Boletim Letras 360º #469
DO EDITOR
1. Caro leitor, entramos no mês
quando realizaremos o terceiro sorteio entre os apoiadores do blog. Essa é uma
ideia criada para levantar os custos anuais deste projeto com domínio e hospedagem
na web e para participar é simples: sem qualquer fidelidade, você pode
se inscrever e participar dessa e de outras promoções.
2. Saiba tudo aqui, incluindo
outras formas de ajudar: uma delas é que, na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
3. Em nome do Letras, obrigado
pela companhia e pelo apoio!
W. H. Auden. Foto: George Platt Lynes |
LANÇAMENTOS
As aulas de W. H. Auden sobre William Shakespeare.
Entre outubro de 1946 e maio de
1947, com frequência semanal, Auden dá uma série de aulas na New School for
Social Research de New York, dedicadas ao teatro e aos sonetos de Shakespeare.
Mas engana-se quem imagina terem sido seminários sisudos e exclusivos para
doutorandos em literatura inglesa: Auden voltava-se para um público
diversificado, agitado e entusiasmado de não menos do que quinhentas pessoas ―
tanto que era comumente obrigado a “berrar a plenos pulmões” e pedia àqueles
que não conseguiam ouvi-lo para não levantarem a mão “porque eu também sou
míope”. Armado apenas da edição Kittredge das obras de Shakespeare, da vastidão
prodigiosa da sua cultura e do seu incomparável humor ― mas principalmente da
convicção de que a crítica é uma conversa improvisada ―, Auden falava o que lhe
vinha à cabeça, encantando a todos. Mas também perturbando-os com a sua
destemida falta de escrúpulos típica do outsider: em vez de enfrentar as
Alegres matronas de Windsor, ele fez ouvir Falstaff, afirmando
que a peça não tinha outro mérito que não o de ter servido de inspiração a
Verdi. E chegando à Megera domada advertiu que não se deteria muito ali
porque era um fracasso total ― partindo da crítica ferina para um excursus
sobre a farsa, que ia do Grande ditador de Chaplin a irresistíveis
considerações sobre a guerra entre os sexos. Mas é talvez na aula dedicada a Antônio
e Cleópatra, a obra preferida, que conseguimos apreender as razões da
apaixonada adesão do público, pois, mesmo no papel de crítico, Auden permanece
essencialmente um poeta, capaz de falar a todos ― com a mesma milagrosa leveza
que atribuía a Shakespeare. Você pode comprar o livro aqui.
A primeira e até agora única
antologia tendo como tema a escravidão na poesia brasileira.
Cobrindo quase três séculos e meio
de poesia, reúne cerca de 80 poetas e mais de 200 poemas, alguns deles
esquecidos e outros nunca publicados em livro. Alexei Bueno, poeta, ensaísta
crítico, tradutor e editor renomado, realizou uma tarefa difícil e inédita:
selecionou e organizou criteriosamente poetas e poemas que abordam o tema da
escravidão no Brasil, do século XVII ao XXI. A mais primitiva e cruel das
relações de trabalho esteve vigente em nosso país por três séculos e meio, da
Colônia ao Império, e deixou marcas profundas e traumáticas na alma nacional.
Se a escravidão teve forte presença nas artes visuais, na música e na ficção, a
verdade é que sua marca foi mais efetiva na poesia, pois nenhuma outra forma de
arte deixou peças tão icônicas na memória brasileira como “O navio negreiro” e
“Vozes d’África”, de Castro Alves, ou “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima, três
exemplos mínimos em uma imensa constelação. A escravidão na poesia
brasileira é mais que uma antologia, é um ensaio antológico em que o
organizador Alexei Bueno, além de reunir poetas e poemas, elenca subtemas
essenciais no ensaio introdutório (a viagem ultramarina, a separação das
famílias, os castigos físicos, revoltas e fugas, os quilombos, as figuras
míticas etc.) e, ao final do volume, fornece verbetes com um retrato de cada um
dos poetas e uma análise dos poemas aqui reunidos. Muitos desses poemas nunca
foram publicados em livro, ou estão totalmente esquecidos. Mas A escravidão
na poesia brasileira reúne também vários dos maiores nomes da literatura
nacional de todas as épocas: Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga,
Gonçalves Dias, Machado de Assis, Fagundes Varela, Castro Alves, Alberto de
Oliveira, Raimundo Correia, Cruz e Sousa, Euclides da Cunha, Alphonsus de Guimaraens,
Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Carlos Drummond de
Andrade, Ariano Suassuna, chegando até os dias de hoje, com autores em plena
atuação, o que demonstra a continuidade literária do tema. O livro é publicado
pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Livro ainda inédito no Brasil
apresenta ponto de definição da ficção de Margaret Atwood.
