Boletim Letras 360º #481
DO EDITOR
1. Entre o domingo e a segunda-feira
encerra-se a primeira temporada de sorteios com Kit de livros entre os apoiadores
do Letras. A possibilidade de ajuda, recordo, continuará aberta e os sorteios
de livros continuarão sempre que possível.
2. Quem ainda se interessar pelo
próximo sorteio, fica ainda o convite! O ganhador receberá três livros da
literatura brasileira em curso publicados pela editora-parceira Companhia das
Letras: o romance O avesso da pele, de Jeferson Tenório; o livro de
contos Gótico nordestino, de Cristhiano Aguiar; e o romance Ossos
secos escrito pelo coletivo formado por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni,
Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado.
3. Para se inscrever é simples.
Envia R$25 através do PIX blogletras@yahoo.com.br; finalizada a
operação, envia neste mesmo endereço (nosso e-mail) o comprovante.
4. Outras formas de colaborar com o
Letras estão disponíveis aqui. E, cabe não esquecer que na aquisição
de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem
desconto, também ajuda a manter o Letras sem pagar nada mais por isso.
5. Boas leituras e muito obrigado
pelas ajudas e pela companhia!
LANÇAMENTOS
Uma coleção de textos dispersos
de Natalia Ginzburg ainda inéditos no Brasil.
Os textos reunidos em Não me
pergunte jamais foram, em sua maioria, publicados no diário italiano La
Stampa entre dezembro de 1968 e outubro de 1970. Neles, Natalia Ginzburg
apresenta as suas impressões do mundo e da existência ― da existência no mundo
― por meio de sua prosa sempre expressiva e sempre única, mesclando gêneros
como a crônica e o ensaio, e manifestando também as suas sensíveis inquietações
(impressões, mais que críticas) em relação a textos, canções, imagens e
expressões artísticas de sua época ou que marcaram a sua história pessoal. A
leitura de um romance como Cem anos de solidão, a busca, de quarteirão
em quarteirão, por uma nova moradia, a dificuldade de comunicar-se na infância
e com a infância, a lembrança de um único verso diluído em uma ópera: elementos
tão singelos que se transformam em reflexões pessoais para, depois, espraiar-se
na pungente literatura à procura da interlocução, sempre ideal, sempre
precária. A cada texto, o olhar compenetrado de Ginzburg convida o leitor a
aproximar-se com profundidade das coisas do mundo, uma proximidade particular
que nos une a todos, e desvendar as origens e caminhos do que somos. O livro é
publicado pela editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada ao Brasil da escritora
belga Adeline Dieudonné.
O livro é narrado por uma menina,
que mora com o irmão mais novo e os pais numa casa num subúrbio da Bélgica. No
condomínio, as casas são todas iguais, meio anódinas, daquele jeito que parecem
felizes e que escondem a infelicidade. A mãe, como ela diz, é “uma ameba”, uma
mulher fraca e dominada pelo pai brutal e violento, que além de ser caçador,
ainda coleciona armas e animais empalhados na casa. A menina tem horror do pai
e do quarto dos bichos empalhados, mas é muito ligada no irmãozinho, que é a
fonte de afeto dela. Depois de um acidente terrível, em que uma pessoa morre
tragicamente e cheio de sangue na frente dos irmãos, o menino começa a pirar e
ficar meio malvado, meio psicopata, torturando gatos e se afastando da irmã.
Ela então começa a querer salvar o irmão, meio com coragem, meio com
ingenuidade. A história do livro é essa jornada, em que ela vai encontrando
ajuda para tentar recuperar o irmão, ao mesmo tempo que vai amadurecendo,
aprendendo a lidar com a violência e a dureza. A vida real tem tradução
de Leticia Mei e sai pela editora Nós.
Volume reúne textos da
companheira de Lev Tolstói.
