Guerra e paz (na casa dos Tolstói)
Por Rafael Ruiz Pleguezuelos Liev Tolstói e Sófia Tolstaia. Foto: Hulton Archive “Todas as famílias felizes são iguais; cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” A famosa abertura de Anna Kariênina confirma uma das grandes verdades do estudo da literatura: muitos dos grandes autores não só produziram obras imensas por seu valor e transcendência, mas também, consciente ou inconscientemente, deixaram nelas uma espécie de livro de instruções com o qual interpretar seu legado. Supondo que assim seja, a tarefa de quem estuda literatura (ou de quem a adora a ponto de perder o tempo interpretando-a) é desvendar essa espécie de livro-chave descontínuo que deixaram escondido no fundo de seus textos. Quando, no início do século XX, alguns críticos quiseram distanciar o estudo da literatura do biografismo, refugiando-se na ideia de que isso tornaria seus resultados mais científicos (como se isso fosse uma coisa boa em sua totalidade), não se davam conta de que a maioria dos escritores —