LANÇAMENTOS
Sai no Brasil nova edição e
tradução para um dos principais livros de Marguerite Duras.
Em meados dos anos 1980,
Marguerite Duras encontra, nos armários de sua casa de campo, uma série de
diários escritos na juventude. Nestas páginas, tomadas por uma pequena letra e
rasuras, ela descreve a angústia vivida durante a Segunda Guerra Mundial,
diante da França ocupada e da espera dilacerante pelo retorno de seu marido,
Robert Antelme, preso e enviado para um campo de concentração na Alemanha. Entre
a memória e a literatura, Duras desenha todo o contexto em que circulam pelas
ruas de Paris membros da polícia nazista, uma elite francesa colaboracionista,
milicianos e resistentes – personagens reais da história, como ela, que busca
notícias do marido em almoços com um membro da Gestapo e participa da sessão de
tortura de um delator ao lado dos companheiros da Resistência. O testemunho e a
emoção dos acontecimentos vividos fazem de
A dor uma das obras mais
importantes da autora, como ela mesma declara. A edição ora publicada pela
editora Bazar do Tempo traz o texto inédito “O horror de um tal amor”,
traduzido por Laura Mascaro, publicado na revista
Sorcières. Les femmes
vivent em 1976 e em
Outside, em 1981. Além disso, capa e seis
páginas manuscritas do
Cahier de 100 pages (Caderno de 100 páginas),
diário no qual Duras anotou os eventos que deram origem ao livro e posfácio de
Laura Mascaro. A tradução é de Luciene Guimarães de Oliveira e Tatiane França.
Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição e tradução de uma
das comédias gregas mais lembradas.
Nas
Rãs, peça apresentada
em 405 a. C., a tragédia desce aos infernos. Diante da morte de Eurípides,
Dioniso, o deus do vinho e do teatro, desespera-se: não há mais bons poetas
para celebrá-lo nos festivais dramáticos de Atenas. Resta ir ao mundo dos
mortos para trazê-lo de volta. Nessa jornada, deus, poesia e cidade
confrontam-se consigo mesmos — e se transformam. O conflito geracional, tema
caro a Aristófanes, encarna-se aqui na disputa entre dois tragediógrafos:
Ésquilo, antigo e celebrado, e Eurípides, inovador e iconoclasta. Assim, a comédia
homenageia, parodia e esmiúça criticamente seu gênero irmão, enquanto percorre
os diversos cantos da vida ateniense. Esboça-se, assim, raro retrato da recepção
da tragédia e da poesia por seus contemporâneos. Em capa dura, edição bilíngue
com introdução, tradução e notas de Tadeu da Costa Andrade, o livro é publicado
pela Editora Mnēma.
A editora Tabla publica duas novelas do autor palestino Ghassan Kanafani.
1. Publicada originalmente em árabe em 1963,
Homens ao sol, a
primeira novela de Kanafani, conta a história de três palestinos afetados pela
Nakba
(catástrofe) de 1948 — quando centenas de milhares de palestinos foram mortos
ou expropriados de suas terras, casas, bens, e obrigados a buscar refúgio em
terras dentro da Palestina e fora dela.
Essas
personagens convergem num mesmo lugar com uma mesma intenção: buscar uma vida
melhor longe da terra ocupada. Os três estão tentando atravessar o Iraque e
chegar ao Kuwait, encontrar ali trabalho, enviar dinheiro para a família,
inventar uma nova vida. O livro tem tradução de Safa Jubran.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
Umm Saad é a terceira novela de Ghassan Kanafani. Foi
publicada originalmente em árabe em 1969 e apresenta uma personagem que se
tornou, ao longo dos anos, uma figura mítica, símbolo da resistência palestina.
A personagem Umm Saad é originária de uma pequena aldeia rural e, depois da
Nakba
(catástrofe), passa a viver num campo de refugiados em Beirute. Essa mãe
revolucionária, semelhante pela sua grandeza à
Mãe coragem, de Brecht, e
à
Mãe, de Górki, expressa uma consciência política autônoma e é agente
da mudança. Nesta novela, Kanafani se lança a aprender com as massas. Umm Saad
é também mito da mãe-terra, a própria Palestina, a terra natal, seu cheiro, sua
textura, sua umidade, sua secura; conhecedora do tempo das coisas, do galho
seco que em algum momento brota verde… A luta de Umm Saad é a luta contra o
desterro, o deslocamento, a desapropriação, a catástrofe engendrada por ideais
distópicos e desmedidos; é a afirmação de pertencimento, de identidade e
intimidade com a terra.
Umm Saad é a tentativa mais completa de Kanafani
de expressar o fulgor do momento revolucionário. O livro tem tradução de Michel
Sleiman.
Você pode comprar o livro aqui.
Obra fundamental para o estudo
da Retórica ganha edição no Brasil.
Brunetto Latini (c. 1220-1294) foi
um literato e político de Florença, dos mais importantes em seu tempo.
