Boletim Letras 360º #474
DO EDITOR
1. Caro leitor, durante a semana
anunciamos em nossas redes e também por aqui quais os três livros do catálogo do
grupo Companhia das Letras formam o Kit a ser sorteado no próximo mês de maio
entre os apoiadores do Letras.
2. São eles: o romance O avesso
da pele, de Jeferson Tenório; o livro de contos Gótico nordestino,
de Cristhiano Aguiar; e o romance Ossos secos escrito pelo coletivo formado
por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de
Machado.
3. Para se inscrever é simples.
Envia R$25 através do PIX blogletras@yahoo.com.br; finalizada a
operação, envia neste mesmo endereço (nosso e-mail) o comprovante. O sorteio
está previsto para o dia 29 de maio. A escolha dos títulos desta vez sublinha o
Dia da Literatura Brasileira (celebrado no primeiro dia do próximo mês) e a
pluralidade de novas vozes de nossa literatura hoje.
4. Outras formas de colaborar com o
Letras estão disponíveis aqui. Sua ajuda é sempre muitíssimo bem-vinda
e, em nome do projeto, registre-se os agradecimentos a todos que, de alguma
maneira, contribuem para sua continuidade.
5. Aproveite nossas boas
informações e boas leituras. E, cabe não esquecer que na aquisição de
qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto,
também ajuda a manter o Letras sem pagar nada mais por isso.
Charles Bukowski. Foto: Ulf Andersen. |
LANÇAMENTOS
O melhor de quatro décadas de poesia transgressora, crua e autêntica Charles Bukowski.
O poeta estadunidense começou a escrever poemas aos 35 anos e não parou mais. Publicou o primeiro livro de versos, Flower, Fist, and Bestial Wail, em 1959 e, dois anos antes de sua morte, o último, The Last Night of the Earth Poems (1992) — além de uma grande produção inédita, parte da qual foi lançada postumamente. Em quase quarenta volumes de poemas, o autor destilou — sobretudo em versos brancos, sem rima — seu olhar cru e autêntico sobre a vida humana. Olhar esse não desprovido do humor muito peculiar de quem dedica um sorriso irônico à fugacidade da existência e ao som e à fúria que nos envolvem desde que nascemos até nosso último suspiro. Aqui o leitor tem a melhor e mais abrangente antologia poética de Bukowski, cobrindo quase quarenta anos. O conteúdo foi selecionado pelo biógrafo e estudioso Abel Debritto entre livros, composições publicadas somente em periódicos e versos inéditos. Os 95 poemas ora reunidos vão da ferocidade quase surrealista dos primeiros anos, passando pela fase underground do Velho Safado (pós-anos 1970) e culminando, enfim, na produção mais filosófica das últimas décadas. É impossível não se identificar com a voz que aqui ressoa, denunciando o desespero e o absurdo da condição humana, seja ao tratar de amor, morte, sexo ou escrita — seus temas mais visitados. Com o olho arguto para o ridículo e o comezinho, o autor fala aos anseios mais profundos e sobre as facetas mais estranhas da existência. O resultado é uma poesia dura, implacável, às vezes com um toque de graça, mas sempre original. Inclui apresentação de Abel Debritto, além de desenhos e manuscritos do velho Buk. Com tradução de Rodrigo Breunig e Pedro Gonzaga, Bukowski essencial: Poesia é publicado pela L&PM Editores. Você pode comprar o livro aqui.
A obra de Miriam Alves em revista.
Em 1978, no Teatro Municipal em
São Paulo, surgiu o Movimento Negro Unificado (MNU), data em que o pensamento
coletivo acerca da escrita de autoria negra começou a se formar, conectando
escritores em um corpo cultural a um só tempo diverso e coeso. Embora já
escrevesse desde a infância, é a partir desse movimento que Miriam Alves passa
a elaborar as vivências e subjetividades negras brasileiras e a traduzi-las em
seu fazer literário, cuja grandeza não foi devidamente medida pelo racismo
estrutural que ainda hoje é motivo de combate na literatura e na sociedade.
