Boletim Letras 360º #503
DO EDITOR
1. Caro leitor, até o mês de
novembro, lembrarei aqui sobre o sorteio que agora o blog realiza com o apoio
da Editora Trajes Lunares. A casa disponibilizou dois Kits de livros para
sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das
alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de
hospedagem na web e domínio.
2. Para participar dos sorteios é
simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br; para saber
mais sobre os livros da Trajes Lunares disponíveis, sobre outras formas de
apoiar, visite aqui. E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros
pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem
pagar nada mais por isso.
3. Boas leituras!
Vinicius de Moraes. Arquivo Portal Terra. |
LANÇAMENTOS
Livro reúne mais de uma centena de textos inéditos de Vinicius de Moraes.
Nome central da poesia e do cancioneiro brasileiro, Vinicius de Moraes
foi um cronista notável. Tudo atraía a sua atenção: os filmes em cartaz, o
preço do bonde e as transformações urbanas, comportamentais e sociais do país —
sobretudo de sua cidade, o Rio de Janeiro. Com organização de Eucanaã Ferraz e
Eduardo Coelho, Crônicas inéditas reúne 172 textos em prosa que Vinicius
publicou na imprensa entre as décadas de 1940 e 1970 e que permaneceram
inéditos em livro até hoje. Aqui está o estilo inquieto e irresistível do poeta
que marcou para sempre — e nos mais diversos campos — a cultura do país. O
livro é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Obra investiga as artes visuais
na experiência intelectual e criativa de Oswald de Andrade.
Em Um boxeur na arena: Oswald
de Andrade e as artes visuais no Brasil (1915-1945), Thiago Gil investiga
as artes visuais na experiência intelectual e criativa do poeta e escritor
modernista Oswald de Andrade (1890-1954). São analisados não apenas seus textos
sobre arte, mas também a presença das artes visuais nos livros de poesia Pau
Brasil (1925) e Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade
(1927), assim como nos romances Os condenados (1922-1934) e Marco
zero (1943-1945). Também são discutidas as relações do escritor com
artistas brasileiros e estrangeiros, além de sua participação em situações
importantes das artes visuais no país, como a Semana de Arte Moderna. O livro é
publicado pelas Edições SESC.
Com uma habilidade ímpar, Shirley Jackson vai do hilário ao horripilante
para demonstrar seu poder de contar histórias.
Única coletânea publicada enquanto Shirley Jackson ainda era viva, A
loteria e outros contos traz histórias que incorporam tanto as características
marcantes da escritora quanto seu poder de navegar pelos diversos aspectos da
ficção. Publicado pela primeira vez em 1948 na revista The New Yorker, o
conto “A loteria” é considerado um dos mais importantes da literatura americana
— seu impacto foi tão profundo que, logo após sua publicação, a revista recebeu
diversas cartas reclamando da “imoralidade” da narrativa. Esta e outras 24
histórias curtas formam uma coletânea brutal que analisa com maestria os
meandros da sociedade norte-americana, a opressão velada, o lugar a que as
mulheres são relegadas, o peso do matrimônio e dezenas de outros temas que
ainda fazem parte da sociedade atual. Seja esmiuçando a vida nos subúrbios dos
Estados Unidos, como em “Estátua de sal”, ou retratando a influência da bebida
e da juventude na vida de um homem, como em “O embriagado”, Jackson constrói
histórias com personagens vivazes e impressionantes que acompanharão o leitor
mesmo depois de fechar o livro. A tradução de Débora Landsberg é publicada pela
editora Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
Coletânea reúne narrativas brasileiras de horror.
