John O’Hara: a arte de queimar pontes
Por Kiko Amat John O'hara. Foto: Ben Martin Sempre desconfiei de pessoas que não têm inimigos, embora, claro, alguns estão sempre num outro extremo. John O’Hara, um dos grandes escritores estadunidenses do século XX, colecionou ao longo de sua vida grandes inimizades em todas as áreas da literatura e da imprensa; ressentimentos perenes que determinariam seu legado e presença no cânone moderno. E pagava com a cara. Dê uma olhada na foto dele: está ostentando o típico rictus do fulano que acabou de ouvir em um bar como dois tipos, a dois bancos de distância, trocavam comentários lascivos sobre sua esposa. Não, John O’Hara não era um fidalgo gentil. Alguns até sugerem que ele era um grande filho da puta: arrogante, pouco generoso, briguento (com um “temperamento volátil”), mais ambicioso do que o plano de expansão territorial do Terceiro Reich e, ainda por cima, com um vinho muito ruim. Muitos outros artistas ganharam uma reputação de mau humorados, sim, mas alguns deles (como H