É conhecida a história conturbada
do casamento entre Lev Tolstói (1828-1910) e Sófia Tolstaia (1844-1919). Ambos
mantiveram diários e os últimos anos de vida conjugal foram testemunhados pelos
frequentadores da famosa propriedade da família, Iásnaia Poliana. Esse período
da vida do casal, quando Tolstói defendia a abstinência sexual mesmo entre
cônjuges, suscitou vários estudos e obras de ficção — como o filme A última
estação (2010), com Helen Mirren e Christopher Plummer. A própria voz de Sófia, no entanto, só veio à
tona nas últimas décadas, por meio de duas novelas que escreveu — De quem é
a culpa? (publicada em 1994) e Canção sem palavras (2010). As duas
obras têm sua primeira tradução no Brasil, feita por Irineu Franco Perpetuo, em
Tolstói & Tolstaia. O volume compreende também uma das mais famosas
e perturbadoras obras de Tolstói, Sonata Kreutzer, além de um texto que
o autor escreveu para esclarecer o conteúdo da novela e posfácios assinados
pelo tradutor e por Mário Luiz Frungillo, professor da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Em De quem é a culpa?, Sófia Tolstaia estabelece um
diálogo direto com Sonata Kreutzer. A autora discute temas presentes na
novela do marido: a natureza do amor, a paixão, o ciúme e as complicações da
vida em família. Por sua vez, Canção sem palavras, título emprestado de
uma peça de Felix Mendelsohn, acrescenta a esses temas o poder da música sobre
o temperamento humano, assunto também da novela de Tolstói, que reporta à
sonata de Ludwig von Beethoven. A personagem central de De quem é a culpa?,
Anna, tem 18 anos; é senhora de si, leitora de filosofia, aspirante a escritora
e praticante da música e da pintura. Dois homens a cortejam. Ela se apaixona
por um deles, o príncipe Prózorski, 17 anos mais velho. Prózorski confessa ter
tido uma vida devassa, voltada ao amor carnal, o que provoca ciúme e alheamento
em Anna, defensora da espiritualidade. A trama evoca a história do próprio
casal de escritores: Tolstói, antes de se casar com Sófia, contou a ela que
tinha engravidado uma serva que ainda morava em Iásnaia Poliana com a filha. O
escritor nunca escondeu que, depois de abandonar os estudos de literatura
oriental, vivera um período de intensa entrega aos prazeres da carne. Em Canção
sem palavras, a protagonista, Sacha, abalada pela morte da mãe, passa a
questionar a vida que leva com um marido frequentemente hostil e se aproxima de
um pianista e compositor profissional, para quem a arte está acima de tudo.
Como Anna, Sacha se aferra ao ideal da espiritualidade do amor e conclui que a
influência humana profana a “pureza virginal” da natureza. Segundo Mário Luiz
Frungillo, no posfácio da edição, as duas novelas “apresentam os sentimentos da
mulher de um modo que seria inimaginável para Pózdnychev”, o protagonista de Sonata
Kreutzer. Na novela de Tolstói, Pózdnychev conhece o narrador durante uma
viagem de trem. Não demora para que ele informe ter matado a esposa. A seguir,
passa a expor suas convicções sobre o amor e o casamento, de maneira clara e
brutal. Para ele, as mulheres, privadas de direitos, “se vingam agindo sobre
nossa sensualidade, prendendo-nos em sua rede”. Quanto aos homens, fingem que a
dissipação não existe e passam a crer que são pessoas morais. Como toda grande
obra de arte, Sonata Kreutzer é complexa e ambígua, ao pôr na voz de um
assassino ideias de pureza em que o autor acreditava. A diatribe contra as
concepções dominantes de amor e família suscitou numerosas respostas à novela e
sua proibição na Rússia e nos Estados Unidos. Referências biográficas estão por toda parte
nas novelas reunidas em Tolstói & Tolstaia. Sófia, que, ao se casar
com o autor de Anna Kariênina ganhou o título de condessa, tinha 18 anos quando
conheceu o escritor, 16 anos mais velho. O casal teve treze filhos, oito dos
quais sobreviveram à infância. Sófia encontrou tempo para exercitar-se na
recente arte da fotografia e para copiar sete vezes em boa caligrafia os
originais de Guerra e paz, um dos romances mais extensos da história. Os últimos anos do casamento foram
torturantes. Na época Tolstói se afastava da literatura e se dedicava a
escritos teóricos sobre família e Estado, na direção de um radical anarquismo
cristão. A discussões do casal chegaram ao ápice depois que o escritor
manifestou o desejo de renunciar a suas propriedades e da renda proveniente da
venda de seus livros. Em 1910, Tolstói abruptamente deixou Iásnaia Poliana em
companhia da filha Alexandra e um médico. Dez dias depois, morreu numa estação
de trem. Sófia continuou morando na propriedade até sua morte. O livro é
publicado pela editora Carambaia. Você pode comprar o livro aqui.
