Boletim Letras 360º #498

 
 
DO EDITOR
 
1. Caro leitor, a Editora Trajes Lunares apoia o trabalho do Letras disponibilizando dois Kits para sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de hospedagem na web e domínio.
 
2. O primeiro é formado pelos livros Azul como um rottweiler, de Milton Rosendo (poemas), Travessia e sopro (poemas), de Bruno Ribeiro; e Diabolô, de Nilton Resende (contos).

3. E o segundo, reúne outros três livros Eram os brutos os barcos, de Ana Maria Vasconcelos (poemas); A mecânica das pontes, de Brisa Paim (romance); e Fantasma, de Nilton Resende (romance).
 
4. Para participar dos sorteios é simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br e depois utilizando este mesmo e-mail notifica-nos sobre o pagamento. 

5. Para saber mais sobre outras formas de apoiar, visite aqui. E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso.
 
6. Um excelente final de semana com descanso e boas leituras!

André Gide. Foto: Cecil Beaton.


 
LANÇAMENTOS

Em domínio  público, sai uma nova edição para um dos principais romances de André Gide. 

Em Os moedeiros falsos, do francês André Gide, acompanhamos os protagonistas Édouard, Bernard e Olivier em um emaranhado de sensações e encontros, nos quais eles se definem e se redefinem a todo o momento. Bernard foge da casa dos pais, e vai encontrar abrigo com Olivier, seu amigo. Os dois jovens, mais tarde, encontram o tio de Olivier, Édouard, um pouco mais velho que eles. O caleidoscópio de personagens e de situações vai se construindo sem uma ordem cronológica definida, e ao longo do texto vamos acompanhando um romance dentro de uma outra obra. Afinal, entre suas páginas lemos também, mas não só, os diários de Édouard, um escritor que planeja escrever um livro chamado de, precisamente, “Os moedeiros falsos”. Em seus escritos, ele descreve coisas do cotidiano, mas também reflete sobre o papel da literatura e do romance, utilizando-se assim da metaliteratura. Nesta forma inusitada de apresentar a história, Gide extrapolou as narrativas tradicionais e se consagrou como o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1947. O livro sai pela Editora Culturama com tradução de Débora Isidoro. Você pode comprar o livro aqui
 
Reedição do único livro organizado por Torquato Neto marcando os 50 anos da morte do artista.
 
Em novembro de 2022, contam-se 50 anos da morte de Torquato Neto. Para homenagear o grande tropicalista, o clube Círculo de Poemas lança O fato e a coisa, único livro organizado em vida pelo poeta. Nele, podemos ver o multiartista em seu rico período formativo, escrevendo desde sua Teresina natal ou circulando por Salvador e Rio de Janeiro, lendo Drummond, entusiasmando-se por Luís Carlos Prestes e encontrando os amigos da futura jornada tropicalista: “viva caetano e bethânia / (…) viva que eu os conheço / e eu os amo de longe ou perto”. Como outras coletâneas de textos do autor, O fato e a coisa foi publicado postumamente. Esta edição traz na íntegra o livro, além de uma seleção de outros poemas de juventude, com um novo estabelecimento do texto, feito por Fabrício Corsaletti e Thiago E, a partir de pesquisa no Acervo Torquato Neto, no Piauí. Thiago E assina também o posfácio do livro. A orelha é de Reinaldo Moraes. “Tenho rins e eles me dizem que estou vivo”, escreve Torquato num de seus versos. Passado todo esse tempo, sua obra segue viva e se espalha cada vez mais entre nós, fazendo a cabeça e o coração de gerações. O livro é publicado pela Luna Parque/ Fósforo. 
 
Um dos livros da literatura francesa de um dos mais discretos escritores franceses do século XX.
 