Tênebra é uma coletânea de 27 narrativas brasileiras de horror escritas ao longo
de sessenta anos; os organizadores Júlio França e Oscar Nestarez provam que a
ficção do século XIX não se restringiu ao romantismo, ao realismo e a outros
movimentos reconhecidos pela historiografia literária tradicional. Enquanto a
crítica se voltava para o projeto nacional indianista e afirmava que Álvares de
Azevedo e seu Noite na taverna eram um caso isolado, poéticas
negativas corriam à margem. Os contos obscuros reunidos neste livro, colhidos
após minuciosa pesquisa, mostram que, além da temática tenebrosa, outra
escuridão durante muito tempo os acometeu: nunca haviam sido contemplados pelas
luzes da crítica literária, permanecendo ocultos até mesmo dos leitores do
gênero. Em apresentação ao livro, os organizadores abordam os motivos que
levaram ao apagamento histórico de um gênero tão popular na contemporaneidade.
Além disso, eles apontam a importância de uma leitura crítica dessas narrativas
que, na qualidade de textos históricos, dão a conhecer traços constitutivos da
nossa sociedade — como o machismo estrutural, que excluiu do cânone literário
mulheres escritoras que há muito tempo produziam, e o racismo escravocrata, que
permeia essas histórias oitocentistas e avança até o Brasil do século XXI. Por meio do critério cronológico, cobrem-se as mais diversas vertentes
sinistras, sejam elas o gótico, o horror, o fantástico ou as histórias de
crime. Machado de Assis, Olavo Bilac, Júlia Lopes de Almeida e Aluísio Azevedo
são algumas das presenças célebres que mostram a prática brasileira do gênero
fora de um suposto nicho. Outros autores, menos conhecidos, mas igualmente
assustadores, povoam a edição com feiticeiras, cometas apocalípticos, crimes
conjugais, vinganças, florestas encantadas, fantasmas, homens possuídos,
monstros flamejantes, vampiras e outros personagens escabrosos. É vasto o
panorama dos que rompiam as convenções e provocavam prazer estético com o medo.
Seja por meio de ghost stories, contos de mitologia ou manifestações dos
horrores reais da alma humana, Tênebra pode assombrar até o mais
cético dos leitores. O livro é publicado pela Editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
Dois livros sobre o trabalho com a biografia de dois dos mais
importantes nomes do gênero no Brasil.
1. A origem do gênero biográfico data da Antiguidade, nos discursos que
ressaltavam as virtudes de reis e príncipes. Na passagem para a Idade Média, as
narrativas que idealizavam a vida de santos ganharam espaço até que mudanças de
pensamento ocorridas no Renascimento favorecessem a proliferação de relatos que
emulassem a trajetória do herói. Traçando o passado da biografia, A arte da
biografia é um estudo sobre essa prática milenar e uma coleção de lições
valiosas sobre o processo de escrita. Contando curiosidades sobre a criação de Padre
Cícero, Castello, Maysa, Uma história do samba e Arrancados
da terra, Lira Neto oferece conselhos sobre metodologia de pesquisa, reúne
farta seleção de exemplos a partir de sua própria produção e de reflexões sobre
a prosa de não ficção de renomadas referências, como Umberto Eco, Virginia
Woolf e Italo Calvino. A escolha do biografado, os tipos de fontes que
embasarão o projeto, a definição da forma e estilo, tudo é matéria para o
trabalho do aspirante, ou já experiente, biógrafo. Analisando as fronteiras
entre ficção e biografia, as lacunas do relato memorialista e o horizonte ético
de cada obra, Lira Neto perscruta os contornos do fazer biográfico e suas
possibilidades narrativas, aliando teoria e prática num saboroso volume. Você pode comprar o livro aqui.