O projeto Positron parece um sonho
realizado para Stan e Charmaine depois de tanto tempo sem ter onde viver, sem
esperança e à mercê de criminosos. Porém, uma espiral bizarra de infidelidade,
segredos e chantagens abala a aparente satisfação que o casal pensava ter
encontrado em Consilience, um lugar em que os corretos são aprisionados e os
sem-lei vagam em liberdade. Charmaine e Stan são um casal jovem que tenta
sobreviver a um colapso econômico e social de grandes proporções. Perderam seus
empregos, sua casa e, por total falta de recursos, são obrigados a morar no
carro, se expondo a todo tipo de risco. Para reverter esta situação, o casal
resolve aderir ao Projeto Positron, na cidade de Consilience. Supostamente
criado para resolver os problemas sociais causados pela crise, o projeto lhes
oferece um lugar confortável para morar, comida boa e emprego fixo. Em meses
alternados, no entanto, os residentes de Consilience deixam suas casas e se
tornam internos na prisão de Positron. Concluído o período de serviço no
sistema prisional, eles retornam à vida civil. Apesar de estarem sempre sob
vigilância e não poderem ter qualquer interação com amigos ou familiares, o
esquema não parece um sacrifício para eles. Considerando os benefícios que lhes
estão sendo concedidos, a vida no bairro idílico e na comunidade parece
perfeita. Porém, quando Charmaine se envolve romanticamente com o homem que
ocupa sua casa enquanto ela e o marido estão na prisão, uma série de eventos
preocupantes se desdobra e coloca em risco a vida de Stan e a paz alcançada a
tão duras custas. De repente, Positron parece menos uma solução e muito mais um
arrepiante desafio. Margaret Atwood lança um teste definitivo para o coração
humano neste brilhante romance sobre relações sociais, o preço do conforto e a
parte sombria de soluções milagrosas. O coração é o último a morrer,
inédito no Brasil, é tão visionário quanto O conto da aia e tão
impactante quanto O assassino cego. Com tradução de Geni Hirata, o livro
é publicado pela editora Rocco. Você pode comprar o livro aqui.
Trabalho de Hugo von Hofmannsthal
encontra na era da fragmentação seu lugar ideal.
Agora que boa parte da literatura
nos chega aos pedaços, especialmente sob a forma de citações, este livro
adquire uma curiosa atualidade. Nesta formidável seleta de aforismos, que
mistura Confúcio, Novalis, Maomé e Pascal, o escritor austríaco Hugo von
Hofmannsthal revela como a forma breve, por sua vocação enfática e reflexiva,
não cessou de seduzir os modernos. Publicado pela primeira vez em 1922, numa edição
do autor de oitocentos exemplares, o livro foi concebido como uma espécie de
coleção pessoal, um presente destinado a um grupo de amigos, leitores tão
exigentes e escrupulosos como o próprio organizador da coletânea. A ideia de
compartilhar com seus interlocutores ditados e máximas selecionados foi um
projeto acalentado por Hofmannsthal ao longo de vinte anos. Desde a juventude
ele sonhava com um livro que pudesse ser alterado e aumentado com o tempo,
incorporando a percepção mais fina e os ceticismos colhidos na vida vivida e
nos livros lidos. Hofmannsthal é aqui tributário de uma dupla tradição: uma
antiga, do gênero grandiloquente e sentencioso dos latinos, e outra moderna,
que fundou um novo modo de enunciação, em que o sujeito literário e social assumia
a autoridade do próprio pensamento. Atraído pelo aforismo, mas também pelo
anedótico, O livro dos amigos remete tanto aos escritos moralistas de La
Rochefoucauld quanto às máximas de Goethe. Atesta também o alcance do primeiro
romantismo, o dos irmãos Schlegel e da revista Athenaeum, em que foi
gestada uma literatura que era a sua própria teoria e realização. Ao contrário
da função de facilitação do contato com o literário que a citação vem cumprir
em nossos dias, para Hofmannsthal e seus amigos as formas breves eram
desafiadoras, pois mantinham no horizonte da experiência de leitura a
possibilidade de teorização do vivido, em sua virtude e equívoco. O livro é
publicado pela editora Âyiné.
