Boletim Letras 360º #497
DO EDITOR
1. Caro leitor, com várias mãos
sempre podemos mais. Por isso, as várias possibilidades abertas para que você faça
parte da nossa história de quinze anos. Convido o leitor a conhecer sobre o clube de apoios e as alternativas para ajudar este blog com o pagamento das
despesas de hospedagem na web e domínio.
2. Agora que o pacote com os três
livros do último sorteio, realizado no início do mês, chegou às mãos do nosso leitor-apoiador, já é possível
dizer quais os próximos títulos. Então, esteja atento aos próximos dias em
nossas redes sociais.
3. Dessa vez, dois Kits com livros
oferecidos pela editora independente Trajes Lunares. E lembro que: a aquisição
de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto
e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso.
4. Um excelente final de semana
com descanso e boas leituras!
Michel Houellebecq. Foto: Philippe Matsas. |
LANÇAMENTOS
Um romance total do vencedor do prêmio Goncourt, um thriller com nuances
esotéricas, sátira política e drama familiar.
Paul Raison é um funcionário de meia-idade que ocupa um cargo de
confiança no Ministério da Economia francês. Apesar do êxito na profissão, sua
relação com a mulher está arruinada, e sua vida foi sugada por um vazio
existencial. Suas atribuições no governo, no entanto, estão longe de ser
pacatas. Ele tem de lidar com um grupo terrorista poderoso, que ameaça seu
superior direto, o ministro Bruno Juge. Nesse meio tempo, Juge está engajando
em uma corrida eleitoral, como candidato a vice-presidente, e Paul é seu
interlocutor mais próximo. Em meio ao calor das ameaças e das disputas, o pai de Paul tem um
acidente vascular cerebral, o que o obriga a viajar ao interior da França para
reencontrar a madrasta e seus dois irmãos, com quem nunca teve boas relações.
Aniquilar é uma crítica incisiva à sociedade
contemporânea, mas desta vez Michel Houellebecq mergulha mais fundo ao encarar
a dor da perda e o medo na iminência da morte. Com tradução de Ari Roitman, o livro é publicado pela Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
Natalia Ginzburg, capaz de extrair das miudezas do dia a dia um profundo
sentido humano.
Um conjunto de cartas narra a vida de um grupo de amigos na Itália da
virada dos anos 1970 para os 1980. A história começa com a ida de um deles para
os Estados Unidos, onde o plano de viver com o irmão professor em Princeton
parece promissor, e termina no relato resignado que uma mulher, devastada pela
passagem do tempo, faz de um antigo amante com “longo nariz” e mãos “sempre
frias, mesmo quando fazia calor”. Entre uma coisa e outra há mortes,
desencontros, separações. É verdade que A cidade e a casa pode ser lido
a partir da dicotomia sugerida pelo próprio título: um romance sobre a
dissolução familiar que reflete (ou impulsiona) uma dissolução maior, numa
época politicamente turbulenta para a sociedade italiana. Mas a melancolia é só
um ponto de partida: a energia da prosa de Natalia Ginzburg, autora capaz de
extrair grande intensidade e beleza do cotidiano, é um farol que sempre aponta
para um mundo mais humano e generoso. Nos variados tons das cartas, que
acompanham o estado emocional de cada remetente, a singeleza das motivações tem
o mesmo sentido ambíguo. Percebemos o que está oculto nas entrelinhas, os
segredos, as pequenas trapaças. A empatia chega a quem lê de modo natural,
irresistível. Um romance de rara beleza de uma autora fundamental. A tradução
de Iara Machado Pinheiro é publicada pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
No ano do centenário de José Saramago, Leyla Perrone-Moisés oferece uma
coletânea de ensaios sobre a obra e o legado do escritor português.
