Boletim Letras 360º #473
DO EDITOR
1. Caro leitor, no último final de
semana realizamos o quarto sorteio entre os apoiadores do Letras. Três
livros do catálogo da editora Bandeirola foram sorteados por votação às cegas
no nosso Instagram. O trabalho agora é para o próximo bimestre e é possível
contar algumas novidades.
2. Os livros do mês de maio são de
autores brasileiros editados no grupo Companhia das Letras. Essa escolha
sublinha as celebrações do Dia da Literatura Brasileira e a pluralidade de novas
vozes de nossa literatura hoje.
3. Outras formas de colaborar com o
Letras e mais detalhes sobre como se inscrever para o sorteio estão
disponíveis aqui. Sua ajuda é sempre muitíssimo bem-vinda e, em nome do projeto,
registre-se os agradecimentos a todos que, de alguma maneira, contribuem para sua
continuidade.
4. Aproveite nossas boas
informações e boas leituras. E, cabe não esquecer que na aquisição de
qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto, também
ajuda a manter o Letras sem pagar nada mais por isso.
Gabriel García Márquez e Mercedes Barcha. Foto: Hernan Diaz. |
LANÇAMENTOS
O relato íntimo, honesto e
revelador dos últimos dias de um dos maiores escritores, Gabriel García
Márquez, e de sua esposa e musa inspiradora Mercedes Barcha, escrito pelo filho
mais velho do casal, Rodrigo García.
Em 2014, Gabriel García Márquez,
um dos escritores de língua espanhola mais queridos do mundo e vencedor do Prêmio
Nobel de Literatura, já com certa idade e doente, pegou um resfriado. “Desta, a
gente não sai”, disse Mercedes Barcha, sua esposa havia mais de cinquenta anos,
a Rodrigo, filho mais velho deles. Para tentar dar sentido ao período difícil
que a família teria pela frente, Rodrigo começa a colocar em palavras detalhes
daqueles dias que ficariam para sempre em sua lembrança. O resultado é uma
crônica forte e emocionante dos últimos momentos do mestre do realismo mágico
latino-americano e de sua musa inspiradora, que nos deixou seis anos depois de
perder seu amado Gabo, escrita com detalhes reveladores e uma honestidade
excepcional pelo filho mais velho do casal. Com talento, respeito e delicadeza,
Rodrigo García traça um retrato comovente e revelador de uma família que sofre
com a perda de um ente querido e transforma uma das mentes mais brilhantes da
literatura internacional em um memorável protagonista. Em um encarte com fotos,
ele relembra os dias de glória do pai como escritor, momentos marcantes do casamento
dele com Mercedes e da vida em família. Gabo e Mercedes: uma despedida é
o adeus emocionante de Rodrigo García à sua mãe, uma mulher carismática e que
muito influenciou a obra de García Márquez, e uma homenagem a um dos maiores
autores do século XX, seu pai, nosso eterno Gabo. A tradução de Eric Nepomuceno
é publicada pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Livro reúne os contos completos
de Lu Xun, o principal escritor chinês do século XX, um retrato agudo das
tradições e mitos da China.
Considerado o maior escritor
chinês do século XX, Lu Xun (1881-1936) se destacou sobretudo por seus contos,
reunidos em O diário de um louco. Contos completos de Lu Xun, que
compreende as três coletâneas de histórias curtas publicadas pelo autor: O
grito, Hesitação e Histórias antigas recontadas. Nelas se
encontra um autor irônico e profundamente crítico das tradições de seu país, e
também um painel de tintas fortes da cultura chinesa, sua rotina e seus mitos.
