Boletim Letras 360º #499
DO EDITOR
1. Caro leitor, até o mês de
novembro, lembrarei aqui sobre o sorteio que agora o blog realiza com o apoio
da Editora Trajes Lunares. A casa disponibilizou dois Kits com três livros cada para
sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das
alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de
hospedagem na web e domínio.
2. Para participar dos sorteios é
simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br; para saber
mais sobre os livros da Trajes Lunares disponíveis, sobre outras formas de
apoiar, visite aqui. E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros
pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem
pagar nada mais por isso.
3. Um fim de semana com responsabilidade
(dia 2 de outubro é dia de eleições) e boas leituras!
Peter Handke. Foto: Laura Stevens |
LANÇAMENTOS
Chega ao Brasil a primeira obra de Peter Handke pós-Nobel.
A segunda espada: uma história de maio é a primeira
publicação literária de Peter Handke após receber o Prêmio Nobel de Literatura
2019. Foi aguardada com grande expectativa, sobretudo porque a premiação do
autor fez crescer a controvérsia envolvendo seu nome e a Guerra da Bósnia. O
livro não trata dessa polêmica diretamente, mas, por ser a narração de uma
vingança contra um jornalista, há quem diga que o texto é uma “alfinetada” da
literatura em certo tipo de jornalismo que insiste em alimentar
sensacionalismos. Com uma narrativa enigmática, em A segunda espada
acompanhamos um “herói” que abre sua história reconhecendo no espelho diante de
si a imagem de um vingador. Esse narrador em primeira pessoa, então, se propõe
a executar um jornalista que havia acusado sua mãe, em um artigo de jornal, de
ser nazista. No entanto, quanto mais perto do seu objetivo, mais suas intenções
ficam em segundo plano. Feito com a maestria de um escritor que se orgulha em
ser sucessor de nomes como Homero, Cervantes, Tolstói, todos estes também
excelentes na arte da digressão. A segunda espada: uma história de maio,
portanto, por meio de uma história bastante palpável, e até mesmo violenta,
conta outra história — aliás com um final surpreendente — e, portanto, outra
realidade, talvez ainda mais real do que a primeira, do que a mais aparente. Com
tradução de Luis S. Krausz, o livro sai pela Editora Estação Liberdade. Você pode comprar o livro aqui.
Mary Del Piore constrói um retrato inédito da maior pintora brasileira:
do apogeu ao esquecimento – e então ao reconhecimento, ao fim da vida, que
sedimentou seu lugar nas fileiras da imortalidade.
A premiada historiadora Mary Del Priore apresenta aqui uma biografia
breve de uma das artistas mais geniais do modernismo: Tarsila do Amaral.
Criadora de pinturas icônicas, que se confundem com uma estética canônica da
representação do Brasil — a paisagem, a gente, as festas, o trabalho e os
costumes —, Tarsila é um dos nomes mais aclamados na história da arte
brasileira e, ao mesmo tempo, um vulto cuja vida íntima é pouquíssimo
conhecida. Criada em uma família conservadora, dona de terras no interior de
São Paulo, Tarsila rompeu, no início do século XX, as barreiras do moralismo de
sua época para se tornar uma artista mundialmente conhecida. Engana-se, porém,
quem acha que ela teve uma vida apenas gloriosa. Desilusões amorosas e
traições, ataques à sua arte e à sua honra, julgamentos reacionários à sua
tentativa de romper com a vida burguesa e até mesmo acusações de que seria
colaboradora da polícia política de Getúlio Vargas são indicações da coleção de
infortúnios que a assombraram em vida. O estilo de escrita de Mary Del Priore
nos aproxima de Tarsila de forma ímpar. A narração desta biografia alia o
lirismo da contação de histórias ao rigor da pesquisa em arquivo, e vai
trazendo, aos poucos, sabores que sustentam um perfil incomum da grande
modernista — tanto na revolução iconográfica que suas imagens representaram
quanto na invenção de uma nova posição para a mulher na sociedade paulistana. Tarsila:
uma vida doce-amarga é uma oportunidade única de conhecer de perto uma das
artistas mais queridas pelo público, em uma leitura prazerosa, repleta de
revelações. E ricamente ilustrada por dois cadernos de imagens com fotos raras
de Tarsila e os principais destaques na imprensa sobre sua produção. O livro é
publicado pela José Olympio. Você pode comprar o livro aqui.
