Um trabalho contra as sombras
Por Felipe de Moraes Primo Levi. Foto: Mario Monge Pensar a obra de Primo Levi como um monumento da narrativa de testemunho, que não deixa esquecer as atrocidades do Holocausto, é sem dúvida essencial do ponto de vista histórico e cultural, ainda mais quando colocada em relação com outros depoimentos, manifestos, ou demais produções literárias ou memorialísticas de sobreviventes judeus que trazem a lume o funcionamento da máquina de extermínio nazista e o dia-a-dia nos campos de concentração, regidos por leis severas de obediência e de trabalho cujo ápice era o processo da total desumanização dos prisioneiros — Arbeit macht frei ; no entanto, se se adota unicamente tal perspectiva sociológica de leitura, a mirada sobre o caráter literário dos textos perde força, bem como a possibilidade de uma análise estética que uma obra como a de Levi suscita. Além do que, atentar para certos aspectos formais de uma obra pode revelar sentidos latentes que o comentário exclusivamente sociológico nã