Boletim Letras 360º #489
DO EDITOR
1. Caro leitor, se você está entre
os apoiadores do trabalho do Letras in.verso e re.verso estejam atentos:
no dia 31 de julho sortearemos um exemplar da edição especial de Ensaio
sobre a cegueira, de José Saramago.
2. Se você ainda não enviou seu ao
apoio e gostaria de fazê-lo e concorrer a este e outros livros, basta ler as informações
aqui — é rápido e prático.
3. Relembro ainda que na
aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você ganha
desconto e ainda ajuda ao Letras sem pagar nada mais por isso.
4. Fica o registro de um excelente
fim de semana a todos que ajudam e acompanham este projeto.
Pier Paolo Pasolini. Foto: Giancarlo Botti. |
LANÇAMENTOS
Um relato franco e comovente
sobre a própria trajetória e a importância da persistência.
Em Manifesto: sobre como nunca desistir, a autora de Garota,
mulher, outras — livro vencedor do Booker Prize de 2019, traduzido para
mais de 35 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos no mundo todo
— oferece um relato emocionante de sua trajetória. Nascida em Londres em uma
família birracial, filha de mãe inglesa e de pai nigeriano, Bernardine Evaristo
e seus sete irmãos conheceram cedo o peso do preconceito na vizinhança, na
escola e na igreja que frequentavam. Mistura de livro de memórias com
recomendações práticas, Manifesto é uma admirável fonte de inspiração.
Ao reconstituir seu percurso profissional, familiar e afetivo, uma das autoras
mais célebres e lidas da atualidade descreve os traumas causados pelo
preconceito, esmiúça o racismo e o machismo entranhados nas pequenas e grandes
situações do dia a dia, relata suas relações amorosas com homens e mulheres e
atesta sua incansável determinação em abrir caminhos para tornar o meio
literário mais diverso e inclusivo. A tradução de Camila von Holdefer é
publicada pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Novo livro de Ieda Magri
revisita a terrível banalidade do crime no Brasil.
Esta é a história de um
assassinato cometido numa cidade bem pequena no sul do Brasil. É a história de
uma menina, de um lugar, de uma comunidade e, sobretudo, dos preconceitos que
desafiam o tempo e o espaço. Conforme a investigação avança e encontra
obstáculos intransponíveis, acompanhamos também a história da escrita e de suas
possibilidades. Uma narrativa ágil e aterradora que nos inspira a refletir
sobre realidade e imaginação. Sem conseguir dormir depois de receber uma
notícia indigesta, a narradora-protagonista deste romance rememora um crime
terrível contra uma criança, ocorrido em uma cidade do interior no sul do
Brasil, e decide viajar de volta ao lugar onde tudo aconteceu. Passados
quarenta anos, ao buscar vestígios e ouvir histórias que se tornaram quase
lendas, a narradora nos apresenta os meandros da vida local e o cenário de
impunidade do caso contado em Um crime bárbaro. A voz narrativa, de seu ponto
de vista privilegiado, nos aproxima dos acontecimentos sem nos aprisionar em
uma perspectiva única. É uma obra que provoca emoções fortes desde as primeiras
linhas, em cenas vigorosamente descritas. Esta é a história de apenas mais um
crime, o que aponta para a terrível banalidade de assassinatos como esse e
muitos outros, em um país onde se vive com medo. Um romance alinhado a tudo o
que de melhor tem sido feito na literatura contemporânea latino-americana,
talvez porque tenhamos problemas muito semelhantes. Não à toa, está declarada
aqui a influência de escritores argentinos como Selva Almada e Ricardo Piglia,
além da romancista brasileira Patrícia Melo. Um crime bárbaro é
publicado pelo Selo Contemporânea/ Grupo Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
O romance de estreia de Mark
Haber.
Escrito em um só parágrafo, como
um monólogo febril, o romance de estreia de Mark Haber evoca clássicos como O
coração das trevas, de Joseph Conrad, ao reconstruir uma viagem por vários
continentes até culminar na selva sul-americana, encerrando uma busca obsessiva
por um homem desaparecido que possuiria o derradeiro segredo a respeito da
melancolia. Igualmente filosófico e hilário, O jardim de Reinhardt se
tornou um livro cultuado comparado a obras de Thomas Bernhard e László
Krasznahorkai. Com tradução de Fábio
Bonillo, o livro é publicado pela DBA Editora. Você pode comprar o livro aqui.
