Um chá bem forte e três xícaras, de Lygia Fagundes Telles
Por André Cupone Gatti e Guilherme de Almeida Gesso Antes do baile verde é talvez o livro de contos mais conhecido e aplaudido de Lygia Fagundes Telles, e desde o seu surgimento em 1970 vem se firmando como um dos pontos altos da contística em língua portuguesa da segunda metade do século XX. Verdade seja dita, porém, há irregularidades, no livro, de um conto para outro, e apesar da escrita ser sempre limpa e bem urdida, nem sempre a narração, às vezes explícita demais, alcança a excelência literária; por outro lado, quando Lygia constrói tramas laterais, discretas e quase nulas, e impregna algumas poucas palavras aparentemente despretensiosas de significações decisivas, alcança-se a primazia no gênero. Exemplos de contos dessa espécie, e que são obras-primas não só do século XX, mas da literatura em língua portuguesa desde sempre: “O menino”, “Meia-noite em ponto em Xangai”, o machadiano “Antes do baile verde”, e o discretíssimo, enganador e de trama quase inexistente “Um chá bem fo