Boletim Letras 360º #509

DO EDITOR
 
1. Caro leitor, alcançamos o último mês do ano. 2022 não foi menos fácil que os anos anteriores, mas sempre olhamos para horizonte enquanto trabalhamos.
 
2. Nossas atividades diárias neste blog continuam até o dia 16 de dezembro. A partir de então iniciamos nossa pausa anual costumeira. As redes permanecem ativas, por aqui cairá espaçadamente um e outra postagem, enquanto estes boletins deixam de apresentar as seções extras. É uma boa oportunidade ainda para revisitar nosso extenso arquivo, sempre aberto à leitura, à partilha e ao comentário.
 
3. Queremos entrar em modo marola chegando a quatros leitores no sorteio no dia 17. Se você ainda não se inscreveu para o clube de apoios ao Letras, eis a oportunidade. Quer saber como, quais os livros estão na vez e tirar outras dúvidas mais? Passa aqui.
 
4. Outra forma permanente de ajudar é na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim: e você ainda pode garantir bons descontos sem pagar nada mais por isso.
 
5. A todos, nossos agradecimentos. Um rico final de semana!

Clarice Lispector.


 
LANÇAMENTOS
 
A editora Rocco reúne numa caixa os três livros de Clarice Lispector que juntam ao texto integral das obras reproduções de parte dos manuscritos e datiloscritos da escritora e ensaios de especialistas claricianos.
 
1. A hora da estrela. Além do texto original, está edição contém 16 páginas com a reprodução dos manuscritos da autora. A apresentação da escritora Paloma Vidal é uma crônica-ensaio sobre o processo de descoberta desses esboços, anotações, bilhetes, folhas soltas que se transformariam no livro e foram escritas, com letra desenhada e nervosa, até no verso de talões de cheque. Uma rica fortuna crítica, com seis ensaios, completa o volume. Assinam os textos Nádia Battela Gotlib, biógrafa da autora, o acadêmico Eduardo Portella, a professora Clarisse Fukelman, o escritor irlandês Colm Tóibín, a crítica francesa Hélène Cixous e a pesquisadora argentina Florencia Garramuño.
 
2. Água viva. Esta edição reúne pela primeira vez em um mesmo volume os datiloscritos de Objeto gritante e a versão final de Água viva, o leitor terá a possibilidade de quase meter-se dentro da cabeça de Clarice Lispector e avaliar como lidava a grande escritora na hora de suprimir, modificar e tornar definitiva uma obra em processo. Considerado o livro mais misterioso e autobiográfico de Clarice, Água viva saiu do prelo em 1973. Mas somente na década de 1980, após a morte da autora, veio a público o fato de a obra ter sido intitulada, originalmente, Objeto gritante. A descoberta se deu graças à tarefa de pesquisadores mergulhados no Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa, que guarda manuscritos, datiloscritos, documentos diversos e fotografias da escritora. Quem lê as primeiras frases do romance (ou da novela, dada sua extensão), frases cheias de entusiasmo, não imagina o quanto custou a Clarice sua escrita.
 
3. Perto do coração selvagem. Este é o primeiro romance de Clarice Lispector. Nesta edição são reproduzidos quatro ensaios inéditos especialmente escritos para a presente publicação por renomados especialistas na obra de Clarice: “O nascimento da escrita ou ‘o girassol é ucraniano’”, de Marília Librandi; “Clarice, Joana e a recusa da banalidade”, de Maria Clara Bingemer; “A pulsação da vida: Perto do coração selvagem”, de Faustino Teixeira; “Clarice-Joana: Vozes perto do selvagem coração da vida”, de Evando Nascimento. Ensaios imprescindíveis para o entendimento não apenas da estreia literária de Clarice Lispector, como também de toda a sua obra. Os três títulos são em capa dura e com sobrecapa em papel vegetal. Você pode comprar os livros aqui.
 
Aproximações entre Clarice Lispector e a filosofia.
 
