Robert Frost
Robert Frost. Foto: Marvin Koner |
Robert Frost nasceu em San Francisco, mas sua família mudou-se para Lawrence,
Massachusetts, em 1884, após a morte de seu pai. A mudança foi na verdade um
retorno, pois os ancestrais de Frost eram originalmente da Nova Inglaterra, e ele
se tornou famoso pelo envolvimento de sua poesia com o lugar, suas identidades
e temas. Frost se formou na Lawrence High School, em 1892, já como o poeta da
turma (ele também dividiu a honra de segundo orador da turma com sua futura esposa
Elinor White) e, dois anos depois, o New York Independent aceitou seu
poema intitulado “My Butterfly”, alçando-se ao status de poeta profissional com
um cheque de quinze dólares. Seu primeiro livro foi publicado por volta dos 40
anos, mas ele ganharia um recorde de quatro prêmios Pulitzer e se tornaria o
poeta mais famoso de seu tempo, antes de morrer aos 88 anos.
Para comemorar sua primeira
publicação, Frost mandou imprimir um livro de seis poemas para íntimos; duas das
cópias de Twilight feitas ficaram uma para ele e outra para sua noiva.
Nos oito anos seguintes, entretanto, ele conseguiu publicar mais 13 poemas.
Durante esse tempo, Frost frequentou esporadicamente Dartmouth e Harvard e
ganhou a vida ensinando em uma escola e, mais tarde, trabalhando numa fazenda
em Derry, New Hampshire. Mas em 1912, desencorajado pela constante rejeição de
seu trabalho pelas revistas estadunidenses, ele levou sua família para a
Inglaterra, onde encontrou mais sucesso profissional. Continuando a escrever
sobre a Nova Inglaterra, ele publicou dois livros, A Boy's Will (1913) e
North of Boston (1914), que estabeleceram sua reputação de modo que seu
retorno aos Estados Unidos em 1915 foi como o de uma figura literária célebre.
Holt lançou uma edição estadunidense de North of Boston em 1915, e os periódicos
que antes desprezavam seu trabalho agora o procuravam.
A posição de Frost nas letras
americanas foi consolidada com a publicação de North of Boston e, anos
antes de sua morte, ele passou a ser considerado o poeta laureado não-oficial
dos Estados Unidos. Em seu aniversário de 75 anos, o Senado aprovou uma
resolução em sua homenagem que dizia: “Seus poemas ajudaram a guiar o
pensamento, o humor e a sabedoria da América, estabelecendo em nossas mentes
uma representação confiável de nós mesmos e de todo homem”. Em 1955, o estado
de Vermont nomeou uma montanha em sua homenagem em Ripton, a cidade de sua residência
legal; e na posse presidencial de John F. Kennedy em 1961, Frost recebeu a
honra sem precedentes de ser convidado a ler um poema. Escreveu um poema
chamado “Dedication” para a ocasião, mas não conseguiu lê-lo devido à forte luz
solar do dia. Em vez disso, ele recitou “The Gift Outright”, que Kennedy havia
originalmente pedido que ele lesse, com um último verso revisto, mais voltado
para o futuro.
Embora Frost não se aliasse a
nenhuma escola ou movimento literário, os imagistas ajudaram no início a
promover sua reputação nos Estados Unidos. Poetry: A Magazine of Verse
publicou seu trabalho antes que outros começassem a procurá-lo. Também publicou
uma resenha de Ezra Pound da edição britânica de A Boy's Will, que Pound
disse “tem o sabor das florestas de New Hampshire e tem essa sinceridade
absoluta. Não é pós-miltoniano, pós-swinburniano ou pós-kiploniano. Este homem
tem o bom senso de falar com naturalidade e pintar a coisa, a coisa como ele a
vê.” Amy Lowell fez uma resenha sobre North of Boston no New Republic,
e ela também cantou elogios a Frost: “Ele escreve em metros clássicos de uma
forma que deixa os dentes de todos os poetas das escolas mais antigas mais
afiados; e ele escreve em métricas clássicas e usa inversões e clichês sempre
que quer, esses recursos tão abominados pela geração mais nova. Segue seu
próprio caminho, independentemente das regras de qualquer outra pessoa, e o
resultado é um livro de poder e sinceridade incomuns.” Nesses dois primeiros
volumes, Frost apresentou não apenas sua afeição pelos temas da Nova Inglaterra
e sua mistura única de métricas tradicionais e coloquialismo, mas também seu
uso de monólogos e diálogos dramáticos. “Mending Wall”, o poema principal em North
of Boston, descreve a discussão amigável entre o orador e seu vizinho
enquanto eles caminham ao longo de sua parede comum substituindo pedras caídas;
suas diferentes atitudes em relação aos “limites” oferecem um significado
simbólico típico dos poemas dessas primeiras coleções.
