Boletim Letras 360º #508

DO EDITOR
 
1. Caro leitor, continuam abertas as inscrições para o clube de apoios ao Letras no mês de dezembro. Esperamos realizar o sorteio no dia 17. Disponibilizamos quatro livros e queremos sortear quatro leitores: a edição de luxo da Ed.ufpa com os poemas inéditos de Max Martins Say it (over and over again)Mobiliário para uma fuga em massa, de Marana Borges (Dublinense); a edição especial de Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago (Companhia das Letras); e Sátántangó, de László Krasznahorkai (Companhia das Letras).
 
2. Para participar é simples: colabora com R$20 e depois entrega o comprovante via blogletras@yahoo.com.br — este e-mail é também a chave do PIX. Para mais detalhes visite aqui ou escreva para o Letras.
 
3. Outra forma permanente de ajudar ao Letras com o pagamento das despesas anuais de domínio e hospedagem na web é na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim: você pode garantir um bom desconto sem pagar nada mais por isso.
 
4. Um abraço e bom final de semana com boas leituras!

F. Scott Fitzgerald, Hollywood, Califórnia, 1937. Foto: Hulton Archive


 
LANÇAMENTOS
 
Pequeno Boom F. Scott Fitzgerald. 2022 termina com três novos livros do escritor estadunidense.
 
1. Suave é a noite. Romance da prosa madura de F. Scott Fitzgerald, esta é a história da queda vertiginosa de um homem em uma sociedade cujos valores morais estão em franca degradação e onde os ideais antes almejados se desfazem frente às consequências das crises do século XX. Situado no final da década de 1920, quando Rosemary Hoyt é uma jovem atriz que se deslumbra ao conhecer Dick e Nicole Diver, um sofisticado e misterioso casal. Dick abandona sua carreira como psiquiatra ao casar-se com Nicole, uma de suas pacientes. Acostumada a um estilo de vida luxuoso, Nicole arrasta o marido para o mundo do glamour. Tido por muitos como um romance fortemente autobiográfico, o livro foi publicado pela primeira vez em 1934, após um período de internação de Zelda, esposa de F. Scott, em uma clínica psiquiátrica em Baltimore. Lidando com o período entre a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 29, Fitzgerald constrói uma história de lirismo único que reflete a idade dos sonhos perdidos. A nova tradução brasileira é de Sergio Flaskman e sai pelo selo Penguin/ Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. As histórias de Pat Hobby. Na Hollywood dos anos 40, o decadente Pat Hobby luta para conseguir o próximo trabalho. Sempre tramando alguma coisa na surdina, ele tenta fazer o jogo para subir de escalão, com um olho na mesa dos poderosos e outro nas secretárias. Assim, ele embarca para uma humilhação cada vez maior, sofrendo reveses tanto no campo profissional quanto no romântico. Essas histórias, publicadas na revista Esquire e inspiradas pelo período quando Fitzgerald viveu como roteirista, formam um relato vigoroso de Hollywood e seus tipos, em caminhos que vão da fama efêmera à implacável sarjeta. Com tradução de Hilton Lima, o livro é publicado pela editora Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. O curioso caso de Benjamin Button. A terceira publicação é uma nova tradução para um dos contos mais conhecidos de F. Scott Fitzgerald. O nascimento de um bebê-aberração mancha a reputação de uma família tradicional — e nem o maior dos privilégios sociais é capaz de livrar os Button dessa desonra. Benjamin nasce com pele enrugada, cabelos brancos e uma longa barba grisalha. Trata-se de um velho, e um velho que, ao contrário do resto de nós, rejuvenesceu com o passar dos anos. Neste cômico e tocante conto publicado em 1922, F. Scott Fitzgerald provoca inquietação nos leitores. Mais do que retratar uma família incomum do século XIX, esta história fala da passagem do tempo e de como ela afeta a vida privada. A nova edição tem tradução de Debora Fleck e Mariana Serpa, apresentação de Mariana Salomão Carrara e os posfácios, de Isadora Sinay, Sérgio Rizzo e João Anzanello Carrascoza. Publicação da editora Antofágica. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma nova tradução brasileira para um dos textos fundadores da literatura ocidental.
 