Uma narrativa onírica combinada a paisagens fantasmagóricas, às vezes assustadoras, constrói o cenário mágico de O litoral das Sirtes, romance considerado unanimemente a obra-prima de Julien Gracq (1910-2007), um dos principais e mais discretos escritores franceses do século XX. O volume, com tradução de Júlio Castañon Guimarães, traz de volta ao mercado editorial brasileiro um escritor há muito ausente, mesmo tendo, à sua época, chamado a atenção de leitores ilustres, como o crítico Antonio Candido. O litoral das Sirtes foi publicado na França em 1951, quando as tendências dominantes da literatura do país eram o existencialismo e o nouveau roman. A obra de Gracq, contudo, não guardava relação com essas correntes, se aproximando da tradição surrealista. O protagonista de O litoral das Sirtes é Aldo, filho de uma família aristocrática do país fictício de Orsenna, cidade-Estado governada por uma Senhoria, instância assemelhada a um conselho de notáveis. Orsenna, que vive um cotidiano de morosa decadência, se encontra há três séculos em guerra com uma nação vizinha, o Farghestão. De tão longo, o conflito estacionou em uma situação de paz virtual. No braço de mar que separa os dois estados, os barcos não ousam passar de uma linha imaginária a boa distância do inimigo. Aldo é enviado como observador civil à fortaleza do Almirantado do litoral das Sirtes, onde sua inquietação inicial é convertida em prudência pelo chefe do destacamento, o capitão Marino. Aldo entra em estado de contemplação entrecortada por conversas com o pequeno grupo de jovens militares do Almirantado e esporádicos momentos de revolta. Paralelamente, correm rumores de conspiração no mundo externo. O cotidiano comporta também encontros sociais. Numa dessas ocasiões, Aldo conhece Vanessa, que traz consigo o estigma de ser descendente de um traidor da pátria. A relação evolui para a intimidade e alguma transgressão. Num importante ensaio intitulado “Quatro esperas”, Antonio Candido inclui O litoral das Sirtes num conjunto de obras de outros escritores (Dino Buzzati, Franz Kafka e Konstantinos Kaváfis) em que a estagnação é elemento central. Para o crítico, há nelas uma atmosfera de “expectativa de perigos iminentes, quase sempre com suspeita de catástrofe”. Sobre o romance de Gracq em particular, Antonio Candido escreve que “a narrativa insinuante e opulenta, flutuando entre imagens carregadas de implicações, escorre como um líquido escuro e magnético no rumo de catástrofes possíveis, à vista de um horizonte selado pela morte”. O litoral das Sirtes guarda ainda outra relação com o Brasil. Numa entrevista no fim da vida, Gracq revelou que uma das fontes de inspiração para o romance foi Os sertões, de Euclides da Cunha, para ele um livro “que é uma aplicação, avant la lettre, das potencialidades do surrealismo”. Além de Euclides, Gracq era admirador devoto de escritores inclinados ao gênero fantástico como Edgar Allan Poe, Jules Verne e J.R.R. Tolkien. O livro é publicado pela Editora Carambaia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova tradução de um dos textos essenciais de Erich Auerbach sobre a obra-prima de Dante.
 
O presente estudo, Dante como poeta do mundo terreno, de 1929, é uma síntese extraordinária da Divina comédia, uma das obras centrais da literatura ocidental. Erich Auerbach, autor de Mimesis, teve uma relação intensa com o poema dantesco, manifesta ao longo de toda a sua vida, mas é sobretudo neste livro — pela primeira vez traduzido do alemão ao português — que ela se expressa plenamente. O crítico sustenta que não é possível compreendermos a Divina comédia sem a Summa Theologica de Tomás de Aquino, obra que sistematizou a doutrina dos primeiros Padres da Igreja, na qual a Verdade divina manifesta-se historicamente no mundo terreno. A grande proeza do poeta florentino, segundo Auerbach, foi justamente a de ser o primeiro autor a dar forma literária a essa concepção cristã, através da trajetória de personagens reais como Paolo Malatesta, Francesca de Rimini, Cacciaguida degli Elisei, São Francisco de Assis e outras figuras que nos falam vivamente até hoje. Com tradução de Lenin Bicudo Bárbara, coordenação editorial e revisão técnica de Leopoldo Waizbort e posfácio de Patrícia Reis, o livro é publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
O novo romance de Domenico Starnone no Brasil.

