Um Dostoiévski de carne e osso
Por Rebeca García Nieto Ilustração: Gnoori Design Susan Sontag foi clara: se tivesse que escolher entre The Doors e Dostoiévski, é claro que escolheria Dostoiévski. Mas por que você teria que escolher? Sontag pôs assim o dedo na ferida da distinção entre a “alta” e a “baixa” cultura, e fê-lo, curiosamente, destacando Dostoiévski, escritor que suscitou interessantes reflexões de pessoas como Freud, Borges ou Gide, mas também para parte de uma música de Belle and Sebastian e outra de The Go-Betweens. É possível que Dostoiévski seja tão popular quanto os Beatles — que, por sua vez, são mais populares que Jesus Cristo —, outra coisa é que a imagem que se impôs na cultura popular corresponde exatamente à realidade. Belle and Sebastian, por exemplo, associam o escritor à tristeza (“I’m not as sad as Dostoevsky, I’m not as clever as Mark Twain”), e não vou dizer que ele fosse a alegria do jardim, mas sim, há também um Dostoiévski mais zombeteiro, mais sarcástico, e esse lado de sua escri