“Artemages”, segundo José Saramago em Manual de pintura e caligrafia,
era como as pessoas do Alentejo chamavam as artes mágicas. Único escritor de
língua portuguesa a receber o Nobel de literatura, ele usava de elementos
fantásticos em obras realistas para retratar a sociedade contemporânea e suas
nuances e contradições. Neste livro-homenagem, Leyla Perrone-Moisés reúne
textos inéditos e materiais já publicados em revistas e jornais para construir
um guia para a obra de Saramago. São ensaios que abordam clássicos como Ensaio
sobre a cegueira, O evangelho segundo Jesus Cristo, Memorial do
convento, Todos os nomes, A caverna, entre outros, e
evidenciam a magia incontestável do autor. “Ao me lançar nessa dispensável
aventura de comentar seus romances, devo declarar que o faço para prolongar o
prazer de sua leitura, mais do que para pretender elucidá-los”, declara a
autora na introdução, unindo a admiração que guarda por Saramago à sua exímia
experiência como crítica literária. Um presente ao leitor mas também ao
escritor, em uma celebração terna ao seu legado incontornável. As artemages
de Saramago: Ensaios é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Uma ode sincera, comovente e bem-humorada à liberdade e ao poder
emancipador da rebeldia juvenil.
À beira do colapso do sanguinário regime comunista romeno, Paul, um
jovem estudante de filosofia, é expulso da faculdade e aproveita para se
dedicar a uma banda de rock, ao lado de seu melhor amigo, Fane. Mesmo sem
experiência musical, os dois montam uma resistência improvisada, construindo ao
lado de uma garçonete de 20 anos um refúgio artístico contra a opressão
totalitária. O romance de estreia de Catalin Partenie é uma ode sincera,
comovente e bem-humorada à liberdade e ao poder emancipador da rebeldia juvenil
escrito a partir da experiência autobiográfica de quem vivenciou as agruras da
ditadura de Ceausescu com uma Fender vermelha na mão a mesma retratada na capa
do livro. O som do vermelho tem tradução de Tanize Mocellin Ferreira e
sai pela DBA Editora. Você pode comprar o livro aqui.
O livro-conto-oração de Calila
das Mercês.
Planta Oração, de
Calila das Mercês, é livro-poema-conto que faz a junção da oralidade com a
ancestralidade. São as aberturas dos contos, criadas a partir de um som
ritmado, que nos lembram de mantras ou ladainhas e vão se apresentando em repetições,
que acolhem o ouvido e nos preparam para um novo conto-oração. Cada texto forma
um galho desse tronco-texto carregado de memórias-palavras da autora. O livro é
publicado pela Editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
Uma heroína singular às
vésperas da Revolução Francesa.
Presa a uma rotina de trabalho no
ateliê parisiense do marido alfaiate e aos cuidados dos filhos, após uma
estadia de pouco mais de um mês na casa do pai, onde testemunha e experimenta
os prazeres e luxos da alta burguesia emergente, a senhora Montjean se revolta:
não quer mais trabalhar nem cuidar da prole e se lança numa vida vertiginosa.
Com muito ruge nas bochechas, passa os dias entre passeios pelos parques e
bulevares de Paris, almoços e jantares regados a muita bebida e jogos
sexualizados com novos amigos — para desespero do marido, que vê a reputação da
família se arruinar, assim como o seu patrimônio. É por meio do diário de um
marido perplexo que acompanhamos em detalhes a reviravolta dessa mulher tomada
por um irrefreável desejo de emancipação e de ascensão social, seduzida pela
vida libertina da aristocracia da época. Nas mãos de Arlette Farge, uma das
historiadoras de maior prestígio da atualidade, a saga do casal se transforma
em um caleidoscópio através do qual vemos de perto a sociedade urbana francesa
de fins do século XVIII, suas relações e mentalidades, que são o prelúdio da
Revolução Francesa. A revolta da senhora Montjean: A história de uma heroína
singular às vésperas da Revolução Francesa é publicado pela Editora Bazar
do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.
Os dois primeiros romances de Samuel Beckett em nova edição no Brasil.
