Os livros de Gabriel García Márquez adaptados para o cinema e para a televisão
Por Luis Manrique Rivas
O universo literário de Gabriel
García Márquez não teve muita sorte no mundo audiovisual. Traduzir não tanto
suas histórias-roteiros, mas a maneira poderosa, original e exuberantemente
literária como são contados é uma tarefa difícil porque, além disso, suas
narrativas fazem com que cada leitor crie seu próprio mundo imaginário. A
penúltima adaptação é Notícia de um sequestro, apresentada em 13 de
agosto de 2022 como uma minissérie de seis episódios transmitida para 240
países (Prime Video da Amazon), dirigida pelo chileno Andrés Wood, com o apoio
dos filhos do escritor. Este talvez seja o livro do Prêmio Nobel colombiano
menos complicado de levar às telas, no sentido de que tem menos da imaginação
maravilhosa de García Márquez e está mais próximo de uma realidade terrível de
seu país relacionada ao narcoterrorismo entre as décadas de 1980 e 90. Foi
publicado em 1996 e sua história real parece uma ficção vivida por todo um país
onde o autor foi mais um jornalista do que um criador-inventor.
A Notícia de um sequestro
narra um dos episódios mais horríveis do narcoterrorismo de Pablo Escobar: em
1990, por meio do grupo Los Extraditables, dez pessoas importantes do país
foram sequestradas, em diferentes momentos, como medida coercitiva contra o
governo colombiano para derrubar a Lei de extradição para os Estados Unidos que
na época pedia vários narcoterroristas, encabeçados pelo próprio Escobar. “Preferimos
uma sepultura na Colômbia a uma prisão nos Estados Unidos”, afirmaram Los Extraditables.
Assim lançaram um impulso impensável aos três poderes: Executivo, Legislativo e
Judiciário, e a todo um país.
À luz dessa adaptação, passamos em
revista outras dez obras de García Márquez levadas para o cinema e a televisão.
Recordamos seus argumentos, quem os fez e como foi essa adaptação.
Notícia de um sequestro
(Livro de 1996, adaptado para televisão em 2022).
O livro recria a história do
sequestro de dez pessoas relevantes da Colômbia pelo narcoterrorista Pablo
Escobar e pelo grupo Los Extraditables, ligados ao narcotráfico. Entre as
pessoas sequestradas estavam Diana Turbay (filha do ex-presidente Julio César
Turbay Ayala), Maruja Pachón, Marina Montoya e Beatriz Villamizar (interpretada
por Majida Issa). O livro conta com extensa documentação, pesquisa e
depoimentos, mas o que sustenta a obra é o lado humano e as vivências dos
sequestrados e das pessoas que mais estiveram envolvidas em seus resgates.
A minissérie do Prime Video foi
produzida por Rodrigo García Barcha, filho do escritor, e dirigido pelo chileno
Andrés Wood. Protagonizada Majida Issa (como Diana Turbay), Cristina Umaña
(Maruja Pachón), Carmenza Gómez (Marina Montoya), Julieth Restrepo (Beatriz
Villamizar), Nydia Quintero (Constanza Duque) Alberto Villamizar (Juan Pablo
Raba).
Sobre adaptação, escreveu Winston
Manrique Sabogal que “se centra demais na história de Maruja Pachón,
sequestrada, e seu marido Alberto Villamizar, um congressista que se envolveu
em seu resgate. Uma história romântica, corajosa e justa, mas que dificilmente
lida com os outros nove sequestrados, exceto Diana Turbay. Um simples fio
narrativo filmado com solvência, que, no entanto, falha em dar mais contexto à
situação que a Colômbia vivia naquele momento. Captar mais a atmosfera de um
país inteiro. É uma boa produção técnica, um thriller bem feito, sim, há
pulso narrativo, sim, mas falta-lhe alma.
Rodrigo García Barcha disse que a
ideia de levar este livro ao mundo audiovisual foi proposta ainda quando seu
pai era vivo, mas eles tinham muitas dúvidas sobre como realizá-lo. Agora que
as plataformas digitais alcançaram sua era de ouro, a série de televisão de
seis episódios deu a eles confiança para aceitar a adaptação. A mesma razão
pela qual a versão de um clássico de seu pai, Cem anos de solidão, está
a caminho.
Memória de minhas putas
tristes (romance de 2004, adaptado em 2012).
Um homem quer comemorar
seu aniversário de 90 anos dormindo com uma garota virgem. Toda a sua vida ele
pagou por sexo. No final ele se apaixona como sua grande aventura. Um percurso sobre
o afeto, a velhice, a sexualidade, a solidão, as armadilhas dos desejos e dos sentimentos
e a morte.
O filme dirigido pelo dinamarquês
Henning Carlsen, com roteiro de Jean-Claude Carrière, é estrelado por Emilio
Echevarría (El sabio), Paola Medina (Delgadina), Ángela Molina (Casilda),
Geraldine Chaplin (Rosa Cabarcas). Na 15ª edição do Festival de Málaga, ganhou
o Prêmio Especial do Júri Jovem de Melhor Filme.
Do amor e outros demônios
(romance de 1994, adaptado em 2009).
Na Cartagena das Índias do século
XVIII, Sierva María de Todos los Ángeles, de 12 anos, é mordida por um cachorro
doente de raiva. A menina começa a se comportar de maneira estranha e eles
acreditam que ela está possuída, então seus pais a mandam para o convento para
ser exorcizada. O padre enviado para fazer o exorcismo (Cayetano Delaura) se
apaixona por ela, até que são descobertos. Ele é enviado para cuidar de
leprosos, mas a menina não sabe e morre se perguntando por que ele nunca mais
voltou. Preconceitos, amor sem esperança e punições da igreja com a Inquisição
pela frente.