Lu Xun destacou-se pela sutil mordacidade com que aborda o modo de ser e pensar
dos chineses, e procurou trazer para sua obra literária as influências que
recebeu de autores europeus, sobretudo os russos, além das novidades da ciência
“estrangeira”, como o evolucionismo darwinista e a medicina moderna. Muitos de
seus contos abordam costumes arcaicos, entre eles a ingestão de pão embebido em
sangue humano como medicamento, a obrigatoriedade draconiana do uso de tranças
e a posição subalterna das mulheres na sociedade chinesa. O olhar crítico
intercala-se com contos que elogiam o amor conjugal e fraternal; outros ainda
abraçam o elemento fantástico das fábulas chinesas. Com tradução de Cesar
Matiusso, Marcelo Medeiros, Marina Silva, Beatriz Henriques e Pedro Cabral,
posfácio de Yeh Chia Ho, o livro é publicado pela editora Carambaia. Você pode comprar o livro aqui.
Um genuíno libelo mordaz de
Mark Twain contra os poderes da religião.
Publicado mais de meio século após
sua morte, Cartas da Terra é um genuíno libelo mordaz contra os poderes
da religião. Twain compõe um relato corajoso ao despir toda a aura sagrada em
torno das premissas bíblicas, inquirindo as contradições ou a irracionalidade
que a religião propaga como verdades. Era como se tentasse desconstruir os
dogmas da fé, acicatando as relações entre Deus e os homens, com uma alta dose
de ironia cáustica. Em Cartas da Terra, Satã escreve onze epístolas a
partir da Terra, onde está no exílio e após ter afrontado Deus. São uma mescla
de ficção e ensaio, permeadas por um tom sarcástico e crítico que analisa a fé,
revelando aspectos ambíguos do homem, que é capaz de matar seu semelhante sem
piedade ou remissão e ainda invocar o nome de Deus. De certa maneira, Twain
assenta o alvo da sua crítica sobre três pontos: a sexualidade, as doenças e as
contradições dos Dez Mandamentos. A partir de tais premissas, o
escritor dirige seu látego crítico sobre questões como o uso da sexualidade na
Bíblia e coloca em xeque dados adquiridos, se interrogando, por exemplo, como o
criador permite que haja insetos portadores de bactérias suscetíveis de matar
sua própria criação, ou seja, homens e mulheres, através de doenças ou
epidemias que assolam povos e devassam nações, sem interceder para que tais fatos
não ocorram. Além disso, Twain faz uma defesa inflamada da ciência. Portanto,
nada mais atual num momento em que o mundo enfrenta uma pandemia colossal, e os
interesses religiosos digladiam contra os poderes da ciência e a incredulidade
humana. Com tradução de Jorge Henrique Bastos, o livro é publicado pela Editora
Iluminuras. Você pode comprar o livro aqui.
Peça de Frank Wedekind marca o
regresso do dramaturgo alemão aos leitores brasileiros.
Na Alemanha do final do século
XIX, Melchior, Wendla e Moritz, jovens escolares em plena descoberta sexual,
são confrontados a uma série de regras, repressões e tabus, submetidos que
estão aos tradicionais preceitos da família, da escola e da religião cristã. O
embate entre o aflorar da vida juvenil e o fardo de uma moral ossificada se
desdobra ora no lirismo das cenas infantis, que assumem por vezes colorações mortíferas,
ora na representação farsesca das autoridades e do poder. Concluída em 1891,
quando Frank Wedekind contava com apenas 27 anos, a peça O despertar da
primavera é considerada uma experiência intermediária entre o naturalismo e
o expressionismo. Essa “tragédia infantil”, como a definiu seu autor, é
atravessada por temas até hoje atuais: da gravidez na adolescência ao aborto,
da liberdade sexual ao suicídio, do tabu em torno do sexo à privação ao
conhecimento do próprio corpo. Não à toa, o texto enfrentou ardilosos
obstáculos da censura mundo afora, inclusive no Brasil. Em nova tradução
brasileira, feita diretamente do alemão por Vinicius Marques Pastorelli O
despertar da primavera inaugura a coleção de teatro moderno da Temporal. A
edição inclui prefácio do tradutor, texto inédito em português, de György
Lukács sobre o autor e a peça, poemas e canções relacionados à peça,
fotografias da montagem de estreia em 1906, fichas técnicas das apresentações e
sugestões de leituras complementares.