Nascida em 1952, aos trinta anos Miriam Alves passou a publicar seus poemas,
contos e romances, pelos quais obteve reconhecimento internacional. No Brasil,
no entanto, o cânone branco, masculino e classista apequenou sua escrita. A fim
de questioná-lo, Miriam Alves plural: teoria, ensaios críticos e depoimentos
também surge para endossar o crescente reconhecimento da literatura negra e
pavimentar o caminho para aqueles que desejam atravessar a trilha de pele,
faca, luta, gritos, arte, amor e desejo que a poeta construiu ao longo de quarenta
anos de trajetória. Dividida em quatro partes, a coletânea traz análises do
contexto histórico e cultural que fez emergir a literatura desta filha de
Iansã, bem como sua inserção na literatura negra, brasileira, latino-americana,
feminista, e as características de sua obra. Com quinze autores, todos
pesquisadores das mais diversas universidades do país e do exterior, os textos
perpassam a biografia, os contos publicados nos Cadernos Negros a
partir da década de 1980, os romances Maréia e Bará: na trilha do
vento, dos anos 2000, bem como os poemas recentemente reunidos
(Fósforo/Luna Parque, 2022). E sem esquecer do lado político e teórico, as
escritoras ressaltam sua voz ativista proeminente na diáspora afro-atlântica na
esteira do trabalho de Audre Lorde, bell hooks, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez
entre outras pensadoras. Há ainda uma interlocução por cartas e um texto
inédito de Zula Gibi, heterônimo de Miriam Alves que sempre causou desconforto
entre os conservadores. Por esse percurso, pode-se dar conta da pluralidade de
Miriam Alves, mulher-búfala que com força e movimento perene tem afastado os
preconceitos contra a literatura negro-brasileira, apontando para um futuro
que, como diz seu poema “Estrelas no dedo”, “um dia [...] fará / realizar todas
as verdades / imaginantes”. O livro é publicado pela Fósforo.
Novo livro da autora de A
cachorra aborda, pelos olhos de uma criança, a solidão feminina e as
imposições sociais na vida de mulheres.
Claudia mora com os pais em Cáli,
na Colômbia, em um apartamento tomado por plantas e rodeado por precipícios
físicos e metafóricos. O ambiente, exuberante e bem-cuidado, é um contraste,
uma oposição à mãe indiferente que está em conflito com os caminhos escolhidos
e impostos para a própria vida. Como muitas famílias, a de Claudia passa por
uma crise, e basta o casamento de seus pais estremecer para que ela comece a
entender a fragilidade dos limites que mantêm a previsibilidade do cotidiano. A
partir da expectativa e de seu olhar atento e ao mesmo tempo inocente de
criança, é a menina que narra os acontecimentos que abriram as fendas por onde
entraram seus piores medos, aqueles que são irreversíveis e podem levar à beira
dos abismos. Nos últimos anos da infância, Claudia começa a entender que a
existência chega ao fim e que essa ruptura pode ser uma escolha pessoal. É
pelos relatos da mãe, obcecada por revistas de celebridades ― e em especial
pelas figuras femininas com finais trágicos, como Grace Kelly ―, que ela faz a
correspondência entre a morte e as escolhas e passa a temer pelas decisões de
sua progenitora. Em meio à beleza e à violência da natureza, confrontando
desejos inconfessos, criança e mãe se encontram e, assim, o destino da mais
velha parece se debruçar sobre o abismo contra o qual tantas outras mulheres
também já se depararam. Com tradução de Elisa Menezes, Os abismos é
publicado pela Intrínseca. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada ao Brasil do líbio
Ibrahim Al Kôni.
Um líder que ninguém jamais viu
nomeia, por meio de seu mensageiro, um lugar-tenente para representá-lo em
certo oásis do vasto deserto saariano. Os critérios para essa escolha não são
claros. O ritual de unção do eleito, diga-se assim, envolve o uso de uma túnica
que logo se revela um instrumento a um só tempo sutil e monstruoso de controle
e dominação desse lugar-tenente. O enredo todo, com suas idas e vindas, é um
grande pretexto para a discussão que de fato interessa ao autor: os processos
de corrosão e devastação desencadeados pela sede de poder e pelas ambições
desmedidas que a acompanham. Mais do que uma alegoria sobre o poder, a novela O
tumor, do líbio Ibrahim Al Kôni, é uma fantasia distópica sobre o poder. A
trama se desenvolve no seio de uma sociedade desértica, num oásis, e, para além
das soberbas descrições de costumes e do meio — Al Kôni é membro dessa etnia,
que ele conhece como ninguém —, evidencia que a organização social do deserto,
por mais rústica e distante que possa parecer à primeira vista, está mais
próxima das sociedades modernas do que sonha a nossa vã filosofia. Com tradução
de Mamede Jarouche, o livro é publicado pela editora Tabla.