“No início da tarde do dia 6 de março de três anos atrás, perdi dois incisivos numa tacada só. Eram os que me serviam para pronunciar meu nome.” Assim começa Dentes, de Domenico Starnone, o consagrado autor de Laços. Após uma briga por motivos fúteis, em que a mulher lança um cinzeiro contra o marido, o protagonista tem seus dentes quebrados. A partir daí, um buraco de lembranças, obsessões e medos é aberto em sua vida. E tudo passa a doer. Com tradução de Mauricio Santana Dias, o livro é publicado pela Editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
A chegada ao Brasil da obra de Aurora Venturini.
 
Neste romance de formação, definido por Alan Pauls como “a meio caminho entre a autobiografia delirante e a etnografia íntima”, Aurora Venturini recria o território de sua infância na La Plata dos anos 1940 e, numa mescla desconcertante entre o trágico e o cômico, constrói o retrato de mulheres abandonadas que, para além da pobreza, são obrigadas a lidar com deficiências físicas, mentais e imaginárias. Enquanto frequenta “institutos para limitados”, em casa, a jovem Yuna cresce mergulhada no cotidiano precário de sua mãe “professorinha mixuruca e olhe lá”, no de suas primas Petra e Carina, também portadoras de deficiências, e de seus tios e tias, todos às voltas com os cuidados da irmã Betina, infantilizada para sempre em uma cadeira de rodas. Quando conhece o professor José Camaleón, entusiasta do seu talento para a pintura, Yuna vislumbra a possibilidade de escapar do que o destino parece ter lhe reservado. A cada palavra descoberta no dicionário e a cada nova tela pintada, ela acredita superar seu mundo de imperfeições, bem como o lar da “família estranha” onde cresceu. Esse viver áspero, repleto de histórias de estupro, aborto, prostituição e assassinatos, assombra as figuras observadas por Yuna e torna-se tema de sua arte, que garante melhorias materiais para a família e a esperança de se redimir da estranheza que as singulariza. Mas, se Yuna responde à opressão do mundo com a pintura, Petra se vale de toda sorte de ardil para sobreviver e vingar os seus. Com uma escrita definida por Mariana Enriquez em prefácio ao romance como radical, excêntrica, deformada e lúdica, Aurora Venturini estreou oficialmente na literatura latino-americana com As primas aos 85 anos, após uma vida repleta de momentos tão insólitos quanto curiosos — adjetivos que, aliás, também se aplicam à sua escrita. Com a voz inconfundível de Yuna, bem como sua mirada a um tempo cândida e brutal, perspicaz e ensimesmada, Venturini arrebatou os leitores argentinos para em seguida conquistar o mundo, lembrando-nos de que não há convenção literária que não mereça ser posta em xeque. Com tradução de Mariana Sanchez, o livro é publicado pela Editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Julian Barnes e um tributo à filosofia, uma cuidadosa avaliação da história e um convite ao pensamento.
 
Elizabeth Finch é professora de Cultura e Civilização para adultos de todas as idades. Uma mulher de presença vívida, reservada e autoritária, com caráter estoicamente singular, EF expõe ideias que desvendam antigas filosofias e exploram acontecimentos históricos decisivos que mostram como dar sentido à vida contemporânea. Ao morrer, Finch deixa seus escritos e diários para um ex-aluno, Neil, que torna-se o historiador da professora e, a partir de uma investigação criteriosa dos mistérios de sua existência, compõe um retrato fragmentado daquela mulher enigmática que, com pontos de vista radicais, o inspirava e estimulava a todos a pensar de forma independente. Como homenagem póstuma a EF, por quem Neil segue nutrindo um amor platônico, ele faz um estudo obsessivo de Juliano, o Apóstata, último imperador pagão de Roma e figura admirada por Finch, sobretudo por seu posicionamento desafiador ao pensamento monoteísta institucional que sempre ameaçou dividir a humanidade. Em uma exploração lírica e instigante da dor e dos mitos coletivos da história humana, Julian Barnes nos brinda com um olhar sobre as formas nada ortodoxas que o amor pode assumir. Elizabeth Finch é um tributo à filosofia, uma cuidadosa avaliação da história e um convite ao pensamento. Com tradução de Lea Viveiros de Castro, o livro é publicado pela Editora Rocco. Você pode comprar o livro aqui.
 
