O acontecimento: meu corpo, minha luta
Por Cristina Aparicio No dia 5 de abril de 1971, a revista francesa Le Nouvel Observateur publicava em suas páginas um manifesto, escrito por Simone de Beauvoir, no qual trezentas e quarenta e três mulheres (incluindo figuras como Jeanne Moreau, Marguerite Duras, Agnès Varda ou Catherine Deneuve) declaravam ter feito um aborto. O contexto é importante: não foi até a Lei Veil de 1975, quatro anos depois, quando o país francês descriminalizou o aborto induzido, que até então era uma prática ilegal. A assinatura do referido manifesto implicou o reconhecimento público de um crime classificado no código penal francês, que poderia levar à pena de prisão para todas aquelas mulheres. As reações foram imediatas: uma semana depois, a revista satírica Charlie Hebdo ecoou em sua capa uma ilustração que apontava com firmeza um dos aspectos que não costuma ser apontado: “Quem engravidou as trezentas e quarenta e três vadias do manifesto sobre o aborto?” A interrupção voluntária da gravidez devia