A Bíblia recontada para jovens
de todas as idades.
Grande sucesso editorial lançado
originalmente na França, Bíblia: as histórias fundadoras reúne trinta e
cinco histórias fundamentais do Antigo Testamento, selecionadas e recontadas
para jovens de todas as idades pelo escritor Frédéric Boyer, acompanhadas das
belas ilustrações coloridas de Serge Bloch. Histórias fundadoras, porque estão
entre as mais antigas e longevas do patrimônio literário da humanidade e estão
na raiz de três das grandes tradições religiosas do planeta — contos que há
séculos vêm alimentando e provocando a reflexão filosófica e ética sobre a
condição humana, o sentido da existência, dos sentimentos e dos atos, e isso
entre religiosos e céticos, eruditos e curiosos. Narradas aqui de maneira
breve, em frases ora telegráficas, ora enigmáticas, sempre poéticas, por
Frédéric Boyer — autor de diversos romances, tradutor de Santo Agostinho e
responsável por uma inovadora edição integral do Antigo Testamento —, e
ilustradas com graça e força dramática por Serge Bloch — colaborador frequente
de periódicos franceses e norte-americanos, como Télérama, New Yorker
e Washington Post —, as inspiradoras histórias reunidas nesta Bíblia vão
do Jardim do Éden à torre de Babel, da arca de Noé às tábuas de Moisés, dos
patriarcas fundadores aos profetas e aos grandes reis, passando por figuras
femininas inesquecíveis como Ruth, Ester e a rainha de Sabá. O livro é
publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
Uma caminhada pelas sendas do
medo.
Poucas vezes, como neste livro, a
dor se torna carne viva e incandescente, um relato honesto de uma experiência
que nasce autobiográfica e que logo se prova universal. Simona Vinci mergulha
nos próprios medos e vai em busca de palavras por meio das quais confessá-los.
A ansiedade, o pânico e a depressão são frequentemente silenciados: aquele que
os sente se percebe isolado dos outros, impossibilitado de pedir ajuda. Mas é
apenas ao aceitar “refugiar-se no mundo” e compartilhar a própria experiência
que se sobrevive. A segurança do consultório do psicólogo, e a do cirurgião plástico,
que devolve dignidade a um corpo do qual se envergonha, a apreensão da
maternidade, a fúria da juventude, até a ruptura inicial por meio da qual
possivelmente tudo começou. Escavando dentro de si mesma, Simona Vinci nos
estende um espelho que também nos reflete. Ela se entrega às palavras porque “as
palavras nunca me traíram”. Porque na literatura, ao menos quando nela se
assume uma voz assim tão clara e forte, todos nós podemos encontrar redenção. O
medo do Medo é publicado pela editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada de um novo romance Francisco
José Viegas no Brasil.
