Boletim Letras 360º #496
DO EDITOR
1. Caro leitor, no sábado, 3 set. ’22,
divulgamos aqui no blog e em todas as nossas redes de convívio virtual o
resultado do sorteio entre os apoiadores do Letras. O pacote com os três
livros seguiu para as mãos do ganhador na segunda-feira.
2. Os próximos sorteios incluem
livros da editora independente Trajes Lunares. Em breve, divulgamos aqui e nas
redes quais são os títulos. Convido o leitor a conhecer mais sobre o clube de apoios
e outras alternativas para ajudar o blog com o pagamento das despesas de
hospedagem na web e domínio. Você obtém todas as informações aqui.
3. E lembro que: a aquisição de
qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você ganhar descontos e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso. Toda ajuda é bem-vinda
4. Obrigado por tudo. Um bom final de semana com
descanso e boas leituras!
Samuel Becektt. Foto: Henri Cartier-Bresson |
LANÇAMENTOS
A Relicário Edições publica a poesia completa de Samuel Beckett.
A escrita em verso de Samuel Beckett (1906-1989) está presente desde o
início de sua obra literária e o acompanha ao longo de toda a trajetória até
seu último texto, escrito já no leito de hospital. Ela não é, como afirmam
alguns, apenas um “laboratório” de sua prosa: funciona antes como lugar de
condensação de uma série de referências pessoais e literárias, por meio das
quais o autor vai dando tratos à própria concepção de literatura. Nos versos de
Beckett, observamos a recusa da postura poética autocomplacente e a exploração
dos desvios da elegância convencional, dando livre curso à matéria baixa, ao
humor ácido, ao jogo de palavra e à “gagueira” (como diz Deleuze) estilística.
Estão aí em jogo tanto uma sensibilidade muito viva em relação ao drama (ao
“absurdo”) existencial, quanto a contínua militância contra a estupidez humana,
em suas diversas manifestações. Beckett, como se sabe, é um dos raros autores
que realiza ele próprio a tradução de vários de seus livros, construindo uma
obra em francês e em inglês. Desafia, assim, a ideia de “original” e faz da
relação entre idiomas um aspecto não acessório, mas integrado ao sentido da
experiência literária. Como não podia deixar de ser, a prática está também na
produção em versos, mostrando como a tradução é um tipo de escrita e,
inversamente, como a escrita já é uma forma de tradução – isto é, que o
interesse da escrita não está em sua singularidade estável, intocável, mas no
gesto do transitar e do desdobrar, de um ter lugar em corpo e experiência.
(Texto de Marcos Siscar). A tradução é de Marcos Siscar e Gabriela Vescovi. Você pode comprar o livro aqui.
Nova tradução brasileira para uma das obras clássicas da literatura
anglo-saxônica.
“Hwæt!” Era gritando essa palavra que J. R.
R. Tolkien, o genial autor de O Senhor dos Anéis, iniciava suas aulas de
inglês antigo na Universidade de Oxford. Os alunos, temerosos, corriam para
seus lugares: eles não sabiam que o professor estava apenas recitando os
primeiros versos de “Beowulf”, o mais célebre poema da literatura
anglo-saxônica, composto no século VIII e que até hoje entusiasma leitores no
mundo inteiro, de investigadores acadêmicos a fãs de RPG. Ambientado na
Escandinávia dos séculos V e VI, em meio a uma natureza mítica, formada por
mares, penhascos, pântanos, cavernas e seres fantásticos saídos das sombras, e
tendo como centro da vida social o grandioso “salão do hidromel”, o poema narra
os feitos do herói Beowulf, que livra a corte do rei Hrothgar do temível
Grendel, um monstro aterrorizante, e, cinquenta anos depois, tem um novo e
decisivo confronto, desta vez com um dragão alado. Esta obra de intensa poesia,
repleta de imagens inesquecíveis e com ecos da Ilíada, da Eneida,
dos Evangelhos, da mitologia nórdica e das grandes sagas germânicas,
capturou a imaginação de vários artistas e escritores de nosso tempo, entre
eles Jorge Luis Borges, que assina o prefácio deste volume. Publicado em edição bilíngue, Beowulf e
outros poemas anglo-saxônicos (séculos VIII-X) conta com a bela e fluente
tradução em prosa de Elton Medeiros, autor também das elucidativas notas e de
um abrangente posfácio em que contextualiza histórica e literariamente a
produção da obra bem como sua recepção, desde a descoberta do manuscrito, em
1705, até os mais recentes desdobramentos da crítica no século XXI. O livro sai
pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
É publicado no Brasil livro que descreve a teogonia e a cosmologia dos
babilônios.