Duas vezes o antropólogo Claude
Lévi-Strauss.
1. Marcado pela experiência do
exílio, Antropologia estrutural zero testemunha um momento ao mesmo
tempo biográfico e histórico durante o qual — como muitos artistas e estudiosos
judeus europeus — Claude Lévi-Strauss se refugiou em Nova York. Escritos entre
1941 e 1947, quando ainda não havia abandonado suas reflexões políticas, os
dezessete capítulos deste livro restauram uma pré-história da antropologia
estrutural. Hoje é notório que a publicação de Antropologia estrutural
constituiu uma etapa crucial para a divulgação e a expansão do estruturalismo. O
livro pôs em destaque o caráter extremamente inovador da reflexão e da ambição
teórica de um projeto baseado em dados etnográficos muito precisos, aberto
tanto para outras disciplinas (linguística, história, psicanálise…), quanto
para trabalhos de língua inglesa. Antropologia estrutural zero apresenta
textos importantes, pouco conhecidos, publicados, na sua maioria, inicialmente
em inglês e em revistas variadas, textos que para muitos se tornaram até certo
ponto inacessíveis. A ideia de “significante zero” está na própria base do
estruturalismo. Falar de Antropologia estrutural zero é, portanto, retornar à
fonte de um pensamento que perturbou nossa concepção do humano. Mas esta
pré-história das Antropologias estruturais um e dois também sublinha o
sentimento de tábula rasa que animava seu autor e o projeto — partilhado com
outros — de um recomeço civilizacional em novas bases. Os anos que o antropólogo viveu em
solo americano foram também os da consciência de catástrofes históricas
irremediáveis: o extermínio dos índios americanos e o genocídio dos judeus. A
partir da década de 1950, a antropologia de Lévi-Strauss parece devidamente
moldada pela memória e pela possibilidade do holocausto, que nunca é nomeado. Além do interesse intrínseco que
despertam, esses dezessete artigos — escolhidos, editados e prefaciados por
Vincent Debaene, professor da Universidade de Genebra — permitem encontrar as
questões fundadoras e as primeiras hipóteses de trabalho deste que é um dos
intelectuais mais renomados do século XX. A tradução de Ivone Benedetti sai
pela editora Bertrand Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
2. “Ampliemos o problema.” O
convite discreto, que se lê a certa altura dos textos reunidos em Somos todos
canibais, traduz a essência deste livro breve e precioso. Ao longo de mais de
uma década, entre 1989 e 2000, Claude Lévi-Strauss colaborou com o jornal
italiano La Repubblica, onde publicou dezesseis textos sobre temas
da atualidade. Os ensejos eram os mais variados: uma notícia sobre processos
judiciais, a doença da vaca louca, uma exposição de joias, a morte da princesa
Diana, mas também a publicação de um novo livro do autor, um quadro de Poussin
ou o quinto centenário da “descoberta” do Novo Mundo. Fosse qual fosse o ponto
de partida, o antropólogo francês nunca se dava por satisfeito com proferir
alguma verdade ex cathedra. Todo tema era digno de interesse e podia conduzir
ao coração do fenômeno humano e cultural — desde que livrado do lugar-comum e
formulado de maneira a evidenciar seu alcance pleno. “Ampliemos o problema”:
longe de ser uma coleção de textos de circunstância, Somos todos canibais
é uma introdução sucinta e brilhante ao estruturalismo como método de fazer
perguntas avessas a respostas prontas. Organizado por Maurice Olender, o livro
reúne ainda o célebre “O suplício de Papai Noel”. A tradução é de Marília
Scalzo. O livro integra a coleção Fábula publicada pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada do nigeriano Akwaeke
Emezi ao Brasil.
Inúmeros estranhamentos nos tomam
quando mergulhamos em A morte de Vivek Oji, de Akwaeke Emezi, o que não
quer dizer que a obra será de difícil compreensão. Estranhamentos com os nomes
próprios, muito distintos dos que usamos por aqui e que só com o avançar da
leitura descobriremos se se referem a homens ou mulheres, como Osita, Kavita,
Chika, Vivek, Nnemdi e outros tantos. Com os termos inusitados que aparecem por
todo o romance, sobretudo nos diálogos, mas não apenas neles, como “abeg”, “nna
mehn”, “nko” etc. Estranhamentos com questões culturais, indicativos da pouca
intimidade que temos com a(s) história(s) da Nigéria, como no caso das
Nigesposas. No entanto, a despeito desses estranhamentos, será difícil
abandonar a leitura. Enredo fluido, conduzido a partir de idas e vindas
temporais e múltiplas perspectivas, nele acompanharemos as vidas de personagens
que orbitam ao redor de Vivek, cuja morte é anunciada já no título, mas que só
com o avançar da trama entenderemos como ela se deu e o que significa.