Misto de livro de memórias e teoria política que causou furor ao ser lançado no mundo de língua inglesa em 2021.
 
Este livro foi escrito ao longo do período de isolamento provocado pela pandemia de Covid-19. A experiência, ainda que em circunstâncias distintas, remeteu a autora ao lockdown vivido na Albânia, em 1997, em decorrência da guerra civil que sobreveio ao fim do regime socialista. Foi assim que nasceu Livre, misto de livro de memórias e teoria política que causou furor ao ser lançado no mundo de língua inglesa em 2021. Nascida na Albânia em 1979, Lea Ypi fala de seus anos de formação num país isolado pelo totalitarismo. Com humor e leveza, Ypi relembra a infância sob o regime socialista, a adoração aos líderes Enver Hoxha e Ióssif Stálin e a presença constante do Partido em todos os aspectos da vida. A consciência acerca do regime autoritário em que vivia se dá em paralelo ao processo de abertura política do país, que acaba resultando em uma guerra civil. O que torna a narrativa profundamente envolvente, além do amadurecimento político da pequena Lea, é a descoberta de como os pais e a adorada avó encobriam a realidade para protegê-la. Professora de teoria política e especialista em Marx, Lea Ypi apresenta o socialismo a seus alunos como uma teoria da liberdade humana. Enquanto seus pais acreditavam que o liberalismo traria liberdade, a autora não alimentava essa ilusão. Vem daí a singularidade deste livro: ao contrário do que desejariam alguns, a tomada de consciência da autora em relação aos descalabros do regime comunista não se traduz em aceitação ingênua das iniquidades do mundo. Livre é publicado pela Editora Todavia com tradução de Pedro Maia Soares. Você pode comprar o livro aqui.
 
Novo romance de finalista do Pulitzer narra quatro versões da mesma história.
 
Mesmo em meio ao caos e à efervescência dos loucos anos 1920, não há em Nova York quem não tenha ouvido falar do casal Benjamin e Helen Rask. Envoltos em uma aura de mistério e reverência, o lendário magnata de Wall Street e a herdeira de uma excêntrica linhagem aristocrática chegaram, juntos, ao topo de um mundo onde a riqueza parece não ter fim. A velocidade com que cada número registrado pelo teletipo é lido, interpretado e convertido em lucro por Benjamin parece absurda, irreal. A montanha de capital acumulado e o talento com que ele a ergueu, no entanto, causam inquietação na sociedade e muitas especulações sobre a capacidade de Rask prever cada próximo passo do mercado de ações. É nesse contexto que o casal Rask protagoniza um romance que supostamente disseca as verdades por trás do magnata, seu império e suas relações pessoais ― e que, além disso, causa um grande escândalo no coração financeiro dos Estados Unidos. Mas, ao longo das décadas, outras versões dessa história vêm à tona: um manuscrito, memórias de uma pessoa ligada ao casal e um diário perdido. Tudo que até então parecia consolidado como fato é questionado. Afinal, se a verdade sempre resulta da soma das faces de uma pirâmide, Confiança é a prova de que mesmo a mais sólida e monumental delas é frágil em um solo de areia. Entre tantas versões e pontos de vista, em qual acreditar? Caleidoscópico, o novo romance do finalista do Pulitzer Hernan Diaz é um tour de force que se desenrola ao longo de um século, um confronto contundente com os enganos que muitas vezes se escondem no âmago dos pactos pessoais e financeiros. Suas quatro vozes ora ampliam, ora recusam os limites entre fato e ficção, ilustrando a facilidade com que o poder é capaz de a tudo manipula. Com tradução de Marcello Lino, o livro é publicado pela Editora Intrínseca. Você pode comprar o livro aqui.
 
A tradução e nova edição de um texto fundamental para a filosofia da linguagem.
 