Após o esforço de aprendizado de uma nova língua, o acádio, para
empreender a tradução da Epopeia de Gilgamesh, Jacyntho Lins Brandão nos
brinda agora com a transposição ao português de outro poema babilônico, Epopeia
da criação, conhecido também como Enuma Eliš. Ele foi composto há
pouco mais de três mil anos, na língua do ramo semítico identificada em meados
do século XIX e chamada “acádio” pelos estudiosos que a decifraram, em
referência à cidade de Akkad, capital do império de Sargão, no século 24 a.C. O
texto foi localizado em 1849 nas ruínas da biblioteca do rei Assurbanípal, em
Nínive (próximo da atual Mossul, no Iraque). Enuma Eliš descreve a
teogonia e a cosmologia dos babilônios: a criação do mundo, a luta entre os
deuses pela supremacia, a criação da humanidade para servir a divindade.
Diversas passagens de alto valor poético contêm episódios que foram
aproveitadas em literaturas posteriores, como as mitologias assírias e os
escritos bíblicos do Gênesis. O livro é
publicado pela editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
Uma coleção de pequenos grandes
clássicos.
1. O Quebra-Nozes. É véspera de Natal e os irmãos Fritz e Marie
aguardam ansiosos pelos seus presentes. O padrinho das crianças, fabricante de
relógios e brinquedos, é quem os surpreende com o item mais encantador: um
castelinho completo com diminutas figuras ricamente adornadas. Entre elas, há uma bem peculiar, que desperta
a curiosidade da pequena Marie: um quebra-nozes. Por trás de seus olhos vítreos
e seu sorriso incomum, pulsa um mistério que atravessa gerações e uma trama
plena de aventuras, envolvendo princesas enfeitiçadas, ratos vingativos e um
príncipe vítima de uma terrível maldição. Quando Fritz lasca os dentes do
boneco, após obrigá-lo a quebrar muitas nozes, Marie se solidariza, tomada de
compaixão pela inanimada figura de madeira. Mas, ao soar da meia-noite, ela
terá uma grande surpresa. Afinal, nem todos os brinquedos são inanimados quanto
ela pensa... Fruto da imaginação exuberante do autor E.T.A. Hoffmann
(1776-1822), considerado um dos pais da literatura fantástica, O
Quebra-Nozes é um clássico pleno de magia capaz de instigar e divertir
leitores de todas as idades. Tecendo fábulas dentro de fábulas, Hoffmann amarra
sua narrativa de forma brilhante e nos mostra que, para afortunados sonhadores,
é fácil atravessar os limites entre realidade e fantasia. A história inspirou
inúmeras outras que surgiram depois dela, incluindo clássicos que vão desde Pinocchio
até a aclamada franquia de animação Toy Story. E foi fonte de inspiração
ainda para o afamado balé de Tchaikovsky, representado tradicionalmente na época
do Natal. Esta fábula imortal agora ganha vida nova com as artes e cores
deslumbrantes da ilustradora anglo-finlandesa Sanna Annukka. A nova edição publicada
pela DarkSide assinala o bicentenário de E. T. A. Hoffmann e tem tradução de
Débora Isidoro. Você pode comprar o livro aqui.