Narrativa de descobertas e reinvenções, atravessada por questões de gênero que
ora são profundamente desconhecidas, ora bastante familiares, tudo
magistralmente orquestrado numa obra de autoria não binária que, na prática, é
uma excelente resposta a quem ainda hoje insiste em reduzir existências trans a
uma história única. Com tradução de Carolina Kuhn Facchin, o livro é publicado
pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
A estreia de Sofia Nestrovski na ficção.
Sofia, ou bisnaguinha, a menina
que “passa os dias conversando com as próprias ideias”, tinha um único desejo:
tornar-se invisível. Após fazer esse pedido em seu aniversário de sete anos e
tê-lo realizado, a pequena se vê livre para andar pelos lugares mais mágicos do
mundo, numa aventura que todos nós gostaríamos de ter a oportunidade de
vivenciar. Com uma escrita experimental, lúdica e permeada pela magia, A
história invisível, é a estreia de Sofia Nestrovski na ficção. Neste livro,
somos levados pelos caminhos do universo infantil através do olhar dessa
personagem que só queria escapar do tédio, mas acabou se lançando em um mundo
fabular repleto de conversas com sapos e peixes e dos lugares mais recônditos,
como o tronco de uma árvore. Com ilustrações inéditas de Danilo Zamboni, essa
versão século XXI de Alice no País das Maravilhas nos convoca a fugir, a
abandonar a rotina e a mesmice, e a reencontrar os pensamentos da infância que
abandonamos ao longo dos anos. Ao se aventurar sem a supervisão de adultos,
Sofia nos faz pensar sobre questões que não costumamos associar às crianças,
como solidão, sofrimento e na escola como um espaço hostil: “Forçada todos os
dias a ir à escola, horrorosa escola, pintada com cor de sorvete. Borboletas de
manteiga voando do lado de fora da janela, e ela ainda ali. Tédio sobre tédio
sobre tédio”. E, não seria a escola de Sofia uma alusão aos afazeres diários da
vida adulta? A história invisível nos leva por caminhos poéticos e cheios
de imagens que trazem alento para a rotina, ao mesmo tempo que nos lembra de
como a infância também pode ser dolorosa. Ao acessar essa via dupla de
sensações íntimas vislumbramos que criar uma realidade na qual haja espaço para
fantasia nos apresenta outras formas de estar no mundo. Imaginar um mundo
repleto de novidades pode se converter em um recurso para devolver o espanto e
o deslumbramento ao nosso cotidiano e talvez seja a nossa única esperança para
dias tão difíceis. O livro sai pela Fósforo.
Drama reanima passado familiar
pela perspectiva feminina numa Itália dos anos 1960.
1965. Uma menina de oito meses é
encontrada em um gramado da Villa Borghese, em Roma. É fruto de uma relação
extraconjugal, numa época em que o divórcio é proibido na Itália e as mulheres,
em algumas realidades do interior do país, ainda podem ser obrigadas a casar
sem amor. O marido legítimo desconhece a paternidade e até denuncia a jovem
cônjuge. O casal de amantes não tem saída: sem meios de criar a pequena, decide
abandoná-la com um bilhete e se jogar nas águas do Tibre. A menina, Maria
Grazia, é então adotada por uma professora de literatura, Consolazione, e por
Giacomo, deputado do Partido Comunista Italiano no Parlamento. Junto com eles,
a menina vive sua primeira infância com alegria e acolhimento. Ela se sente
amada por sua nova mãe, até o dia em que se abre entre elas uma ferida
fundamental. Em uma narrativa íntima, poética, musical, mas nunca idílica,
Maria Grazia Calandrone coleta cacos da memória até o limiar da vida adulta,
tentando reatar os fios da relação com a mãe que corre o risco de se perder nas
dobras do tempo. E é justamente a relação com a mãe, dolorosa e repleta de
sombras, que faz brotar na mulher a vocação literária. Brilha como vida
tem tradução de Patricia Peterle e Andrea Santurbano e é publicado pela
Relicário Edições.