Havia uma questão tão antiga quanto a própria filosofia: o que é a linguagem? E ainda: como é possível que a linguagem espelhe o mundo, ou o nosso pensamento? O que há por trás da linguagem, e com que raízes ela consegue agarrar-se à realidade? Wittgenstein não respondeu a nenhuma dessas questões. Nesta obra-prima da história da filosofia, ele as substitui por outra, ao mesmo tempo mais sensata e mais profunda: como a linguagem faz parte de nossas vidas? O que emerge daí, por percursos inusitados, é uma filosofia que luta sem descanso para descrever a condição humana de um ponto de vista estritamente humano. Sem recorrer a discursos reconfortantes, porém vazios, sobre uma suposta essência das coisas e das ideias; mas também sem recorrer aos discursos, no fundo superficiais e dogmáticos, que em tudo buscam ver apenas ciência, e nunca conseguem se dirigir a assuntos propriamente humanos. Uma filosofia capaz de fazer jus a seres tão estranhos como nós. Seres que vivem e que falam. Seres que, falando, se comunicam. Seres, finalmente, que usam essa linguagem como seu mais precioso instrumento para se situar no mundo e para agir sobre ele, alcançando as mais surpreendentes realizações. A ideia de um progresso no campo da filosofia costuma ser rejeitada por aqueles que, com razão, a veem como um conjunto de questões imutáveis, profundamente arraigadas no espírito humano. Mas alguns pensadores e livros dão passos tão decididos na solução dessas questões que somos levados a reconsiderar essa posição inicial. Em Investigações filosóficas, somos apresentados a uma perspectiva revolucionária do que seja a filosofia e de como devem ser tratados seus problemas fundamentais. Uma vez compreendidas as ideias aqui expostas, dificilmente a filosofia poderá seguir na direção trilhada até então. A clareza que essa nova abordagem confere às questões mais profundas que o espírito humano jamais divisou, eis o progresso que devemos à obra-prima de Ludwig Wittgenstein. O livro agora publicado pela Editora Fósforo foi traduzido por Giovane Rodrigues e Tiago Tranjan e conta com posfácio de Marcelo Carvalho. Você pode comprar o livro aqui.
 
Prazer e dor, afeto e desprezo, desejo e obsessão — as marcas da narrativa de Viola Di Grado.
 
Após a perda do irmão gêmeo, uma professora se muda de Roma para Xangai, onde passa a ensinar italiano em uma escola de idiomas. Em meio ao torpor do luto e o choque cultural, ela conhece a enigmática Xu, para quem entregará o seu corpo e sua mente até confundir os limites entre prazer e dor, afeto e desprezo, desejo e obsessão. Mas é justamente nessas tensões entre opostos, excitadas pelas luzes e sabores de uma cidade que evoca o melhor e o pior do Oriente e do Ocidente, que ambas vão saciar uma fome que vai muito além daquilo que os dentes podem mastigar. Fome azul, de Viola Di Grado é publicado pela Editora Dublinense com tradução de Eduardo Krause. Você pode comprar o livro aqui.
 
Roberto Machado e o encontro de Proust com as artes.
 
A escrita de Roberto Machado se caracteriza pela clareza de ideias, talento lapidado em décadas de trabalho como pesquisador e professor. O título indica o objetivo de investigar uma filosofia da arte em forma literária, ou seja, de decifrar a reflexão estética de Em busca do tempo perdido. Esse objetivo pressupõe uma relação profunda entre estética e metafísica, já que a verdadeira arte, na concepção de Proust, deve dar conta da essência da realidade. Proust e as artes é publicado pela Editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Reedição do aclamado romance de Michael Cunningham que deu origem ao filme estrelado por Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore.
 
Em 1923, nos arredores de Londres, Virginia Woolf escreve Mrs. Dalloway enquanto tenta encontrar a tranquilidade em meio aos sintomas de um transtorno mental. A angústia também é constante na vida da dona de casa Laura Brown, que vive num subúrbio de Los Angeles em 1949 e se esforça para desempenhar o papel de esposa e mãe da melhor maneira possível. Já na Manhattan do fim dos anos 1990, a editora Clarissa Vaughan organiza uma festa para o amigo Richard, que tem aids em estágio avançado e acaba de ganhar um prêmio literário. Em As horas, que lhe rendeu o Pulitzer de 1999, Michael Cunningham explora a vida dessas três mulheres — a primeira real, as outras duas fictícias — unidas pelo não pertencimento e pelo desejo de encontrar profundidade nas experiências mais comuns. A tradução de Beth Vieira é reeditada na coleção Companhia de Bolso da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

Nova edição para a tradução de Irineu Franco Perpétuo para um dos livros principais de Dostoiévski.
 