2. Pinóquio. Ela ganhou vida em 1881 e vive até hoje
dentro de nós: a criação mais poderosa de Carlo Collodi, um marceneiro das
palavras que foi capaz de esculpir em nossos corações o amor eterno por um
boneco de madeira. “Cuidado pro seu nariz não crescer!” Todo mundo em algum
momento da vida já ouviu esta fabulosa advertência, que remete ao boneco de
madeira mais famoso da literatura, cujas aventuras agora são publicadas pela
DarkSide. As Aventuras de Pinóquio: História de uma Marionete começaram
a ser publicadas de forma seriada. Desde então, Pinóquio jamais deixou de ser
reeditado, e a obra já foi traduzida para mais de 240 idiomas e dialetos, além
de servir de base para inúmeras adaptações. Célebre pela animação da Disney, a
história de Pinóquio é uma trama surpreendente que mescla elementos dos contos
de fada com traços da literatura satírica, do teatro de rua, e mesmo do gótico.
Acompanhamos a trajetória errante de Pinóquio, que começa como um pedaço de
madeira que serviria de lenha, mas é transformado pelo carpinteiro Geppetto em
um boneco. Logo, no entanto, algo passa a inquietá-lo: Pinóquio deseja se
tornar um menino de verdade. A nova edição com tradução de Gianluca Manzi e Léa
Nachbin, conta como textos de introdução, posfácio, perfil biográfico de Carlo
Collodi e as ilustrações que resgatam a atmosfera original da fábula feitas por
Lorde Jimmy. Você pode comprar o livro aqui.
3. A rainha da Neve. Publicado em 1844, esse conto de
fadas é um dos mais amados do autor dinamarquês Hans Christian Andersen.
Adaptado para uma animação musical pela Disney em 2013, encantou uma nova
geração de fãs, que entoou com orgulho “Livre Estou”, sua canção mais popular.
Agora chegou a hora de conhecer a versão original deste clássico. Com uma
atmosfera mágica, A Rainha da Neve é uma aventura sobre amizade, coragem
e esperança. Acompanhe a história de Gerda e seu amigo Kay, duas crianças capazes
de sonhar um mundo à parte da realidade, muito além do olhar dos adultos, que
têm suas vidas transformadas pela interferência de uma criatura diabólica. Essa
criatura cria um espelho que distorce a realidade, produzindo reflexos
enganosos. Quando o espelho se espatifa, os cacos retêm seu poder nefasto e se
espalham pelo mundo, levando trevas, desunião e perversidade a todos que entram
em contato com eles. Um dos cacos se
aloja no coração do pequeno Kay que, suscetível às armadilhas malignas, se
transforma em um menino insatisfeito e cruel, afastando-se de sua grande amiga
Gerda. Mas quando ele é enfeitiçado pela Rainha da Neve e aprisionado em seu
palácio congelante, será justamente a força e a determinação dessa amizade a
magia capaz de salvar a sua vida. A nova edição publicada pela DarkSide tem
tradução de Débora Isidoro e ilustrações Sanna Annukka. Você pode comprar o livro aqui.
Um personagem vivo que fez
história no nosso tempo para a democracia no mundo.
Na sua modesta casa em um sítio
isolado, o ex-presidente de um pequeno país latino-americano recebe uma
jornalista europeia para debater as terríveis circunstâncias que ameaçam a
democracia ao redor do planeta. Antes conhecido como o presidente mais pobre do
mundo, hoje é visto como um símbolo de altruísmo, justiça e direitos humanos.
Mas agora, durante a entrevista, ele se vê à beira de revelar seu maior
segredo: que todos os seus conceitos sobre revolução, dignidade e amor se devem
às profundas conversas que teve, no período em que esteve preso, com seu
companheiro de cela — um sapo. Com tradução de Davi Boaventura, O presidente
e o sapo, de Carolina di Robertis sai pela Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.
Edição sublinha as nove décadas do livro mais conhecido de Aldous Huxley.