O novo livro de Margarida Vale
de Gato editado no Brasil.
“Na pequena nota biobibliográfica
da edição portuguesa de Atirar para o torto, publicada pela Tinta da
China, em 2021, o gesto de traduzir vem antes de escrever, e se refere
possivelmente à vocação e ao trabalho primário daquela que se materializa nos
últimos anos, no Brasil, como poeta, ofício que, apesar das diferenças, evoca a
criação e a invenção. Margarida Vale de Gato também exercita a reinvenção, na
medida em que se debruça, igualmente em seu novo livro, sobre a sua forma mais
obsessiva, o soneto, e sua metapoética, na qual se mostra perita. O que
impressiona então na poesia de Margarida não é apenas a sua astúcia minuciosa
de criação, mas o seu projeto de ser uma testemunha mulher (ainda que isso nesse
seu terceiro livro de poesia não predomine tanto) de um tempo que, felizmente
e, ao contrário das técnicas neoliberais que exploram o consumo da nossa
suposta imortalidade ou da nossa suposta invulnerabilidade, passa. Há muito
chama a atenção na poesia de Margarida também um tipo de conhecimento
radicalmente lúcido do tempo, seja para o bem, seja para o mal. Ou seja, é
perceptível em seu trabalho poético uma dimensão consciente de que “mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades”. Porque esta poesia se refere sempre à mutação de
nossos lugares no mundo, especialmente para as mulheres atentas que navegam ao
mar e mesmo para as que sentadas no comboio, como no poema “Vai vagão”, podem
falar da passagem das horas e da passagem da paisagem “(...) à poesia com o
vinco tão lindo/ da sua tristeza”. Algo dói na poesia de Margarida, e há nisso
uma beleza, um brilho.” (Tatiana Pequeno). O livro sai pelas Edições
Macondo e é o segundo volume de A Colecção, publicação que há quatro anos tem
trazido/ revelado autores portugueses para leitores brasileiros.
Uma nova edição e tradução de
um dos romances mais importantes da literatura italiana.
Situado na Lombardia durante o
domínio espanhol do final da década de 1620, Os noivos conta a história
de dois jovens e humildes camponeses, Renzo e Lucia, impedidos de se casarem e
perseguidos por Dom Rodrigo, fidalgo mais poderoso das redondezas que, por
causa de uma aposta, decidiu seduzir a moça. Forçados a fugir, os noivos são
cruelmente separados e devem enfrentar infortúnios como a peste, a fome e a
prisão, além de se confrontar com vários personagens — a misteriosa freira de
Monza, o impetuoso Padre Cristoforo e o sinistro Inominado —, sem nunca perder
a confiança na Providência. Baseado em uma rigorosa pesquisa histórica e
linguística, Manzoni pinta o ambiente italiano do século XVII e oferece um
painel dos inúmeros tipos humanos que podemos encontrar durante a vida. Na
tradução de José Colaço Barreiros, o leitor terá contato com a versão
definitiva dessa “obra-prima de toda a humanidade”, como disse Benedetto Croce,
seguida de A história da coluna infame. O livro sai pela Editora Sétimo Selo
com texto extra de Otto Maria Carpeaux. Você pode comprar o livro aqui.
Um romance que oferece um
painel singular da vida contemporânea brasileira.
Aqueles que leram Também os
brancos sabem dançar, de Kalaf Epalanga, devem ter reparado na presença de
um afiadíssimo e bem-conectado personagem brasileiro que introduz o próprio
autor em nosso universo cultural e musical. Pois esse amigo baiano do escritor
e músico angolano é nada menos do que Quito Ribeiro, autor deste romance. No canto dos ladinos enfeixa e dá sentido a um conjunto de
histórias que vão compondo um quadro muito original. São personagens que vivem
em bairros afluentes, viajam para conferências no exterior, frequentam bons
restaurantes. Um traço em comum é sua negritude. Outro, o fato de serem figuras
difíceis de acomodar nos padrões sociais — e ainda racistas — do Brasil. “E no
Brasil pode ser bem estranho um negro sentar-se num restaurante chique de um
bairro de classe alta, usando uma roupa descolada, indo tomar um café da manhã
no dia seguinte à virada de ano. Esse é um hábito para brancos brasileiros”,
diz a certa altura um personagem do livro. Com grande habilidade narrativa, o
autor traça um quadro amplo do ponto de vista social e delicado do ponto de
vista subjetivo. O resultado a partir desses dois campos de força é a
atordoante leitura de nossa vida social. A chegada de milhares de estudantes
negros às universidades nas últimas duas décadas; a recente e enorme difusão da
obra de Frantz Fanon, o fundamental pensador antirracista e anticolonial; a
busca por uma ancestralidade cujos registros foram apagados pelos
escravizadores; as tradições familiares; o espaço movediço dos negros que
dispõem de recursos materiais mas que ainda assim estão sujeitos ao preconceito
e à ofensa. Tudo isso aparece neste romance que oferece — com inteligência e
num texto que lança mão da ficção, do ensaio e do memorialismo — um painel
singular da vida contemporânea brasileira. O livro é publicado pela editora
Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Em seu romance de estreia, a
escritora Leslie Jamison nos leva refletir sobre a complexidade do ser humano.