Muito se fala sobre os enigmas contidos na obra da escritora Clarice Lispector, que trata em seus livros de todos os temas da literatura, da filosofia, da vida e da morte. Clarice é uma autora que provoca a filosofia. Foi logo comparada aos existencialistas, alemães como Heidegger, franceses como Sartre. Outros buscaram reconhecer o seu Espinozismo e as linhas do pensamento judaico. Para muitos, Clarice é uma autora mística, às vezes cristã, às vezes budista ou bramânica, cabalista e macumbeira, cheia de bolas de cristal. Qualificar de “filosófico” um autor é, de certa forma, admitir que à literatura falta alguma coisa, incluindo a própria capacidade da experiência do sentido que se chama pensamento. Marcia Schuback, no entanto, mostra como a obra de Clarice nos desvia dessas longas disputas da cultura entre filosofia e literatura, prosa e poesia, sentimento e razão, sensibilidade e intelecto, linguagem e realidade. “Ela nos devolve para a fonte de todas essas disputas, para um antes da filosofia que não é nem mito nem caos. Clarice nos devolve para o sendo, o gerúndio de ser, o sendo que já é pensamento e não o objeto de um desejo do pensamento. A sua obra “descortina” o sendo-pensamento ‘atrás do pensamento’”, explica a autora. “Se damos como subtítulo desse livro ‘a filosofia de Clarice Lispector’ não é de modo algum para buscar a legitimação da filosofia ou para extrair uma nova ou outra filosofia de sua obra. É somente para indicar que a experiência do sentido, isso que se chama pensamento, é o fio que me orienta no labirinto de seus textos”, completa Marcia Schuback. Atrás do pensamento é, portanto, um livro que mergulha de maneira inédita no fazer literário de Clarice Lispector. Publicação da editora Bazar do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Reconhecido ensaio de Hèlène Cixous ganha nova (e agora completa) edição no Brasil.
 
Mais de dez anos separam o momento de escrita de A hora de Clarice Lispector da primeira e espantosa leitura que Hélène Cixous fez da autora brasileira. Outros 33 anos separam a publicação deste texto, que veio à luz em 1989, pelas Éditions des Femmes-Antoinette Fouque, à chegada de sua versão integral ao Brasil. Por que tantas horas mais tarde?, alguém pode se perguntar. Talvez porque este fosse (e ainda seja) um texto feito de futuro. Futuro que talvez seja o nosso hoje. Ou um longínquo amanhã. O “ensaio”, que pode ser lido como um longo poema em prosa escrito em fluxo de consciência, talvez não encontrasse lugar em nenhuma prateleira brasileira de três décadas atrás. E a ideia de uma escrita que mistura a pessoa que fala ao objeto de que se fala talvez soasse ousada demais para o rigor da academia e vanguardista em excesso para quem deseja ler um conteúdo que corresponda fielmente ao seu rótulo. Pois é no esfumaçar das fronteiras de gênero que se constitui a escrita de Hélène Cixous sobre Clarice. Aquilo que ela própria chama de uma “meditação sobre a última hora”, referindo-se à última hora de Clarice Lispector (A hora da estrela) é daqueles textos que nos cegam num primeiro momento, em razão da extrema lucidez com que toca na escrita clariciana, ela mesma clarividente. Se a ela foi exigida coragem para escrever, será também necessário ter coragem para ler, de corpo aberto, e sem a pretensão de querer entender, arriscando-se, como fez Hélène em sua íntima leitura: “Empurrar-me além de meus limites, forçar-me a ir onde não dá pé, sob o risco de me abismar.” e suportar “a mordida dos seus dentes [de Clarice] na garganta do meu coração”. Às leitoras e aos leitores, fica o desafio-promessa: “… que Clarice também lhes chame. Que ela lhes diga o que quer dizer.” Com tradução de Márcia Bechara, o livro é publicado pela Editora Nós.
 
A poética provençal feminina.
 
Em provençal, trobairitz significa trovadoras: vozes poéticas femininas dos séculos XII e XIII, elaboradas em poemas de tom amoroso e, por vezes, erótico. Esta seleção reúne textos atribuídos a 25 autoras, algumas anônimas e outras cujas biografias chegaram até o nosso tempo. A poesia das trobairitz era cantada e por vezes acompanhada de música, procedimento que a tradução de Guilherme Gontijo Flores procurou atualizar para os textos em português. A presente edição é bilíngue e conta também com a revisão da tradução feita por Ana Cláudia Romano Ribeiro. Trobairitz: vozes femininas da poesia provençal é publicado pelas Edições Chão da Feira. Você pode comprar o livro aqui.
 
A Almedina Brasil traz aos leitores brasileiros a obra de Augusto Abelaira.
 