Coleção publicada pela editora Boitempo em parceria com a Fundação Astrojildo Pereira destaca a obra do crítico e pensador brasileiro. Os títulos deste projeto que envolvem estudos de obras e autores da
literatura brasileira são:
1. Machado de Assis: ensaios e apontamentos
avulsos. Lançado pela primeira vez em 1959, é um dos trabalhos mais
importantes e conhecidos de Astrojildo Pereira. O autor traz uma detalhada
análise sobre a vida e obra de um dos maiores nomes da literatura brasileira,
revelando um escritor perspicaz, crítico atento e sensível e um romancista com
forte sentido político e social. A nova edição da obra inclui novos textos,
atualização gramatical e uma padronização editorial. Os textos introdutórios
das edições passadas foram suprimidos e novos foram incorporados, havendo uma
exceção no caso do escrito de José Paulo Netto. Quase 30 anos depois da redação
de “Astrojildo: política e cultura”, Paulo Netto retomou o seu texto e preparou
uma nova versão que abre a presente edição como seu prefácio. O historiador
Luccas Eduardo Maldonado assina a orelha. As ilustrações de Claudio de Oliveira
utilizadas na terceira edição foram mantidas na atual. Alguns anexos foram
incorporados como a crônica “A última visita” de Euclides da Cunha (1866-1909),
na qual relata a visita de Astrojildo ao leito de morte de Machado de Assis.
Outro incremento foi “Machado de Assis é nosso, é do povo” de Astrojildo,
publicado em novembro de 1938 na ocasião dos 30 anos do falecimento do Bruxo do
Cosme Velho. O texto apareceu originalmente na Revista Proletária,
periódico vinculado ao PCB que tinha uma circulação extremamente restrita
devido à ditadura do Estado Novo. Um artigo do militante comunista Rui Facó
(1913-1963), intitulado “Em memória de Machado de Assis”, foi anexado. Esse
texto apareceu originalmente em 27 de setembro de 1958 no Voz Operária,
jornal oficial do comitê central do PCB, e fazia uma homenagem ao fundador da
ABL no cinquentenário de sua morte. Por fim, inclui-se também uma resenha de
Machado de Assis de Astrojildo escrita por Otto Maria Carpeaux, intitulada
“Tradição e Revolução”. Você pode comprar o livro aqui.
2. Interpretações. Lançada
em 1944, a antologia inclui textos redigidos entre 1929 e 1944. Com positiva
repercussão pela crítica e pelas instituições culturais, o livro foi incluído
no Summary of the History of Brazilian Literature, programa de divulgação
cultural que colocava Astrojildo ao lado de autores consagrados como Mário de
Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de
Holanda. Interpretações está dividido em três partes: “Romances
Brasileiros”, “História política e social” e “Guerra Após Guerra”. A primeira
parte aborda a obra de diversos romancistas nacionais como Machado de Assis,
Manuel Antonio de Almeida, Joaquim Manuel de Macedo, Lima Barreto e Graciliano
Ramos. A segunda parte analisa as vicissitudes históricas da formação
brasileira, incluindo o debate sobre a abolição da escravatura, durante o
Segundo Reinado. Já na terceira e última parte, Astrojildo analisa as questões
internacionais, como a ascensão do nazismo, a Segunda Guerra Mundial e faz uma
importante reflexão sobre os deveres do intelectual brasileiro diante do
conflito mundial. A nova edição publicada pela
Boitempo em parceria com a Fundação Astrojildo Pereira conta com uma nova
padronização editorial e atualização gramatical. O prefácio é assinado pelo
escritor Flávio Aguiar e a orelha por Pedro Meira Monteiro. Dois textos anexos
compõem a edição: um de Nelson Werneck Sodré, “Meu Amigo Astrojildo”, e um
de Florestan Fernandes, intitulado “As tarefas da inteligência”. Você pode comprar o livro aqui.