Dois livros de Solange de Oliveira
publicados pela editora Estação Liberdade passam em revista a obra de Arthur
Bispo do Rosario e Judith Ann Scott.
1. Em uma abordagem
existencialista, Arte por um fio 1 acompanha o percurso existencial de
Arthur Bispo do Rosario (1909 – 1989) empenhado em um projeto de vida a partir
de suas memórias e de sua condição de asilo em uma instituição manicomial. O
artista professa uma prece bordada em memória da sua Japaratuba natal, do
catolicismo rústico, das tradições artesanais e folguedos populares sergipanos,
de um Brasil abolicionista. A expressão do acervo desperta reflexões sobre
questões político-sociais, humanitárias e estéticas. Diante da epopeia em fios
azuis, somos confrontados com a alteridade: quem é esse que, estranho, ousa me
fazer olhar minha própria condição? O tratado de Arthur Bispo do Rosario nos
faz passear por um Sergipe ainda em germe e nos abandona nos braços de uma
paradoxal alteridade, entre o fascínio e a fobia, a admiração e o
constrangimento. Você pode comprar o livro aqui.
2. A partir de uma abordagem
filosófica, Arte por um fio 2 acompanha o percurso de vida e aborda a
forma como se constitui o processo criativo da artista estadunidense Judith Ann
Scott (1943 – 2005), sobretudo o modo original da constituição de sua obra ―
uma verdadeira poesia em fios. A artista tem um acervo expressivo no cenário
internacional da Arte Contemporânea e no campo da Outsider Art. Judith Ann
Scott nasceu trissômica e surda; passou grande parte de sua vida em
instituições, sem que fosse cuidada e alfabetizada, nem mesmo na língua de
sinais. É, portanto, inábil para a linguagem verbal, mas especialmente atraída
por imagens. A criadora é autodidata, e todo o desenvolvimento de seu trabalho
prioriza o processo ao produto ― o fiar é devir. Expressões artísticas
peculiares acabam sufocadas pelo conhecimento excessivamente teórico; assim, o
livro apresenta uma reflexão que coloca em relevo a índole intuitiva e temporal
na feitura de sua obra. Você pode comprar o livro aqui.
J. J. Bola refaz o itinerário
de frustração de alguém impotente frente às injustiças.
Michael Kabongo é um carismático
professor que, aos olhos dos outros, tem tudo: devoção dos alunos, popularidade
entre os colegas. Porém, no seu íntimo, ele carrega a frustração de alguém
impotente frente às injustiças que se abatem sobre a esmagadora maioria dos
jovens negros marginalizados — que, diferente dele, não tiveram as mesmas
oportunidades. E quando uma perda avassaladora e inesperada traz à tona toda
essa angústia, Michael decide fazer as malas e ir para os Estados Unidos com um
único plano: torrar todas as suas economias em busca de aventuras e
experiências e, quando a grana acabar, tirar a própria vida. O involuntário
ato de respirar, de J. J. Bola é publicado pela editora Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.
Publicam-se as epístolas
completas de Plínio.