Mountain Interval marcou
a virada de Frost para outro tipo de poema, uma breve meditação provocada por
um objeto, pessoa ou evento. Assim como os monólogos e os diálogos, essas peças
curtas têm uma qualidade dramática. “Birches”, citado acima, é um exemplo,
assim como “The Road Not Taken”, em que uma bifurcação num caminho na floresta
transcende o específico. A distinção deste volume, disse Boston Transcript,
“é que o Sr. Frost pega o lirismo de A Boy's Will e toca uma música mais
profunda e oferece uma variedade mais intrincada de experiência.”
Várias novas qualidades surgiram
no trabalho de Frost com a apresentação de New Hampshire (1923),
particularmente uma nova autoconsciência e vontade de falar de si mesmo e de
sua arte. O volume, pelo qual Frost ganhou seu primeiro Prêmio Pulitzer, “finge
ser nada além de um longo poema com notas e notas ornamentais”, como Louis
Untermeyer descreveu. O poema-título, com aproximadamente catorze páginas, é um
“tributo desconexo” ao estado favorito de Frost e “é estrelado e pontilhado com
numerais científicos na forma do tratado mais profundo”. Assim, uma nota de
rodapé no final de um verso do poema remeterá o leitor a outro poema
aparentemente inserido para meramente reforçar o texto de “New Hampshire”.
Alguns desses poemas estão na forma de epigramas, que aparecem pela primeira
vez na obra de Frost. “Fire and Ice”, por exemplo, um dos epigramas mais
conhecidos, especula sobre como o mundo vai acabar. O poema mais famoso e, de
acordo com J. McBride Dabbs, o mais perfeito de Frost, “Stopping by Woods on a
Snowy Evening”, também está incluído nesta coletânea; transmitindo “o sussurro
insistente da morte no coração da vida”, o poema retrata um eu que para seu
trenó no meio de uma floresta tomada pela neve apenas para ser chamado pela
escuridão convidativa da lembrança de deveres práticos. O próprio Frost disse
sobre esse poema que é do tipo que ele gostaria de imprimir em uma página
seguida de “quarenta páginas de notas de rodapé”.
West-Running Brook
(1928), o quinto livro de poemas de Frost, é dividido em seis seções, uma das
quais é ocupada inteiramente pelo poema do título. Este poema refere-se a um
riacho que corre perversamente para oeste em vez de leste para o Atlântico como
todos os outros riachos. Uma comparação é estabelecida entre o riacho e a voz
do poema que confia em si mesmo para seguir os “contrários”; outros elementos
rebeldes exemplificados pelo riacho dão expressão a um individualismo
excêntrico, o frostiano tema estoico da resistência e autorrealização. Revendo o
livro em New York Herald Tribune, Babette Deutsch escreveu: “A coragem
que é gerada por um senso sombrio do Destino, a ternura que paira sobre a
humanidade em toda a sua cegueira e absurdo, a visão que vem para descansar tão
plenamente na fumaça que sobe da cozinha e da neve caindo como montanhas e
estrelas —são do poeta, e em sua poesia aparentemente casual, ele
silenciosamente os torna nossos”.
A Further Range (1936),
que rendeu a Frost outro Prêmio Pulitzer e foi selecionado pelo Book of the
Month Club, contém dois grupos de poemas com os subtítulos “Taken Doublely” e
“Taken Singly”. No primeiro, e mais interessante, os poemas são um tanto
didáticos, embora também existam peças humorísticas e satíricas. Incluído aqui
está “Two Tramps in Mud Time”, que começa com a história de dois madeireiros
itinerantes que oferecem seus serviços ao eu do poema em troca de pagamento; o
poema então se desenvolve numa exprobração sobre a relação entre trabalho e
diversão, vocação e lazer, pregando a necessidade de uni-los. Sobre o livro por
inteiro, William Rose Benét escreveu: “Vale mais a pena ler do que nove décimos
dos livros que aparecerão em seu caminho este ano. Numa época em que todos os
tipos de insanidade estão assaltando as nações, é bom ouvir esse humor
tranquilo, mesmo sobre uma galinha ou uma vespa. [...] E se alguém me perguntar
por que ainda acredito em minha terra, só tenho que colocar este livro em suas
mãos e responder: ‘Bem, aqui está um homem de meu país’”.