3. Crítica impura. Editado
originalmente em 1963, este foi o seu último livro publicado e é uma reunião de
textos que aparecem originalmente em diferentes jornais e revistas e
selecionados para compor três eixos temáticos. A primeira parte é dedicada à
literatura, com estudos sobre a vida e obra de autores como Machado de Assis,
Eça de Queiroz, Monteiro Lobato, José Veríssimo e outros. Nesse momento,
pode-se ver a produção que colocou Astrojildo entre os principais críticos
literários brasileiros. A segunda aborda a China comunista na qual Astrojildo
analisa uma série de relatos de viagens sobre o país asiático feitos durante os
anos 1950 e 1960. Apresenta-se, então, um militante comunista atento ao
processo revolucionário chinês que havia ocorrido há pouco. O último eixo tem
como assunto comum as vinculações entre política e cultura, reunindo textos de
intervenção pública que marcaram a trajetória política de Astrojildo em
diversos debates centrais do Brasil da metade do século XX. A nova edição conta
com uma nova padronização editorial e atualização gramatical. Foram
incorporados novos textos buscando enriquecer a experiência de leitura. O
prefácio é assinado pela jornalista Josélia Aguiar e a orelha pelo jornalista
Paulo Roberto Pires. Tais especialistas conseguiram desvendar diversos aspectos
fundamentais da relevância de Astrojildo para o mundo cultural brasileiro no
século XX. Um texto de Leandro Konder (1936-2014) sobre a vida e a obra de
Astrojildo Pereira foi incluído como anexo. Konder, que foi um amigo de
Astrojildo, apresenta nesse raro texto, editado uma única vez, uma síntese da
biografia do personagem, mas não só, destaca também aspectos de sua
personalidade, demonstrando o conhecimento íntimo sobre seu objeto. Em outros
termos, trata-se de um observador privilegiado. Você pode comprar o livro aqui.
Em seu novo romance, Ariana
Harwicz traz uma potente história de um processo judicial visto pela ótica do réu.
Degenerado se desenrola por
meio de um monólogo labiríntico e claustrofóbico, repleto de raciocínios
distorcidos, memórias fragmentadas e reflexões perturbadoras. Nele acompanhamos
como o narrador-personagem, um idoso acusado de cometer um crime hediondo na
véspera de Natal, chegou àquele momento. O homem decide lutar até o fim contra
tudo e todos — afinal, quem poderia ter certeza de haver cometido um erro? Quem
seria capaz de culpar a si mesmo? Sob o céu estrelado, em uma noite congelante,
como diferenciar o cidadão honesto do criminoso? Em uma narrativa nervosa e
intrigante, Harwicz aborda um assunto difícil de digerir com um texto dotado de
poesia e força avassaladora. Sem abandonar as críticas sociais e as questões
familiares, volta a inquietar a mente do leitor a cada palavra, a cada frase,
ao revelar os pensamentos e as impressões de um homem que, diante de uma
sociedade que nos pede para sermos alguém, devolve a ela o pior do que é capaz.
É impossível sair imune da obra de Ariana Harwicz: seus romances são
desconcertantes, ainda que repletos de beleza. Ler seus livros é vivenciar algo
incomum. Tudo é intensidade — há sempre uma sucessão de imagens poderosas e
rupturas verbais, além de muita poesia. Com tradução de Silvia Massimini Felix
e ilustrações de Luiz Lira, Degenerado é publicado pela editora Instante.
O novo livro de Daniel Francoy.
Daniel Francoy nos faz ver com
vista dupla, invertida, na qual é preciso um certo ajuste de cegueira para
enxergar as coisas que acontecem perto do coração — aquelas vivas, sujas e
quentes. Num dos poemas: pensar na bondade das mãos quando for ferir e na
maldade delas quando for perdoar. Para ser um leão é preciso ser antes uma
serpente. Francoy nos faz perceber que descobrir a orfandade das coisas é
descobrir ao mesmo tempo a sua irmandade, uma amplidão que decorre da
persistência da experiência da ausência. Tudo será, mais cedo ou mais tarde,
ruína. A estação das coisas que caem e das coisas que renascem. Até lá, até que
se perca tudo (nada), talvez um conselho possível diante daquilo que vai
desaparecer seja este, o de aprender a flutuar com coragem e imprudência — e
que, talvez, ainda nem se saiba o significado da palavra medo. O livro do
Martim tem ilustrações de Ana Letícia Francoy, apresentação de Ana
Estaregui e é publicado pelas Edições Jabuticaba.