Um corpo pendurado dos pilares da
Ponte de D. Luís, no Porto, Portugal, desafiando uma cidade em transformação,
cosmopolita e repleta de turistas. O cadáver de uma mulher abandonado nas
colinas do Douro — e a evocação de uma série de crimes no submundo da noite da
segunda maior cidade portuguesa. O que parecem ser dois casos isolados acabam
por revelar ligações e caberá ao inspetor Jaime Ramos, o célebre personagem
criado por Francisco José Viegas há quase 30 anos, desvendá-las. Aos 60 anos,
Jaime Ramos se tornou um inspetor veterano da Polícia Judiciária da zona do
Porto e se depara com a passagem do tempo e a efemeridade da vida. Vencedor dos
prêmios Fernando Namora 2020 e o Pen Clube Narrativa 2020, A luz de Pequim
é, nas palavras do autor, “um romance de avaliação de experiências passadas e
incertezas atuais”. Francisco José Viegas oferece aos leitores um romance
policial fora dos padrões, apresentando uma narrativa introspectiva e por vezes
sombria, em que descreve a sociedade portuguesa de forma crua e sem floreados.
Este é um romance denso e crepuscular em que a figura de Jaime Ramos se
interroga sobre o sentido de ser português em um país dominado por elites
cúmplices, endogamias e poderes ocultos. O livro é publicado pela editora
Gryphus. Você pode comprar o livro aqui.
Adriana Lisboa autobiográfica.
A medida do amor, em régia
proporção, é a mesma da dor — eis a descoberta sempre tardia do luto. Justo
então será, aos que restamos, examinar a letra miúda de uma tal revelação.
“Dura quanto o amor para ser amor?”, pergunta-se a narradora deste livro entre
as visitas ao pai internado em um hospital e as caminhadas pelo Jardim Botânico
do Rio de Janeiro. No percurso, mais que um entendimento sobre os extremos da
vida, o que lemos é um testemunho pessoal moldado pela memória e por um agudo
senso de observação. Autora de uma obra consistente de prosa e poesia, Adriana
Lisboa expõe-se pela primeira vez em um ensaio de cunho autobiográfico. Num
inteligente uso de material literário, a escritora traduzida em mais de vinte
países dá voz a uma Adriana em família para narrar a morte dos pais, ocorrida
em um curto intervalo de tempo. Retorna, nas horas em que a ficção parece uma
intrusa, ao berço da escrita, para decifrar a genealogia de sua inquietação
artística. “Os olhos dele nos meus, a mão dele na minha, e que bobagem isso de
literatura.” Enquanto procura um significado
outro para as formas vivas, Todo o tempo que existe presta um
tributo a quem, no tempo, já não existe. Com o estilo apurado de sempre, Lisboa
compartilha a experiência de luto e encontra uma nova função para a narrativa. O
livro é publicado pela Relicário Edições.
Livro reúne ensaios em trânsito
entre literatura e o Antropoceno.
Muitas áreas da cultura têm se
proposto a falar do Antropoceno — o período vigente, em que o impacto de
algumas ações humanas sobre o meio ambiente se mostrou ainda mais destrutivo,
quiçá irreversível. A seu modo, cada campo do conhecimento destrincha nossos
graves delitos como humanidade que se pensou superior às outras formas de vida,
às outras espécies e a determinados grupos entre seus iguais. Mas é na
literatura — sempre ela — que essas dores ganham corpo e contornos capazes de
nos tirar da zona de conforto e nos fazer imaginar mundos possíveis, com relações
e ações mais harmoniosas, horizontais e coletivas. Depois do fim reúne um time
de grandes autores em ensaios literários que propõem reflexões sobre dilemas
atuais — catástrofe climática, extinção de outras espécies, exclusão social
impulsionada pela exploração neoliberal, ameaça aos povos originários, entre
outros temas —, convidando-nos a pensar sobre como tecer, em conjunto, um novo
começo. Entre os autores, Itamar Vieira Junior se dedica à reflexão sobre como
humanos se relacionam com as outras espécies e o lugar afetuoso, ou não, que
destinam a elas; Ana Rüsche comenta a ficção científica politicamente engajada
de Ursula Le Guin, e Fabiane Secches fala da visão de mundo integrada com o
todo da personagem sra. Dusheiko de Sobre os ossos dos mortos. Daniel
Munduruku fundamenta a literatura indígena e defende como ela vem rompendo
estereótipos e se constituindo como lugar de experimentação estética. Paulo
Scott dialoga com “O direito à literatura”. Organizado por Fabiane Secches, Depois
do fim: conversas sobre Literatura e Antropoceno é publicado pela editora
Instante.
