O que Poe sabia de James
Por Rafael Gumucio Quando jovem, Henry James era uma leitura séria. Gente que fala de romances “armados”, estrutura, mudança de narradores e outras sutilezas desse tipo. Pessoas que intimidam pessoas tão desarmadas quanto eu, então inteiramente dedicadas a ler secretamente as páginas de Artaud e Jarry. Sentia-me destinado, pensava, ao outro grande estadunidense do século XIX, Edgar Allan Poe, traduzido por Baudelaire e Cortázar, meus ídolos na época. Nenhum dos contos de Poe, no entanto, conseguiu me assustar tanto quanto A outra volta do parafuso , de James, que fui obrigado a ler na escola. Assustava-me precisamente as qualidades contrárias às dos contos de Poe: o indeterminado, a imprecisão de seu fantasma e seus pecados sem corações delatores, ou gatos pretos, ou pêndulos assassinos; crianças sozinhas, governantas, jardins, o mais normal, o mais banal, o mais assustador. O terror de Poe nunca me assustou e a psicologia nos romances de James sempre me pareceu fantasiosa. É o que