Livro reúne textos de evento
que marcou o centenário do crítico Antonio Candido.
Em 2018, quando Antonio Candido
completaria 100 anos, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, em
parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e a Biblioteca Brasiliana
Guita e José Mindlin, homenageou o crítico com o seminário Afeto e Convicção —
Uma Homenagem a Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017). As mesas-redondas
evidenciaram seu papel como acadêmico, a interação com personalidades e
instituições e sua militância política. Fruto
deste ciclo de palestras, o livro Antonio Candido: afeto e convicção
reúne um conjunto inédito de visões em torno do legado do crítico, sociólogo e
docente, permitindo o vislumbre de sua personalidade generosa e de sua
abrangente atuação como mestre dotado de profundo senso ético e social,
reconhecido pelo rigor conferido aos estudos literários, assim como pelo papel
desempenhado na formação de gerações de críticos — ambos beneficiados por uma
perspectiva analítica afeita a relacionar os problemas da literatura com os da
sociedade. A organização em três recortes — O Homem, O Intelectual e O
Professor — evidencia o esforço de compreender essa figura singular. A
dedicação de Antonio Candido à complexidade das questões nacionais o
caracterizava como um intelectual comprometido com as questões sociais, que
confiava na ampla partilha do conhecimento e da experiência de vida como os
pilares de uma sociedade justa. Esta homenagem, também como gesto de
retribuição a esse legado, deixa evidente a relevância de sua obra e a
notoriedade de sua conduta. Antonio Candido nos deixou, acima de tudo, uma
possibilidade inesgotável de formular novas interpretações e novos caminhos
para o Brasil. Publicado pelas Edições SESC, o livro reúne textos de Adélia
Bezerra de Meneses, Carlos Augusto Calil, João Cezar de Castro Rocha, Laura de
Mello e Souza, Leandro Garcia Rodrigues, Luiz Carlos Jackson, Alejandro Blanco,
Marcos Antonio de Moraes, Maria Augusta Fonseca, Max Gimenes, Norma Goldstein,
Paulo Vannuchi, Rodrigo Ramassote, Telê Ancona Lopez e Walnice Nogueira Galvão. Você pode comprar o livro aqui.
Nova tradução para o poema Le ceneri di Gramsci, de Pier Paolo Pasolini.
Numa carta de 23 de setembro de
1929, Gramsci escreve a sua mãe e diz que, ali, na prisão [onde esteve entre
1926 e 1934], o tédio é o seu pior inimigo. Lê e escreve o dia inteiro, logo,
não é um tédio que vem do ócio, mas “da falta de contato com o mundo exterior”.
