Desvelando uma dialética doméstica: leituras de Otelo
Por Guilherme Mazzafera Otelo e Desdêmona. Eugàne Delacroix. Em suas famosas palestras, agrupadas no clássico Shakespearean Tragedy (1904), A. C. Bradley dispende algum tempo tentando divisar quais os elementos que compõem a substância e sustentam a construção da tragédia shakespeariana. Para ele, as tragédias do bardo envolvem uma história de sofrimento e calamidade que conduz ao declínio e morte de um homem de estatura social elevada. As calamidades e sofrimentos enfrentados pelo herói são sobretudo derivados de suas próprias ações, por meio das quais seu caráter se expressa. Os heróis são indivíduos de alta proveniência social, obtida por nascimento (reis e príncipes) ou mérito (autoridades militares), que têm que lidar com a impossibilidade de controlar o curso dos eventos que de alguma forma iniciaram e cujo destino privado acaba por afetar a esfera pública, adquirindo poderoso sentido simbólico (BRADLEY, 2009, p. 6-8). Desde suas palestras iniciais, Bradley chama atenção para