Uma visita aos cadernos de Paul
Valéry.
Conta-se que Paul Valéry acordava
diariamente às 5 horas da manhã e se colocava a escrever, em pé. Durante mais
de 50 anos (entre 1894 a 1945), o poeta madrugador preencheu 27 mil páginas de
cerca de 260 cadernos, registrando reflexões sobre temas os mais variados, até
mesmo das ciências ditas “duras”, entrecruzando formulações lapidares com
anotações laterais, desenhos, gráficos, indicações textuais diversas. O volume
e a complexidade desse material explicam a bem conhecida dificuldade de edição
dos Cadernos, que apenas na década de 1970 ganhou uma versão não
especializada (em certo sentido, simplificada), na prestigiada coleção Pléiade,
da Gallimard. O lembrete é importante pois ajuda a perceber quão precioso é o
presente trabalho de “tradução” da seção temática “Poiética” dos cadernos de
Paul Valéry. Retomando o texto base da Pléiade, Roberto Zular e Fábio Roberto
Lucas “corrigem” exclusões e decisões editoriais pouco sustentáveis,
valorizando justamente as virtualidades de sentido dos Cadernos. Ao
invés de “limpar” as supostas impurezas, optaram, ao contrário, por um
procedimento “genético” que busca respeitar as relações de sentido inscritas em
cada página, com o auxílio de diferentes edições e do fac-símile dos originais.
Resulta disso uma “edição aumentada”, que nada mais é do que um trabalho
inédito de edição de parte dos cadernos de Valéry, com “afinamento” filológico
talvez mais convincente aos ouvidos atuais. É ao leitor de hoje, mais
familiarizado com a ideia de inacabamento, mais sensível ao aspecto visual do
texto, mais aberto à “hesitação” do pensamento, que se dirige a edição
brasileira da Poiética de Valéry. Ao evidenciar outra leitura (não
exatamente romântica) da estética do fragmento, os organizadores também nos
mostram que há muito a ser redescoberto nesse autor cuja fama de “formalista”
promoveu, mas também limitou, ao longo do tempo, o interesse por sua extensa e
variada produção. O excelente posfácio que fecha o trabalho reúne elementos
dessa historicidade, abordando não apenas o pensador da complexa
reversibilidade entre forma e fundo, mas igualmente o intelectual atento a
dilemas institucionais que abalaram a Europa no período que compreende as duas
guerras mundiais. Paul Valéry (1871-1945) foi um dos mais
importantes escritores franceses do século XX. Poeta amplamente reconhecido,
fez da poesia um microcosmo que lhe permitiu entrecruzar os mais diversos
campos do saber (poética, linguística, psicologia, política, física, biologia)
e os mais variados meios de escrita (poemas, ensaios, traduções, peças,
diálogos). Sua obra secreta, os cadernos, são o testemunho das dores e alegrias
de uma vida que recusou a banalidade e a violência do mundo, partindo em busca
de outras formas de pensamento e de outros modos de existência. O livro é
publicado pela Editora Iluminuras. Você pode comprar o livro aqui.
Um livro sobre a inesgotável capacidade
humana de se adaptar.
“Um dia, numa família, nasceu um
menino inadaptado”. Assim começa a história do menino de olhos negros que
flutuam para o nada, eternamente deitado, e dos seus três irmãos. Em meio à
natureza poderosa das montanhas, são as pedras do muro da velha casa da família
que testemunham suas trajetórias. O amor absoluto e protetor do mais velho, a
rebeldia que a do meio assume para rejeitar a dor, a chegada do mais novo que
cresce à sombra das memórias. Um livro magnífico e luminoso, sobre o laço
infinito entre irmãos e a inesgotável capacidade humana de se adaptar. Se
adaptar, de Clara Dupont-Monod, chega ao Brasil pela Editora Dublinense com
tradução de Diego Grando. Você pode comprar o livro aqui.
Voltar ao Brasil Colônia pelas
letras.
