Alain Resnais: você ainda não viu nada
Por Álvaro del Amo Alain Resnais no set de filmagens de Hiroshima, mon amour . Foto: Emmanuelle Riva. “Você não viu nada em Hiroshima, nada”, diz o amante japonês à atriz francesa que foi filmar um filme pacifista. “Eu vi tudo em Hiroshima, vi o museu, o hospital, os jornais, as fotografias, a cidade devastada, vi tudo em Hiroshima, tudo”, ela responde. “Nada, você não viu nada em Hiroshima”, ele insiste. O primeiro filme de Alain Resnais ( Hiroshima, mon amour , 1959) anuncia e dialoga com um dos seus últimos ( Vous n'avez encore rien vu , 2013). Uma advertência que, em sua ambiguidade muito genérica, proporciona uma possível chave para a obra desse cineasta tão peculiar. Anexado à Nouvelle Vague francesa, mais por coincidência em sua data de início, 1959, o ano de Acossado , de Jean-Luc Godard, do que por qualquer outra afinidade possível, esse cinéfilo que sempre fugiu da ênfase da autoria nunca fora um narrador. Ele se nutriu por textos literários que transformou em filmes