Para celebrar os 90 anos da primeira publicação, Admirável mundo novo
ganha uma edição de luxo em capa dura com projeto gráfico especial e nova
tradução do especialista em ficção-científica, Fabio Fernandes. Além disso, a
publicação conta com dois textos extras, um assinado por Ursula K. Le Guin,
escritora e admiradora deste livro e de seu autor, e o outro de Samir Machado
de Machado, escritor gaúcho, que conta a história das obras de Aldous Huxley e
de Admirável mundo novo no Brasil, desde sua primeira edição por aqui. Em
uma sociedade organizada segundo princípios estritamente científicos, Bernard
Marx, um psicólogo, sente-se inadequado quando se compara aos outros seres de
sua casta. Ao descobrir uma “reserva histórica” que preserva costumes de uma
sociedade anterior — muito semelhante a do leitor — Bernard vai perceber as
diferenças entre este mundo e o seu — e a partir de um sentimento de inconformismo,
ele desafiará o mundo. O romance distópico de Aldous Huxley é, certamente, indispensável
para quem busca leituras sobre autoritarismo, manipulação genética, ficção
especulativa e outros temas que se tornam a cada dia mais urgentes. Muitas das
previsões do autor vieram a ser confirmadas anos mais tarde, como a tecnologia
reprodutiva, as supostas técnicas de aprendizado durante o sono e a manipulação
pelo condicionamento psicológico. Ao lado de obras como Fahrenheit 451,
de Ray Bradbury e 1984, de George Orwell, que criticavam os governos
totalitários de esquerda e de direita, Admirável mundo novo figura na
lista dos livros mais relevantes e influentes de todos os tempos. O clássico de
Huxley não é somente um hábil exercício de futurismo ou de ficção científica,
mas um olhar acerca do autoritarismo no mundo desde que o livro foi publicado,
em 1932, e que continua a nos assombrar. O livro sai pela Biblioteca Azul/
Globo Livros. Você pode comprar o livro aqui.
O segundo volume das obras
completas de Rabelais publicadas pela Editora 34.
A edição reúne os terceiro, quarto e quinto livros das aventuras de Pantagruel.
Aqui o gigantismo do personagem tem menos relevo, e o foco volta-se a sua
erudição e temperança renascentistas, em contraste com o comportamento pândego
do amigo Panurgo. O Terceiro e o Quarto livros, publicados por
volta de 1546 e 1552, respectivamente, foram logo incluídos no Index de textos
proibidos pela Igreja Católica. Já o misterioso Quinto livro, de autoria
disputada, só veio à luz em 1564, onze anos após a morte de François Rabelais.
Neste conjunto, aprofundam-se ainda mais as ironias à ordem estabelecida e as
experimentações linguísticas dos dois primeiros livros, com forte inspiração no
Elogio da loucura de Erasmo de Roterdã. Assim, no Terceiro livro, numa
sátira aos diálogos filosóficos, temos a busca de Panurgo, em uma série de
“consultas”, para deslindar sua grande dúvida existencial: se contrair
matrimônio, será corneado ou não? Essa procura, nos moldes do Santo Graal,
levará depois, no Quarto livro, o séquito de Pantagruel para uma
navegação de descobrimentos por várias ilhas fantásticas, em que os habitantes
animalescos de cada localidade parodiam os vários segmentos da sociedade
medieval, dos advogados aos religiosos. As peregrinações se concluem no Quinto
livro, em Poitou, região natal de Rabelais, quando finalmente chegam ao
oráculo da Divina Garrafa, anunciado no início da jornada. Como no volume
anterior, temos aqui a primorosa tradução de Guilherme Gontijo Flores, que
soube como ninguém recriar toda a diversidade dos registros de linguagem de
Rabelais, e que assina também as notas introdutórias que abrem cada capítulo
dos três livros, sinalizando as escolhas de sua versão e as múltiplas
referências do texto rabelaisiano. Arrematam a edição mais de 160 ilustrações
de Doré, gravadas em metal entre 1854 e 1873. Você pode comprar o livro aqui.