E tal como os santos eremitas, atormentados com isso que nomeavam como “o diabo
do meio-dia”, seu corpo reclama uma vontade de mudança, “de voltar ao mundo, a
ver gente”. Há uma cor estampada nesse trecho da carta de Gramsci à mãe que,
talvez, Pasolini tenha capturado para indicar “il grigiore del mondo” [o
cinzento do mundo], logo no começo do poema que imagina como uma retratação ao
pensamento e à figura do filósofo italiano: Le ceneri di Gramsci [As cinzas
de Gramsci], escrito em 1954 e editado pela primeira vez, em livro, em 1957. Dessa inferência atravessada, do
mundo que é ou poderia ser até o mundo violento que criamos, Pasolini projeta
que todo esforço para recriar a vida, naquilo que, por sua vez, havia sido
projetado por Gramsci, foi engolido e o que sobra é apenas “il silenzio,
fradicio e infecondo” [o silêncio, úmido e infecundo]. O traço obstinado desse
poema, que ora se publica no Brasil nessa edição singular, num gesto
desmesurado de Piero Eyben e de Alexandre Pilati, e diante do “silenzio della
morte” [silêncio da morte] e de um “civile silenzio” [silêncio civil] dos
tempos de agora ao nosso redor, parados e pasmados, nos solicita pensar acerca
da miséria que se expande a todos os lados. O que se lê a cada linha, no poema,
é um empenho de Pasolini e, ao mesmo tempo, a anotação dos empenhos de Gramsci,
para alargar o abismo entre corpo e história, quando a política se constitui
como reinvenção da esperança numa não-resposta incerta e quando a vida é apenas
sussurro, coração cheio, paixão pura e uma pergunta insolente: “se la nostra
stória è finita” [se a nossa história terminou].O livro tem tradução e estudo de Alexandre Pilati e sai pela C14 Casa de Edição.
REEDIÇÕES
A editora José Olympio reedita
dois livros de Marques Rebelo.
1. Oscarina mostra uma
cidade longínqua e ainda muito viva. Com personagens bem caracterizados, a
linguagem um tanto dramática e a incorporação dos falares das ruas na escrita,
o autor revela o que é próprio de um certo Rio de Janeiro, mas também algo
comum à alma humana, com seus desejos e contradições. Jorge desiste dos
estudos, para desgosto do pai, e acaba seguindo carreira militar. Troca a
noiva, Zita, por Oscarina, uma mulher cheia de encantos, que o apresenta a novos
hábitos, e assim ele se lança de vez à vida boêmia. Clarete, do conto
“Felicidade”, sonha em ser atriz, mas acaba se casando com o chefe. O
protagonista de “Onofre, o terrível, ou a sede de justiça” é um mata-mosquitos
que, insatisfeito com o salário irrisório e com o chefe que não trabalha, pensa
em se vingar — o que revela também a consciência sobre o valor do próprio
trabalho. Publicado originalmente em 1931, Oscarina, estreia literária
de Marques Rebelo, reúne dezesseis contos que mostram o cotidiano de donas de
casa, trabalhadores e tipos do subúrbio carioca. O autor se mostra ainda atual
e apresenta o Rio de Janeiro além dos cartões-postais. “Marques Rebelo é
moderno sem ser modernista”, definiu o dramaturgo e romancista Josué Montello.
Ao trazer Oscarina de volta às livrarias, esta bela edição da José
Olympio vem reiterar as palavras do acadêmico. Como se não bastasse, nos lembra
que a literatura é também o lugar dos ferrados, dos invisíveis, dos
maltratados, dos vencidos. Você pode comprar o livro aqui.
