Os jogadores de cartas
Por Gabriel Bernal Granados Talvez a sensação de irrealidade, de desconexão, venha simplesmente do hábito diário, transformado em crônica, do chá de menta e tília. — Peter Handke, O peso do mundo Paul Cézanne. Les joueurs de cartes (Os jogadores de cartas). Museu de Orsay. Catorze anos depois de Thomas Eakins terminar de pintar seu quadro sobre dois jogadores de xadrez, Cézanne começa uma série de pinturas, de tema afim, sobre jogadores de cartas. Na tela do Museu d’Orsay, a mais emblemática das cinco pintadas por Cézanne, dois homens sentados, vistos de perfil, jogam cartas. Entre o xadrez e as cartas, no entanto, existem diferenças substantivas: o xadrez responde às exigências do cálculo e da estratégia; em vez disso, o jogo de cartas abrange os imperativos do acaso e da malícia. A pintura de Cézanne envolve uma sublimação do espaço que na pintura de Eakins se torna enunciado e história. Na visão de Cézanne, o importante é a escolha das cores e sua disposição harmo