O novo romance de Maria José
Silveira.
Em uma época passada, pré-invasões
europeias, uma profusão de seres e povos da floresta se prepara para um embate
que promete abalar a vida no planeta. Neste romance distópico e metafórico de
Maria José Silveira, amazonas e guerreiros viris dividem a cena com figuras
ambíguas e cômicas, como os irmãos Macu e Naíma, espécie duplicada de Pedro
Malasartes, além de outros tantos entes do folclore nacional. Num enredo que
marcha de várias direções para chegar a uma arena mítica, a autora nos envolve
numa narrativa que mescla humor, sensualidade e crítica social. Aqui neste
lugar é publicado pelo selo Contemporânea/ Grupo Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
Uma nova tradução para um dos
ensaios vitais sobre a obra-prima de Marcel Proust.
A obra fundamental de Marcel
Proust, Em busca do tempo perdido, nunca deixou de interrogar o filósofo
Gilles Deleuze. Em 1964, ele publicou Proust e os signos, com a primeira parte
do livro que o leitor agora tem em mãos. Nela, Deleuze lê a obra de Proust como
o relato de um aprendizado da decifração de sinais, culminando na revelação
final da Arte como a mais alta espécie de signos. Em 1970, após Diferença e
repetição (1968), o filósofo retornou a Proust e acrescentou ao livro uma
segunda parte, “A máquina literária”, na qual ele investiga o sistema de
ressonâncias que Em busca do tempo perdido engendra e a dimensão transversal que
responde por sua unidade. Posteriormente, em 1973, tendo já atravessado a
aventura de O anti-Édipo (1972), Deleuze voltou à obra proustiana com o
texto que encerra o presente volume, em que associa seu procedimento narrativo
à construção de uma teia e a figura de seu narrador àquela da Aranha que se
move ao menor sinal emitido pela presa. Neste Proust e os signos, com
nova tradução de Roberto Machado, um dos grandes conhecedores de Deleuze no
Brasil, o leitor pode acompanhar todo o percurso de leitura do filósofo francês
que, no espaço de uma década, passou da decifração dos signos à sua intensa
devoração. O livro é publicado pela Editora 34.
Visões de Mário de Andrade
entre o grupo modernista dos cinco.
Por meio da análise da
correspondência entre Mário de Andrade e o Grupo dos Cinco (Menotti del Picchia,
Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti), Mauricio Trindade da
Silva busca ampliar a compreensão da centralidade de Mário de Andrade na
constituição do modernismo brasileiro, e seu papel de influenciador e
fomentador da arte e da cultura nacionais. Para tanto, traz informações
consistentes sobre cada integrante do Grupo dos Cinco e faz uma reconstrução
dos anos de formação de Mário de Andrade e sua aproximação com os jovens
modernistas, explorando principalmente os diálogos e tensões entre eles. Mário
de Andrade, epicentro: sociabilidade e correspondência no Grupo dos Cinco é
publicado pela SESC-SP Editora. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada ao Brasil do poeta
português Fernando Machado Silva.