2. O romance da maturidade
literária de Marques Rebelo. Leniza, como a cidade desigual em que habita, é
maliciosa e tímida, interesseira e piedosa, amorosa e cruel. Ela vai em busca
de seus sonhos, a qualquer custo. Leniza Máier, cantora de rádio!… Retrato nos jornais,
dinheiro à beça, vestindo fino, comendo bem! Que igual a Carmen Miranda não há,
mas Leniza é um encanto, e há tantas piores no rádio... E, assim, sonha alto a
moça nascida no Santo Cristo, criada na Saúde, bairros berços do espírito
carioca do samba e da ginga. E o caminho dos ambiciosos rumo ao estrelato
pedem, justamente, muito jeito e alguma malícia. “A estrela sobe” é considerado
pela crítica como o romance maduro de Marques Rebelo, escritor, jornalista e
grande cronista do Rio de Janeiro dos anos 1930 e 1950. Em seus contos,
crônicas e romances, o autor foi responsável por trazer a realidade das classes
médias e suburbanas de uma cidade em plena transformação, fim da Primeira
República; Era Vargas; industrialização; aceleração urbana; explosão radiofônica;
início de uma cultura e um consumo de massa. Com cadência, ritmo e um estilo
particular, repleto de coloquialidade, gírias e molejo, Rebelo é quem encanta
leitores e leitoras com uma narrativa realista, mas que também ressoa à
radionovela — tanto que, em 1974, o livro foi adaptado para o cinema e foi
estrelado pela grande atriz Betty Farias. De acordo com Luiz Antonio Simas,
historiador, professor e escritor, que assina o prefácio desta edição publicada
pela José Olympio, A estrela sobe é, de certa forma, um romance sobre o
próprio Rio de Janeiro em que são expostas contradições, amores, violências e
fascínios, camadas cheias de tensão e intensidade. E ao lembrar-se de músicas
de Noel Rosa, conterrâneo de Marques Rebelo, Simas nos evoca a ler A estrela
sobe e ouvir uma voz, como se fosse no calor de agora: “Prazer, sou a
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas vocês podem me chamar de Leniza
Máier”. Você pode comprar o livro aqui.
O próximo título no projeto de
reedição da obra de José Lins do Rego.
Neste livro, assiste-se a uma
significativa viagem no cenário ficcional até então privilegiado pelo
romancista. Já não é mais o cotidiano do engenho açucareiro o universo
retratado pelo escritor, mas sim o das relações sociais e de trabalho vigentes
no ambiente urbano. Na narrativa, o jovem Ricardo, fatigado pela aspereza e
falta de perspectivas no engenho Santa Rosa, abandona-o e parte em busca de uma
vida melhor no Recife. A agitação da cidade grande vivenciada pelo protagonista
do romance é o mote para José Lins apresentar ao leitor um enredo intrigante,
que traz à baila ao mesmo tempo a exposição de pontos nevrálgicos da sociedade
brasileira, como a questão racial e a extrema condição de miséria a vincarem o
dia a dia de boa parte da população. O moleque Ricardo é o próximo
título no projeto de reedição da obra de José Lins do Rego pela Global Editora.
Nova edição da obra de Francis Ponge
publicada durante a ocupação nazista na França.
Publicado na França em 1942, sob a
ocupação nazista, o Partido das coisas de Francis Ponge propunha uma
nova forma de poesia — e de literatura —, situada a meio caminho entre uma
descrição poética das coisas cotidianas (a chuva, a ostra, a laranja) e a
elaboração de um pensamento sobre como as noções que temos acerca dessas mesmas
coisas se entrelaçam e se confundem com a própria linguagem. Esta tradução
Adalberto Müller propõe um retorno ao meio do caminho, numa época não menos
assustadora, que outra vez nos obriga a tomar o partido das coisas. O livro é publicado
pela editora Iluminuras. Você pode comprar o livro aqui.
OBITUÁRIO
Morreu a professora e crítica
literária Eneida Maria de Souza.
Eneida era professora emérita da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde fez sua graduação em Letras e
onde passou a trabalhar a partir de 1968. No mestrado realizado na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) estudou sobre a obra do
escritor Autran Dourado. E no doutorado na Universidade Paris 6, na França,
realizou um trabalho de pesquisa que se tornou um marco no campo dos estudos do
Modernismo no Brasil e também, o início de uma longa trajetória como estudiosa.
Entre outros trabalhos publicados estão A pedra mágica do discurso, Crítica
Cult, O século de Borges, Janelas indiscretas, Figurações
do íntimo e Narrativas impuras.
DICAS DE LEITURA
Dois escritores centenários.
