresso de Beorhtnoth, filho de Beorhthelm”, que imagina as consequências do
conflito a partir do diálogo entre dois dos lacaios de Beorhtnoth que voltam
para recuperar o corpo de seu duque. Nesta edição,um dos maiores estudiosos de
Tolkien, Peter Grybauskas, reúne pela primeira vez a tradução feita por Tolkien
de “A Batalha de Maldon” e os versos de “O Regresso de Beorhtnoth”, com
comentários de edição que complementam o poema. O livro também apresenta outro
texto inédito: “A tradição da versificação em inglês antigo”, uma palestra na
qual Tolkien fala sobre a natureza da tradução poética. Grybauskas também
explora, a partir de suas notas, a influência do poema na construção dramática
de
O Senhor dos Anéis. Com tradução de Eduardo Boheme Kumamoto e
Reinaldo José Lopes, o livro sai pela HarperCollins Brasil.
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Quando a fúria e o desejo
encontram seu caminho para contar uma história de corpos e afetos sobre filhos.
Lázaro e Juan são dois soldados de
lados opostos que abandonam a guerra e tornam-se amantes. Vicente Barrera, um
vendedor de linhas que ia de povoado em povoado conquistando mulheres e
deixando-as com seus filhos, passou seus últimos anos amarrado em um quarto,
transformado em um cão raivoso. Salvador e María consubstanciam um amor tão
profundo que parece que vão se dissolver um no outro e fundir seus sonhos. É no
deserto onde os destinos desses personagens se entrelaçam, onde suas feridas
são herdadas e secas, onde a fúria e o desejo encontram seu caminho para contar
uma história de corpos e afetos sobre filhos, mas também sobre as mulheres que
os cercam: mães, amantes, companheiras. Com tradução de René Duarte,
Fúria, de Clyo Mendoza, sai pela editora Peabiru.
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Uma das últimas traduções de Heloísa Jahn.
Espécie de sequência natural de
Afetos ferozes,
Uma mulher
singular é um mapa fascinante e comovente de ritmos, encontros casuais e
amizades em constante mudança que compõem a vida na cidade, neste caso, Nova
York. Enquanto passeia pelas ruas de Manhattan — novamente na companhia da mãe
ou sozinha —, Vivian Gornick observa o que se passa à sua volta, interage com
estranhos, intercala anedotas pessoais e meditações sobre a amizade, sobre a
atração (tantas vezes irreprimível) pela solidão e também sobre o que significa
ser uma intelectual feminista num mundo frequentemente hostil às mulheres e sua
luta por autonomia. Gornick explora como os afetos a forjaram, mesmo sendo tão
independente, em uma cidade que, aliás, parece de alguma forma espelhar sua
busca pessoal: a Nova York destas páginas transpira a aspereza e o orgulho
típicos de uma metrópole, mas também oferece uma miríade de afetos para todos
os gostos. Escrito como uma colagem narrativa que inclui peças meditativas
sobre a formação de uma feminista moderna, o papel do flâneur na literatura e a
evolução da amizade,
Uma mulher singular é também um dos últimos
trabalhos de tradução empreendidos por Heloisa Jahn — uma das grandes editoras
e tradutoras do país, leitora onívora e generosa, responsável por apresentar
diversos autores ao público brasileiro e que sempre viveu rodeada de afetos —,
morta em 2022. O livro é publicado pela editora Todavia.
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Escrita pelo togolês Kossi Efoui
no início da década de 1990, A encruzilhada
verte em poesia vidas
ressecadas pelo autoritarismo, vidas daqueles que, nas palavras de um dos
personagens, precisaram aprender a se confundir com o cenário para poderem se
manter vivos.
Uma Mulher e um Poeta estão à
procura de um caminho, de um futuro, onde seja possível ser alguém, não apenas
sobreviver. Acontece que, na encruzilhada em que eles se encontram, não se vê
nenhuma saída. Se é verdade que o Poeta vislumbrou no exílio uma nova
existência, tal afastamento não lhe trouxe mais do que a possibilidade de,
outra vez, se confundir com o cenário, o que já não era mais possível em seu
país natal, onde era perseguido pelas autoridades. Esses personagens — por
vezes semelhantes a bonecos inanimados — ganham vida pelo sopro de um Ponto,
que lhes traz a fala como quem carrega e transmite uma memória há muito
silenciada. Nesse microcosmo, une-se a eles um Cana, personagem vazio de
memória, que não procura caminhos pois tem “o medo no lugar da alma”. A
encruzilhada que pesa sobre esses personagens é também aquela à qual o autor
esteve condenado enquanto vivia sob o regime togolês, que, com nova roupagem,
perdura até os dias atuais. Porém, ao ser ambientada em um espaço onírico,
habitado por personagens arquetípicos — Mulher, Poeta, Ponto e Cana —, a peça
transcende em muito seu contexto de origem, e seu sentido se universaliza.