1. Num quarto de pensão fuleiro, situado no subúrbio de Londres, nu e
amarrado por vontade própria a uma cadeira de balanço, Murphy se esforça por
fugir aos encantos do mundo exterior, aos apetites do corpo, e se refugiar nas
profundezas da sua mente. Ao contrário do sol, que na abertura desta obra
brilha, “sem alternativa, sobre o nada de novo”, em Murphy, Samuel
Beckett não apenas inova, como inscreve seu nome na tradição da alta comédia
filosófica, conferindo forma pessoal ao gênero praticado por Cervantes,
Rabelais, Joyce, entre outros. Arquétipo do solipsismo dos heróis beckettianos,
“nascido aposentado”, o protagonista sonha com um mergulho em seus abismos
interiores, entregue a uma vida mental e livre de compromissos mundanos:
mulheres (a noiva deixada para trás ao trocar Dublin por Londres; a namorada
que insiste para que arrume um emprego), amigos (o poeta Ticklepenny; o
filósofo de quem se fez discípulo; um pitagórico) e figuras inconvenientes
ocasionais (o detetive contratado para localizá-lo, por exemplo). Numa
narrativa em que o primor estilístico não é o menor dos prazeres — “no
princípio era o trocadilho”, proclama, joyceano, o romance —, Beckett corta as
amarras com a convenção realista e se impõe, inventor de linguagem, desde o
princípio. Você pode comprar o livro aqui.
2. Depois do brilho virtuosístico de Murphy, seu romance de
estreia, Samuel Beckett saiu-se com Watt, de 1953. Confirmando seu
talento único, a narrativa marcou também uma guinada, anunciando o Beckett que
acabou por se notabilizar: aquele atento ao papel que a impotência e a falha
jogam na experiência humana, mas sem perder o humor, jamais. Escrito na
clandestinidade, entre fugas da Gestapo e colheitas de uvas, no sul da França
ocupada, Watt acompanha a saga do personagem-título, um “funâmbulo cambaleante”
e campeão da razão inquiridora que se vê acuado, hostilizado e posto à margem
pelos tipos (memoráveis) em que esbarra — encarnações de um mundo irracional,
mas convencidos de sua própria importância e seriedade. Divertido, corrosivo,
exigente e único, erguido entre escombros das convenções narrativas e
assombrado pela falência iminente da linguagem, bebendo em resquícios da
memória da infância dublinense do autor, Watt tem lugar único na galeria dos
heróis beckettianos. Os dois livros foram traduzidos por Fábio de Souza Andrade
e são publicados pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Edimilson de Almeida Pereira estreia na José Olympio com livro de poemas
dedicado a seu amigo Milton Nascimento, que completa 80 anos.
Um ano após vencer, com livros diferentes e em um intervalo de quinze
dias, o Prêmio São Paulo e o Oceanos, Edimilson de Almeida Pereira, um dos
escritores contemporâneos mais renomados, estreia na Editora José Olympio com O
som vertebrado. Organizado em quatro partes — “Mapa em colapso”, “O som
vertebrado”, “Escavações” e “Porte étoile” –, o livro apresenta quarenta e
cinco poemas inéditos, que dialogam com forças naturais, humanas, maquínicas e
espirituais. Nestas páginas, despontam cantos advindos dos mais de quatrocentos
anos de trabalho de escavação nas terras de Minas Gerais. Os ecos desse ofício
ainda estão impressos no relevo, nos animais, nas construções e nas pessoas; e
são expostos aqui nas palavras do premiado escritor Edimilson de Almeida
Pereira. Conforme Evando Nascimento indica no texto de orelha do livro,
“Trata-se de experiência outra, diferencial, de um poeta latino-americano, cuja
textualidade se faz por matrizes ocidentais e não ocidentais, rompendo com os
imaginários limites geográficos. [...] É uma poesia que passa incessantemente
do individual ao coletivo, e vice-versa. Sobressai-se, desse modo, uma
inteligência extremamente sensível, reunindo humanos, minerais, plantas e
animais, por vezes numa mesma dor. [...] Dedicado a nosso trovador maior,
Milton Nascimento, O som vertebrado se afirma como uma cosmopolítica
babélica, com signos disseminados em defesa da vida nas mais variadas feições”. Você pode comprar o livro aqui.
Um olhar emocionante sobre os eventos que moldaram a história recente do
Brasil por uma das vozes mais admiráveis da poesia contemporânea.