A maioria dos críticos reconhece
que a poesia de Frost nas décadas de 1940 e 1950 tornou-se cada vez mais
abstrata, enigmática e mesmo sentenciosa, de modo que geralmente é com base em
seu trabalho anterior que ele é lembrado. Seu credo político e religioso, até
então enformado pelo ceticismo e cor local, tornou-se cada vez mais os
princípios orientadores de seu trabalho. Ele havia sido, como aponta Randall
Jarrell, “um muito radical e um mega radical quando jovem”, mas tornou-se “às
vezes um conservador insensível e sem imaginação” na velhice. Ele havia se
tornado uma figura pública e, nos anos anteriores à sua morte, grande parte de
sua poesia foi escrita a partir desse lugar.
Revendo A Witness Tree
(1942) em Books, Wilbert Snow observou alguns poemas “que têm o direito
de estar entre as melhores coisas que ele escreveu”: “Come In”, “The Silken
Tent” e “Carpe Diem”, especialmente. No entanto, Snow continua: “Alguns dos
poemas aqui são pouco mais do que fantasias rimadas; outros carecem da unidade
de estrutura encontrada em North of Boston”. Por outro lado, Stephen
Vincent Benet sentiu que Frost “nunca havia escrito poemas melhores do que
alguns dos deste livro”. Da mesma forma, os críticos se decepcionaram com In
the Clearing (1962). Um deles escreveu: “Embora este crítico considere
Robert Frost o principal poeta contemporâneo dos Estados Unidos, ele
lamentavelmente deve declarar que a maioria dos poemas neste novo volume é
decepcionante. [...] [Eles] muitas vezes estão mais próximos dos jingles do que
da poesia memorável que associamos ao seu nome”. Outro sustentou que “a maior
parte do livro consiste em poemas de ‘conversa filosófica’. Gostar ou não deles
depende principalmente de você compartilhar a ‘filosofia’”.
De fato, muitos leitores
compartilham da filosofia de Frost, e ainda outros que não continuam a
encontrar prazer e significado em grande parte da sua poesia. Em outubro de
1963, o presidente John F. Kennedy fez um discurso na Biblioteca dedicada a
Robert Frost em Amherst, Massachusetts . “Ao homenagear Robert Frost”, disse o
presidente, “podemos, portanto, homenagear a fonte mais profunda de nossa força
nacional. Essa força assume muitas formas e as formas mais óbvias nem sempre
são as mais significativas. [...] Nossa força nacional é importante; mas o
espírito que enforma e controla nossa força também importa. Este foi o
significado especial de Robert Frost”. O poeta provavelmente teria ficado
satisfeito com tal reconhecimento, pois disse certa vez, em entrevista a Harvey
Breit: “Uma coisa que me preocupa, e gostaria que os jovens também se
importassem, é tomar a poesia como a primeira forma de compreensão. Se a poesia
não é compreender tudo, o mundo inteiro, então não vale nada”.
A poesia de Frost é reverenciada
até hoje. Quando um poema até então desconhecido de Frost, intitulado “War
Thoughts at Home”, foi descoberto e datado de 1918, logo foi posteriormente
publicado na edição de outono de 2006 da Virginia Quarterly Review. A
primeira edição dos Notebooks de Frost Notebooks foi publicada em 2009,
e milhares de erros foram corrigidos em nova edição anos depois. Uma edição
crítica de sua Collected Prose foi publicada em 2010 com ampla aclamação
da crítica. Uma série de vários volumes de suas Collected Letters está
agora em produção, com o primeiro volume aparecendo em 2014 e o segundo em
2016.1
Robert Frost continua a ocupar uma
posição única e quase isolada nas letras estadunidenses. “Embora sua carreira
abranja totalmente o período moderno e seja impossível falar dele como senão como
um poeta moderno”, tal como escreve James M. Cox, “é difícil colocá-lo na
principal tradição da poesia moderna”. Em certo sentido, Frost está na
encruzilhada da poesia estadunidense do século XIX e do modernismo, pois em
seus versos pode ser encontrada a culminação de muitas tendências e tradições
do século XIX, bem como paralelos com as obras de seus contemporâneos do século
XX. Tirando seus símbolos do domínio público, Frost desenvolveu, como observam
muitos críticos, uma linguagem original e moderna e um senso de espontaneidade
e de objetividade que refletem o imagismo de Ezra Pound e Amy Lowell. Por outro
lado, como Leonard Unger e William Van O'Connor apontam em Poems for Study,
“a poesia de Frost, ao contrário da poesia de contemporâneos como Eliot,
Stevens e o último Yeats, não mostra nenhum afastamento marcante das práticas
poéticas do século XIX”. Embora evite formas tradicionais do verso e apenas use
rimas erraticamente, Frost não é um inovador e sua técnica nunca é
experimental.
