Jack Kerouac: encarnando a literatura universal
Por José Homero But I ain’t going down That long and lonesome road All by myself. — Floyd Jones, “On the Road Again” Jack Kerouac. Foto: Zuma Press. A literatura também é uma comédia de mal-entendidos. Autores que confeccionam uma obra com a noção de um leitor ideal, que passa a vida sem vislumbrar encarnações desse modelo; e autores que conquistam notoriedade entre um público tão estrangeiro que não entende nem percebe os valores de sua obra e, ao contrário, os perverte. Jack Kerouac é um exemplo trágico de ambos os casos. Primeiro sofreu o calvário editorial: seus manuscritos foram rejeitados ou sua publicação foi condicionada à submissão a esse tipo de terno e gravata burocrático que é a correção obrigatória que mina todo ímpeto original, toda insolência de estilo e pontuação e sintaxe uniformes. E quando, após quase uma década de frustração, uma editora aceitou suas condições, On the road só mereceu incompreensão e mal-entendidos. Primeiro, do estrato intelectual, que, alarmad