Neste longo e comovente poema, a autora do premiado Solo para Vialejo
narra um episódio ainda pouco comentado na história recente do Brasil: a
Guerrilha do Araguaia. Ao entrelaçar memórias pessoais, acontecimentos
históricos e referências culturais das décadas de 1960 e 1970, Cida Pedrosa
constrói um retrato brutal do autoritarismo e da violência do Estado — mas
revela também uma inabalável esperança em construir outro futuro. Para o poeta
Edimilson de Almeida Pereira, que assina a orelha do volume, “Cida Pedrosa
responde às ruínas da história com um poema-mundo que, movido pela utopia de
falar a todos sobre tudo, exorciza o horror e se ancora firmemente, como
testemunha a poeta, numa ‘esperança andarilha’”. Araras vermelhas sai
pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Um testemunho pungente e
honesto de um sobrevivente dos campos de concentração.
Habitar as trevas traz o
testemunho comovente Fred Sedel, sobrevivente dos campos de concentração Neste
livro preciso e honesto temos a história de um homem sozinho diante das
inconcebíveis atrocidades nazistas. Um relato duro, porém essencial, para que
os erros do passado não sejam repetidos. Com tradução de Lucília Teixeira, o
livro sai pela Editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
As passagens de Armando Freitas Filho pelos territórios da prosa.
Após décadas de dedicação à poesia, Armando Freitas Filho publica pela primeira vez sua prosa reunida em um volume que celebra a força da memória. Os textos de Só prosa — alguns inéditos e outros publicados na imprensa ou em plaquetes — perfazem a formação literária de um dos principais poetas brasileiros. Estão reunidas as lembranças do primeiro contato com os livros, entremeadas por relances da Copa do Mundo de 1950, reflexões sobre o ofício da escrita e anotações sobre a implacável passagem do tempo, tendo sempre como pano de fundo a paisagem do Rio de Janeiro. Ana Cristina Cesar, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar e Carlos Sussekind são alguns dos nomes que recebem o atento e singular olhar do autor. Dividido em duas partes — “Eu” e “Eles” —, este livro é um mergulho na própria trajetória afetiva e intelectual de Freitas Filho. Você pode comprar o livro aqui.
O novo romance de Carola Saavedra: uma viagem onírica pela Cordilheira
sul-americana, em que ancestralidade e identidade se confundem — e se confirmam
— através dos muitos fragmentos que recompõem o passado, o presente e o futuro.
Prosa, diário, teatro — são esses gêneros narrativos a contornar a
Cordilheira que atravessa este romance. Em uma incursão introspectiva, que
perpassa a América Latina e seu passado marcado por invasões, massacres e
lutas, Carola Saavedra se volta para questões individuais ao mesmo tempo em que
se expande para um universo coletivo. Como escreve Julie Dorrico na orelha
desta edição, a “Cordilheira, essa personagem não humana, expõe uma antiga
ferida que perdura neste continente: a farsa da identidade nacional singular já
combalida de tantas mentiras”. Com este livro intenso e provocativo, Carola
Saavedra mais uma vez se confirma como uma das grandes escritoras brasileiras
do século XXI. O manto da noite é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Mais Carlos Drummond de Andrade. A
nova casa do poeta publica novas edições de A rosa do povo e As
impurezas do branco; os livros trazem novos posfácios de Affonso Romano de
Sant’Anna e Bruna Lombardi, respectivamente.
Ainda Carlos Drummond de Andrade.
A editora Record publica ainda as antologias Quando é dia de futebol,
com posfácio de Pelé e O gato solteiro e outros bichos.
A homenageada da Flip 2022. A Festa Literária Internacional
de Paraty (FLIP), que alcança em 2022 duas décadas, homenageia a primeira
romancista negra brasileira, Maria Firmina dos Reis.
REEDIÇÕES
Nova edição de um dos principais livros de Autran Dourado.