O novo livro do poeta português
Fernando Machado Silva publicado na Série Lusofonia inicia pelo verso do
título, ao evocar o espírito de Clarice Lispector, e busca se encaixar nas
dimensões de tempo e espaço, para o intento de transcendê-las: “um ano de escrita
entre duas datas. eis do que se trata. como d’outros livros, anteriores, é de
uma vida o que se lê. uma memória que gela, suspende, se confronta, se despede
para aí retornar.” Sua poesia traz a voz forte e cadenciada que fala do
movimento inverso da deslocação da cidade para o campo, o conceito da vida como
viagem, transitória e perene. Inspirados em Clarice, os versos de Às vezes
acordo do longo sono — e volto-me com docilidade para o delicado abismo da
desordem associam o ato de escrever a uma espécie de “acordar”. As referências
clariceanas perpassam o texto poético, em um diálogo presente de lusofonia e
partilha artística. Depois de ‘O coração estendido pela cidade’, nos versos do
poeta, é o posfaciador Henrique Manuel Bento Fialho que repara na brisa dos
“dias consumados entre uma experiência de vida e uma ideia de morte”, em uma
busca incessante da infinita beleza que atravessa os sentidos do perceptível.”
O livro é publicado pela editora Jaguatirica. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
A prosa inédita de César Vallejo. A Editora Bandeirola inicia financiamento coletivo para a publicação da sua coleção Clássicos Vintage. Desta vez, publica-se dois textos em prosa do poeta venezuelano: Escalas melografiadas e Fábula selvagem, até agora inéditos entre os leitores brasileiros.
A maldição Cosac. A SESI-SP anunciou que deixará de publicar obras literárias. A suspeita da atitude já rondava o ar desde quando livros desse nicho começaram a aparecer em promoções com descontos agressivos. A decisão acompanha a forte crise que assola o mercado editorial brasileiro e repete o destino da famosa casa Cosac Naify, de quem a editora havia herdado e reeditado vários títulos.
REEDIÇÕES
Nova edição de um dos mais
importantes romances brasileiros do século XIX.
Depois de vir para Brasil com o
intuito de enriquecer e ascender socialmente, o português João Romão assume a
propriedade de um cortiço no Rio de Janeiro, um ambiente inóspito com ar úmido,
quente e solo lodoso. Além do conjunto de moradias, ele também é dono de uma
pedreira e uma venda, e todo o seu plano enriquecimento passa pela exploração
do trabalho e do consumo dos moradores do cortiço. Uma das obras mais
conhecidas da literatura nacional, O cortiço se mostra também como uma
grande crítica à formação da burguesia no Brasil. Com personagens fortes e
muito bem construídos, Aluísio Azevedo mostra uma realidade de formação de
riqueza com base em golpes e exploração do trabalho de mão de uma obra pobre,
que se sujeitava ao trabalho em troca de uma moradia insalubre — retrato longe
de ser superado no Brasil de hoje. Esta edição da Antofágica conta com pinturas
inéditas de Kika Carvalho. A apresentação é feita pelo escritor Alê Garcia, e
assinam os posfácios o historiador Luiz Antonio Simas, o escritor José Falero e
Sílvio Roberto Oliveira. Você pode comprar o livro aqui.
Uma amostra do cronista José
Lins do Rego.
Os livros do Ciclo da
cana-de-açúcar são, muitas vezes, considerados as obras-primas de José Lins do
Rego. Mas a realidade é que o autor foi um dos mais versáteis da sua geração, e
escreveu várias histórias distintas, sempre com o mesmo nível de complexidade
narrativa e personagens cheios de nuances. Essas características também podem
ser vistas na forma como ele conduziu suas crônicas, sendo que várias tramas
excelentes do estilo se encontram na seleção Melhores crônicas José Lins do
Rego. A coletânea inédita, com 1.ª edição em formato de livro de bolso,
reúne crônicas publicadas na imprensa, em jornais como O Globo, Jornal
dos Sports e outros. Parte dos textos da coletânea, depois de ter sido
publicada em jornais, também foi reunida em livros do próprio Zé Lins, como Gordos
e magros, Poesia e vida e O vulcão e a fonte. Entre os temas
abordados, estão assuntos que reforçam o contexto social no qual estava
inserido, passando por literatura, cotidiano, política e até mesmo cinema e
futebol. A seleção das crônicas foi realizada por Bernardo Buarque de Hollanda,
professor-adjunto da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas
(FGV/CPDOC), autor, dentre outros livros, de O descobrimento do futebol:
modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego
(Biblioteca Nacional, 2004) e ABC de José Lins do Rego (José Olympio,
2012). Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição do segundo romance
de Rachel de Queiroz.