O segundo livro de Fernanda
Melchor no Brasil.
No Paradise, condomínio de luxo na
costa mexicana, Polo e Franco, adolescentes enjeitados cada um à sua maneira,
se aproximam para beber e fumar. Qualquer desculpa vale para que Polo não tenha
de voltar para casa, e Franco não tem mesmo muito a fazer, afora dedicar-se a
sua coleção de pornôs e espreitar a vizinha, sua obsessão. Que grande mal
poderia haver nisso? Com tradução de Heloisa Jahn, Páradais, de Fernanda
Melchor, é publicado pela editora Mundaréu. Você pode comprar o livro aqui.
Bernardo Kucinski continua revivendo pelo romance as agruras do Brasil.
O governo Jair Bolsonaro mal havia começado quando B. Kucinski publicou,
pela Alameda, sua novela distópica A Nova Ordem. Dialogando com uma
tradição literária de debate quase que explícito com a realidade, Kucinski
expôs um modo de agir que pode ser considerado uma crítica, ao mesmo tempo, ao
modo de governar em ascensão por aqui e a um certo zeitgeist que ultrapassa as
fronteiras nacionais. O colapso da Nova Ordem, sequência da novela anterior,
chega às livrarias na reta final do governo reacionário que nos aflige.
Recuperando a experiência dos últimos anos, inclusive a da gestão da pandemia,
Kucinski como que aprofunda e descortina essa espécie de janela de oportunidade
provocada pela Covid-19 que serviu para amplificar a exploração da pobreza de
muitos. No novo livro, o planejamento destrutivo dos militares no poder
mostra-se mais ambicioso e mais cruel. Uma nova peste expande a violência das
tramas palacianas. Mecanismos perversos de acumulação de dinheiro e poder se
descortinam. A trama distópica ganha clareza e sentido, aprofundando o
mecanismo posto em marcha anteriormente. Você pode comprar o livro aqui.
Cristina Rivera Garza e uma volta pelo círculo dos infernos da violência
contra mulher.
Na madrugada de 16 de julho de 1990, Liliana Rivera Garza, uma jovem de
20 anos, estudante de arquitetura, foi assassinada pelo ex-namorado. Na época,
diante da inexistência de uma discussão sobre o feminicídio, o caso foi
arquivado. A família de Liliana, incluindo sua irmã mais velha, Cristina Rivera
Garza, foi forçada a processar a dor e a culpa, sem qualquer esperança de
justiça. No Brasil, em 2021, uma mulher foi morta a cada sete horas. No México,
em média onze feminicídios ocorrem diariamente. Nas palavras de Cristina Rivera
Garza, por dia, “onze famílias despertam em um mundo subitamente desolado,
cheio de ecos agudos de uma ausência que se sabe cruel e injusta”. Para ela, em
texto ao The Washington Post, trata-se de um “pântano que lhes engolirá
pouco a pouco, com perguntas, acusações, culpas, vergonha”. Mesmo assim, é
preciso tomar providências: reconhecer o corpo, ir ao local do crime, pedir
justiça. Usando seus notáveis talentos como pesquisadora, romancista e poeta,
Cristina Rivera Garza retorna ao México, depois de décadas morando nos Estados
Unidos, para coletar e organizar evidências — cartas manuscritas, relatórios
policiais, cadernos escolares, projetos arquitetônicos — a fim de narrar uma
história íntima, mas universalmente ressonante: a de uma jovem espirituosa e
esperançosa que tentou sobreviver em um mundo de violência de gênero cada vez
mais normalizada. Com tradução de Silvia Massimini Felix, O invencível verão
de Liliana é publicado pela selo Contemporânea/ Editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
Nova tradução comentada do “Hino Homérico a Afrodite”.
