Boletim Letras 360º #521
DO EDITOR
1. Duas novidades para abrir a
edição 521 do Boletim Letras 360º: na semana seguinte, você conhecerá os quatro
novos colunistas que enriquecerão os nossos trabalhos; e no dia 7 de março, o
nome dos dois ganhadores do sorteio entre os apoiadores do Letras.
2. Para o sorteio, você pode
enviar sua inscrição. Disponibilizamos Lições, de Ian McEwan (Companhia
das Letras) e Aniquilar, de Michel Houellebecq (Alfaguara). Para registrar
seu apoio é simples. Basta enviar a partir de R$20 através do PIX
blogletras@yahoo.com.br e em seguida fornecer o comprovante por este mesmo
endereço de e-mail. Se quiser outros detalhes, acesse aqui.
3. Outra forma de apoio a este
projeto é a aquisição de qualquer um dos livros apresentados pelos links
ofertados neste Boletim ou mesmo qualquer produto que você adquirir online usando
este link.
4. Um rico fim de semana para
todos nós!
Gertrude Stein. Foto: Man Ray. |
LANÇAMENTOS
Chega ao Brasil o longo poema de amor de Gertrude Stein talvez escrito para
Alice B. Toklas.
Gertrude Stein, uma das artistas mais originais e inventivas do
modernismo norte-americano, apresenta, em Barriga ao alto, um longo
poema de amor, o qual acredita-se ter sido escrito para sua companheira Alice
B. Toklas durante a viagem que elas realizaram para Maiorca, na Espanha, em
1915. O livro é considerado como um dos trabalhos mais eróticos da poeta, o que
fica explícito desde seu título, em que o movimento de colocar ao alto a
barriga é visto como a gênese tanto do trabalho quanto do próprio encontro
amoroso, o que ganha vida, corpo e constrói, junto das palavras justapostas e,
muitas vezes, desconexas uma poética corporal que, apesar da visibilidade do
ato sexual, também se potencializa justamente pela sua opacidade. É nesse
ambiente de muito dizer e pouco significar que Stein também nos apresenta uma
proximidade com o ambiente doméstico das amantes, em que situações íntimas são
apresentadas aos leitores não iniciados na intimidade das duas, bem como
paisagens e conversas entrecortadas, em que não sabemos quem enuncia, quem
recebe, o que é pergunta e o que é resposta. Também por isso alguns críticos
leem Barriga ao alto como uma produção poética majoritariamente queer, na qual
o estranhamento, mais do que fechar portas à leitura, convida à entrada no
universo lésbico sem barreiras, junto da conversa infinita do feminino e do
jorro verbal entre o gozo e a retenção. Barriga ao alto chega pela
primeira vez ao público brasileiro em um jogo erótico de línguas em constante
movimento. Traduzido do inglês pela poeta portuguesa Patrícia Lino, os versos,
publicados agora pela Macondo, passaram por uma segunda tradução, dessa vez
rearranjados na variante brasileira do idioma, implicando novos saltos e
reconfigurações. Para Lino, a peculiaridade do conjunto verbal “Lifting +
Belly” antecipa e confirma a inclinação, estratégica e metódica, de Stein para
brincar com as palavras. Ao não significar absolutamente nada, significa,
inversamente, todas as coisas e dá, ao mesmo tempo, nome ao poema de amor
lésbico mais extenso e divertido do último século. O prazer e os perigos de
brincar estendem-se não só às que o lerem, mas sobretudo às que o decidirem
traduzir. Há, claro, nessa volatilidade semântica a sugestão do desejo, que vai
e vem, e se transforma tão humorística quanto afetuosamente, entre gracinhas,
discórdias e afirmações inconclusivas, a partir da sobreposição anónima e
intrincada de duas vozes investidas em comunicar. E tal como se assemelha ao
balbucio das crianças, que degustam as qualidades múltiplas do verbo, o jogo da
comunicação pela comunicação aproxima-se também do fazer chistoso do poema que,
como o amor, é avesso a definições. Publicação das Edições Macondo.
Um dos marcos na literatura do
cubano Marcial Gala.
