O Cangaceiro: o sertão versus a civilização
Por Heto Sazá O narrador do filme de Lima Barreto se apresenta como afastado e deixa claro, logo na abertura da narrativa, que a história a seguir se passa em uma “época imprecisa, quando ainda havia cangaceiros”. Após esse esclarecimento, O cangaceiro se inicia à la Jonh Ford: em plano aberto, assistimos a um ajuntamento de cangaceiros montados a cavalo e perfeitamente enfileirados marchar ao som da canção popular “Mulé rendeira”. As silhuetas escuras recortadas contra o céu claro conferem um tom elogioso, para não dizer glorioso, à sequência de abertura, que poderia estar em qualquer faroeste norte-americano não fosse a especificidade do cangaço; e ele não se demora em se revelar ao público. Logo na sequência seguinte somos apresentados ao chefe do grupo, que é também o nosso protagonista, Capitão Galdino, homem rude e caprichoso, de gestos bárbaros e imprevisíveis. Com Galdino, somos apresentados também à dicotomia base para a trama: barbárie versus civilidade. Isso porque ao