Sobre a terra somos belos por um instante, de Ocean Vuong
Por Pedro Fernandes Ocean Vuong. Foto: Celeste Sloman/ The New York Times Condenados ao perecimento, nos sobraram, a depender da vida, alguns instantes (ou mesmo apenas um) que são as únicas circunstâncias redentoras. Ocean Vuong denomina esse breve tempo como magnífico , no sentido de deslumbrante ou belo , para reiterar o termo utilizado na tradução brasileira para o título de seu primeiro romance. Cada uma dessas palavras é incapaz de conter essa porção de vida irrepetível por mais que busquemos alternativas ou refazer os mesmos caminhos que nos conduziram até ela. Chamamos essa eterna tentativa de retorno de poesia, de fé ou de gozo — não que cada uma seja a mesma coisa e sim porque se aproximam desses instantes irreprisáveis. Em Sobre a terra somos belos por um instante , o escritor recorre a duas imagens da natureza que se revezam na narração como símiles capazes de capturar o ponto de aproximação do sublime, este que aqui se alcança fundindo tais imagens numa síntese possív