2. Qual é o biografado ideal? Toda vida dá um livro? Quando procurar as
fontes? Como se portar numa entrevista? Como lidar com fontes relutantes? Como
selecionar as informações? Quando começar a escrever? Como apresentar sua ideia
a uma editora? O que fazer depois do fim? E, publicado o livro, como viver sem
o seu personagem? Autor das biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen
Miranda e de célebres livros de reconstituição histórica, Ruy Castro e outras
perguntas num guia sobre como escrever biografias. Com a prosa saborosa que
marca toda a sua produção literária, o autor também relembra episódios
marcantes e decisivos nas apurações de suas obras — e que podem ajudar aqueles
que desejam se aventurar no gênero a atravessar os momentos mais desafiadores da
empreitada. Mais do que um passo a passo com conselhos práticos, A vida por
escrito é uma ode à arte de pesquisar e reconstituir, através da palavra, a
história de uma pessoa, de um lugar ou de uma época. Uma tarefa que pode até
contar com uma dose de sorte, mas é movida sobretudo pela obsessão de encontrar
a informação correta, a fonte imprescindível, o documento perdido — e que, como
Ruy garante, vale a pena. Os dois livros são publicados pela Companhia das
Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Livro abre coleção com textos
de mulheres que ousaram desnaturalizar saberes, relações, corpos e paisagens.
A improvável combinação de
filosofia, ciência e literatura de ficção científica faz de Autobiografia de
um polvo um livro bastante singular. Nele, Vinciane Despret, uma das
pensadoras mais instigantes da atualidade, se inspira na ciência ficcional da
therolinguística, a disciplina científica que estuda a linguagem dos animais
criada pela escritora Ursula K. Le Guin, para apresentar em cada capítulo um
estudo sobre a comunicação e a poética de diferentes animais, como as aranhas,
os vombates e os polvos. As narrativas estão situadas em um futuro no qual os
conhecimentos sobre a linguagem dos animais conformam um campo de pesquisa bem
consolidado, composto de diversas vertentes que tensionam os limites do que
entendemos por linguagem. Nessas abordagens de surpreendente originalidade, nos
temas e nas formas, são apresentados novos caminhos para as ciências e outros
entendimentos das relações com e entre animais e demais seres (vivos e não vivos)
— uma renovação que se faz ainda mais premente em um mundo transformado pelo
aquecimento global e pelo fim do capitalismo. Encarnando o gosto pelas misturas
na própria narrativa, Despret faz autoras e autores clássicos dialogarem com
pesquisadores e artistas completamente ficcionais. Autobiografia de um polvo
consiste numa provocação tão audaz quanto divertida a respeito das relações
atuais e possíveis com os não humanos que habitam o mundo conosco. O livro
inaugura a Coleção Desnaturadas, coordenada por Alyne Costa e Fernando Silva e
Silva, que reúne trabalhos desenvolvidos por mulheres que ousam
“desnaturalizar” saberes, relações, corpos e paisagens, fazendo emergir mundos
complexos e novas perspectivas. Oriundas de diferentes campos das ciências e das
humanidades, essas autoras abordam alguns dos temas mais urgentes do debate
contemporâneo, como a crise ecológica, o lugar das ciências nas sociedades
atuais, a coexistência entre verdades e saberes modernos e não modernos e a
convivência com seres outros-que-humanos. O livro é publicado pela editora
Bazar do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.
A poesia da poeta argentina
Tamara Kamenszain.
“Poeta ou poetisa?”, pergunta a
argentina Tamara Kamenszain na abertura de Garotas em tempos suspensos,
desdobrando uma série de outros questionamentos em torno do lugar da escrita de
autoria feminina dentro de uma tradição literária masculina. “Tamara ou Kamenszain?”,
segue ela, levando-nos a pensar na universalidade da pergunta: dizemos Drummond
(e não Carlos), Cabral (e não João), mas Cecília (e não Meireles) ou Adélia (e
não Prado). Afinal, o que está em jogo quando mulheres escrevem? Último livro
publicado em vida pela consagrada autora, escrito nos primeiros meses de
confinamento da pandemia, Garotas em tempos suspensos evoca uma série
de autoras e autores para fazer uma reflexão contundente não só sobre a
escrita, mas também sobre as formas de ler a autoria feminina. Vida privada ou
pureza textualista? Sem respostas prontas — buscando, antes, pensar
criticamente — Kamenszain chega, com este poema longo e ensaístico, a uma
reflexão sobre o próprio tempo da pandemia. Como colocou Edgardo Dobry: “é uma
leitura obrigatória para os que se perguntam o que é a poesia do nosso tempo”.