Marco não apenas na trajetória de Dostoiévski, como na própria literatura universal, trata-se do texto que abre caminho para os grandes romances da maturidade do autor: Crime e castigo (1866), O idiota (1868), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1880). No panorama literário global, parece antecipar os abismos e paradoxos da melhor literatura da modernidade. A nova edição de Memórias do subsolo publicada pela Editora Todavia tem tradução de Irineu Franco Perpétuo e conta com ensaio de Tzvetan Todorov sobre essa obra-prima dostoievskiana. Você pode comprar o livro aqui.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Hilary Mantel.

Hilary Mantel nasceu em Derbyshire, Inglaterra em 1952. Destacou-se como escritora e crítica literária desde meados dos anos oitenta do século XX, quando publica o primeiro romance, Every Day is Mother’s Day. A vida profissional de Mantel, assim, assumiu um caminho bem distinto da sua formação. Em 1970, ela inicia seus estudos em Direito na London School of Economics e conclui um bacharelado em Jurisprudência três anos mais tarde na Universidade de Sheffield. Sua presença na literatura se marca com um retorno ao grande romance histórico, destacando-se com a série Thomas Cromwell, com a qual recebeu o Booker Prize por duas vezes seguidas, em 2009 com o primeiro título, Wolf Hall, e em 2012, com Bring Up the Bodies (Tragam os corpos). A série está publicada no Brasil; o terceiro volume intitula-se O espelho e a luz. Por aqui, também chegou aos leitores Oito meses na Rua Gaza (1988), Mudança de clima (1994), Um experimento amoroso (1995), O gigante Obrien (1999), Além da escuridão (2005), O assassinato de Margaret Thatcher (coleção de contos, 2014), entre outros. Mantel morreu no dia 22 de setembro de 2022.
  
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Um homem chamado Ove, de Fredrik Backman. A premissa desse romance deverá seduzir, talvez, pela maneira como assumimos nossa relação com entorno desacreditados do tempo corrente. O protagonista tem cinquenta e nove anos e um inveterado rabugento contra uma sociedade em que tudo se resume a computares e café instantâneo situado entre a decisão de colocar ou não um ponto final na sua vida depois da morte da única pessoa que amou. O livro está publicado pela Alfaguara, com tradução de Paulo Chagas. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Gelo, de Anna Kavan. Este é o último romance da escritora britânica e é um livro que confirma as qualidades que fizeram de Kavan um dos nomes de destaque na literatura inglesa do século XX. A narrativa segue três figuras inominadas, envolvidas num suposto triangulo amoroso e que buscam escapar da destruição que os aproxima. Com tradução de Camila Von Holdefer, o livro está publicado pela editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.  

 
BAÚ DE LETRAS
 
1. “Existem livros enigmáticos, livros malditos, encadernados com pele humana, livros gigantes, fisicamente enormes, minúsculos, livros liliputianos, que só podem ser lidos com a ajuda de uma lupa. E há livros absurdamente longos, experimentos com a linguagem e a paciência, livros transbordantes, escritos em segredo absoluto, praticamente para não serem publicados. Ao longo da história, a humanidade criou, e continua criando, uma biblioteca extravagante, um espaço povoado de raridades dentro de sua espécie e que até deu vida a novas espécies.” Leia mais aqui.
 
2. Em dezembro de 2018, meses depois da reedição no Brasil de O imoralista, Pedro Fernandes escreveu sobre este romance de André Gide para o LetrasLeia mais aqui.

3. Neste 24 de setembro de 2022, passam-se 160 anos do nascimento de Júlia Lopes de Almeida. Para sublinhar a data, recordamos este texto sobre um dos seus principais romances, A falência. Leia mais aqui.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Quando você se vira e olha para trás ao longo dos anos, você vislumbra os fantasmas de outras vidas que você poderia ter levado; todas as casas são assombradas.
 
― Hilary Mantel


A arte aperfeiçoa, não perverte ninguém.

― Júlia Lopes de Almeida, A mulher e arte

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