Raul tem dez anos e é um ávido
leitor de literatura clássica. Nasceu biologicamente como homem, mas não se
identifica desta forma e sabe que é uma mulher no corpo errado. Além disso,
como a mitológica Cassandra, princesa de Troia e sacerdotisa de Apolo, Raul é
capaz de prever o futuro, mas não encontra no mundo quem lhe ouça. Sabe sobre a
sua morte aos dezoito anos na guerra em Angola, ferido pelo ódio, assim como
prevê como cada um de seus familiares e companheiros irá morrer. Entre o campo
de batalha angolano e a pobre cidade cubana de Cienfuegos, entre as margens da
antiga Troia e o mundo do século XX, Me chama de Cassandra narra a busca
por uma identidade em um ambiente hostil, as batalhas, o preconceito e o drama
de uma família pobre em meio ao colapso dos sonhos utópicos de Cuba. Com
tradução de Pacelli Dias Alves de Sousa, o livro é publicado pela Biblioteca
Azul. Você pode comprar o livro aqui.
Ensaios, críticas, prefácios,
manifestos, recordações e devaneios de Margaret Atwood reunidos entre os anos
de 1982 e 2004.
Curtos, médios ou longos, os
textos de Alvos em movimento atestam o talento único de Atwood, que
começou a escrever aos seis anos, se profissionalizou aos dezesseis e, agora,
em sua oitava década de vida, continua ativa, atenta, engajada e mordaz. Mestre
em Literatura por Harvard, ela não chegou a completar o doutorado pela
universidade. Nem precisou, pois foi homenageada com títulos honoris causa por
mais de vinte instituições da América e da Europa, sendo reconhecida há muito
como a figura mais importante da cultura canadense graças a sua invulgar
clareza de pensamento e seu sutil senso de humor que lhe permitem desmascarar as
mais diversas imposturas sem perder a elegância de estilo e a profundidade das
suas observações, fundamentadas em sólida bagagem clássica contrabalançada pela
sintonia com a cultura de massa. Margaret Atwood é capaz de passar por temas
como as questões ecológicas e feministas até os desafios e impasses da política
com a mesma desenvoltura com que trata dos meandros literários. Além de evocar
suas influências, como George Orwell e Virginia Woolf, Alvos em movimento
revela o método de escrita de Atwood em alguns dos seus best-sellers, como O
conto da aia, e analisa a obra de grandes nomes da literatura universal,
como Gabriel García Márquez, Italo Calvino, Toni Morrison, Ursula K. Le Guin,
Elmore Leonard e John Updike. Um amplo e fascinante mosaico que nos ajuda a
compreender o mundo em que vivemos, de muitas formas “uma história contada por
um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum”. Com tradução de Maira
Parula, o livro é publicado pela editora Rocco. Você pode comprar o livro aqui.
A gravidez e a mudança por
completo do corpo da mulher são temas do livro de estreia de Jazmina Barrera no
Brasil.
Linea nigra, a linha de pigmentação
escura que surge na barriga da mulher durante a gestação. Uma notificação
física, algo linear que marca e divide a vida em duas fases, o antes e o depois
da maternidade. Para umas, o período é venerado como uma divindade; para
outras, amaldiçoado por tantos pesares. Mas todas concordam que gerar um ser
vivo dentro de si é sinônimo de mudança, que pode ser tanto gratificante quanto
assustadora. Para Jazmina Barrera, todas as definições são válidas e corretas e
ela as narra nesta obra que leva o nome da linha divisória de toda mulher que
teve a vida germinada no ventre. Ao relatar o processo de sua primeira
gestação, da salada de frutas que denomina o feto à maternidade em si, ela
abraça o tema em uma prosa sincera, correlacionando o período às artes, à
literatura, a eventos da natureza e, sobretudo, ao que sente uma mulher
grávida, por mais contraditórios que sejam seus sentimentos. A gravidez muda o
corpo, a mente, a vida de uma mulher por completo. A mulher passa a ser mãe. O
corpo, por um momento ou para sempre, deixa de ser só seu, e Barrera não deixa
nenhum detalhe passar despercebido. Linea nigra são insights, memórias,
manifesto transportados da marca na barriga às páginas deste livro. Com
tradução de Silvia Massimini Felix, o livro é publicado pela editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
Uma fábula insólita e
envolvente, equilibrando toques de realismo mágico, humor macabro e grotesco e
até mesmo lirismo para falar dos horrores do autoritarismo e da opressão em
todos os seus níveis, do coletivo ao individual.