A publicação da obra do escritor português começa pelo livro A cidade das flores. O romance encena, na Florença dos anos 1930, as vidas de um grupo de jovens que luta pelos seus ideais e se debate com as inevitáveis contradições entre os seus impulsos juvenis e as limitações impostas pelo governo de Mussolini. A tomada de consciência de cada um dos protagonistas é, assim, delicada, pura e heroica, como só nessa idade é possível, por vezes com uma carga verdadeiramente trágica, mas nunca deixando de irradiar o esplendor renascentista da cidade onde vivem. O amor, a arte, a amizade, o valor da intervenção, da luta política, a solidariedade são temas que atravessam todo este romance. O livro sai pelo selo Minotauro. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um livro de contos para assinalar o aniversário de um dos grupos editoriais brasileiros mais longevos.
 
A antologia Tempo aberto reúne oito contos, um para cada década dos últimos oitenta anos da vida brasileira, entre 1942 e 2022, em uma ampla galeria de personagens e temas que, de uma maneira ou de outra, representam a todos nós. Sob a luz muitas vezes indireta, mas penetrante, da ficção, as questões individuais, sociais, políticas e existenciais deste período histórico ressurgem aqui graças ao talento de Alberto Mussa, Nélida Piñon, Francisco Azevedo, Antônio Torres, Carla Madeira, Nei Lopes, Claudia Lage e Cristovão Tezza. Neste grande painel da história recente do Brasil, alguns temas importantes se destacam: a já tradicional violência de nossas cidades, com um toque de sobrenatural; o papel das mulheres na sociedade; a oposição ditadura x contracultura, no Brasil e no mundo; o alcance do regime militar nos sertões do país; o despertar da juventude no período da redemocratização; a força da cultura popular às vésperas da revolução digital; as pressões cotidianas do mundo contemporâneo; e, por fim, a volta da extrema direita ao poder. Tempo aberto: oito décadas em oito contos de grandes autores brasileiros, organizado em comemoração aos 80 anos da Editora Record, é uma bela oportunidade de se percorrer a história do país por meio da literatura. Você pode comprar o livro aqui.
 
Cartas sobre a escravidão e o abolicionismo no Brasil.
 
O engenheiro André Rebouças é um dos mais importantes intelectuais negros do século XIX. Foi parte da vanguarda do movimento abolicionista junto a outros ativistas negros e livres, e figura de ligação do movimento social com o mundo político oficial. Liberal monarquista, notabilizou-se na defesa de projetos para a modernização do país, entre os quais se incluíam a abolição da escravidão sem indenização aos “proprietários” dos escravizados, o estímulo à imigração, o acesso à terra pelos recém-libertos e a democratização da propriedade fundiária. Durante quase toda sua vida adulta, Rebouças manteve um diário. Quando deixou o Brasil após a queda da Monarquia, passou também a transcrever as cartas que escrevia no exílio. Poucas dessas cartas foram publicadas em livro, junto a edições de parte dos diários. Entre 1891 e 1893, André Rebouças realizou uma surpreendente viagem de circum-navegação da África. Nesse período, copiou a mão, em seus cadernos de correspondência, 193 cartas que teriam sido enviadas a 26 correspondentes. José Carlos Rodrigues, então proprietário do Jornal do Commercio, Alfredo Taunay, Joaquim Nabuco e o próprio imperador estão entre seus interlocutores. As 193 cartas reunidas em Cartas da África: registro de correspondência, 1891-1893 iluminam a leitura que Rebouças faz de acontecimentos políticos no Brasil e na África — da campanha abolicionista e do golpe militar que levou à proclamação da República aos embates ocorridos no período e à tumultuada conjuntura da expansão europeia na África austral. Permitem acompanhar o sofisticado pensamento racial do autor, levando a um público mais amplo a importante discussão sobre silêncio e racismo institucional no Brasil. O livro é publicado pela Chão Editora. Você pode comprar o livro aqui.
 
A jovem que descobre em Paris a sua identidade negra. 

Neste que é um dos mais celebrados livros de Maryse Condé, as memórias de infância são também a narrativa de sua formação. Na Guadalupe dos anos 1940 e 1950, em um ambiente burguês, deve-se evitar falar a língua local, o créole. As convenções sociais se impõem sobre os sentimentos: não se chora diante do cadáver de um ente querido; não se comenta um divórcio na família. No contexto doméstico, cercado por mentiras, com uma mãe extremamente severa — com os outros e consigo mesma — e um pai reservado, a pequena Maryse segue o caminho da rebelião. A sua fuga para um mundo imaginário, a sede por conhecimento e por autonomia a guiam para o destino de escritora. Ao retomar a sua história, Condé evoca a criança que percorre as paisagens caribenhas, a jovem que descobre em Paris a sua identidade negra, e revive o momento que lhe devolveu o amor pela sua família: “Eu deslizei a mão por entre seus seios que tinham amamentado oito filhos, agora inúteis, murchos, e ali passei toda a noite, ela grudada em mim, eu enrolada como uma bolinha contra seu flanco, sentindo seu cheiro de idosa e de arnica, sentindo seu calor”. Naquela noite, Maryse encontrou sua mãe ao perdê-la. O coração que chora e que ri: contos verdadeiros da minha infância, com tradução de Heloisa Moreira e posfácio de Maria Carolina Casati, sai pela Bazar do Tempo.  Você pode comprar o livro aqui

Livro inédito redescoberto no Arquivo José Guilherme Merquior ganha edição.
 
