Por que Hamlet foi o primeiro moderno
Por Beatriz de Sarlo Imagem: Tom Stanley Leio O duplo , de Dostoiévski, em alemão, para que a distância da língua produza uma espécie de “efeito de distância”. Nunca pude imaginar como um romance estaria escrito em russo. Quando lemos as traduções em espanhol de outras línguas europeias, há sempre uma espécie de pano de fundo onde se projeta um original imaginado desfocado. Mas do russo? Como posso imaginar o russo? Bakhtin diz que Dostoiévski pega um pequeno balconista e o apresenta como autoconsciência. Exatamente. Só que a autoconsciência de Goliadkin está equivocada e, em vez de ser conhecida, é radicalmente desconhecida. Ele é um duplo desconhecido de si mesmo, em um longo monólogo cortado por diálogos onde nada é confiável, pois é justamente alguém que vê seu duplo. Dostoiévski se apega à alucinação do personagem de Gógol. Neste romance não há “assassinos por amor” e outros assuntos contraditórios que provocaram o olhar condescendente de Borges. Em vez disso, algo anuncia Bec