Se hoje todos somos missivistas,
se somos hoje contumazes escritores de mensagens por e-mail e WhatsApp – em
geral breves, mas nem sempre –, não será ocioso lembrar que os antigos romanos
sentiam a mesma vontade de comunicar-se, que todo dia queriam contar e saber as
novidades, que de contínuo desejavam também comentar e fazer a resenha do que
havia de novo na vida pública da Cidade, não menos do que na vida privada de
amigos e parentes. E eles o faziam, alguns diariamente, por meio de cartas, ou
melhor dizendo, de epístolas, que são cartas escritas para ser publicadas. Os
dez livros de epístolas de Plínio, o Jovem (62-c. 114 d.C.) –, que ao lado de
Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca, o Filósofo (c. 4 a.C.-65 d.C.) foi um dos três
grandes epistológrafos da antiga Roma – são como que a crônica diária da vida
romana por volta de 100 d.C. no esplendoroso tempo do imperador Trajano. Nada
escapa ao olhar testemunhal de Plínio, o Jovem, nada é estranho ou alheio a
suas epístolas: a erupção do Vesúvio, que destruiu cidades e matou Plínio, o
Velho, seu tio; as decisões importantes no Senado; o interrogatório de cristãos
presos por causa de sua fé; o assassinato de um senhor pelos escravos, mas
também a doença de um parente, a educação de um jovem, a opinião de Plínio
sobre a qualidade da poesia e da oratória do tempo e principalmente o modo
extraordinário como descreve (como quem pinta) a beleza de uma região, de um
lago, de uma propriedade, de uma estátua. Nada lhe escapa, nem mesmo a mágoa de
não receber mensagens, que registra em bilhetes tão curtos como são hoje os de
aplicativo. Os romanos nos legaram magníficos escritores que registraram
eventos grandiosos (Cícero, César, Virgílio, Tito Lívio) e legaram igualmente
escritores como Plínio, o Jovem, que além de tratar de assuntos maiores, soube,
mais do que todos, com muita delicadeza tratar também de assuntos menores e até
de coisas pequenas, matéria que nem por isso deixa de importar muito a nosso
dia a dia. As Epístolas completas são publicadas pela Ateliê e Editora
Mnema com tradução, introdução e notas de João Angelo Oliva Neto.
RAPIDINHAS
O Boom de Cesare Pavese no Brasil
1. O último suspiro de um escritor é quando sua obra cai em domínio público. É
quando de uma hora para outra, todos os interesses se voltam para seu trabalho. Passa-se agora com o escritor italiano. Trabalhar cansa, por exemplo, já circula em duas diferentes traduções. Verrá
la morte e avrà i tuoi occhi também alcançará a marca. A tradução de
Francisco de Matteu e Cristiano Passos foi publicada pela K Casa Editorial e a
de Elena Santi e Cláudia Alves sairá pelas Edições Jabuticaba.
O Boom de Cesare Pavese no Brasil
2. Ainda em 2022, espera-se A lua e as fogueiras, O ofício de
viver e uma antologia intitulada Trabalhar é um prazer reunindo 14
microcontos escritos entre 1941 e 1942 e passagens do diário do escritor italiano.
REEDIÇÕES
Nova edição de uma das
principais obras de Junot Díaz.
De sua casa em Nova Jersey, Oscar
Wao sonha em se tornar o Tolkien latino, mas as coisas nunca foram fáceis para
o jovem dominicano. Vencedor do Pulitzer de 2008, A fantástica vida breve de
Oscar Wao colocou Junot Díaz no panteão dos maiores escritores contemporâneos.
A vida nunca foi fácil para Oscar, um nerd de origem dominicana, simpático e
obeso, morador do gueto de Nova Jersey, que sonha em se tornar o Tolkien latino
e, sobretudo, em encontrar um grande amor. A verdade é que é provável que
jamais realize seus desejos, graças ao fukú — uma antiga maldição que assola
sua família há gerações, condenando parentes a prisões, torturas, acidentes
trágicos e, acima de tudo, a paixões malfadadas. Oscar, que ainda anseia pelo
primeiro beijo, é sua vítima mais recente — até o fatídico verão em que ele
decide tornar seu último. Com uma habilidade magnífica, Junot Díaz apresenta a
vida tumultuada de nosso herói, da irmã fugitiva Lola e da bela e arisca mãe
dos dois, Belicia, ao descrever a jornada épica da família, de Santo Domingo a
Nova Jersey: um retrato das lástimas da ditadura dominicana e da luta da
família de Oscar Wao pela sobrevivência em momentos históricos cruéis. Escrito
com humor e ternura, A fantástica vida breve de Oscar Wao ironiza as
promessas do sonho americano. Um triunfo literário que confirma Junot Díaz como
um dos melhores e mais empolgantes escritores da atualidade. O livro é
reeditado pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Eleito para a Academia Brasileira
de Letras em 1991, Dias Gomes traz em Odorico na cabeça uma
narrativa sobre as andanças de Odorico Paraguaçu, o Prefeito de Sucupira, com
seu talento e engenho ímpares.