A teoria da composição poética de
Frost o liga a ambos os séculos. Como os poetas românticos do século XIX, ele
afirmou que um poema “nunca é um trabalho improvisado. [...] Começa como um nó
na garganta, uma sensação de estar errado, uma saudade de casa, uma solidão.
Nunca é um pensamento por começar. Está no seu melhor quando é uma imprecisão
tentadora”. No entanto, “elaborando sua própria versão da visão ‘impessoal’ da
arte”, como observou Hyatt H. Wagoner, Frost também se apoiou na ideia de T.S. Eliot
de que o homem que sofre e o artista que cria estão totalmente separados. Em
uma carta de 1932 para Sydney Cox, Frost explicou sua concepção de poesia: “A
ideia objetiva é tudo com o que sempre me importei. A maioria das minhas ideias
ocorre em verso. [...] Ser muito subjetivo com o que um artista conseguiu
tornar objetivo é atacá-lo presunçosamente e tornar sem graça o que ele, com esforço
de sua vida, acreditava ter tornado gracioso”.
Para alcançar tal objetividade e
graça, Frost utilizou ferramentas do século XIX e as fez novas. Lawrance
Thompson explicou que, de acordo com Frost, “as restrições autoimpostas de
métrica na forma e de coerência no conteúdo” funcionam a favor do poeta; eles o
libertam do fardo do experimentalista — a busca perpétua de novas formas e
estruturas alternativas. Assim, Frost, como ele mesmo colocou em “The Constant
Symbol”, escreveu seus versos valendo-se da regularidade; ele nunca abandonou
completamente as formas métricas convencionais pelo verso livre, como muitos de
seus contemporâneos estavam fazendo. Ao mesmo tempo, sua adesão ao metro,
comprimento do verso e esquema de rima não foi uma escolha arbitrária. Ele
sustentou que “o frescor de um poema pertence absolutamente ao fato de ele não
ter sido pensado e depois transformado em verso, assim como o verso, por sua
vez, pode ser musicado”. Ele acreditava, ao contrário, que a disposição
particular do poema ditava ou determinava o “primeiro compromisso do poeta com
a métrica e o comprimento do verso”.
Os críticos frequentemente apontam
que Frost complicou seu problema e enriqueceu seu estilo ao colocar métricas
tradicionais contra os ritmos naturais da fala. Desenhando sua linguagem
principalmente do vernáculo, ele evitou a dicção poética artificial, empregando
o acento do falar manso de um New Englander. Em The Function of Criticism,
Yvor Winters culpou Frost por seu “esforço para tornar seu estilo o mais
próximo possível do estilo de conversa”. Mas o que Frost alcançou em sua poesia
foi muito mais complexo do que uma mera imitação do idioma dos camponeses da
Nova Inglaterra. Ele queria devolver à literatura os “sons das frases que
subjazem às palavras”, o “gesto vocal” que aumenta o significado. Ou seja, ele
sentiu que o ouvido do poeta deve ser sensível à voz para captar com a palavra
escrita o significado do som na palavra falada. “The Death of the Hired Man”,
por exemplo, consiste quase inteiramente num diálogo entre Mary e Warren, seu
marido camponês, mas os críticos observaram que nesse poema Frost pega os
padrões prosaicos de sua fala e os torna líricos. Para Ezra Pound, “The Death
of the Hired Man” representou Frost no seu melhor — quando ele “ousou escrever
... na voz natural da Nova Inglaterra; na fala natural, que é muito diferente
da fala ‘natural’ dos jornais, e de muitos professores”.
O uso do dialeto da Nova
Inglaterra por Frost é apenas um aspecto de seu regionalismo frequentemente
discutido. Dentro da Nova Inglaterra, seu foco particular estava em New
Hampshire, que ele chamou de “um dos dois melhores estados da União”, sendo o
outro Vermont. Em um ensaio intitulado “Robert Frost and New England: A
Revaluation”, W.G. O'Donnell observou como desde o início, em A Boy's Will,
“Frost já havia decidido dar à sua escrita uma cor local e um nome da Nova
Inglaterra, para enraizar sua arte no solo que ele havia trabalhado com suas
próprias mãos”. Revendo North of Boston no New Republic,
Amy Lowell escreveu: “Não é apenas o seu trabalho na Nova Inglaterra em questão,
mas também na técnica. [...] O Sr. Frost reproduziu pessoas e cenários com uma
vivacidade extraordinária”. Muitos outros críticos elogiaram a capacidade de
Frost de evocar realisticamente a paisagem da Nova Inglaterra; apontam que é
possível visualizar um pomar em “After Apple-Picking” ou imaginar a primavera
em um pomar em “Two Tramps in Mud Time”. Nesta “capacidade de retratar a
verdade local na natureza”, afirma O'Donnell, como Frost não tem igual. A mesma
habilidade levou Pound a declarar: “Conheço mais a vida no campo do que antes
de ler seus poemas. Isso significa que eu sei mais sobre ‘Vida’”.