A Ilíada narra os eventos próximos à queda de Troia. Seu fio condutor, explicitado já no primeiro verso do poema, é a ira de Aquiles. Essa ira devastadora, deflagrada por um desentendimento com o líder do exército grego, Agamêmnon, traz uma miríade de mortos tanto para gregos quanto para troianos, regando a planície de Troia com o sangue de guerreiros. O tempo todo, acompanhamos o conflito pelas lentes magistrais do poeta, que consegue tanto se aproximar do detalhe cirúrgico de uma cena quanto se afastar e nos dar a perspectiva maior do conflito, em especial pelo olhar de Zeus, que a tudo assiste do topo do monte Ida. Talvez o mais fascinante sobre esta história seja a grandeza de seus personagens. Por mais que Aquiles seja o protagonista, há espaço, nos dois lados do conflito, para muitos heróis brilharem com façanhas guerreiras, com duelos singulares e com discursos ao longo do poema. A todo momento, o texto nos convence de que aquilo que está acontecendo — e de que aquele herói que está em foco — é o que há de mais importante e mais devastadoramente humano que existe. Ainda que atribuídas a Homero, hoje sabemos que a Ilíada e a Odisseia foram desenvolvidas oralmente ao longo de séculos, de forma anônima e coletiva, por diversas gerações de poetas-cantores. Trata-se de uma poesia tradicional, composta em uma linguagem literária que traz em si fósseis linguísticos de diversas épocas diferentes, além de invenções e liberdades que não são comuns a uma fala cotidiana. Nesse sentido, poderíamos dizer que é uma linguagem elevada e solene: é um registro linguístico próprio para se falar de grandes feitos. Entretanto, não é um discurso rocambolesco ou pernóstico: é uma linguagem que podia ser compreendida por todos. Também esta tradução busca apresentar uma Ilíada que possa ser compreendida por todos, clara e fluente. Ao mesmo tempo, ambiciona ombrear-se com o texto grego em termos poéticos, valendo-se dos artifícios poéticos canônicos de nossa língua e emulando algumas das características principais da própria épica grega, como a repetição, tão importante para a composição dessa poesia oral. A tradução de Leonardo Antunes, A Ilíada de Homero em decassílabos duplos, é publicada pela editora Zouk.
 
A chegada ao Brasil da obra do argentino I. Acevedo.
 
“Tenho muitas coisas pra contar e preciso contá-las aqui e agora. Conseguirei isso, como sempre, misturando tudo com tudo e, sem ocultar o meu modo, direi, desde o início, a substância que compõe esta narrativa: revisar o porquê e o para quem da minha escrita, romper com uma tradição literária, reivindicar o meu direito de amar.” Bate um coração é o terceiro livro de contos do escritor argentino I. Acevedo e explora os limites e possibilidades do gênero autobiográfico enquanto o autor busca compreender sua própria identidade. Com tradução de Paloma Vidal, o livro é publicado pelas Edições Jabuticaba. 
 
Romance passa em revista circunstâncias da história do Brasil dos anos de chumbo ao alvorecer do novo milênio.
 
Roberto é um empresário que ficou rico trabalhando para empresas financiadoras da ditadura militar e que vive imerso numa obsessão sexual — e em mentiras para encobri-la. Lúcia é uma ex-guerrilheira do MR-8 que atuou em sequestros e assaltos a bancos, até ser presa, torturada e exilada. E é no entrelaçar dessas trajetórias, que vão do final dos anos 1960 ao alvorecer do novo milênio, que o romance de Sérgio Tavares retrata uma geração que lutou por um ideal de liberdade, mas que também não estava pronta para vivê-lo quando o alcançou. Todos nós estaremos bem é publicado pela editora Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova edição e tradução de uma das obras principais da literatura ocidental do século XIX.
 
Uma história que começa no “felizes para sempre” pode mesmo ser feliz? Após uma jovem sonhadora se casar com o médico da região, a realidade à sua volta se transforma: o que Emma Bovary encontra no matrimônio, longe das paixões emocionantes dos livros que lê, é uma rotina pacata e até tediosa. Inconformada e sedenta por aventuras românticas idealizadas, Emma começa a adoecer e não vê outra saída senão buscar as emoções que deseja — por métodos que a sociedade conservadora ao seu redor não poderia compreender, muito menos aceitar. Publicado em 1857 em uma sociedade pouco voltada aos interesses femininos, Madame Bovary surge vanguardista com uma história sem culpados nem inocentes, reforçando o encantamento pelas idas e vindas da experiência humana, o desejo por pessoas, por sensações, pelo espaço urbano e, sobretudo, o desejo de ser desejada. Mais do que romper margens, Emma Bovary pretende ser absorvida. A edição da Antofágica conta com ilustrações de Maria Flexa, que dão um ar onírico a este clássico, além de nova tradução de Janaína Perotto, apresentação de Vivian Villanova e posfácios de Maria Rita Kehl, Claudia Amigo Pino e Norma Telles. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um segundo livro de María Fernanda Ampuero é publicado no Brasil.
 