João Miguel é o
segundo romance escrito por Rachel de Queiroz. Tristão de Athayde considerava
este o melhor dos quatro romances da primeira fase de Rachel de Queiroz. É o
drama da prisão. Ainda é um romance profundamente rural, como O Quinze.
Um crime e uma absolvição. E entre eles uma traição, uma traição de amor. Em João
Miguel a autora se revela a grande mestra na arte de criar personagens
vivas, um João Miguel a tomar consciência do seu crime, uma Salu, um seu Doca,
uma Angélica. A obra se liberta da sua própria autora e vive por si. João
Miguel é um homem comum. A psicologia do preso é analisada com argúcia por
Rachel. A mulher o abandona. Ele se vê só diante do destino que o perturba. Zé
Milagreiro, que está preso na mesma cadeia, mata o tempo a fazer ex-votos,
milagres de madeira, que são encomendados por gente que deseja pagar promessas.
A angústia da prisão, a tensão de João Miguel, treme nestas páginas. O trabalho
reequilibra o preso. E com a mão assassina ele vai compondo os seus trabalhos
manuais com a fibra de carnaúba. João Miguel é o romance da frustração e
da espera angustiada. É um romance social, com um penetrante aprofundamento de
análise psicológica. Rachel recria a vida de uma prisão numa pequena cidade do
interior. Há uma mistura de fatalismo, de acaso, de injustiça social, neste romance
que é o romance da solidão humana e, ao mesmo tempo, uma denúncia e um
protesto. A nova edição é publicada pelo selo José Olympio. Você pode comprar o livro aqui.
Livro reúne, em único volume,
dois títulos de Ricardo Domeneck.
Cigarros na cama foi
publicado originalmente em 2011 e reeditado pela Luna Parque em 2019, e Manual
para melodrama, pela 7Letras, em 2016. Mesmo se tratando de gêneros diferentes
— poesia e prosa —, os dois livros tratam de um tema comum — a separação — e
foram escritos no mesmo ano de 2011. Com poemas reescritos e alguns textos
inéditos, esta edição apresenta uma nova chave de leitura para as obras, como
explica o próprio autor: “ao abrir o volume com o Manual para melodrama,
publicado cinco anos depois da edição original de Cigarros na cama, eu
reestabeleço sua verdadeira cronologia de composição. Foi esta a ordem na qual
foram escritos. A partir desta edição, passo a vê-los como um único livro, que
assume sua forma [quiçá] final aqui.” Segundo Ismar Tirelli Neto, “o leitor tem
a felicidade de ter em mãos agora dois volumes sem os quais é praticamente
impossível pensar a literatura queer exercida no Brasil nas últimas duas ou
três décadas. Descabidos na boca e descompensados no gesto, os textos aqui
reunidos transformam a fossa numa arte maior na exata medida em que embaraçam e
complexificam ideias de ‘maior’, ‘menor’, ‘alto’, ‘baixo’, dor de umbigo, dor
de estrelas. São textos nucleares, textos que continuam nos formando a nós,
leitores. Uma colocação hiperbólica? De forma alguma. É um fato.” A edição é da
editora 7Letras.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Sob o signo de Saturno,
de Susan Sontag. A obra da ensaísta estadunidense sempre se ergueu a
partir de uma visão livre, comprometida e ciosa na elaboração de uma interpretação
do mundo. Os ensaios reunidos neste livro que agora recebeu nova tradução é
talvez um dos exemplos singulares capazes de oportunizar os leitores ao encontro
com o melhor da Sontag. Os textos aqui reunidos datam dos anos oitenta do
século passado, ou seja, do alto período de produção da ensaísta. Versam desde
o modernismo na literatura, passando pelo belo no cinema alemão e encontrando
interesses sobre a escrita, a história e herança de alguns pensadores que constituíram