RAPIDINHAS
O livro principal da Prêmio
Nobel Olga Tokarczuk. A Todavia anunciou para 2023 a publicação de The Books Of
Jacob. O romance é sobre a vida de Jacob Frank, uma figura histórica
controversa do século XVIII, líder de um grupo herético dissidente judaico. A
jornada passa por cenas dos impérios Habsburgo e Otomano e pela Comunidade
Polaco-Lituana.
Ainda Olga Tokarczuk. Este ano, a mesma Todavia publicará a coletânea de ensaios The Tender Narrator, que apresenta uma visão das ideias e experiências da escritora antes, durante e depois de escrever seus romances. No texto que dá título a coletânea, produto de uma conferência da escritora é possível ler: “Devo contar histórias como se o mundo fosse uma entidade viva, única, constantemente se formando diante de nossos olhos, e como se fôssemos uma pequena e ao mesmo tempo poderosa parte disso.”
Reedição da obra de Dalton Trevisan. A casa que publica a obra do escritor curitibano anuncia que começará a reeditar aqueles livros que estão fora de circulação em novo projeto editorial e em versão digital. Para logo, devem sair Em busca de Curitiba perdida, 33 contos escolhidos e Contos eróticos.
Para ouvir a vida de Tarsila do Amaral. Sai na plataforma Storytel a biografia Tarsila, uma vida doce-amarga, escrita pela historiadora Mary Del Priore exclusivamente para o formato áudio; o texto é narrado pela atriz Helga Baêta.
OBITUÁRIO
Morreu Lygia Fagundes Telles.
Lygia Fagundes Telles nasceu em
São Paulo a 19 de abril de 1923. Estudou Direito e Educação Física antes de se
dedicar exclusivamente à literatura. Considerada pela crítica uma das mais
importantes escritoras brasileiras, publicou ainda na adolescência o seu
primeiro livro de contos, Porão e sobrado (1938); dentre seus outros
sucessos estão Ciranda de pedra (romance, 1954), Verão no aquário
(contos, 1964), Antes do baile verde (contos, 1970), As meninas (romance,
1973), Mistérios (contos, 1981), As horas nuas (1989,
contos) e Invenção e memória (contos, 2000). Em 2005 recebeu o Prêmio
Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa e uma das mais de
vinte premiações recebidas pela sua obra. Morreu em São Paulo no dia 3 de abril
de 2022.
Morreu Carlos Emílio Corrêa
Lima.
Carlos Emílio Corrêa Lima nasceu
em Fortaleza em 1956. Iniciou-se na literatura desde muito cedo: o livro de
contos Solário (1970) foi escrito antes dos catorze anos. Formado em
Letras pela Universidade Federal do Ceará, onde também concluiu um mestrado em
Literatura Brasileira, o escritor se dedicou longamente às atividades ligadas
ao jornalismo: foi criador/ editor das revistas O Saco e Arraia
PajéurBR, marcos na cultura cearense, do Caderno Rio Arte, Letras
& Artes, dentre outros veículos; e atuou em mídias como Última hora,
o suplemento cultural de O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Jornal
do Brasil, e as revistas Isto é e Visão. Depois de parte de
sua trajetória nos jornais do eixo sudeste do país, Corrêa Lima regressa à
cidade natal, retoma a carreira acadêmica, concluindo o doutorado em Literatura
Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte com estudo sobre o
primeiro livro escrito por índios no Brasil. É da sua tábua bibliográfica os
livros A cachoeira das eras (romance, 1979), Além, Jericoacoara. O
observador do litoral (romance, 1982), Ofos (contos, 1984), Pedaços
da história mais longe (romance, 1997), Virgílio Várzea. Os olhos de
paisagem do cineasta do Parnaso (ensaio, 2002), O romance que explodiu
(contos, 2006) e Maria do Monte. O romance inédito de Jorge Amado
(romance, 2008). O escritor morreu no dia 2 de abril de 2022, em Fortaleza.
