Gabriel García Márquez: sete lições de escrita
Por Al Roman
Gabriel García Márquez, um dos
escritores mais influentes do século XX que colocou a literatura
latino-americana no mapa do mundo, foi um escritor, roteirista, editor e
jornalista colombiano. Autor de grandes obras literárias como Cem anos de
solidão (1967), O outono do patriarca (1975) e Amor nos tempos do
cólera (1985) e que também recebeu inúmeros prêmios, distinções e
homenagens por suas obras; o maior de todos, em 1982, o Prêmio Nobel de
Literatura. Segundo o elogio da Academia Sueca, “pelos seus romances e contos,
nos quais o fantástico e o real se conjugam num mundo tranquilo de rica
imaginação, refletindo a vida e os conflitos de um continente”.
Gabriel García Márquez, aquele que
encontrou inspiração para o realismo mágico de suas histórias nas histórias que
sua avó contava quando criança. Ao longo de sua carreira expôs em inúmeros
escritos, cursos e entrevistas os pontos que considerava mais importantes para todo
escritor desenvolver na sua carreira; hoje, citaremos os mais importantes:
1. Não faça o que você não gostaria
que fizessem com você
Se um livro é chato, eu o largo.
Não leio por respeito, por devoção ou por obrigação. Quando eu era criança,
comecei a ler Dom Quixote, me entediava, deixei pela metade. Depois reli
e reli, mas porque gostei, não porque era um livro obrigatório. Esse tem sido o
meu método de leitura e ao escrever tenho o mesmo conceito. Sempre fico com
medo de em qual página é o leitor vai se entediar e abandonar o livro. Então,
eu tento não ficar entediado, não fazer o mesmo comigo como faço com os outros.
(Gabriel García Márquez. Seven Voices, junho de 1971).
Nós sabemos, as pessoas tendem a
aceitar o crédito antes de fazer o trabalho, com essa ideia queremos dizer que
se você realmente tem um bom artigo ou livro e considera bom o suficiente para publicá-lo
e para que seja lido e criticado por outros, você deve parar um pouco para
pensar: “sério… se eu visse meu livro em uma loja, eu compraria? Eu o leria incansavelmente?”
São perguntas um tanto fortes, mas devem ser feitas no momento certo, se quisermos
ser bem-sucedidos.
2. Use sua realidade como
matéria-prima
Você tem que trabalhar com suas
próprias realidades, isso não pode ser ignorado. O escritor que não trabalha
com sua própria realidade, com suas próprias experiências, está errado, errado.
(“Gabriel García Márquez: Ten Thousand Years of Literature”. Bohemia
Magazine, fevereiro de 1979).
Um escritor não improvisa, nem
aparece em cena espontaneamente, como por obra de mágica; nem o seu trabalho,
mas sim o resultado de um profundo “compromisso” com a sua arte e consigo
mesmo. É um compromisso assumido com liberdade e responsabilidade com a
qualidade de sua escrita, e fidelidade a si mesmo, um escritor que não tem essa
fé em suas palavras, é alguém que jamais será lembrado.
3. Escreva sobre o que você ama
Quando quero escrever algo, é
porque sinto que merece ser contado. Além disso, quando escrevo uma história é
porque gostaria de lê-la. (Gabriel García
Márquez. Seven Voices, junho de 1971).
Gabriel García, pede que os
escritores se avaliem e se façam as seguintes perguntas: “Devo escrever sobre
isso? Eu me sinto bem escrevendo sobre isso?” O mais importante na hora de
escrever sempre será conhecer muito bem o assunto e saber expor, se você quiser
se aprofundar em algo deve assumir a tarefa de ler a fundo grandes escritores
que já falaram sobre um assunto semelhante, e a partir daí, use a criatividade
para expor da melhor forma.
4. Vença a dificuldade com a
escrita
Quando digo que sou escritor por
timidez, é porque o que devo fazer é encher esta sala, sair e contar a
história, mas a minha timidez não me permite fazê-lo. Então, o que eu quero
contar, eu faço por escrito, sozinho no meu quarto, e com muito trabalho. É um
trabalho angustiante, mas sensacional. Superar a dificuldade da escrita é tão
emocionante e alegre que valeu a pena todo o trabalho; é como o parto. (Gabriel
García Márquez. Seven Voices, junho de 1971).
O melhor lugar onde você pode
expressar suas ideias, pois você pode voltar, avançar e até apagá-las é em uma
folha de papel; para ser um escritor basta ser você, seja você extrovertido ou
tímido, em qualquer uma das duas maneiras, pode deixar sua mão ser aquela que
expressa o que você quer dizer ou desabafar.
5. Ame seu ofício
Ninguém disse que ser escritor era
fácil. A profissão de escritor talvez seja a única que se torna mais difícil à
medida que é mais praticada. (Gabriel García Márquez. Conferência “Como comecei
a escrever”, Caracas, 1970).
A vida de um escritor não é nada
fácil, demandando cada vez mais uma rotina diária, encontrar uma maneira
confortável e boa de contar uma história, encontrar o sentido do que está sendo
escrito, usar as palavras certas para fisgar o leitor, nada disso é uma tarefa
simples, é algo que exige prática até se conseguir o que deseja. Pratique a
leitura de uma ficção diferente todos os dias, e você poderá ver como sua
escrita pode crescer; crescida, solte-se.
6. Pesquise e encontre
Estou sempre experimentando. O bom
do romance é isso, buscar, encontrar, renovar. É por isso que minhas teorias
literárias mudam a cada dia. Eu não tenho uma fórmula. No dia em que eu tiver
uma fórmula, paro. Eu me contradigo. Se você não se contradiz, você é
dogmático, e ser dogmático é ser reacionário. Não quero ser reacionário. (Entrevista
com Gabriel García Márquez na revista soviética internacional Focus, da
Agência de Imprensa Novosti, Bogotá).
Muitas vezes nos deparamos com
autores que têm uma série de livros que são muito bons e interessantes de ler,
mas são praticamente iguais uns aos outros, não é porque você teve sucesso com
a escrita que significa que você deva ficar apenas com esse assunto ou aquela
forma de contar para sempre, o truque é inovar e melhorar a cada dia.
7. Imaginação é tudo
Se você disser que há elefantes
voando no céu, as pessoas não vão acreditar. Mas se você disser que há
quatrocentos e vinte e cinco elefantes no céu, as pessoas provavelmente
acreditarão em você. (Entrevista
com Peter Stone (Inverno 1981), Paris Magazine Interviews: Writers at
Work, Sixth Series, 1984, p. 324).
Ponto de vista interessante, não
é? Isso porque, ao especificar um número, você pode criar uma imagem na mente
do leitor. Não se perca em abstrações, recorra sempre a um detalhe que o leitor
possa “ver”; nada melhor do que trabalhar com a imaginação do seu leitor, ele
nunca se cansará de algo assim.
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>>> De alguma maneira, este texto retoma essa lista que acrescentamos ao blog em 2016.
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* Este texto é a tradução livre de “Gabriel García Márquez - 7 Lessons on Writing”; leia o original aqui.
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