A É Realizações Editora publica O Estruturalismo como Pensamento Radical, um ensaio destinado a extrair a filosofia subjacente à antropologia de Claude Lévi-Strauss e a demonstrar sua pertinência a uma visão social emancipatória. O texto, escrito em francês enquanto Merquior era aluno de Lévi-Strauss, foi saudado pelo próprio antropólogo como “informado, brilhante, vigoroso”. A discussão promovida por ele permanece inovadora, e até mesmo, em retrospecto, visionária: poucos meses após sua redação, eclodiu o Maio de 68, em que a caracterização do estruturalismo como reacionário se tornou frequente — por negligenciarem-se esclarecimentos prefigurados aqui. Esta, que é em qualquer idioma a primeira edição da obra, conta, além de tradução cuidadosa de Lara Christina de Malimpensa, com bibliografia, índices e posfácios de João Cezar de Castro Rocha, Eduardo Cesar Maia e Valter Sinder, enriquecidos por fac-símiles que dão amostras tanto do datiloscrito original como da longa correspondência entre Merquior e Lévi-Strauss. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Milton Hatoum repaginado 1. Para assinalar os 70 anos de Milton Hatoum, a casa responsável por sua obra inicia um trabalho de reedição dos livros com novo projeto gráfico.
 
Milton Hatoum repaginado 2. O projeto começou por Dois irmãos e ao longo de 2023 ocupará ainda livros como Relato de um certo Oriente, Órfãos do Eldorado, Cinzas do Norte e A cidade ilhada. Este projeto é de Alceu Chiesorin Nunes e fotografias de Luiz Braga.
 
Inéditos de Milan Kundera. A mesma Companhia das Letras que reedita a obra de Milton Hatoum prepara novidades sobre a obra do escritor de A insustentável leveza do ser. Publicará o ensaio Um Ocidente sequestrado ou a tragédia da Europa Central e uma nova edição de Jaques e seu amo, fora de catálogo.
 
Outra baixa nas especulações dos esgotados da extinta Cosac. A independente 100/Cabeças, especializada em livros de vanguarda anunciou uma nova edição para a já conhecida tradução de Ivo Barroso para Nadja, romance de André Breton.

Mário de Andrade fotógrafo 1. Entre dezembro de 1928 e fevereiro de 1929, o escritor modernista esteve em digressão pelo Nordeste brasileiro. Da viagem realizou mais de duas centenas de fotografias realizadas com uma “Codaque”, tal como abrasileirou o termo estrangeiro. Parte desse arquivo ganha edição em livro pelas mãos do pesquisador e documentarista Luiz Bargmann. 

Mário de Andrade fotógrafo 2. Publicado pelo IEB-USP, Viagem ao Nordeste brasileiro 1928-1929: álbum de fotografias de Mário de Andrade junta às fotografias selecionadas trechos das crônicas que tratam das imagens; são textos que o escritor publicou no jornal Diário Nacional e depois reunidas em O turista aprendiz.
 
PRÊMIO LITERÁRIO
 
Alexandra Lucas Coelho, Prêmio Oceanos 2022.
 
Nascida em Lisboa em 1967, formada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, Alexandra Lucas Coelho divide-se entre o jornalismo e a literatura. Pela profissão, sempre exercida fora de Portugal, extensa parte da sua obra estabelece os vínculos entre as duas áreas; é o caso de Oriente próximo e Caderno afegão, fruto das suas experiências no Oriente Médio, Viva México, da estadia neste país, ou Vai Brasil e Cinco voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso, relacionados com o Brasil. Na ficção, a escritora é conhecida pelos romances E a noite roda, O meu amante de domingo, Deus-dará e A nossa alegria chegou. Foi o livro de crônicas Líbano, labirinto que mereceu à escritora o Prêmio Oceanos em 2022.
 
EVENTO
 
Estreia o documentário Clarice Lispector: a descoberta do mundo.
 