O armário de bebidas,
da ensaísta Leslie Jamison, apresenta uma história entre duas gerações de mulheres
que se conectam por vidas e idealizações que não se concretizaram e cuja
esperança pode ser encontrada na próxima garrafa de álcool. Tilly é uma mulher
solitária e entregue a maus hábitos, alcoolismo e questões internas. Stella,
sua sobrinha, uma mulher que vive uma realidade vazia em Nova York. Quando
Stella vai para a casa da tia em Nevada, as duas tentarão juntas compreender as
próprias vidas e seus gatilhos e reunir os cacos dos problemas que passaram. Entre
falhas, arrependimentos e a busca por redenção, Leslie Jamison narra vidas que
se entrelaçam enquanto reflete sobre sexo, perdição, vício e amor. Os diálogos
da autora, bem como a construção de seus personagens, demonstram a complexidade
do ser humano e fazem o leitor repensar as voltas e reviravoltas que a vida dá.
O livro é publicado pela editora Globo Livros. Você pode comprar o livro aqui.
Um cataclismo ecológico e um
mundo arruinado formam a narrativa de um romance imperdível de Fernanda Trías.
À metade do caminho entre uma
distopia clássica, como 1984 ou Fahrenheit 451, e uma das
magníficas novelas de catástrofes de J.G. Ballard, O mundo submerso ou Seca,
Gosma rosa conta a história de uma mulher e sua solidão, de um
cataclismo ecológico e um mundo arruinado, da maternidade, da fome e do
silêncio. Com uma arquitetura sutil de camadas e mecanismos, e sempre intensa e
evocativa, esta obra atravessa os gêneros (ciência, ficção, distopia,
ecocatástrofe) e se instala em um território único, à borda do horror, mas sem
se submergir nesse abismo: um espaço desolador, mas não livre de esperança.
Fernanda Trías conseguiu criar um espelho em que se observa este tempo tão
estranho que nos tocou viver, e nos presentear com o melhor de seus romances.
Com tradução de Ellen Maria Vasconcellos, o livro é publicado pela Editora
Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
Uma visita à comédia de Terêncio.
Terêncio é uma das vozes mais
injustiçadas da literatura antiga. De trajetória meteórica, morre jovem com
seis comédias de sucesso variável no palco romano do século II a.C. Viveu à
sombra do espalhafatoso Plauto, provável vida passada de Molière e Charles
Chaplin. Morreu possivelmente amargurado com o esgotamento da comédia de roupa
grega no palco romano. Morreu junto com a comédia. O gosto popular mudava e ia
preferir a pantomima e outros tipos de burlescaria. Mas Terêncio resistiu e
produziu comédias que levaram seu nome a figurar como autor mais importante depois
de Virgílio para os romanos de depois. Nem sempre a gente ganha a fama que
merece enquanto vivo, e o Terêncio que se publica aqui é uma prova rediviva. O Eunuco é sua peça mais ágil, divertida, escandalosa, e, para nós
hoje, no mínimo polêmica pelo seu tratamento do estupro da virgem Pânfila. Seu
timing cômico está mais que afiado, e a tradução de Matheus de Souza para nos
trazer um Terêncio para hoje, poesia antiga para o palco tornada poesia
brasileira, com a dicção que esse ex-escravo cartaginês merece. Se esperamos
desde o século XVIII para voltarmos a ter traduções poéticas de Terêncio em
português, eu me sinto mais que bem acompanhado por essa tradução espetacular,
que certamente abre caminhos. A tradução de Matheus de Souza Almeida Oliveira é
publicada pela editora Kotter. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Nova edição de um livro dos melhores romances de Nelson Rodrigues, esta
autobiografia fictícia traz à luz a vida de Suzana Flag, pseudônimo do autor e
uma personagem misteriosa para os leitores. Edição com textos de apoio da
roteirista Renata Corrêa e da professora Elen de Medeiros.