Da peça teatral O Bem-Amado
ao vitorioso seriado de TV com o mesmo título ― uma das melhores produções
televisivas de todos os tempos, em qualquer país ―, e finalmente aos contos de Sucupira,
ame-a ou deixe-a, e agora deste Odorico na cabeça, o que resultou
não foram apenas variantes da irresistível crônica desse tão contraditório
chefete político do interior, mas recriações completas, com linguagem e
características adequadas a três veículos de comunicação com sintaxe própria.
Ênio Silveira Dias Gomes foi tão bem-sucedido em cada uma de suas criações que,
hoje, Sucupira é um município conhecido em todos os cantos do Brasil, e suas
figuras mais evidentes — Odorico, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta, Lulu Gouveia,
as Cajazerias, Dona Chica Bandeira e Padre Honório — transformaram-se em
personalidades nacionais. Sempre com teor contestador, este Odorico na
cabeça reúne os textos “O chafarótico”, “Só cai quem monta”, “A Guerra das
Malvadas”, “Um analista em Sucupira”, “Um jegue no Vaticano”, “O finado que o
vento levou”, e o roteiro original do primeiro episódio da trilogia de “Sucupira
vai às urnas” — à época, por solicitação do PDT e do PTB, proibido de ir ao ar
pelo Tribunal Regional Eleitoral. Talento e engenho são duas qualidades
marcantes em toda a produção literária do premiado Dias Gomes. Profundamente
ligado às alegrias e tristezas do povo, o autor não apenas escolhe temas que
estabelecem comunicação ampla com grandes massas humanas, mas que contribuem
para edificá-las, ajudando-as a tomar consciência de si próprias e de seu
legítimo direito de ter voz e voto sobre assuntos de interesse nacional. O
livro é reeditado pela Bertrand Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
Reedição de Entre quatro
paredes, de Jean-Paul Sartre.
Neste drama estão todos mortos e,
ao contrário do que acreditavam, percebem que o inferno não é uma câmara de
tortura, mas uma sala de estar ao estilo do Segundo Império francês. Lá eles
irão — eternamente — espionar, provocar, tentar seduzir e, acima de tudo,
dilacerar uns aos outros. “O inferno são os outros.” Essa é, certamente, a
frase que pontua Entre quatro paredes, peça escrita pelo filósofo
existencialista Jean-Paul Sartre em 1944 e publicada no ano seguinte. A ação se
passa no inferno, mas não o inferno cristão ao qual estamos acostumados, com
demônios, castigos físicos e outros estereótipos. Nele, o jornalista Joseph
Garcin, a lésbica Inês Serrano e a fútil Estelle Rigault são levados a um salão
sem janelas, iluminado todo o tempo. Ali, enclausurados, são condenados a uma
“vida sem interrupção”, o que torna a sobrevivência insuportável. Confinados na
eternidade, os personagens são seres atormentados pelos próprios fantasmas.
Questões como culpa, responsabilização, consciência e sexualidade emergem dessa
convivência, em conflitos desencadeados pela relação de vigilância e
espelhamento entre eles. Conclui-se que, se a presença do outro incomoda, o que
realmente exaspera o ser humano é o olhar do outro. A reedição sai pela
Civilização Brasileira. Você pode comprar o livro aqui.