Era uma vez uma pequena nação que
vivia sob a bota pesada de seu líder, o General Bigode. Nesse país excessivamente quente e
infestado de moscas, mora uma família disfuncional, a começar pelo pai, um
militar gago — e também o favorito do General — que ostenta as incontáveis
medalhas conquistadas graças aos serviços prestados à pátria, e pela mãe,
mulher traumatizada por uma tragédia familiar que encontrou no casamento a
chance de uma vida mais confortável, ainda que a maternidade lhe seja
insuportável. Dessa união, nasceram três filhos: Cassandra, a mais velha, perspicaz
e manipuladora, sexualmente atraída por objetos, sobretudo enferrujados; Caleb,
o do meio, detentor de um dom único e mórbido; e a caçula Calia, que se recusa
a falar e desenha animais hiper-realistas com talento excepcional. Em desespero por ter sido afastado
do governo, o pai instaura uma violenta autocracia na própria casa, obrigando
os filhos, que até então viviam em discórdia, a se unir contra a intransigência
paterna e a alienação materna. Em ritmo frenético, a narrativa dispara rumo a
um desfecho imprevisível. Elaine Vilar Madruga implanta no riso e no espanto
suas principais armas de resistência. A tirania das moscas é publicado
pela editora Instante com tradução de Talita Hoffman. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
A editora Global reúne numa
caixa três das principais obras de Gilberto Freyre.
Na quarta capa de Casa Grande
& Senzala, obra-prima do pernambucano, Darcy Ribeiro diz que este livro
é uma “façanha da cultura brasileira”. Tal elogio pode parecer exagerado para
quem não conhece a importância do autor, mas lendo outros textos sobre a obra,
não lhe faltam elogios semelhantes. O ex-presidente da República e sociólogo
Fernando Henrique Cardoso, responsável pelo texto de apresentação desta edição,
avalia que este é um livro que seria lido pelo próximo milênio. Mas afinal, por
que a obra e todos os seus estudos se tornaram tão importantes para entender o
país? Casa Grande & Senzala (1933) é o primeiro livro da trilogia
que segue com Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso
(1959). Com a caixa O Brasil segundo Gilberto Freyre, esses três volumes
são reunidos como um estudo meticuloso, instigante e essencial para entender o
Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
Livro do premiado escritor
estadunidense Upton Sinclair, retorna às livrarias com a célebre tradução de
Lúcio Cardoso. A edição conta ainda com reprodução das características da 1ª
edição brasileira do livro, publicada em 1941 pela José Olympio.
Lanny Budd, protagonista deste O
fim do mundo, é um jovem americano que nunca pisou nos Estados Unidos.
Nasceu na Suíça e cresceu na Riviera Francesa; seus melhores amigos são um
inglês e um alemão. A verdade é que Lanny é um cidadão do mundo, e ele sabe
disso no fundo do seu coração. Mas será no decorrer de sua vida, ao testemunhar
a própria História, que Lanny Budd se provará um grande emissário da humanidade
no século XX. Este é o mote de O fim do mundo, de Upton Sinclair, um dos
mais célebres escritores americanos. Jornalista investigativo e ganhador do Prêmio
Pulitzer de Ficção, Sinclair mescla, com maestria e exatidão, fatos e
personalidades históricos a um enredo ficcional singular. O resultado é um
romance de formação liderado por Lanny Budd, que, com seu olhar curioso,
apresenta a leitores e leitoras os paradoxos e as complexidades de um século de
disputas políticas, econômicas e éticas. Junto de Lanny, testemunhamos os
eventos que transformarão os rumos da História. Serão apresentados os
sentimentos de uma época que permitiram tanto as emoções do jazz quanto os
temores dos primeiros bombardeios aéreos. Lanny Budd presencia, em posição
privilegiada, a Primeira Guerra Mundial, os bastidores do Tratado de Versalhes,
entre outros acontecimentos, enquanto vive dramas individuais e angústias
cotidianas ― muito próximas das atuais. O fim do mundo é um romance para
todos, uma oportunidade para observar um passado que o presente ainda espelha. Um
livro atemporal como os próprios conflitos humanos, este romance é
indispensável para quem se interessa por grandes leituras históricas que se
propõem a adentrar em grandes acontecimentos mundiais cujo enredo, tal qual uma
boa ficção, são cheios de reviravoltas dignas de serem recontadas inúmeras
vezes, pois, esquecê-las, seria um perigo. Você pode comprar o livro aqui.
