Sinfonia Ilitch I
Por Michele Soares Na avenida, dura até o fim — Elza Soares Nikolai Dmitrievich Kuznetsov. Piotr Ilitch Tchaikovsky. Óleo sobre tela, 1893. “Esta noite um gato chorou tanto que tive uma das mais profundas compaixões pelo que é vivo. Parecia dor, e, em nossos termos humanos e animais, era. Mas seria dor, ou era ‘ir’, ‘ir para’? Pois o que é vivo vai para”. O texto que o leitor acaba de ler é uma crônica de Clarice Lispector, cujo título é “Ir para”. Publicada em 16 de setembro de 1967, na coluna que a autora mantinha no Jornal do Brasil , li a crônica de Clarice pela primeira vez no alto dos meus dezesseis anos. Como é natural de um olhar menos disciplinado, ainda fresco para a literatura — e, quem sabe, por isso mesmo tão mais sincero —, eu senti a força do impacto das suas palavras, antes de buscar entender o que elas significavam. Hoje, anos depois, é sem hesitar que afirmo como ainda não alcancei conclusão alguma, não tenho sequer uma hipótese. Mesmo assim, quando já estava m