Com tradução e posfácio de Paloma Vidal e texto de orelha de Bruna Beber, o
livro chega primeiro aos leitores do Clube de Poemas, das editoras Luna Parque
e Fósforo.
Didier Eribon e uma política de si sobre si.
“Nenhuma identidade dada constitui
necessariamente um modo de autoafirmação política”, afirma Didier Eribon a
certa altura de seu A sociedade como veredito. Eribon exerce aqui a colheita,
em cada encontro, da história de estruturas sociais, de hierarquias enraizadas
e dos modos de dominação reproduzidos por essas mesmas estruturas e
hierarquias. O autor de Retorno a Reims recupera o relato publicado em 2009
para extrair, do incômodo de sua publicação, a possibilidade de uma revisita
mais profunda ao mundo operário de sua infância. Este novo retorno se configura
por meio da sobreposição de um ensaio autobiográfico a uma genealogia das
enunciações, cujo horizonte maior seria, por um lado, “restituir a
multiplicidade dos pontos de vista” e, por outro, produzir uma “reapropriação teórica e política de si”. É assim, generoso com as
pluralidades e as dissonâncias — dos outros e de si mesmo —, que o autor navega
ao lado das escritas de Pierre Bourdieu, Annie Ernaux e outros sujeitos de
enunciações tensionadas, biograficamente emaranhadas, para compor um percurso
de beleza e densidade admiráveis. Ao destacar que “a política inovadora é
necessariamente uma política de si sobre si”, Eribon apresenta um mapa
para que se renove a análise de classes, de trajetórias e de identidades.
Afinal, “não se rompe com a ordem estabelecida com uma vara de
condão”. Com tradução de Luzmara Curcino, A sociedade contra o
veredito é publicado pela editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
OS LIVROS POR VIR
Mais dois romances latino-americanos que chegam aos leitores brasileiros.
A editora Pinard, que tem publicado obras excepcionais com a ajuda do financiamento coletivo, dispõe de um projeto para trazer mais dois importantes romances da literatura latino-americana. São dois romances de dois escritores da Argentina: O caudilho, de Jorge Guillermo Borges; e Museu do romance da eterna, de Macedonio Fernández. O primeiro livro, escrito pelo pai do reconhecido Jorge Luis Borges, narra a vida gaúcha ao estudo do século XIX, apresentando um ambiente rural devastado por uma noite de temporal que destrói pontes, animais, políticas e paixões amorosas. A tradução do romance é de Caroline Kirsch Pfeifer. O segundo, é um livro bem conhecido dos leitores brasileiros e que se tornou produto-fetiche com o fim da Cosac Naify. A tradução publicada pela Pinard é, entretanto, nova; feita por Silvia Massimini Felix. Macedonio começou escrever Museu… em 1904, mas o livro só foi publicado 15 anos após sua morte. Nela, está presente uma série de prólogos anunciando uma história que parece nunca chegar: a de um homem que, após a morte da esposa, decide deixar a cidade e se refugiar no campo, numa estância chamada “O Romance”. Você pode apoiar o projeto aqui.
RAPIDINHAS
Mais Saramago. A Companhia das Letras amplia o catálogo de edições especiais da obra do escritor português com a publicação de O Evangelho segundo Jesus Cristo. Em capa dura, o livro traz um prefácio assinado por Andrea del Fuego.
Mais Annie Ernaux. A escritora francesa premiada com o Nobel de Literatura neste ano é presença confirmada na Festa Literária Internacional de Paraty, ocasião com publica por aqui o inédito O filho.
