A síndrome Paul Auster
Por Malcolm Otero Barral Paul Auster Foto: Andrews Liechtenstein Se entendermos a ficção como uma convenção entre o criador e o leitor ou espectador, a verossimilhança não é, em si, um valor. Enquanto existe uma espécie de acordo tácito entre ambos, o grau de semelhança com a realidade é irrelevante se o destinatário aceita o engano, se ele se deixa levar. É, portanto, tolerável, deste ponto de vista, que Paul Auster faça com que o menino protagonista de seu romance Mr. Vertigo tenha a capacidade de voar. No entanto, há uma característica que os seus críticos sublinham como meramente definidora e que é, ao meu ver, o ponto fraco de quase toda a sua obra e um vício que se revela contagioso: o abuso do acaso. Não há nada mais complicado do que juntar acontecimentos casuais. Essa concatenação de eventos aleatórios supõe quebrar esse contrato implícito com o leitor e negligenciar a mínima decência narrativa. Ele mesmo se defende dessa acusação no Dossiê de Paul Auster (Gérard de Cort