O regionalismo de Frost, observam
os críticos, está em seu realismo, não na política; ele não cria nenhuma imagem
de unidade regional ou senso de comunidade. Em The Continuity of American
Poetry, Roy Harvey Pearce descreve os protagonistas de Frost como
indivíduos que são constantemente forçados a confrontar seu individualismo como
tal e a rejeitar o mundo moderno para manter sua identidade. O uso da natureza
por Frost não é apenas semelhante, mas intimamente ligado a esse regionalismo.
Ele se mantém tão afastado da religião e do misticismo quanto da política. O
que ele encontra na natureza é o prazer sensual; ele também é sensível à
fertilidade da terra e à relação do homem para com ela. Para o crítico M.L.
Rosenthal, a qualidade pastoral de Frost, sua “reintegração de posse lírica e
realista do rural e do ‘natural’”, é a base de sua notoriedade.
No entanto, assim como Frost está
ciente das distâncias entre um homem e outro, ele também está sempre ciente da
distinção, da separação final entre a natureza e o homem. Marion Montgomery
explicou: “Sua atitude em relação à natureza é de trégua armada e amigável e
respeito mútuo intercalado com o cruzamento das fronteiras” entre o homem
individual e as forças naturais. Abaixo da superfície dos poemas de Frost estão
implicações terríveis, o que Rosenthal chama de seu “sentimento chocado da
crueldade impotente das coisas”. Essa crueldade natural está em ação em
“Design” e em “Once by the Pacific”. O tom ameaçador desses dois poemas motivou
o comentário adicional de Rosenthal: “Na sua forma mais poderosa, Frost fica
tão atordoado pelo ‘horror’ quanto Eliot e se aproxima do limite histérico da
sensibilidade de uma maneira comparável. [...] A mente dele ainda é a mente
moderna em busca de seu próprio significado”.
A visão austera e trágica da vida
que emerge em muitos dos poemas de Frost é modulada por seu uso metafísico dos
detalhes. Como Frost o retrata, o homem pode estar sozinho em um universo
indiferente, mas pode, no entanto, olhar para o mundo natural em busca de
metáforas de sua própria condição. Assim, em sua busca por significado no mundo
moderno, Frost se concentra naqueles momentos em que o visível e o invisível, o
tangível e o espiritual se cruzam. John T. Napier chama essa habilidade de
Frost de “encontrar o ordinário como uma matriz para o extraordinário”. A esse
respeito, ele é frequentemente comparado a Emily Dickinson e Ralph Waldo
Emerson, em cuja poesia também um simples fato, objeto, pessoa ou evento será
transfigurado e assumirá maior mistério ou significado. O poema “Birches” é um
exemplo: contém a imagem de árvores esguias curvadas ao chão temporariamente
por um menino balançando-se nelas ou permanentemente por uma tempestade de
gelo. Mas, à medida que o poema se desenrola, fica claro que o eu poético está
preocupado não apenas com as brincadeiras infantis e os fenômenos naturais, mas
também com o ponto em que a realidade física e espiritual se fundem.
Tal importância simbólica de fatos
mundanos enforma muitos dos poemas de Frost, e em “Eucation by Poetry” ele
explicou: “A poesia começa em metáforas triviais, metáforas bonitas, metáforas
de ‘graça’ e segue para o pensamento mais profundo que temos. A poesia fornece
a única maneira permissível de dizer uma coisa e significando outra. [...] A
menos que você se sinta em casa na metáfora, a menos que tenha tido sua
educação poética adequada na metáfora, você não está seguro em lugar nenhum”.
Notas da tradução
1 Entre 2014 e 2021 a Harvard University Press publicou três volumes reunindo a correspondência de Robert Frost: o primeiro, The Letters of Robert Frost (1886-1920); o segundo com missivas de entre 1920 e 1928; e o terceiro, de 1929 a 1936.
*
Este texto é a tradução do perfil de Robert Frost publicado aqui, no site da Poetry
Foundation.
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