Um mito propõe sempre uma profusão de interpretações. Em Engenhos da
sedução, Mary de Camargo Neves Lafer apresenta cinco leituras do relato
mítico contido no “Hino Homérico a Afrodite”: quatro consideram aspectos
diversos da obra literária e o quinto é a leitura feita por uma artista
plástica. A rigor, temos ainda uma sexta leitura, que é a própria tradução. A
intenção é oferecer um livro que alcance não apenas aqueles que já estudam o
mundo helênico antigo, mas também aqueles que não têm formação específica nessa
área de estudos. As notas e a bibliografia respeitam as normas acadêmicas,
porém, o tom dos comentários não segue necessariamente essas convenções. Em
edição bilíngue, com prefácio de Olgária Matos, Engenhos da sedução é
publicado pelas Ateliê Editorial e Editora Mnēma.
Annie Ernaux e sua jornada pela própria vida.
“Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da
tarde.” Com a linguagem cortante e desprovida de sentimentalismos pela qual ficou
conhecida, Annie Ernaux inicia mais um capítulo do seu projeto literário,
dedicado a investigar a própria existência em sua dimensão social. Ao se
debruçar sobre um episódio de violência doméstica do pai contra a mãe quando
tinha doze anos, a escritora põe em curso o doloroso processo de rememoração de
uma experiência traumática, ao mesmo tempo que identifica nesse incidente a
gênese de um sentimento que passaria a acompanhá-la para o resto da vida. “Era
normal sentir vergonha”, escreve Ernaux. O episódio de violência inaugura na
escritora uma hiperconsciência de si e da própria família que, anos mais tarde,
quando já reconhecida pelo sucesso de O lugar, destrincha neste livro ao
reconstruir com precisão quase científica a vida na cidade de Y., bem como os
usos e os costumes de sua classe social. No esforço de situar o incidente que
encerra sua infância no contexto da história mundial, Ernaux visita os arquivos
da cidade de Rouen em busca das notícias de jornal de 1952, em uma cena que os
leitores já iniciados em sua obra identificarão como embrionária de Os anos,
considerado por muitos seu maior livro. Como de costume, Ernaux entremeia a
narrativa factual a reflexões sobre a escrita e o ato de traduzir em palavras
um trauma que jamais ousara acessar. Marco importante de sua trajetória, é em A
vergonha que pela primeira vez aparecem as indagações acerca da memória e
da historicidade de nossas existências: “Naturalmente não procuro fazer uma
narrativa, pois ela produziria uma realidade em vez de buscar uma. […] Em suma,
gostaria de ser etnóloga de mim mesma”. Ao vasculhar a si e o passado familiar,
Ernaux renova a linguagem do incômodo da inferioridade de classe, comovendo uma
vez mais seus leitores com seus dizeres marcantes: “A vergonha se tornou, para
mim, um modo de vida. No fim das contas, já nem percebia sua presença, ela
estava em meu próprio corpo”. Com tradução de Marília Garcia o livro sai pela
editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Evento. O escritor Antônio
Xerxenesky vem a Natal para uma conferência e debate em torno do seu romance Uma
tristeza infinita. O evento acontece dia 14 de setembro 2022, no Instituto
Ágora/ UFRN, a partir das 14h.
Por vir. A Relicário Edições publicará o ensaio A irmã caçula, sobre a escritora argentina Silvina Ocampo e de autoria da já célebre Mariana Enríquez.
REEDIÇÕES
A Edusp reedita obra essencial para compreender a vanguarda no Brasil
durante o período da ditadura militar.