No início deste “romance triste de
Suzana Flag”, a autora-personagem conta sua história desde que, aos quinze
anos, perdeu a mãe e o pai para o suicídio. Órfã e em meio ao luto, ficamos
sabendo que ela é prometida pela avó em casamento a Jorge, um homem a quem
detesta e culpa por sua tragédia familiar. A decisão é, como explica a avó, uma
forma de conter a personalidade rebelde de Suzana, que, se não tolhida desde
cedo, nunca se contentaria com um homem só, a exemplo da mãe. Em sua recusa ao
casamento prematuro, Suzana encontra o apoio de tio Aristeu, o “Gigante
antediluviano” — um homem truculento, com arroubos de violência e apaixonado
pela sobrinha postiça. Juntos, criam um plano que envolve prender toda a
família dela. Porém, a jovem se vê acuada, ameaçada e em dúvida: deve escolher
Jorge ou Aristeu como sua iniciação na vida amorosa? Tudo se complica ainda
mais com o aparecimento de um terceiro interesse amoroso, Cláudio, amigo e
funcionário de Aristeu. Com quem Suzana escolherá ficar ― ou será que
conseguirá, afinal, seguir sozinha? Nessa trajetória dramática, o leitor
descobrirá, com a folhetinista de maior sucesso do século XX, quem
verdadeiramente é a mulher que ela se tornou. Minha vida: autobiografia de
Suzana Flag é publicado pela HarperCollins Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição da coletânea de textos
de Maria Betânia Amoroso sobre Pier Paolo Pasolini.
Esse livro é uma coletânea de
textos de Maria Betânia Amoroso, pesquisadora há décadas sobre Pasolini,
artista frequentemente lembrado como cineasta, mas que também foi poeta,
romancista, dramaturgo, jornalista, editor, tradutor, pintor e crítico de arte.
O texto inicial da coletânea centra-se na vida e obra de Pasolini,
relacionando-as com o esforço de atualização da Itália em relação ao
capitalismo avançado. Já nos textos subsequentes, a autora concentra-se nos
escritos dele. A abordagem caracteriza-se pela articulação sóbria entre vida,
obra e história. Para os leitores brasileiros, o livro traz interesse especial:
além de destacar um poema sobre o Brasil, também nos apresenta como foi a
recepção e a interpretação dos seus livros por aqui, mostrando-nos em quais
aspectos é pertinente relacionar centro e periferia do capitalismo, no que
concerne à obra de Pasolini. Pier Paolo Pasolini é publicado pela
Editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
As raízes da Independência
brasileira.
Publicado originalmente em 2004, o
livro aborda o processo da Independência a partir de Pernambuco, que se
destacou pela resistência contra o centralismo da corte do Rio de Janeiro e seu
projeto de unificação do país. Em busca de autonomia, a província abrigou uma
intensa movimentação política entre 1817 e 1824, com a revolta pernambucana e a
Confederação do Equador como momentos mais marcantes. O prefácio é assinado por
Heloisa M. Starling. A nova edição de A outra independência: Pernambuco
(1817-1824), de Evaldo Cabral de Mello é publicada pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição de um conjunto de
dez ensaios de Silvina Rodrigues Lopes.
O livro Literatura, defesa do
atrito reúne dez ensaios da pesquisadora portuguesa Silvina Rodrigues
Lopes, nos quais a literatura é pensada a partir de alguns de seus temas
decisivos, entre eles: o ensaio, a correspondência, o ensino, a citação, a
memória, a experiência literária. Como escreve a autora, nestes textos “se
questiona a noção de literatura e as condições mínimas de um fazer que não se
subordina a valores nem instituições”. Os ensaios de Silvina Rodrigues Lopes
encantam pelo rigor e pela generosidade. A sua escrita dedica-se a conviver com
o inescapável — afinal, o que é isso que amamos tanto e a que insistimos em dar
o nome de literatura? De que modo a herança, a partilha, a política são
pensadas em relação a ela? E faz isso traçando uma trama de referências e
relações entre escritores, filósofos e teóricos. Aproximar-se dessas páginas é
ser acolhido por este pensamento, e ao mesmo tempo impulsionado por ele a
continuar, guiado também pela alegria de pensar. O livro é reeditado pelas
Edições Chão da Feira.