o universo de pensar de Sontag: Antonin Artaud, Roland Barthes, Elias Canetti,
Walter Benjamin... Traduzido por Rubens Figueiredo, o livro está disponível
pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
2. Campo Santo, de
W. G. Sebald. A obra literária do escritor está entre os muitos pilares
do século XX; conhecemos algumas delas, incluindo os excelentes Os anéis
de Saturno e Austerlitz. Mas, fica o convite para entrar na sua
ensaística a partir deste livro que reúne textos que apontam o interesse do autor
pelo poder da memória e da história pessoa, além da leitura inovadora para
obras de nomes como Günter Grass, Heinrich Böll, Franz Kafka, Peter Handke,
Vladimir Nabokov e outros. O livro saiu em 2021 pela Companhia das Letras com
tradução de Kristina Michahelles. Você pode comprar o livro aqui.
3. Tempo final, de Maylis
Besserie. Foi com este livro, o primeiro escrito pela produtora de rádio
francesa, que mereceu atenção do júri do prestigiado Prêmio Goncourt em 2020. A
narrativa reinventa os últimos dias do escritor Samuel Beckett numa pequena
casa de repouso em Paris. Uma tessitura entre o biográfico e o conteúdo pinçado
da ficção do dramaturgo, o romance revisita as amizades com figuras como editor
da sua obra ou o escritor James Joyce, as memórias sobre algumas obras, como as
primeiras apresentações de Godot. A tradução de Lívia Bueloni Gonçalves
foi publicada pela editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. O conto da aia à prova de
fogo. A Penguin Randon House lançou uma edição à prova de fogo do romance da
escritora canadense Margaret Atwood. O livro já esteve reiteradas vezes na mira
da censura dos puritanos. A publicação é parte de uma campanha contra a censura
e está disponível para leilão na Sotheby’s de Nova York; toda a renda será
revertida para a Pen America, uma entidade que luta pela defesa da liberdade de
expressão. Publicado em 1985, O conto da aia é uma distopia ambientada num
regime autoritário que tomou o poder nos Estados Unidos e faz das mulheres
criaturas subjugadas. Livros são censurados e queimados em várias partes do
mundo e só nos EEUU, mais de seis mil ações buscaram banir alguns títulos em
escolas e bibliotecas de vários estados no último ano. Saiba mais aqui.
2. Entre a programação de seis décadas de existência, a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Edufrn) está a publicação de cinco volumes intitulado O sertão de Oswaldo Lamartine. A coleção organizada a partir de uma ação de extensão da casa reúne uma extensa quantidade de material que constitui a vasta obra do sertanista; a arte da capa é outro detalhe à parte: exibem telas do artista plástico potiguar Newton Navarro. As edições acomodam ainda depoimentos de personalidades de convívio de Lamartine como Ariano Suassuna e Rachel de Queiroz. Os livros estão disponíveis em dois formatos: impresso e digital, no Repositório Institucional da UFRN.
BAÚ DE LETRAS
1. Agora que os livros de Sófia Tolstaia chegam ao Brasil, vale recordar este texto que editamos em maio de 2015; discorre sobre a biografia da autora à sombra de Liev Tolstói.
2. Ainda Sófia e Tolstói. A sinopse enviada pela Carambaia cita o filme de Michael Hoffman, A última estação. O título está entre as recomendações dessa lista que editamos em dezembro de 2009 com onze produções que contam sobre a biografia de escritores.
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO COLABORAR COM A MANUTENÇÃO DESTE ESPAÇO
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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