Édouard Louis em nova casa no Brasil. A Todavia. O francês chegou aqui pelo selo Tusquets da editora Planeta. A casa ainda publicou os dois títulos da principal de uma trilogia que revelou o escritor no seu país: O fim de Eddy e História da violência. Esses livros estão previstos para reedição, mas só em 2024 ou 2025. Para o próximo ano, a expectativa da nova editora de Louis no Brasil é publicar Quem matou meu pai e Combates e metamorfoses de uma mulher.
REEDIÇÕES
Nova edição de Meus verdes anos,
de José Lins do Rego.
A característica memorialista de José Lins do Rego é expressa de diversas
formas nas suas obras. Seja por meio dos fragmentos da sua vida que são
impressas na jornada de Carlinhos, protagonista de três livros do Ciclo da
cana-de-açúcar, ou até mesmo na forma que ele aborda o movimento do cangaço em Pedra
Bonita e Cangaceiros, ambos lançados pela Global Editora em 2022,
ele explora seus sentimentos (de forma direta ou indireta) sempre com o dom que
bons romancistas têm de reproduzirem suas próprias memórias em livros. Em Meus
verdes anos isso fica evidente. Neste romance, o autor continua com o
contexto social e político ainda muito presente, mas usa dos mesmos para contar
um pouco das suas experiências na infância: a forma como chegou no engenho do
avô, como observava a relação do senhor do engenho com seus empregados, a forma
como se sentia solitário na vida, abandonado por todos ao seu redor. Ao mesmo
tempo, contextualiza o espaço ao seu redor mostrando situações como a
disparidade de poder, a fome, febres e outros problemas do engenho, tudo isso
sem perder a qualidade ingênua e doce do olhar de uma criança. Zé Lins fecha o
livro dizendo: “Lá se for a ele com os cantos que enchiam de alegria as minhas
madrugadas de asmático. Lá se perdia ele para sempre, assim como estes meus
verdes anos que em vão procure reter”. Com um saudosismo claramente expresso
nas suas palavras, ele fecha uma narrativa que é sobre infância, amadurecimento
e uma época que não volta mais. O livro é publicado pela editora Global. Você pode comprar o livro aqui.
Reedição de livro Carla Madeira depois dos sucessos Tudo é rio e Véspera.
“O que você não tem mais que te entristece tanto?” É com esta pergunta que Biá, uma psicanalista aposentada, apaixonada por literatura, aborda a jovem jornalista Olívia pela primeira vez ao encontrá-la sentada à mesa de um sebo improvisado. A provocação inesperada, vinda de uma estranha, capaz de ouvir “como quem abraça”, desencadeia uma sucessão de encontros, marcados pela intimidade crescente e que aos poucos revelam as histórias das duas mulheres. “Nossa amizade começou assim, enquanto nos afogávamos”, relata Olívia. Com alternância entre as vozes, a força narrativa objetiva, descritiva e linear de Olívia contrapõe-se às anotações esparsas de Biá, cujos fragmentos de uma memória já falha e pouco confiável conduzem a um ponto de virada na trama que irá revelar ao leitor eventos que marcaram o passado de cada uma, evidenciando o paralelo entre as diferentes formas de abandono sofridas (e perpetradas) pelas duas amigas. Ao conhecer Olívia, o leitor é preparado para compreender Biá e, finalmente, refletir sobre a pergunta: o que faríamos em seu lugar? Como nos outros romances da autora, as personagens parecem saltar do papel para colocar o leitor diante de questões universais, entre elas a incondicionalidade do amor, a força do desejo, a culpa e o esquecimento, a memória e sua dinâmica inescrutável com o perdão. É também um livro sobre amizade. Com uma narrativa singular, potente e envolvente, Carla Madeira se reafirma em A natureza da mordida como um dos maiores nomes da literatura nacional contemporânea. O livro é publicado pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
DICAS DE LEITURA
A publicação da nova tradução da
obra-prima de Marcel Proust, À la recherche du temps perdu, combinada
com o centenário sobre a morte escritor francês (apesar da efeméride passar quase
despercebida por aqui) deve reavivar o semi-perene interesse que se mantém
entre nós pela obra do escritor francês. Enquanto as novas traduções não chegam
(e existem outras), aproveitamos para recomendar três livros mais próximos do
ensaio que poderão ajudar o leitor a entrar em contato com a literatura proustiana
e/ ou conduzir para outras inquietações ao seu respeito. Na aquisição de
qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e
ainda ajuda a manter o Letras.