O título deste livro singular
promete muito menos do que oferece. O estudo d’A Vida Literária no Brasil
Colônia é também chave-mestra para descerrar alguns dos aspectos mais
contraditórios da formação brasileira, o nascimento da sociabilidade, o
desabrochar da civilidade, a germinação do nativismo, primeiro grito de amor do
homem à terra. Num estilo leve e envolvente, o autor acompanha os três
primeiros séculos de nossa formação histórica através da gestação e afirmação
da vida literária em um país áspero, bruto, sem autoestima e sem identidade,
apoiado no escravismo e de analfabetismo opressor. O processo se inicia sob a
batuta dos jesuítas, com seus colégios, elaborando o primeiro projeto educativo
do país e implantando e lapidando hábitos e procedimentos pioneiros de vida
literária até o surgimento das academias, no século XVIII, nas quais se imitava
descaradamente padrões culturais europeus. Nesta trajetória foram fundamentais
o surgimento das bibliotecas, públicas e particulares, as declamações, as
encenações teatrais, o debate ao vivo sobre temas literários e (mais tarde e em
sigilo) políticos, os saraus literários domésticos e em palácios, os
intelectuais da terra confraternizando com os governantes, e desenvolvendo uma
cordialidade de salão, que se derramava por toda a sociedade culta. E, enredada
a ela, os primeiros sonhos de independência. Sem ninguém perceber, começava a
palpitar uma nação chamada Brasil. O livro é publicado pela Editora Ateliê. Você pode comprar o livro aqui.
Um retorno à problematização das relações autor-obra.
A obra da socióloga francesa Gisèle Sapiro vai, aos poucos e ainda bem,
sendo traduzida no Brasil e se tornando incontornável. Conhecida por suas
investigações de inspiração bourdiana sobre traduções, autorias e os estudos da
edição, neste livro que ora a editora Moinhos publica, Sapiro aborda, com
coragem e profusão de exemplos, temas como a associação (ou não) entre vida e
obra, biografia e literatura ou cinema, em casos amplamente conhecidos não
apenas na França, mas no mundo. Escritores, cineastas, filósofos e outras
figuras intelectuais são postas em xeque diante de suas escolhas políticas,
ideológicas ou da declaração de seus preconceitos, a despeito de terem
produzido obras consagradas e/ou premiadas. Associações entre escritores e
filósofos a ideias nazistas ou antissemitas, escândalos de abuso sexual no
mundo do cinema, é possível dissociar os protagonistas desses casos de suas
obras? Sublimar os efeitos disso sobre livros, filmes, teorias? Cabe a nós
julgar e absolver? Sapiro, neste volume, põe as cartas na mesa, desfia
argumentos em muitas direções, tece redes entre outros pensadores da questão
para, afinal, concluir que o tema é, de fato, complexo e merece ser debatido,
cada vez mais e com novos elementos. Seja bem-vinda mais esta obra necessária
da autora no Brasil. É possível dissociar a obra do autor? tem tradução
de Juçara Valentino e sai pela Editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
Terry Eagleton e o mal.
Como escrever sobre o problema do mal de maneira razoável, sem
sobrecarregar o leitor com fórmulas metafísicas da teologia e da filosofia, e,
ao mesmo tempo, sem deprimi-lo inutilmente com um compêndio histórico das
desgraças humanas, de Adão e Eva à bomba atômica? Terry Eagleton enfrenta esse
desafio fazendo deste livro uma espécie de caldeirão das bruxas de Macbeth, com
ingredientes diversos, desde os mais sutis até aqueles considerados
absolutamente repugnantes. Com tradução de Fernando Santos, Sobre o mal
é publicado pela Editora Unesp. Você pode comprar o livro aqui.
O novo romance de Ana Luisa Escorel.
Em O fastio do Diabo, novo romance de Ana Luisa Escorel, a
escritora cria uma sátira sociopolítica do Brasil, unindo passado e presente.
Ela perpassa 522 anos da história brasileira em seu terceiro romance. Dividido
em três partes — “O fastio do Diabo”, “Culpa e castigo” e “Dando conta do
recado” —, Ana Luisa imagina uma reunião de membros da alta cúpula do Reino
Maldito, com a presença do senhor inconteste daqueles baixios, tendo por
objetivo levantar o astral do anjo caído ao revelar a ele o sucesso de sua
doutrina e de suas práticas, num canto muito particular de mundo. Cabe a um
Enviado, que tem como tarefa provocar e alimentar continuamente a tragédia
nessa região, fazer ao Diabo o relato de suas atividades por cerca de
quinhentos anos. A segunda parte do romance traz uma espécie de fantasia
delirante e não obedece a nenhum esquema lógico. Na terceira, a narrativa
histórica incorpora o devaneio criativo da autora e o Enviado se gaba de
conquistas recentes nessa esquina esquecida do planeta, onde forças
progressistas ousaram subverter a ordem estabelecida pelas camadas dominantes.