Com um humor macabro, romance de Shirley Jackson conta a história deliciosamente sombria da família Blackwood.
Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. Sempre vivemos no castelo leva o leitor a um labirinto sombrio de medo e suspense, um livro perturbador e perverso, onde o isolamento e a neurose são trabalhados com maestria por Shirley Jackson. A tradução de Débora Landsberg é publicada pela Editora Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Mais Pier Paolo Pasolini.
A Editora Nós publicará reedição da coletânea de poemas organizada por Alfonso Berardinelli
e traduzida por Maurício Santana Dias — livro do espólio da extinta Cosac
Naify.
Samuel Beckett, o poeta. A
Relicário Edições publicará a poesia completa do dramaturgo. É a primeira vez
que o leitor brasileiro entrará em contato com essa outra faceta da obra
beckettiana.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Caderno proibido, de
Alba Céspedes. Tantos anos mais tarde, enfim outro livro da escritora italiana
entre nós. Quer dizer, outro nem tanto, porque nos anos 1960 este romance junto
com outros vários títulos de Céspedes estiveram presentes nas livrarias. A nova
tradução, agora de Joana Angélica d’Avila Melo saiu pela Companhia das Letras.
Num rompante, Valeria Cossati, dividida entre a vida de empregada num
escritório e as atividades domésticas, compra às escondidas um caderno no qual passa
a anotar seu dia-a-dia. Em meio às trivialidades e os diversos dilemas familiares
a autora começa a descobrir melhor sobre si e sua condição. Você pode comprar o livro aqui.
2. O plantador de abóboras,
de Luís Cardoso. Com este o livro, seu autor conseguiu um feito inédito: o
primeiro autor de Timor-Leste a ganhar um prêmio de reconhecida importância
para a literatura de língua portuguesa, como é o Oceanos, antigo Portugal
Telecom. A editora Todavia, responsável pela publicação do romance no Brasil, designa
que este é um vertiginoso e comovente passeio pela história daquele país asiático,
que no passado atravessou longo período de colonização portuguesa. Uma mulher à
espera do retorno do noivo durante outra ocupação do Timor, a dos indonésios, relata
a história de seu país. Você pode comprar o livro aqui.
3. Gaza, terra da poesia,
de Muhammed Taysir (Org.) Este livro é fruto do encontro de dois belíssimos
projetos. Primeiro o trabalho de Taysir em recolher as vozes de dezessete jovens
poetas nascidos em Gaza, na Palestina e fazê-las ganhar nova potência depois de
reunidas em livro. Depois um grupo de primeiros tradutores brasileiros do Grupo
de Tradução da Poesia Árabe Contemporânea da Universidade de São Paulo expandir
os horizontes dessas vozes nessa que é a primeira versão do livro fora do território
da língua árabe. O livro está publicado pela Editora Tabla com introdução de
Michel Sleiman e Safa Jubran, editores. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Na vinda ao Brasil para a
apresentação de O plantador de abóboras, Luís Cardoso conversou com Tamy
do canal Litera Tamy. Você pode assistir a entrevista aqui.
2. Na galeria de vídeos que compartilhamos em nossa página no Facebook, Julio Cortázar recita seu poema “El futuro” (O futuro). Você pode assistir, acompanhar o poema original e uma tradução, além de comentar, curtir e compartilhar (é claro) aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. O romance de Alessandro Manzoni,
cuja nova edição e tradução foram anunciadas neste Boletim, está comentado no
blog neste texto de Pedro Fernandes.
2. A irrecusável presença de
Alessandro Manzoni no panorama da literatura italiana foi reparada, dentre
tantos outros escritores contemporâneos e posteriores ao autor de Os noivos,
por Natalia Ginzburg. No blog, também resenhamos A família Manzoni —
aqui.
DUAS PALAVRINHAS
a Arte tem de se enriquecer da luz
do real pelo sensível, pelos homens, pela vida, pelas coisas que nos cercam,
sendo, portanto, algo muito mais profundo.
— Ariano Suassuna
...
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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