O quarto volume da série
Tragédia burguesa, de Octávio de Faria ganha reedição.
O tempo urge, os minutos voam e a
morte chegará com qualquer um deles. No entanto, são muitos os que Padre Luís
vê levar uma existência à sombra dos fantasmas da indiferença, da incredulidade
e da revolta. Há, em cada um deles, um anjo de pedra que precisa ser
despertado. Mas há ainda um outro, muito maior, muito mais importante e mais
insensível: é o mundo, esse mundo que os rodeia, indespertável. O inimigo ronda
incessantemente a presa possível e não há máscara ou disfarce de que não saiba
se servir para tentar apagar as pegadas do Crucificado nas areias do mundo. O
anjo de pedra é o quarto volume da série Tragédia burguesa; o livro é
publicado pela editora Sétimo Selo. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Regresso à vista 1. A Companhia
das Letras sinalizou no seu catálogo a reimpressão de Contra o dia, de
Thomas Pynchon. O romance tido como tão divertido quanto labiríntico preenche a
lista dos melhores do escritor estadunidense.
Regresso à vista 2. A Pinard
publicará nova tradução para Huasipungo, obra-prima do escritor
equatoriano Jorge Icaza. Esgotado no Brasil desde 1980, o romance é considerado
um dos mais representativos na literatura social latino-americana. Você pode ajudar o financiamento dessa publicação aqui.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Novelas completas, de Liev
Tolstói (Trad. Rubens Figueiredo, Todavia, 416 p.) Por que uma ou outra se você
pode ter numa só edição as novelas do importantíssimo escritor russo? Nesta edição
organizada pelo seu tradutor, estão as quatro novelas de Tolstói acompanhadas
com textos de apresentação: “Felicidade conjugal”, “A morte de Ivan Ilitch”, “Sonata
a Kreutzer” e “Padre Siérgui”. Você pode comprar o livro aqui.
2. Em tudo havia beleza, de
Manuel Vila (Trad. Sandra Martha Dolinsky, Tusquets Editores, 352 p.) Uma homem
de meia-idade tenta se reerguer mesmo desconfiando a todo tempo da inutilidade
de seu esforço. Uma narrativa confessional que transita pelos fantasmas do divórcio,
da distância imposta pelos filhos, do alcoolismo; um testemunho de tudo o que uma
família pode oferecer e sonegar. Você pode comprar o livro aqui.
3. O arco-íris da gravidade, de Thomas Pynchon (Trad. Paulo Henriques
Britto, Companhia das Letras, 740 p.) Dos calhamaços do mais importante nome da
literatura pós-modernista estadunidense, este romance alcança em 2023 seus
bem-vividos cinquenta anos. Ambientada na Europa a narrativa picaresca dá conta
desse continente imediatamente ao fim da Segunda Guerra Mundial. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Depois das raras imagens de Carolina Maria de Jesus compartilhadas em fevereiro de 2016 do arquivo da
Cinemateca Brasileira, outras duas amostras com a autora do Best-Seller Quarto
de despejo: este excerto de uma entrevista em que comenta sobre o ser
mulher, o sucesso do seu livro e suas perspectivas; e este excerto do filme
Favela: a vida na pobreza, de Christa Gottman-Elter — um documentário a partir do livro de estreia de Jesus e que acompanha a favela do Canindé, onde viveu por três décadas.
Neste dia 4 de março de 2023
cumprem-se seis décadas sobre a morte de William Carlos Williams. Do poeta
estadunidense de Rutherford, destacamos dois de seus poemas traduzidos por José
Paulo Paes e disponíveis no blog da revista 7faces — aqui.
BAÚ DE LETRAS
No passado 27 de fevereiro de 2023
alcançamos o 90º aniversário de Ruy Belo. O poeta português, autor de obras
como Aquele rio Eufrates, Boca bilíngue e O problema da
habitação, aparece aqui na galeria Os escritores.
Em 2017, traduzimos este texto de
Sara Mesa, “Carolina Maria de Jesus, a escritora que catava papel numa favela”,
que é um breve perfil sobre a escritora.
DUAS PALAVRINHAS
O livro é a melhor invenção do homem.
— Em Quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus
...
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