Conterrâneo e “mestre” de ninguém menos que Dante Alighieri, foi igualmente
exilado de sua pátria por razões políticas. É durante o exílio que Brunetto
compõe
A Retórica, obra em que traduz e comenta minuciosamente trechos
do
De inventione, do filósofo Marco Túlio Cícero, sobre a arte da
retórica. Homem à frente de seu tempo, foi movido por um espírito
democratizante que Brunetto se dedicou a traduzir Cícero do latim para o
vernáculo florentino, a língua do homem comum, não erudito. Assim, acabou por
influenciar o próprio Dante, que depois escreveria algumas de suas principais
obras, como a
Vida nova, o
Convívio e a
Comédia, também
num registro mais próximo ao vernáculo de sua cidade. Tal como Cícero, Brunetto
entende que a retórica deve andar de mãos dadas com a sabedoria, e que apenas
líderes dotados de ambas são capazes de conduzir as coisas públicas com
discernimento e equidade.
A retórica é “a mais importante das ciências
do homem, pela sua capacidade de produzir ambientes harmônicos em que prevalece
a razão” — do que se depreende o valor não só histórico, mas civilizatório da
presente obra. Esta tradução de Emanuel França de Brito, a primeira feita no
Brasil, vem acompanhada de notas e de um alentado estudo introdutório do
tradutor, professor de língua e literatura italianas na Universidade Federal
Fluminense. O livro é publicado pela editora 34.
Você pode comprar o livro aqui.
Leda Cartum propõe uma poética
cheia de texturas, num trabalho exíguo com imagens que de outro modo não se
fixariam.
Seja em cidades vazias, seja nas
profundezas do oceano ou à hora crepuscular em um apartamento, a roda narrativa
destes minicontos passa da terceira à primeira pessoa enquanto as formas dos
enredos se avolumam. Os personagens — um homem, você e eu — são sujeitos de
outros tempos, desde o passado longínquo ao futuro incerto. As histórias estão
repletas de tentáculos e novelos que se desenrolam ao infinito, tentando
capturar a frequência limítrofe entre a realidade e o sonho. Formas feitas no
escuro é um livro quase táctil, que desafia o leitor a flutuar, mergulhar ou
voar por mitologias e sabedorias ancestrais. Mas também trata do cotidiano
presente, do tédio que invade um quarto, do tempo que corre quando
procrastinamos uma tarefa simples. Nele, Leda Cartum propõe uma poética cheia
de texturas — da terra úmida, das cascas de folhas secas, da madeira do chão de
taco —, num trabalho exíguo com imagens que de outro modo não se fixariam, e
seriam sombras opacas perdidas no longo caminho da visão à fala, da ideia à
escrita. É impossível descrever os contos sem enumerar as feras, os gatos
noturnos, os detalhes, a elasticidade do tempo, a escuridão vibrante da
natureza. Isso porque de modo lúdico, Cartum propõe que se preste atenção aos
segredos do móvel mais estático no canto de um cômodo qualquer. Entre a fábula,
a crônica e a poesia, Formas feitas no escuro transita entre gêneros e
surpreende por sua leveza, clareza e despretensão. Mas, como afirma Angélica
Freitas na orelha que assina para o livro, “talvez essa questão do gênero (é
poesia? É prosa?) nem nos interesse. Importa aqui o trabalho da imaginação, o
trânsito do escuro para o claro, e vice-versa”.
Formas feitas no escuro
sai pela editora Fósforo.
Você pode comprar o livro aqui.
Uma joia redescoberta da
literatura estadunidense o único romance de Gwendolyn Brooks, aclamada poeta e
primeira escritora afro-americana a ganhar o prêmio Pulitzer.
Maud Martha Brown é uma menina
negra que cresceu no South Side de Chicago, na década de 1940. Ela sonha com
Nova York, um romance e seu futuro. Ela adora dentes-de-leão, aprende a tomar
café, apaixona-se, decora sua cozinha, visita o Jungly Hovel, estripa uma
galinha, compra chapéus, dá à luz. Mas seu marido de pele mais clara também tem
sonhos: quer entrar para o Foxy Cats Club, deseja outras mulheres, fantasia com
a guerra. No passar do tempo, “fragmentos de um ódio confuso” estão sempre
presentes: a forma como uma vendedora a tratou; uma ida ao cinema; a crueldade
que sofre em uma loja de departamentos. A partir de breves vinhetas, Gwendolyn
Brooks constrói um retrato extraordinário de uma vida comum, marcada por
sabedoria, humor, raiva, dignidade e alegria. Publicado pela primeira vez em
1953 e inédito no Brasil, o livro inclui um prefácio de Margo Jefferson, que
destaca a capacidade da protagonista de reivindicar seus próprios direitos e
liberdades através da imaginação.
Maud Martha sai pela Companhia das
Letras com tradução de floresta.
Você pode comprar o livro aqui.
De Mário de Andrade para
Rodrigo Melo Franco de Andrade.
