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Mostrando postagens de abril, 2023

Seis poemas de Guillaume Apollinaire

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Por Pedro Belo Clara Guillaume Apollinaire. Foto: RMN   A PORTA   A porta do hotel sorri e eu fico a tremer Mamã o que é que me pode acontecer Ser este empregado para quem só o nada existe Pares silenciosos arrastados na profunda água triste Anjos de fresco desembarcados em Marselha ontem ao amanhecer Ouço ao longe um canto morrer e remorrer Humilde como sou que não sou nada que valha   Menino dei-te o que tinha agora trabalha     A PONTE MIRABEAU   Sob a ponte Mirabeau corre o Sena                                E os nosso amores                 Era preciso que me recordasse esta cena Que a alegria vem sempre depois da pena                                  Vem a noite soa a hora                                Tudo passa na minha demora   Face a face fiquemos e de mão na mão                                Enquanto                 Sob a ponte dos nossos braços se vão Dos eternos olhares a lassa ondulação                                  Vem a noite soa a hora                           

Boletim Letras 360º #529

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DO EDITOR   1. Olá, leitores, tudo bem vocês? Esta é a edição da post semanal apresentada aos sábados aqui no blog. Criada há 529 semanas, a ideia é reunir um pouco do que circulou em matéria de notícias no universo dos livros, especificamente, na linha editorial de interesse nosso, em nossa página no Facebook.   2. Aproveitamos sempre o espaço para sempre reforçar sobre como você pode ajudar ao Letras com as despesas de hospedagem e domínio online. Uma delas é a aquisição de livros pelos links ofertados neste Boletim. Você pode garantir um bom desconto nas suas compras, ganhar frete grátis e ainda ajudar o blog sem pagar nada mais por isso. Para o frete grátis você precisa ser cliente do Amazon Prime. Para assinar ou comprar qualquer outro produto que não os apresentados nesta publicação, vá por aqui . 3. Para conhecer outras formas de ajuda, visite aqui . Obrigado pela companhia e, desde já, um rico fim de semana com boas leituras! Patrick Modiano. Foto: Lea Crespi   LANÇAMENTOS

Aproximação à filosofia da pós-modernidade: uma patologia social

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Por Lucas Pinheiro Thomas Hartmann Entender o que é a pós-modernidade está longe de ser algo simples. Dos vários autores que tentaram e ainda tentam defini-la, mesmo que sem êxito consensual, esta breve análise se detém a uma aproximação ao pensamento de três: o polonês Zygmunt Bauman, que trata a pós-modernidade pelo conceito de modernidade líquida , e os britânicos Anthony Giddens e David Harvey, que definem a pós-modernidade como modernidade tardia e sociedade pós-industrial , respectivamente. Para tanto, em um primeiro movimento de discurso, é preciso retroceder às dinâmicas socioculturais da conjunção anterior, ou seja, é necessário para o pensamento pós-moderno que exploremos algumas tônicas características da modernidade, partindo de uma análise que procure manifestar tal transição e preconizar um fundamento teórico para a assimilação, o entendimento do pensamento pós-moderno.   Desde o seu início, a história do Ocidente é marcada pela manifestação de processos de instituição,

Cem anos de Fervor de Buenos Aires

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Por Fernando García Ramírez Capa da 1.ª edição do que ficou sendo o primeiro livro de Jorge Luis Borges.   Depois da Primeira Guerra Mundial, que passou na Suíça com a família, Jorge Luis Borges chegou à Espanha em 1919, aos vinte anos, onde conheceu os jovens poetas do Ultraísmo. Em Madrid passou a frequentar com regularidade a tertúlia de Ramón Gómez de la Serna. Alguns anos depois, em 1924, o grande mestre da greguería escreveu ao receber o primeiro livro de poemas do jovem argentino: “Todo este livro, escrito… com uma dignidade e uma desenvoltura que me fizeram tirar o chapéu para Borges com esta saudação até ao chão.”   O livro diante do qual Gómez de la Serna se descobre é Fervor de Buenos Aires , publicado pela Imprenta Serantes, com desenho na capa de Norah Borges, em 1923, há cem anos (imagem). A Random House está prestes a publicar uma edição comemorativa e algumas editoras argentinas estão preparando dois livros de ensaios separados para comemorar o centenário deste livro ju

A beleza do canibalismo em Até os ossos

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Por Alonso Díaz de la Vega   Luca Guadagnino é para mim um dos grandes mistérios do cinema contemporâneo. Eu me pergunto, por um lado, se ele é um narrador radical que evita deliberadamente explorar os temas em seus filmes ou se, ao contrário, ele é um diretor anedótico, mal disfarçado por alusões temáticas e formais. Existem bons argumentos para ambas as possibilidades, mas gostaria de desenvolvê-los antes de chegar a uma conclusão sobre Até os ossos (2022), seu filme mais recente, porque embora eu inevitavelmente me incline para uma possibilidade, às vezes acho difícil ignorar a outra.   Tomemos seu filme mais famoso, Me chame pelo seu nome (2017), que em sua estreia me pareceu muito focado em contar uma história sutilmente significativa, ou seja, sua trama sobre um adolescente em plena descoberta da sexualidade e do amor na Itália, procurava acima de tudo comover o público, mas parecia ter algo a dizer sobre a beleza. A falta de jeito, as descobertas e a experiência masculina de

Vida indiscernível: ensaio sobre uma novela de Anton Tchekhov

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Por Wesley Sousa O que é feito com arte é sempre novo — Tchekhov A literatura de Anton Tchekhov (1860-1904) é uma experiência literária única. Seus inúmeros contos, novelas e peças constituem um universo que apenas ele pode proporcionar com tamanha magnitude e o zelo pela simplicidade sem cair na superficialidade. Dispensável dizer, porém, que ele compõe o rol da vasta e intensa produção literária russa, com nomes de escritores, poetas e dramaturgos da estatura de Liev Tolstói, Fiódor Dostoiévski, Aleksandr Púchkin, Ivan Turguêniev, Nikolai Gógol, Nikolai Leskov, Maksim Górki, Vladímir Maiakóvski, dentre tantos outros.   Sua diplomação universitária adveio da formação em Medicina. Com o passar do tempo, a atividade de escritor acabou sendo cada vez mais importante na vida do jovem médico, e daí veio a se transformar na sua principal ocupação. De fato, não nasceu de uma família rica ou aristocrática, como foi o caso de Tolstói ou Turguêniev, mas também pôde, mesmo com dificuldades, est