Publicada pela editora Temporal a peça tem tradução e prefácio de João Vicente,
Juliana Estanislau de Ataíde Mantovani e Maria da Glória Magalhães dos Reis.
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Coletânea inédita reúne oito histórias de Haruki Murakami.
As histórias desta coletânea são narradas em primeira pessoa por um
escritor que personifica o próprio Haruki Murakami. Mistos de memórias e
reflexões, os oito contos reunidos neste volume são ora filosóficos, ora
misteriosos, mas sempre singulares, em sintonia com o estilo único que
consagrou Murakami como um dos escritores mais importantes da atualidade. Múltiplas obsessões, o jazz, a música clássica, os Beatles, beisebol,
memórias desconcertantes e até um macaco falante percorrem estas páginas para
abordar, de forma poética e delicada, sentimentos como o amor, a melancolia e a
solidão.
Primeira pessoa do singular é a tradução de Rita Kohl e é
publicada pela Alfaguara.
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REEDIÇÕES
Nova edição do Livro do desassossego
organizada por Richard Zenith
revista e ampliada.
Publicado pela primeira vez em 1982, quase cinco décadas depois da morte
de Fernando Pessoa, o
Livro do desassossego se tornou um marco da
literatura. Escrito por Bernardo Soares — personagem fictício considerado um
semi-heterônimo de Pessoa pela indiscutível proximidade com o autor —, o volume
recolhe cerca de quinhentos fragmentos em prosa que abordam o desconforto do
indivíduo em relação à sociedade em que vive. Nos trechos recolhidos neste
volume, o tom depressivo ganha forma numa náusea constante que atinge não
apenas as dimensões intelectual e afetiva, mas também o plano físico. É como se
“a existência da própria alma”, de acordo com o narrador, fosse capaz de engendrar
um permanente “incômodo dos músculos”. Seja pelo estilo fragmentário, tão
representativo dos nossos tempos, seja pelo esforço em buscar significado em
uma vida que muitas vezes parece esvaziada de sentido, o
Livro do
desassossego impressiona por sua radical atualidade. A nova edição da
Companhia das Letras inclui ainda posfácio de Leyla Perrone-Moisés.
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Reedição de antologia com cinco contos fantasmáticos de Henry James.
Os cinco contos reunidos em
Até o último fantasma representam o
que há de melhor na obra de caráter fantasmático de Henry James, um dos mais
influentes autores de língua inglesa do século XIX. Selecionados, traduzidos e
apresentados por José Paulo Paes, os textos foram escritos entre 1891 e 1908 e,
em tom de fina ironia, mesclam realidade e imaginação de forma brilhante. “Sir
Edmund Orne” abre a coleção com um fantasma que aparece para sua ex-noiva e
para o narrador, que acaba de se apaixonar por ela. Em “A coisa realmente
certa”, um espectro tenta evitar que sua biografia seja escrita. Já em “Os
amigos dos amigos”, o universo parece conspirar para que duas pessoas com muito
em comum não consigam se encontrar, e “O grande e bom lugar” narra com humor as
queixas de um escritor cansado do sucesso. Por fim, considerado o auge da representação
do fantástico na obra do autor, “A bela esquina” fecha o volume com o encontro
de um homem e seu próprio fantasma. O livro sai pela editora Zahar.
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DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Seleta erótica de Mário de
Andrade, organizado por Eliane Robert Moraes (Ubu Editora, 320 p.) O nome
do escritor brasileiro não é desconhecido, mas o que certamente é novidade
entre os que leram ou não obras como
Macunaíma, para citar o seu mais
conhecido trabalho, é a verve erótica de Mário de Andrade. Nesta antologia toda
essa riqueza é colocada sobre a mesa.
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2.
A gangue escarlate de Asakusa,
de Yasunari Kawabata (Trad. Meiko Shimon, Estação Liberdade, 222 p.) Este livro
aproxima-se um tanto de uma narrativa nossa bem conhecida. Ao refazer a
história de derrocada do bairro de Asakusa, o narrador acompanha um grupo de
jovens que sobrevivem nas ruas e se ajudam a partir de pequenos delitos graças
ao papel que assume como artistas. Não existe qualquer toque que nos lembra os
jovens da Salvador de Jorge Amado em
Capitães da areia?
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