O livro é publicado pela Ouro sobre Azul.
Os textos remanescentes de Giordano Bruno escritos em seu idioma materno.
Giordano Bruno faz parte do rol de pensadores que se destacaram como
representantes das novas correntes do Renascimento, que instauraram uma
concepção moderna do mundo, racional e antidogmática. Filósofo de intuições
geniais e talentoso escritor de humor afiado, Bruno foi contestado e aclamado
na mesma medida por séculos. A edição das Obras Italianas, traz ao
público brasileiro o tempo, a obra e a personalidade de um nome inescapável da
cultura ocidental. Reúne, pela primeira vez no Brasil, os textos remanescentes
de Giordano Bruno escritos em seu idioma materno. Vivendo em uma época em que
protestantes e católicos disputavam, a custo de muito sangue, cada palmo e cada
alma da Europa, Bruno representou uma outra corrente: a de Nicolau Copérnico e
da Revolução Científica do século XVI, antecipando Descartes, Spinoza, Leibniz
e Galileu. Foi na Inglaterra, após uma contenda com estudiosos da Universidade
de Oxford que ele escreveu os diálogos que compõem esta coletânea. Bruno foi
além de Copérnico: não só defendeu a teoria heliocêntrica, mas que o universo é
infinito, e que a Bíblia ensina moral, não cosmologia. Ele atacou o pedantismo
de Oxford, o salvacionismo protestante, as superstições e visões de mundo de
sua época. O humor sarcástico — que o leitor poderá saborear ao longo destas
páginas, principalmente Castiçal —, a atitude arrogante e desafiadora, o
transformaram num apóstata e num mártir. Seu brilho, contudo, não vem da
fogueira a que foi condenado, mas de suas ideias que ainda hoje dão frutos. O
livro tem tradução de Alessandra Vannucci e Newton Cunha e é publicado pela
Editora Perspectiva. Você pode comprar o livro aqui.
Chega ao Brasil, romance que ficcionaliza a vida de Florbela Espanca.
No dia 8 de dezembro de 1930, Florbela Espanca tirou a própria vida.
Naquela data completava 36 anos de idade. A vida da poeta foi a de um espírito
criativo, insatisfeito, complexo, com laivos de luz e sombra no Portugal na
virada do século XX. Esta é tanto uma biografia ficcional, abrindo a porta para
as angústias e desejos da poeta, quanto um romance psicológico, envolvente e
arrebatador. Poeta que não admitia ser chamada de “poetisa”, Florbela foi uma
mulher não convencional, uma precursora que ousou viver em toda plenitude,
ainda que envolta pela infelicidade. Encontrou na poesia, desde criança, a
natural expressão das suas paixões, das suas mágoas, com um erotismo sublime e
sempre, sempre da procura do Grande Amor. Bela, de Ana Cristina Silva,
sai pela Ímã Editorial. Você pode comprar o livro aqui.
Este romance recria os últimos anos da vida de Walter Benjamin, um dos
maiores filósofos e críticos de literatura do século XX.
Durante a década de 1930, o judeu alemão Walter Benjamin escreveu seus
principais ensaios em uma livraria de Paris, cidade que amava e onde havia se
exilado depois da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. Mas, em 1940, os
tanques nazistas chegaram ao subúrbio da capital francesa e Benjamin foi
obrigado a fugir, carregando uma maleta com centenas de páginas de preciosos
manuscritos. Depois de uma tentativa fracassada de escapar por Marselha,
vislumbrou uma chance de fugir com Lisa Fittko, uma jovem combatente do nazismo
que guiava judeus e outros refugiados através dos montes Pireneus e rumo à
Espanha. De lá, com sorte, chegaria a salvo em Portugal ou na América do Sul. Jay
Parini intercala a história comovente da fuga com esboços do passado complexo e
cosmopolita de Benjamin: sua infância privilegiada em Berlim, seus anos de
militância no Movimento Jovem, os dias na universidade. E sua grande amizade
com Gershom Scholem, o eminente teórico da mística judaica, é contada na
própria voz do amigo. Outro importante fio condutor é o relacionamento amoroso
de Benjamin com Asja Lacis, uma bela marxista que conhecera em Capri, em 1926.