Morreu o escritor Sergio
Chejfec.
Sergio Chejfec nasceu a 28 de
novembro de 1956. De uma carreira literária que se afirma no início dos anos
noventa, o escritor deixou duas dezenas de livros publicados entre romances,
ensaios, contos e poesia. Para Patricio Pron, “toda a literatura de Sergio
Chejfec foi uma tentativa de superar a distância que separa a maneira como
vivemos de um tipo de verdade experimentada em primeira mão enquanto existência
e nossa capacidade de acessá-la”. Entre os seus trabalhos destacam-se Lenta
biografía (1990), Los planetas (1999), Baroni: un viaje (2007), La
experiencia dramática (2012) ou No hablen de mí: una vida y su museo (2021).
No Brasil, está publicado Boca de Lobo (Amauta), que narra a relação intensa
mas oblíqua, amorosa mas plagada de tropeços, cúmplice mas não isenta de
idealizações, entre um narrador anônimo “que leu muitos romances” e uma
operária, Delia, mulher que é a zona-limite, opaca, ante a qual ele exercita
sua capacidade de compreensão e de entrega”. Chejfec morreu a 2 de abril de
2022.
DICAS DE LEITURA
Uma recorrência dos editores nos
tempos de terrível crise econômica que enfrentamos tem sido a reedição de
algumas obras paradas nos catálogos das suas editoras. Parte desse movimento começou
durante o primeiro ano de pandemia e tem se ampliado até agora. Destacamos
nessas recomendações três livros que há muito esperávamos pelo reencontro. Na
aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você
tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
1. Dia Garimpo, de Julieta
Barbara. Conhecendo nosso pouco interesse por poesia é fácil acreditar que as
expectativas pelo retorno desse livro talvez fossem mais íntimas, no sentido de
circunscritas entre pesquisadores, familiares ou algum editor. Mas, este livro
cumpre, na verdade, mais que o trabalho de uma reedição, é o renascimento de
uma voz há muito passada para o lado silencioso da história. Parte num clube de
leitura, o único dedicado à poesia no Brasil, a edição agora circula entre
não-associados. Publicado em 1939, esta é a primeira vez que o livro consegue
uma nova edição. A nova edição traz um valioso material que recupera a história
de Dia Garimpo, sua importância como obra herdeira dos pressupostos modernistas
dos autores da Semana de Arte Moderna de 1922 e ainda do trabalho da poeta: ilustrações
da própria Julieta, texto de Raul Bopp, um retrato feito por Flávio de Carvalho,
onze poemas inéditos e um posfácio escrito por Mariano Marovatto. A publicação
é das editoras Fósforo e Luna Parque. Você pode comprar o livro aqui.
2. Confissões de uma máscara,
de Yukio Mishima. Quando na edição 390 noticiamos a reedição deste e de outros
livros do escritor japonês presos no rico catálogo da Companhia das Letras,
para muitos ainda custava acreditar que ganharíamos não apenas a versão digital
então anunciada. Quase dois anos depois, ei-las. De Cores proibidas, Mar
inquieto e O pavilhão dourado, as Confissões talvez
fosse a obra mais aguardada. O romance conta a história de um jovem em curso
pela adolescência e pela descoberta de si, o que passa por uma descoberta do outro
e de suas diferenças. A tradução é de Jaqueline Nabeta. Você pode comprar o livro aqui.
3. A menina morta, de Cornélio
Penna. Um dos nossos melhores autores intimistas passou longo tempo no
limbo do esquecimento, até que há dois anos a editora Faria e Silva consegue
reeditar toda sua obra, incluindo inéditos em livro. Este é considerado seu melhor
romance. Inspirado num quadro que retratava a morte de uma menina, a sinhazinha
querida, única alegria em mundo lúgubre de injustiças Cornélio Penna situa em
meados do século XIX uma narrativa que se desenvolve em torno dessa figura e
trata sobre o trágico declínio da rica propriedade colonial. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Está disponível online uma
edição do livro Museu armorial dos sertões que registra as expressões do
Movimento Armorial, que foi idealizado e conduzido pelo dramaturgo, romancista,
ensaísta, poeta e professor Ariano Suassuna. A obra sublinha os cinquenta anos
do movimento no Brasil pode ser lida integralmente aqui.