Arte de Guerrilha, de Artur Freitas examina a produção de
artistas de vanguarda no Brasil no período da ditadura militar, entre os anos
de 1969 e 1973, procurando especificar, no interior da produção dita
contracultural, as estratégias da arte de guerrilha, ou do “projeto
conceitualista” como prefere o autor, que reagiram à repressão política, à
perda de direitos e à censura às artes, frutos do AI-5. Algumas obras são
analisadas como sintomas do imaginário do período, priorizando a interpretação
cuidadosa de seis delas dos artistas Cildo Meireles, Artur Barrio e Antonio
Manuel. Esta segunda edição revista vem a público num momento de circulação de
narrativas históricas revisionistas e negacionistas, dispostas a negar o golpe
de 1964, a ditadura e a tortura, e diante desse quadro as estratégias
analisadas no livro ganham ainda maior relevância.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. A armadilha, de Emmanuel
Bove. Parece que o tipo literário, chamemos assim, de escritores como Bove não
caiu no gosto do leitor brasileiro, sempre mais afeito, na grande maioria, aos
romances de matriz social e de ação. Esses perdem. Perdem a oportunidade de
descobrir que a leitura é um exercício para além de entretimento; é via de
acesso a outras possibilidades de ver/ estar no mundo e se relacionar com a história.
O livro mais recente do essencial Bove publicado entre nós é este agora
recomendado. As ambiguidades, a angústia, as radicais cisões históricas nos
anos sombrios da França ocupada pelos nazistas. Este é um livro de uma busca: o
jornalista Joseph Bridet deseja obter salvo conduto para se juntar às forças de
De Gaulle na África e procura alguém que possa ocupar um posto importante no governo.
O livro está publicado pela Mundaréu, com tradução de Paulo Serber F. de Mello.
Você pode comprar o livro aqui. Outra sugestão é o seu mais conhecido
romance, Meus amigos; mas este só nos sebos.
2. O filósofo no porta-luvas,
de Juliano Garcia Pessanha. Um grupo de escritores franceses que se fizeram na
filosofia também chegou a escrever obras literárias como se buscassem alcançar
através desse exercício uma melhor compreensão dos seus conceitos reinventaram um tipo de romance, o filosófico. Em esteira
parecida, Juliano Garcia escreve este romance. Seu personagem, Frederico,
experiencia o mundo entre a complexidade da vida burocrática e o que sua
convivência com a filosofia até então o revelara. O livro saiu pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
3. Invenção: de Arnaut e Raimbaut
a Dante e Cavalcanti, de Augusto de Campos. Este livro é daquelas
preciosidades multicrativas do poeta brasileiro, no caso, com a tradução. Há
muito esgotado o livro recebeu desde 2021 duas novas edições pela Laranja
Original. Aqui, Augusto de Campos vai aos poetas-inventores do século XII e
XIII Arnaut Daniel e Raimbaut d’Aurenga. Em torno da tradução dos provençais, estão
passagens por Dante e Guido Cavalcanti, performando “um rastro constela da
poesia” até o século XIV. Edição bilíngue, Invenção reúne três canções
de Raimbaut, dezoito canções de Arnaut Daniel, seis cantos e um soneto de Dante
e três sonetos de Guido Cavalcanti. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Não são as traduções que agora,
finalmente, chegam aos leitores brasileiro, mas aqui podem sentir um pouco mais
da poesia de Samuel Beckett pelas mãos de três tradutores portugueses: três poemas do dramaturgo irlandês.
2. Ainda António Lobo Antunes. O ator português Pedro Lamares lê uma incursão do escritor pela poesia ― “Poema aos homens constipados” ― aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Nesta semana recordamos um perfil sobre o poeta Wlademir Dias-Pino escrito para o Letras por Fábio
Roberto Ferreira Barreto.
2. E, recordando a data do
nascimento de Ferreira Gullar, outro texto de Fábio Roberto Ferreira Barreto
sobre o período quando o poeta se aproximou das frentes populares no Centro Popular
de Cultura. Aqui.
3. Neste texto, André Cupone Gatti
discorre sobre o livro A especulação imobiliária, do escritor italiano
Italo Calvino.
DUAS PALAVRINHAS
O Exército brasileiro não passa de
um bando de rufiões mal-amados, cuja principal missão é combater seu próprio
povo.
― Em Viva o povo brasileiro,
de João Ubaldo Ribeiro
...
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