O filme dirigido pela
costarriquenha Hilda Hidalgo, com roteiro dela própria, é estrelado por Pablo
Derqui (Cayetano), Eliza Triana (Sierva María), Jordi Dauder (Bishop), Joaquín
Climent (Marqués) e Margarita Rosa de Francisco (Bernarda).
O amor nos tempos do cólera (romance
de 1985, adaptado em 2007).
Florentino Ariza se apaixona por Fermina
Daza desde jovem, mas ela se casa com outro. Ele a espera até que fique viúva e
durante esse tempo vive um amor febril e outros amores e aventuras existenciais
em torno dessa espera. Já idoso, o marido de Fermina Daza morre e Florentino
Ariza aparece na casa da viúva para lembrá-la de seu eterno amor.
O filme foi dirigido pelo
britânico Mike Newell, com roteiro de Ronald Harwood e é estrelado por Javier
Bardem (Florentino) e Giovanna Mezzogiorno (Fermina).
Ninguém escreve ao coronel
(romance de 1961, adaptado em 1999).
Um coronel aposentado da Guerra dos
Mil Dias espera desde há muito pelo cheque de sua pensão como veterano que
nunca chega. O romance narra o dia do coronel desde a hora em que se levanta
até a hora de dormir em meio à pobreza e à dignidade.
O filme foi dirigido pelo mexicano
Arturo Ripstein, com roteiro de Paz Alicia Garciadiego. Contou com a atuação de
Fernando Luján (coronel), Marisa Paredes (esposa) e Salam Hayek (Lobardo
Chipika).
Crônica de uma morte
anunciada (romance de 1982, adaptado em 1987).
Santiago Nasar é
assassinado pelos irmãos de Ángela Vicario porque em sua noite de núpcias seu
marido, Bayardo San Román, descobre que ela não é virgem e a devolve para sua
família. Ela aponta Santiago Nasar e os irmãos Vicario querem vingar a desonra.
A adaptação para o cinema foi
dirigida pelo italiano Francesco Rosi. É estrelado por Rupert Everet (Bayardo),
Ornella Muti (Ángela), Anthony Delon (Santiago), Lucía Bosé (mãe de Santiago) e
Irene Papas (mãe de Ángela). Estreou no Festival de Cinema de Cannes de 1987.
Erêndira (conto de 1974,
adaptado em 1983).
Uma jovem chamada Erêndira fica órfã e é criada pela avó
que mais tarde a obriga à prostituição para pagar o valor do incêndio que
provocou na sua casa. A menina conhece Ulises, eles se apaixonam e conseguem
fugir, mas são pegos e devolvidos para a casa da avó que a acorrenta na cama.
No final, a jovem escapa sem olhar para trás. O filme é baseado no conto “A
incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó sem desalmada” (1974).
O filme foi dirigido pelo
brasileiro Ruy Guerra com roteiro do próprio García Márquez. É estrelado por
Claudia Ohana (Erêndira), Irene Papas (avó) e Oliver Wehe (Ulises). A adaptação
ganhou no México o Prêmio Ariel de melhor cenografia.
A viúva de Montiel (conto
de 1962, adaptado em 1979).
Após a morte de seu marido, uma mulher descobre
que ele era um informante da cidade que entregou os nomes de seus opositores políticos
ao prefeito. Isso o levou a comprar suas casas e terras a baixo preço e a fazer
fortuna. O conto está incluído no volume Os funerais da Mamãe Grande.
O filme do chileno Miguel Littín foi
produzido entre o Chile, Cuba e México. Geraldine Chaplin estrelou o filme como
a viúva de Montiel. Com ele, Littín obteve o Colón de Oro do Júri de Melhor
Longa-Metragem do VI Festival Ibero-americano de Huelva (edição de 1980).
A má hora (romance de
1962, adaptado para a televisão colombiana em 1976).
No período posterior
da Colômbia conhecido como la violencia, que colocou os partidos Liberal
e Conservador um contra o outro, uma cidade vive em uma estranha paz quando um
homem é morto e os vencedores do conflito começam a assediar o resto dos
habitantes. Haverá uma nova guerra civil? São os ventos da violência coletiva.
A série de televisão foi dirigida pelo
colombiano Bernardo Romero Pereiro, com roteiro de sua autoria. É estrelado por
Frank Ramírez, Álvaro Ruiz, Alí Humar, Judy Henríquez, Lucero Galindo e
Amparo Grisales.
Nesta terra não há ladrões
(conto de 1961, adaptado em 1965).
As bolas de bilhar da única sala de
jogos de uma cidade são roubadas. A calma desaparece e o lugar experimenta uma
mudança antes do cruzamento de acusações. Um homem casado que vai ter um filho é
o autor do roubo. O conto apareceu pela primeira vez na revista Mito em
1960 e faz parte do volume de contos Os funerais da Mamãe Grande.
No cinema, este conto de García
Márquez foi dirigido por Alberto Isaac em 1965. O filme conta com um elenco de
luxo: Juan Rulfo, Carlos Monsiváis, Abel Quezada, Luis Buñuel, Luis Vicens e
Leonora Carrington, além do próprio autor.
Ligações a esta post:
* Este texto é a tradução livre de “Los livros de García Márquez adaptados al
cine y la televisón: aciertos y desaciertos”. Na versão original, foi publicado
aqui, em WMagazín.
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