Nascida na Ucrânia, Clarice Lispector se tornou um dos nomes mais importantes da literatura brasileira. A trajetória da escritora é agora repassada num ensaio documental que costura entrevistas (uma delas inédita) dela, de amigos, familiares e admiradores. São figuras como Paulo Gurgel Valente, filho de Clarice, Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colasanti, Nélida Piñon e Ferreira Gullar. Depois de apresentado em alguns festivais de cinema e na edição da Festa Literária Internacional de Paraty 2022, o filme de Taciana Oliveira ganhou estreia nacional neste 8 de dezembro de 2022. O roteiro é de Teresa Montero, biógrafa da escritora, e produção de Águeda Amaral.

DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. PoemaPinturaPerfomance, de Gustavo Piqueira (Org.) Os projetos editoriais de Piqueira são há muito marca registrada no mercado editorial brasileiro. Seus livros ampliam as potências da leitura pela experiência material do gesto do leitor com este suporte. Seu mais recente trabalho é a recomposição de uma obra que nasceu e fez vanguarda em 1913: La Prose du Transsiberién et la Petit Jehanne de France, do poeta Blaise Cendrars e da pintora Sonia Delaunay-Terk — o trabalho dos dois artistas se interpõe, ampliando as estratégias de sentido do verbal e do visual. Subintitulado Um livro na confluência das vanguardas artísticas do início do século XX, a publicação da Lote 42 reproduz o original a partir de um exemplar disponível no acervo de Paulo Prado. Como é sabido, Cendrars desempenhou importante influência entre alguns autores do modernismo paulista. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Correntes, de Olga Tokarczuk. Este foi o primeiro romance com o qual a escritora Prêmio Nobel de Literatura ficou conhecida fora de seu país natal, a Polônia. A narradora, mergulhada no nomadismo moderno, salteia de país em país, de tempos a tempos, de história a história para investigar as possibilidades do romance em falar sobre o corpo, o mundo e as estratégias insuficientes com as quais tentamos mapeá-los. Com tradução de Olga Bagińska-Shinzato, o livro está publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui

3. Pessoa: uma biografia, de Richard Zenith. Quem for aproveitar o descanso das férias de fim de ano, pode se servir desse calhamaço, unanimidade de reconhecimentos em toda parte. O livro é produto de mais de três décadas de um dos nomes essenciais nos estudos pessoanos. O trabalho de investigação nos imenso arquivo da arca, muitos dos papéis ainda inéditos para os leitores, resultou num trabalho de extenso fôlego que passa em revista a vida e a obra de um homem que foi muitos e deixou sua marca indelével na literatura moderna. Com tradução de Pedro Maia Soares, o livro chegou ao Brasil pela Companhia das Letras, que tem aproveitado a ocasião para reeditar a obra do poeta português organizada por Zenith e há muito editada pela mesma casa editorial. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. Foi no dia 10 de dezembro de 1920 que nasceu Clarice Lispector, quem se tornaria uma das mais importantes da literatura brasileira. E sempre vale recordar o raríssimo registro da escritora para a televisão: a última entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner em 1977 para o programa Panorama, da TV Cultura. Aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. No dia 8 de dezembro de 2022 celebramos os 80 anos de Maria Valéria Rezende. Recordamos do nosso arquivo, três publicações sobre a obra e a escritora brasileira, refazendo o convite disponibilizado nas nossas redes: tenha e leia os livros de Maria Valéria Rezende. Começamos por esta crônica de Pedro Fernandes, publicada em 2010, “Encontrar Maria Valéria Rezende”. Do mesmo autor, encontrará aqui, sua leitura sobre Outros cantos e aqui, sobre Carta à rainha louca, dois romances mais recentes da escritora.
 
2. Clarice Lispector, figura principal na edição deste boletim, dispensa apresentações. Sua presença aqui no Letras é também recorrente. Para a singular ocasião, recomendamos três recentes textos que traduzimos aqui sobre a obra e a escritora. Este, de Gisela Kozak Rovero; este, de Antonio Maura; e mais este de Christopher Domínguez Michael.
 
3. Neste ano de 2022, passaram-se quatro décadas de quando Gabriel García Márquez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Recordamos a data com o seu discurso de aceitação do prêmio, lido na Academia Sueca — “A solidão da América Latina”. Pode ler a partir daqui.
 
DUAS PALAVRINHAS

Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser através do processo de escrever.
 
— Clarice Lispector, “Aventura”, em Todas as crônicas.

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