O elenco de personagens desta história inclui ainda o dramaturgo Bertolt
Brecht, o filósofo Theodor Adorno e muitos outros artistas e intelectuais, que
fizeram parte do círculo de amigos íntimos de Benjamin durante as duas guerras.
Com Walter Benjamin, experimentamos as angústias da exclusão, o medo da
perseguição; e, com Scholem, o sofrimento de quem perdeu um amigo brilhante.
Mas este livro não trata apenas dos acontecimentos trágicos que marcaram sua
fuga. Em parte, é também um elogio não apenas a Benjamin, mas a toda a tradição
intelectual europeia. A travessia de Walter Benjamin é um romance
surpreendente sobre guerra, história cultural e a grande divisão da civilização
na década de 1940. Com tradução de Maria Alice Máximo, o livro é publicado pela
Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Os estágios de formação da vida são descritos em A magia de cada
começo, uma reunião de textos autobiográficos, de Hermann Hesse, autor
vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, traduzidos por Lya Luft e inéditos no
Brasil.
“Cada ser humano não é apenas ele mesmo, é também o ponto único, todo
especial, sempre importante e singular, onde os fenômenos do mundo se cruzam
uma única vez e, dessa forma, nunca mais. Por isso a história de cada ser
humano é importante, eterna, divina. Por isso cada ser humano, enquanto viver e
cumprir a vontade da natureza, é maravilhoso e digno de todo cuidado. Em cada
um, o espírito se tornou forma; em cada um, a criatura sofre; em cada um, um
salvador é crucificado... A vida de cada pessoa é um caminho para si mesmo, a
tentativa de um caminho, a insinuação de uma trilha. Nenhum ser humano jamais
foi inteiramente si mesmo, mas cada um de nós luta para tornar-se si mesmo.
Alguns de maneira apática, outros, de modo mais leve, cada um como pode. Cada
um carrega até o fim restos de seu nascimento, a linfa e a casca de seu
ambiente original, primitivo. Muitos nem se tornam humanos, permanecem sapo,
lagartixa, permanecem formiga. Muitos são em cima humanos, embaixo peixe. Mas
cada um é um esforço da natureza em busca do humano. As origens de todos nós
são comuns, as mães, todos saímos do mesmo orifício; mas cada um se esforça,
num esforço e empenho das profundezas, na direção de suas próprias metas.
Podemos entender uns aos outros, mas interpretar cada um só pode a si mesmo.” Usando
os exemplos da própria história de vida, A magia de cada começo é uma
reunião de textos autobiográficos de Hermann Hesse que descrevem e refletem os
“estágios do desenvolvimento humano”, da mais tenra infância aos últimos anos
de vida. Com a habilidade de escrita de um dos mais importantes escritores do
século XX, vencedor do Nobel de Literatura e autor de clássicos como O Lobo
da Estepe, Demian e Sidarta, é impossível não se
reconhecer neles. Afinal, por mais variada que sejam as experiências de uma
vida, no fim somos todos, inegável e inexoravelmente, humanos. O livro é
publicado pela Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Carson McCullers. A Carambaia anunciou a publicação de uma nova tradução e edição do principal romance da escritora estadunidense. O coração é um caçador solitário, até então publicado pela Companhia das Letras há muito se encontra esgotado nas livrarias.
Lima Barreto no cinema. O filme de Luiz Antonio Pilar, Lima Barreto: ao terceiro dia estreia no circuito comercial. A narrativa acompanha três dias do escritor (vivido pelo ator Luís Miranda) num manicômio do Rio de Janeiro, enquanto recorda sua vida e a escrita do seu principal romance, Triste fim de Policarpo Quaresmo.
REEDIÇÕES
As correspondências de Graciliano Ramos aqui reunidas apresentam uma
perspectiva íntima de sua vida e obra.
Tendo sido viável graças à colaboração de pessoas que conviveram com o
escritor, principalmente sua companheira Heloísa Ramos, Cartas reúne as
correspondências íntimas de Graciliano Ramos, um dos maiores romancistas da
literatura brasileira. A organização é por ordem cronológica, desde 1910,
quando Graciliano morou em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, passando
por sua ida ao Rio de Janeiro em 1914, para tentar a sorte na imprensa carioca,
e seu regresso à cidade da infância devido à morte de três irmãos e um sobrinho,
vítimas de uma epidemia de peste bubônica. Acompanhamos ainda seu afastamento e
lento retorno à literatura após a morte da primeira esposa, em 1920, decorrente
de complicações no parto; e o reencontro do amor ao se apaixonar por Heloísa
Medeiros, com quem se casou em 1928. Nesse mesmo período, Graciliano foi eleito
e empossado prefeito de Palmeira dos Índios, cargo em que ficou por dois anos.