1. Marcel Proust: realidade e
criação, de Vera Azambuja Harvey. O livro reúne um conjunto de ensaios que
examina a principal obra do escritor francês, ressaltando a maneira como sua
escritura, semelhante à poesia, nos ensina a expressar nossos sentimentos mais
profundos diante da natureza, da música, da pintura, da beleza e do espetáculo
da vida. A autora busca enfatizar como ao contemplar o mundo e recriá-lo Proust
ressalta a importância da arte e dos artistas. O livro foi publicado na coleção
Crítica, da Editora Perspectiva. Você pode comprar o livro aqui.
2. Proust e as artes, de Roberto
Machado. Seguindo um caminho que dialoga com o livro de Vera Azambuja Harvey,
neste trabalho a literatura, a pintura e a música, expressões indispensáveis
para o desenvolvimento do universo literário proustiano — sobretudo em À la
recherche du temps perdu em que artistas variados, reais ou imaginários
entram e saem da ficção — são examinados por Roberto Machado a fim de oferecer
ao leitor uma compreensão sobre como o escritor modula estética e metafisica a
fim de dar conta de uma essência da realidade. O livro foi publicado pela
editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
3. Como Proust pode mudar sua
vida, de Alain de Botton. Daqueles livros que podem servir como um bom passatempo
no final de semana ou antes de dormir. Em nove ensaios breves, o filósofo
suíço-britânico examina algumas das contribuições possíveis que um leitor de À
la recherche du temps perdu poderá descobrir: como amar a vida hoje, ler para
si mesmo, não se apressar, sofrer com sucesso, expressar suas emoções, ser um
bom amigo, abrir os olhos, ser feliz no amor, abandonar os livros… Sem falar
noutras possibilidades encontradas no interstício dos textos. Traduzido por
Marcello Lino, o livro foi publicado pela editora Intrínseca. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Sobre Vinicius de Moraes, não o
cronista mas o poeta. Aproveitamos o destaque deste Boletim para recordar a
edição n. 8 da revista 7faces dedicada ao poeta. A edição reúne alguns textos
de especialistas que passam em observação algumas das diversas faces de Vinicius. Acessa aqui.
2. No mesmo quadro poético e na
mesma extensão do projeto da 7faces, recuperamos do blog da revista
estes três poemas de Paul Valéry, um dos nomes mais significativos do
simbolismo francês. É por aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Recordamos duas resenhas sobre
dois livros de Adalgisa Nery reeditados num alentado projeto de reapresentação
da sua obra que se iniciou em 2015 e, ao que parece, ficou a meio do caminho. Um dos primeiros títulos
foi A imaginária — leia o texto aqui; a segunda entrada versa sobre Neblina
— aqui.
2. O fim de Eddy, de Édouard Louis, foi comentado por Pedro Fernandes neste texto publicado aqui no Letras no mesmo ano quando o livro apareceu para os leitores brasileiros. O livro resultou indiretamente na realização do filme Marvin, de Anne Fontaine — também comentado aqui.
DUAS PALAVRINHAS
Nunca conheci uma pessoa em que prevalecesse o senso moral que não fosse
implacável, cruel, vingativa, estúpida e totalmente desprovida do menor senso
de humanidade. As pessoas morais, como se chamam, são simplesmente terríveis.
Fazem do mundo um inferno antecipado.
— Oscar Wilde.
...
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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