Numa pequena cidade do interior mineiro, Rosalina vive enclausurada num
antigo sobrado, construção iniciada por seu avô, o truculento coronel Lucas
Procópio, e continuada por seu pai, João Capistrano. Afastada de todos,
Rosalina conta apenas com a companhia de Quiquina, uma empregada muda, e de
relógios parados. Mas a chegada de José Feliciano, ou Juca Passarinho, promete
transformar para sempre a rotina cativa da moça, única e solitária herdeira da
família Honório Cota. Selecionada pela Unesco para integrar a Coleção de Obras
Representativas da Literatura Universal, esta obra-prima de um dos mais
importantes escritores brasileiros do século XX traz para a literatura a
orquestração trágica de uma verdadeira ópera. A nova edição de Ópera dos
mortos é publicada pela HarperCollins e conta com prefácio de Itamar Vieira
Júnior. Você pode comprar o livro aqui.
Coletânea relançada pela Alfaguara, nos mostra a dimensão multifacetada
de João Cabral, oferecendo aos leitores um mergulho em sua poesia.
Lançada originalmente em 2010, com o título João Cabral de Melo Neto:
poemas para ler na escola, esta antologia ganha agora uma edição ampliada,
mostrando sua atualidade e relevância. João Cabral de Melo Neto, autor de um
dos poemas mais conhecidos da nossa literatura — Morte e vida severina —,
é dono de uma poesia atemporal, que influenciou gerações de leitores. Ao
contemplar diversas fases da trajetória artística do poeta, esta seleção traz
também seus temas mais emblemáticos, tornando-se uma perfeita porta de entrada
para os que querem ter contato com sua obra, sem desconsiderar aqueles que já
estão familiarizados com ela. A educação pela pedra, Museu de tudo
e Uma faca só lâmina são apenas alguns dos livros que emprestaram seus
versos para Poesia, te escrevo agora, que se divide em quatro partes:
figuras e paisagens; o nordeste, seus heróis e destino; objetos; e, o poeta. Ao
fim, é possível vislumbrar com nitidez a engenharia poética e a genialidade
deste admirável escritor. Você pode comprar o livro aqui.
OBITUÁRIO
Morreu Javier Marías.
Javier Marías nasceu em Madri a 20 de setembro de 1951. Formado em
Letras e especializado em Filologia, trabalhou como roteirista e tradutor antes
de publicar seu primeiro livro, Os domínios do lobo, em 1971. Exerceu
atividades de docência em Literatura Espanhola e Teoria da Tradução na
Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. Entre romances, ensaios e coletâneas de
contos, escreveu mais de trinta livros, entre eles Coração tão branco, Os
enamoramentos, Assim começa o mal, além da trilogia Seu rosto amanhã.
Apostado algumas vezes para o Prêmio
Nobel, o escritor recebeu vários outros reconhecimentos importantes, como o
Prêmio Herralde (1986), o Prêmio Rómulo Gallegos (1995) e o Prêmio
Iberoamericano de Letras José Donoso (2008). Javier Marías morreu a 11 de
setembro de 2022 em Madri.
Morreu Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Aguiar e Silva nasceu em Real, a 15 de setembro de 1939. Professor,
pesquisador, escritor e poeta, iniciou os estudos no Liceu Nacional de Viseu.
Concluiu o curso de Letras/ Filologia Românica na Universidade de Coimbra, e
depois de obter o seu doutoramento em Literatura Portuguesa, assumiu a carreira
de professor na Faculdade de Letras da mesma universidade em 1979. Depois
passou a trabalhar na Universidade do Minho, onde foi Professor Catedrático do
Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos
Humanísticos e a revista Diacrítica. Destaca-se como um dos mais importantes
exegetas dos estudos camonianos — sobre o poeta de Os lusíadas, publicou
vários títulos, incluindo a coordenação do monumental Dicionário de Luís de
Camões; seu manual Teoria da literatura se tornou presença constante
entre estudiosos da literatura. Recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio
Camões em 2020 e o Prêmio Vergílio Ferreira em 2003. Vítor Manuel de Aguiar e
Silva morreu a 12 de setembro de 2022.
Morreu Antonio Arnoni Prado.