Os bilhetes que enviou da prisão, durante o Estado Novo, em 1936, dão conta do
período em que foi detido sob alegação de ser comunista. E as cartas do período
seguinte terminam com os relatos de sua viagem à Tchecoslováquia e à União
Soviética, em 1952. Ao acompanhar os relatos íntimos de Graciliano Ramos a
amigos e familiares, revelando suas relações com o cotidiano e com as pessoas
com quem conviveu mais de perto, temos uma espécie de narrativa autobiográfica
e muitas vezes confessional dos acontecimentos cruciais de sua vida. O que faz
de Cartas, para além de leitura deliciosa, uma fonte documental direta
importantíssima para a compreensão sobre a vida e a obra deste grande escritor.
O livro é publicado pela Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Narrativas inquietas: seis
contos e duas peças. Trata-se de uma antologia organizada por Alcebiades
Diniz Miguel que apresentam ao leitor brasileiro pela primeira vez duas faces
não tão conhecidas da obra de Joseph Conrad: o contista e o dramaturgo. Afinal
as nossas editoras são pródigas em edições do principal romance do escritor, O
coração das trevas (veja a seção Dicas de leitura do BO Letras 360.º n.332), mas deixam para segundo ou último plano as regiões menos
conhecidas da sua obra. Entre os materiais reunidos no livro publicado pela
editora Perspectiva está “Os idiotas”. O texto que abre a coletânea foi o
primeiro trabalho completo que Conrad escreveu e publicou. Você pode comprar o livro aqui.
2. Mente cativa, de Czesław
Miłosz. Este é o segundo livro de um autor cuja célebre poesia continua praticamente
desconhecida no Brasil (ao que parece até agora foi publicada uma só antologia,
Não mais, numa simpaticíssima coleção fomentada pela Editora da Universidade
de Brasília). Neste livro, uma nova tradução, Miłosz regressa ao território
minado das relações entre criador e Estado para inquirir e perquirir o que leva
um artista se submeter ao dogma das ideologias para garantir qualquer coisa como
um bom lugar social, desmantelando certa ética da liberdade de si e o anseio
pela liberdade coletiva. Com tradução de Eneida Favre, o livro está publicado
pela Editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. O projeto Caderno de Leituras, da editora Chão da Feira, disponibiliza o ensaio Sobre escrever, de Leila Guerriero. É a edição 154 de uma publicação eletrônica e gratuita que reúne textos de relevância como o ensaio em título. Traduzido por Gabriela Albuquerque, em Sobre escrever a escritora argentina esboça as relações da escrita com o ser e estar no mundo a partir do diálogo com vários outros escritores. Disponível aqui. No endereço também encontrará o caminho para os outros números.
2. No passado 25 de setembro de
2022 foi o cinquentenário da morte de Alejandra Pizarnik, a poeta argentina que
só nos últimos anos começa a ganhar viva presença entre os leitores brasileiros.
No blog da Revista 7faces é possível ler a tradução de dois poemas seus.
BAÚ DE LETRAS
1. No blog, a primeira vez que
falamos sobre a obra de Alejandra Pizarnik foi em 2009 com a publicação deste perfil; dois anos mais tarde traduzimos este texto de Mercedes Roffe sobre o
livro A condessa sangrenta. Além dessas e outras publicações, a mais
recente, foi a leitura de Fernanda Fatureto sobre algumas das correspondências da
autora de Árvore de Diana.
2. Chegamos ao mês do Prêmio Nobel (o anúncio de 2022 acontece dia 6 de outubro) com livro novo do mais recente ganhador, conforme destacamos neste Boletim. Ainda
sobre Peter Handke, deixamos dois textos do nosso baú: uma resenha de Pedro
Fernandes sobre A ausência; e este breve perfil que traduzimos como “O
entardecer de Peter Handke”
DUAS PALAVRINHAS
Um escritor que escreve bem é o
arquiteto da história.
― Em Three Soldiers, John Dos Passos
...
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