2. Em 1960, Lygia Fagundes Telles
foi recebida em Portugal. No evento estavam personalidades diversas da cultura
e da literatura portuguesa, como Beatriz Costa, António Quadros, Joaquim Paço d’Arcos,
Francisco Negrão de Lima, Fernanda de Castro e Natália Correia. Um recorte
desse encontro está registrado nas imagens desse vídeo do Noticiário
Nacional/ Arquivo RTP.
3. O convívio de Lygia Fagundes Telles com Clarice Lispector. Em 2020 acrescentamos ao arquivo de vídeos na página do Letras no Facebook este depoimento de Lygia sobre sua relação com a escritora de A paixão segundo G. H. É um registro de quinze anos antes por ocasião da Festa Internacional de Paraty que homenageava Clarice.
BAÚ DE LETRAS
Desde o rudimentar início deste
blog, que notamos a presença de Lygia Fagundes Telles. Entrevistas, depoimentos,
esboços para um perfil, resenhas de alguns de seus livros. Recorde conosco
nesta seção.
1. A primeira notícia da presença
de Lygia Fagundes Telles neste blog foi uma nota informativa sobre sua obra e especificamente
uma síntese de Ciranda de pedra, quando o romance é relido em forma de
telenovela da Rede Globo pela segunda vez, em 2008.
2. “[…] acho que ela é aquele
pedacinho de vidro azul que constantemente reaparece...” Um ano depois
reproduzimos um depoimento de José Saramago sobre a escritora. Lygia, por
vezes, recordou com afeto os encontros com o escritor português.
3. Em 2010, copiamos da reunião de
entrevistas realizadas por Clarice Lispector esta conversa com Lygia. É sabido
o convívio das duas escritoras como ficou registrado em vários depoimentos em
vídeo como o lembrado na seção anterior.
4. No ano seguinte, aniversário de
88 anos da escritora, a Cinemateca Brasileira realizou uma amostra com a
produção cinematográfica conduzida a partir da adaptação da obra de Lygia
Fagundes Telles. Listamos quais filmes aqui.
5. Em 2013, a professora Maria
Aparecida da Costa, especialista na obra de Lygia Fagundes Telles escreveu este perfil para o Letras: “Lygia Fagundes Telles e a escrita do amor”.
6. Nosso colunista Rafael Kafka,
resenhou As meninas — leia aqui; o saudoso Alfredo Monte voltou a este
romance e leu em comparação ao Antes do baile verde. Para ele, os dois
livros formam o coração da obra de Lygia. Leia aqui.
7. Em 2018, a Companhia das
Letras, reúne toda a contística da escritora paulista. Nosso editor, Pedro
Fernandes, escreve esta matéria: “Lygia Fagundes Telles, a arte de narrar”.
8. A entrada mais recente no blog,
data de março deste ano. Nossos colunistas André Cupone Gatti e Guilherme de Almeida
Gesso escreveu sobre “Um chá bem forte e três xícaras”, um conto de Antes do
baile verde. Leia aqui.
A literatura brasileira ficou
duplamente com dois vazios, como registramos na seção Obituário. Além de Lygia Fagundes
Telles, deixou-nos Carlos Emílio Corrêa Lima. Do escritor cearense, citamos
duas entradas no nosso Baú de Letras: a resenha sobre o seu último romance
publicado em vida, O romance inédito de Jorge Amado — leia aqui; e um perfil também escrito pelo nosso editor e apresentado no blog nesta semana.
DUAS PALAVRINHAS
Nem os santos, nem os profetas, só
os poetas, só os artistas podem salvar o mundo.
— Carlos Emílio Corrêa Lima
O artista é um visionário. Um
vidente. Tem passe livre no tempo que ele percorre de alto a baixo em seu
trapézio voador que avança e recua no espaço: tanta luta, tanto empenho que não
exclui a disciplina. A paciência. A vontade do escritor de se comunicar com o
seu próximo, de seduzir esse público que olha e julga. Vontade de ser amado. De
permanecer. Nesse jogo ele acaba por arriscar tudo. Vale o risco? Vale se a
vocação for cumprida com amor, é preciso se apaixonar pelo ofício, ser feliz
nesse ofício.
— Lygia Fagundes Telles em
entrevista a Clarice Lispector
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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