De certa maneira, cada um de nós pode ser o demônio do outro. Podemos acabar sendo o sacrifício humano do outro. Neste livro, o leitor ou a leitora passará a compreender a atmosfera que ronda a literatura de María Fernanda Ampuero, uma voz imprescindível da literatura latino-americana contemporânea. A podridão, a hostilidade e a violência marcam as nossas vidas, assim como a das diversas personagens de Sacrifícios humanos. Em nosso mundo, as bestas são os próprios humanos que se põem a aterrorizar uns aos outros, evidenciando as desigualdades, o desprezo que mantemos por nós mesmos e a violência que instauramos como um ato cotidiano. Aqui, os sacrifícios dos marginalizados fazem com que o ódio, o silêncio e a morte daqueles que cultuam um altar sejam vistos como uma vitória. A dor e a imensidão do vazio humano que lemos e ‘ouvimos’ acabam por nos empurrar de maneira magistral nos vórtices criados nas narrativas de María Fernanda Ampuero. Cada história que se narra pode ser considerada um grito de cada uma das vítimas desses sacrifícios humanos que acabam por marcar as nossas vidas após a leitura. É preciso, portanto, ter cuidado com os altares que estão estendidos por aí afora, e que são celebrados pela morbidez daqueles que nos desterram e assassinam. Com tradução de Silvia Massimini Felix, o livro é publicado pela editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um poeta inglês olha o Brasil nos seus trânsitos pelo país estrangeiro.
 
Rob Packer, poeta inglês em constante deslocamento geográfico, também se desloca por línguas em A previsão do tempo para navios, escrito originalmente em português. Partindo de boletins meteorológicos para navios transmitidos pela BBC inglesa, Packer faz um cruzamento entre memória e história coletiva. Ao transcrever e traduzir esses boletins, o poeta vai se lembrando de sua infância, de quando os ouvia na rádio, para chegar, pouco a pouco, numa reflexão sobre o colonialismo inglês. Se o Brasil pode parecer distante da questão por não ter feito parte do império britânico, aos poucos o livro opera uma mudança desse ponto de vista, afinal, as tecnologias de navegação, como a que se revela nesses boletins, tiveram um papel determinante no processo de escravização. O autor morou no Rio de Janeiro por oito anos e acompanhou a descoberta arqueológica de um cemitério de escravizados no centro da cidade. De camada em camada de texto, Packer escava a poesia como gênero e, com isso, também a própria língua e a história. Adelaide Ivánova escreve, no texto de orelha, que “o livro de Rob é muito comovente: sendo que comover, do latim commovĕre, significa algo como mover conjuntamente: uma pessoa comovida é alguém que foi retirada do seu estado natural por circunstâncias externas”. 
 
RAPIDINHAS
 
Elena Ferrante e ofício da escrita. Um segundo livro da autora da tetralogia napolitana reunindo ensaios sobre seu próprio trabalho e o ofício da  leitura ganha tradução no Brasil pela Intrínseca em 2023. A edição portuguesa que saiu no início do ano foi publicada como As margens e a escrita. Reúne um discurso e três ensaios sobre, entre outros assuntos, a obra de Dante Alighieri.
 
Dicionário Drummond. Anunciado no último Dia D., a data criada pelo Instituto Moreira Salles para celebrar o aniversário de Carlos Drummond de Andrade, 31 de outubro, o dicionário organizado por Eucanaã Ferraz e Bruno Cosentino está previsto para chegar às livrarias no próximo mês. O livro reúne 79 verbetes escritos por 54 professores, escritores e pesquisadores drummondianos.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição de um dos principais livros de Rubem Fonseca inaugura novo projeto editorial da obra do escritor.
 
Este é também um dos principais livros de contos da literatura brasileira do século XX. Foi a quinta obra no gênero e nela Rubem Fonseca mantém o tom incômodo e brutal de sua ficção, apresentando personagens inquietantes, como o protagonista do conto que dá título à obra. Amálgama de bandido, poeta e revolucionário, o Cobrador é uma espécie de vingador não apenas da divisão de classes, mas também da violência simbólica que é o controle da palavra. A nova edição de O cobrador inaugura a reedição de toda a produção literária de Rubem Fonseca; o livro traz um prefácio inédito do escritor Marçal Aquino e um posfácio do jornalista Sergio Augusto. Você pode comprar o livro aqui.
 