DICAS DE LEITURA
Uma riqueza da pesquisa é oferecer
aos do tempo vigente a possibilidade de vistoriar o estabelecido e encontrar
pelo caminho figuras e elementos dispersos ou jogados para a sombra do
esquecimento. Esse movimento proporciona descobertas e redescobertas. Nesta edição
das dicas de leituras, três romances de escritoras brasileiras valiosas que
passaram ao protagonismo depois do investimento de pesquisadores — leitores apaixonados.
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim,
você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
1. Lésbia, de Maria
Benedita Bormann. A autora nascida no Rio Grande do Sul em 1853 se fez
conhecida pelo pseudônimo de Délia. Escreveu para os jornais da capital
do Brasil, para onde se mudou ainda aos dez anos, e novela,
conto e romance. Para os críticos de seu tempo sua obra afirmava-se num estilo
sóbrio, refinado e elegante, contrastando com histórias chocantes e eróticas.
No romance aqui recomendado é possível conhecer um pouco disso; a narrativa
conta as venturas e desventuras de Arabela, uma jovem de requintada educação e
grande sensibilidade que supera a experiência de um casamento marcado pela repressão
e humilhação destacando-se como escritora e desfazendo-se da ideia de um novo
matrimônio. Recentemente, o livro de 1890 recebeu edição revista e atualizada
com comentários da professora Maria do Rosário Pereira publicada pela 106 Editora.
Você pode comprar o livro aqui.
2. Enervadas, de
Chrysanthème. A escritora carioca também é outra que apesar da sua importância
na literatura brasileira do seu tempo, ficou silenciada há muito. Apresentada
como pioneira ao se utilizar do espaço de criação literária para discutir
causas feministas, neste romance, marco também para o chamado modernismo de
1922, ela tece uma divertida crônica contra a submissão da mulher e os limites
à liberdade a ela reservados no Rio de Janeiro da República Velha. O centro da
narrativa aqui é Lúcia e por ela (mas também pelas outras mulheres personagens)
se examina o conceito clínico da medicina dominante atribuído à mulher: o de enervada.
O romance saiu na coleção numerada da editora Carambaia e uma vez esgotado
recebeu nova edição em tiragem mais acessível. Você pode comprar o livro aqui.
3. A muralha, de Dinah
Silveira de Queiroz. Um projeto editorial da Instante tem recuperado a obra dessa
escritora. Publicado em 1954, depois de circular como folhetim na revista O
Cruzeiro, este se tornou o principal romance de Dinah com ampla circulação
dentro e fora do Brasil, com releituras das mais variadas, para o rádio e TV. Situado
no período colonial, o romance acompanha o drama de uma romântica jovem
portuguesa trazida ao Brasil para se casar; a partir dela, a narrativa examina
o drama de outras mulheres numa terra marcada pelo selvagem, os interesses de
poder e a terrível violência. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. A Companhia das Letras continua
as celebrações pelo centenário de José Saramago com a realização de uma jornada
virtual em parceria com o Museu da Língua Portuguesa e a Fundação José
Saramago. Destaque-se a apresentações de Leyla Perrone-Moisés e a conversa entre
os jornalistas Ricardo Viel e Pilar del Río. Você pode acompanhar os vídeos dos encontros no canal da editora no YouTube.
BAÚ DE LETRAS
1. Antes de uma nova edição, vale
lembrar que A lua e as fogueiras, de Cesare Pavese, saiu no Brasil pela Berlendis
& Vertecchia. E foi comentado por Pedro Fernandes por aqui.
2. O livro de Chrysanthème recomendado na seção Dicas de Leitura, também aparece nesta breve lista que organizamos sobre obras derivadas dos caminhos despontados ou apontados pela Semana de Arte Moderna de 1922.
DUAS PALAVRINHAS
O desejo de violar a intimidade
alheia é uma forma imemorial da agressividade que, hoje, está
institucionalizada (a burocracia com suas fichas, a imprensa com seus
repórteres), moralmente justificada (o direito à informação tornado o primeiro
dos direitos do homem) e poetizada (pela bela palavra: transparência).
— Milan Kundera
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