Arnoni Prado nasceu em São Paulo, em 1943. Concluiu mestrado e doutorado
pela Universidade de São Paulo. Foi professor no Departamento de Teoria
Literária da Unicamp. Entre seus trabalhos incluem-se a edição da crítica
literária dispersa de Sérgio Buarque de Holanda em O espírito e a letra (Companhia
das Letras, 1996, 2 vols.), e várias coletâneas de ensaios críticos como Trincheira,
palco e letras (Cosac Naify, 2004), Itinerário de uma falsa vanguarda:
os dissidentes, a Semana de 22 e o Integralismo (Editora 34, 2010, Prêmio
Mário de Andrade da Fundação Biblioteca Nacional), Lima Barreto: uma
autobiografia literária (Editora 34, 2012) e Dois letrados e o Brasil
nação (Editora 34, 2015, vencedor do Prêmio Rio de Literatura na categoria
ensaio). Mais recente, estreou na ficção com o romance O último trem da
Cantareira (Editora 34, 2019). Antonio Arnoni Prado morreu a 11 de setembro
de 2022.
DICAS DE LEITURA
A obra de Maria Firmina dos Reis, do
que chegou até nós, é breve e irregular. Até ser resgatada em meados dos anos
setenta com seu único romance, sabe-se que muito do seu trabalho se perdeu — os
diários, por exemplo, foram comprometidos pela própria família que não via como
bons modos o trabalho de escritora da professora maranhense. A escolha do seu
nome para um dos mais importantes eventos literários da América Latina é, por
isso, singular. Poderia ser a ocasião, se as coisas fossem planejadas no país do
improviso, para uma publicação entre nós de uma edição criteriosa da sua obra
completa, dispersa nas mãos de editoras mais preocupadas com o nicho comercial
que qualidade do que publicam. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos
links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
1. Úrsula. O romance de
Maria Firmina dos Reis já recebeu várias edições e para gostos dos mais
variados leitores. Se não a melhor, mas a mais recomendada é que foi publicada
pela Penguin-Companhia em 2018. O livro de feição ultrarromântica é variadamente
pioneiro: um dos primeiros romances de autoria feminina no Brasil e integrado a
uma tradição da qual Harriet Beecher Stowe foi precursora, o romance de
denúncia do escravismo contra negros no passado colonial da América. Você pode comprar o livro aqui.
2. A escrava: antologia de
prosa e versos. Além do romance, Maria Firmina dos Reis escreveu novela e poesia.
O conto “A escrava”, a novela “Gupeva” e mais de trinta poemas dos livros Cantos
à beira-mar e da antologia Parnaso maranhense foram reunidos nesta
antologia aqui recomendada, publicado no âmbito da coleção Obras Escolhidas, editada pela Editora Hedra. A organização é de Rodrigo Jorge Ribeiro Neves. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. No dia 17 de setembro de 1883, nasceu o poeta William Carlos Williams, de quem continuamos à espera seja da reedição de uma antologia da sua poesia preparada por José Paulo Paes ou uma nova edição com sua obra. Do blog da revista 7faces, estes poemas.
BAÚ DE LETRAS
1. Serotonina foi antes de Aniquilar
o livro de Michel Houellebecq publicado no Brasil. O romance também
publicado pela Alfaguara Brasil, foi lido e comentado por Pedro Fernandes neste texto.
2. Ao referir o nome de Harriet
Beecher Stowe, na seção Dicas de Leitura, recordamos a publicação sobre a
escritora estadunidense aqui; e, na mesma linha de interesse que une esta
escritora à brasileira Maria Firmina dos Reis, vale ler este texto de Fábio Ferreira
Barreto, “Vozes femininas negras”.
DUAS PALAVRINHAS
Sim, todos nós somos arremedos de gente que quase nunca conhecemos, gente que não se aproximou ou passou ao largo na vida de quem agora queremos, ou que se deteve mas se cansou com o tempo e desapareceu sem deixar rastro ou só a poeira dos pés que vão fugindo, ou que morreu para aqueles que amamos causando-lhes mortal ferida que quase sempre acaba cicatrizando.
― Em Os enamoramentos, de Javier Marías
Senhor Deus! Quando calará no
peito do homem a tua sublime máxima — ama a teu próximo como a ti mesmo —, e
deixará de oprimir com tão repreensível injustiça seu semelhante!…
― Em Úrsula, de Maria
Firmina dos Reis
...
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