As cerca de trezentas cartas
trocadas entre Mário de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade narram uma viagem
epistolar histórica. Reunidas pela primeira vez, testemunham um compromisso
apaixonado com o Brasil e com a preservação de seu patrimônio cultural. Para
além das repartições públicas, uma amizade fiel anima a força de trabalho da
dupla. A edição é enriquecida por apresentação de Clara de Andrade Alvim e
ensaios fotográficos que documentam esse legado.
Correspondência anotada: Rodrigo
M. F. de Andrade e Mário de Andrade é publicado pela editora Todavia com organização
de Maria de Andrade, notas de Clara de Andrade Alvim e Lélia Coelho Frota.
Você pode comprar o livro aqui.
O amor de um filho por uma mãe: quando o papel de cuidar se inverte.
Com seu inconfundível estilo literário, o renomado escritor português Valter
Hugo Mãe fala sobre o delicado momento em que os filhos se tornam pais de seus
pais. O autor narra detalhes da sua rotina e demonstra todo o amor e gratidão
que sente pela mãe, refletindo sobre a fragilidade e a simplicidade da vida.
A
minha mãe é a minha filha conta com as belas ilustrações da artista
plástica Evelina Oliveira. O livro é publicado pela editora Biblioteca Azul.
Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição e tradução do
romance de Hervé Guibert que relata a descoberta da aids no corpo do autor.
Reler
Ao amigo que não me
salvou a vida trinta anos depois é como voltar a um mundo ao mesmo tempo
ultrapassado e perdido, com um sentimento contraditório de alívio e nostalgia.
Com esse mundo desapareceu a ameaça da morte inexorável pela aids, assombrando
as relações sexuais e amorosas, mas também um projeto literário para o qual a
autoficção era um dispositivo de consagração mais da dúvida do que do eu, no
qual a morte ocupava um papel central e reflexivo. As bases desse projeto
estavam enunciadas desde
La Mort propagande, romance de estreia de Hervé
Guibert, publicado quando ele tinha 21 anos: “[A morte] será minha única sócia,
serei seu intérprete”. A aids foi o ato final — e inesperado — em que o autor,
encarnando a morte, terminou por convertê-la em obra, afirmação vital. Embora
centrado no autor,
Ao amigo que não me salvou a vida é composto de quem
o cerca, da magia das relações amorosas e afetivas, dos amigos (como Michel
Foucault e Isabelle Adjani) cuja identidade aparece mais ou menos velada sob iniciais
e pseudônimos. O livro narra a descoberta da aids no corpo do autor, quando a
doença ainda era uma sentença de morte. A enfermidade não permite ao autor
reduzir o relato à afirmação de si, a um conto de superação. A experiência
literária é antes “enunciação do indizível”. Quando se olha no espelho, o autor
vê o “olhar do cadáver vivo”. A obra é o exorcismo da sua impotência. (Bernardo
Carvalho) Com tradução de Júlia da Rosa Simões, o livro é publicado pela
editora Todavia.
Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Nova edição para O caso Morel
, de Rubem Fonseca.
Romance policial, investigação sobre os limites do desejo, experimento
narrativo, o primeiro romance de Rubem Fonseca parece um jogo de espelhos, em
que os personagens se desdobram, assim como a história e o próprio narrador,
sem que saibamos quais são os originais e quais são os reflexos. Paul Morel é
um artista de vanguarda que está preso pela suspeita de assassinato de uma de
suas namoradas. Na cela, recebe a visita do escritor Vilela, ex-delegado que já
aparecera no conto final de
A coleira do cão (1965). Enquanto Morel pede
ao escritor auxílio para escrever ― não sabemos se um romance ou sua
autobiografia ―, Vilela enxerga no artista semelhanças com sua própria vida. O
que lemos é o entrelaçamento de duas narrativas paralelas: ora estamos diante
do manuscrito de Morel, ora é o narrador que assume a história. Até que, no
final, as tramas se encontram em uma conclusão brilhante.
Publicado em 1973, quando Rubem Fonseca já era considerado um dos
principais contistas brasileiros,
O caso Morel é um romance curto, em
que o autor retoma e desenvolve temas já explorados em seus contos, como a
arte, o sexo, a violência, a moral e a relação do homem com o mundo. Com o
cuidado narrativo levado às últimas consequências, este é um livro que
ultrapassa os limites do gênero policial em nome da complexidade da literatura.
A nova edição publicada pela editora Nova Fronteira inclui textos de Mateus
Baldi e posfácio de Sérgio Augusto.
Você pode comprar o livro aqui.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Nadja, de André Breton (Trad.
Ivo Barroso, 100/Cabeças, 184 p.) O encontro fortuito entre o grande nome da
vanguarda francesa e Léona Delcourt teria desencadeado à luz dos mais sensíveis
conceitos do surrealismo esse romance que se tornou incontornável no âmbito do
movimento dentro e fora da França.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
Ausente por tempo
indeterminado, de Julio Ramón Ribeyro (Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht, Carambaia,
192 p.) O livro reúne oito contos de um dos mais reconhecidos autores latino-americanos
no gênero. Os pequenos dramas do cotidiano erguidos sob uma linguagem
cristalina e de humor sutil.
Você pode comprar o livro aqui.
Comentários