EVENTO
 
Hora H, Hora de Clarice ‘22.
 
Marcando os 102 anos da data de nascimento de Clarice Lispector o Instituto Moreira Salles capitaneia mais uma edição do evento criado para sublinhar a obra da escritora. Na edição de 2022, se exibirá o curta-metragem Perto de Clarice. Produzido por João Carlos Horta em 1982, o filme de 12min. em 35mm preservado pelo Centro Técnico Audiovisual ganhou uma versão digitalizada. Clarice comparece no vídeo em registro audiovisual e em depoimentos de amigos íntimos como Hélio Pellegrino e Nélida Piñon, ou ainda em leituras de trechos de sua obra realizadas por Ana Cristina Cesar. Circunstâncias mediadas pela música de Caetano Veloso e Chopin. Com a exibição do curta, o evento se conclui com uma mesa composta por Heloisa Buarque de Hollanda, uma das envolvidas com a realização do filme quando casada com Horta, e Teresa Monteiro, autora da monumental À procura da própria coisa. A mesa é coordenada pelo poeta e professor Eucanaã Ferraz. Outros detalhes por aqui.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. A filha do capitão, de Aleksandr Púchkin. Eis a experiência do introdutor da literatura moderna na Rússia com o modelo do romance histórico. Ambientado na revolta camponesa de 1773 liderada pelo cossaco Pugatchóv, este livro publicado meses antes da morte do seu autor é produto de uma rigorosa pesquisa e estudo sobre um dos períodos complexos da turbulenta história russa. A tradução resgatada pela Editora 34 é a de Boris Schnaiderman. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Maví, de Marco Lucchesi. Sobre o livro, disse nosso colunista o poeta Tiago D. Oliveira em publicação na nossa conta no Instagram: “Depurar os sentidos diante de eixos que transmitem a maturidade da escolha de um poeta. Em Maví, poemas editados pela Penalux, último livro de Marco Lucchesi, o caminho é fruição em pequenos toques que passeiam pela filosofia, pelo mítico olhar que perpassa a própria localização da literatura no tempo e, em muitos momentos, a própria vida.”. Você pode comprar o livro aqui

3. Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain. Apesar de ser um dos nomes mais importantes de uma literatura que circula com alta frequência entre nós, é a rara a presença da sua obra por aqui. Seu mais celebrado romance é que vez ou outra ganha nova edição. Uma delas, a aqui recomendada, saiu pela Zahar em 2019; uma edição valiosa, com nova tradução de José Roberto O’Shea e mais de uma centena das ilustrações originais de E. W. Kemble. A personagem-título do romance e o amigo Tom Sawyer fogem de casa e vivem uma série de aventuras na companhia do escravo fugitivo Jim. A viagem de formação percorre questões das mais difíceis na constituição também da identidade estadunidense, como o racismo, a escravidão e o puritanismo religioso e cultural. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. Melhores do Ano. Com a entrada no mês de dezembro, nesta semana já saíram duas listas brasileiras de melhores livros de 2022. A primeira do Suplemento Pernambuco pode ser consultada aqui; a segunda, da revista Quatro cinco um, seleciona títulos nas categorias ficção, não-ficção, poesia, divulgação científica e infanto-juvenil — por aqui.
 
2. O referido Dicionário Drummond, publicação do Instituto Moreira Salles, foi apresentado em vídeo no dia 31 de outubro de 2022. Para saber mais detalhes sobre a publicação veja aqui
 
3. No Instagram findamos a sequência de publicações por ocasião do centenário de José Saramago. Dez entradas com livros que percorrem a biografia, a obra, o pensamento, sem esquecer o universo das leituras suscitadas pela literatura saramaguiana.
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. Para instigar a leitura de Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, uma recomendação: este texto do célebre Norman Mailer que traduzimos aqui em maio de 2019.

2. Especificamente sobre Mark Twain — quem foi, algumas das suas ideias, uma visita a parte do seu universo literário — neste texto-perfil que traduzimos em outubro de 2010. 
 
DUAS PALAVRINHAS

A minha arte é ser eu. Eu sou muitos.
 
— Fernando Pessoa.

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