Da extensa lista de efemérides no
universo literário em 2022, neste 5 de março, alcançamos mais um centenário: o
do nascimento de Pier Paolo Pasolini. É claro que gostaríamos de chegar a uma
data como essa com uma lista variada de recomendações. Mas, outra vez
esbarramos na ineficiência do nosso mercado editorial que pouquíssimas vezes
acerta no calendário ou acampa em alguns terrenos e deixa descoberto outros. É notável
a quantidade de livros, por exemplo, sobre a Semana de Arte Moderna ainda que ineficiente
a reedição da obra de autores modernistas; é notável certo interesse pelo Ulysses,
de James Joyce e o esquecimento de Pasolini que noutro tempo galgou melhor reputação
entre nós. Já preparamos uma post que ficará online em breve com algumas recomendações
da obra do multiartista italiano. Agora, para não repetir o deszelo dos nossos editores
sublinhamos a data com a recomendação de um livro seu em circulação e completamos
a lista com dois livros de outro Paulo, o nosso mineiro Paulo Mendes Campos. Também
neste ano celebramos o centenário do cronista — foi no passado 28 de fevereiro.
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim,
você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
1. Escritos corsários, de
Pier Paolo Pasolini. O ano de 1975 foi outro annus mirabilis na carreira
de Pasolini: filmou Salò, os 120 dias de Sodoma, publicou dois livros de
poesia, La nuova gioventù e La divina mimesis, escreve o roteio Il
padre selvaggio e organiza os Scritti corsari, uma reunião de ensaios
políticos. Curiosamente foi este também o ano do selvagem assassinato do
escritor e cineasta. A edição brasileira dos Escritos tem tradução, apresentação
e notas de Maria Betânia Amoroso, além do prefácio de Alfonso Berardinelli composto
para a publicação italiana. O leitor não entrará em contato com a literatura de
Pasolini com esses textos, mas constituirá alguma ideia sobre o seu pensamento
e campo de ação estabelecidos desde muito cedo quando a vida impõe a dimensão do
que seria seu itinerário: a de um homem em constante cerco das ideologias e em
fuga das prisões por elas impostas. Os textos de Pasolini, além de tudo, dialogam
muito bem com o seu contexto histórico e os impasses que agora outra vez
reencontramos passado o tempo da falsa efervescência de que enfim encontráramos
o rumo do civilizatório. Escritos corsários está publicado pela Editora
34. Você pode comprar o livro aqui.
Alguns dos principais livros de
Paulo Mendes Campos também não estão reeditados. Cite-se, para efeito, seus
exercícios pela poesia — que não foram poucos — e títulos como O domingo
azul do mar, Homenzinho na ventania e O cego de Ipanema, sempre
lembrados pelos seus leitores mais assíduos como o melhor da sua produção. Do
que está em circulação, recomendamos:
2. Diário da tarde. O livro
forma parte com os já citados. Data da década de 1980, quando Paulo Mendes
Campos, recém-aposentado foi viver num sítio na serra fluminense, distante das
pressões diárias da vida no Rio de Janeiro. O livro imagina um jornal em que
recebe artigos, crônicas, resenhas de futebol, poemas, traduções e aforismos,
isto é, a transposição das seções que costumam compor uma publicação do tipo
enquadradas para o formato do livro. Esse jornal imaginário alcançou vinte números
e é uma excelente mostra das variadas direções que sua escrita assume ao longo
de sua trajetória como cronista, tradutor e poeta. A publicação é da Companhia
das Letras (em e-book). A que recomendamos aqui, a impressa, está editada pelo Instituto Moreira Salles. Você pode comprar o livro aqui.
3. Melhores poemas. Se os
livros de poesia, como dissemos, são escassos, escapamos com essa antologia
organizada por Humberto Werneck para a coleção Melhores poemas, editada pela Global.
O antologista, conhecedor da obra do cronista mineiro desde a juventude, faz um
levantamento de alguns dos textos mais marcantes de Mendes na poesia. Por eles
é possível descobrir que mesmo anterior ou por entre o autor de prosa, existiu
sempre o interessado num imaginário só possível pela força da poesia, lição talvez
bebida de outro cronista seu contemporâneo e que estendeu a valia da
crônica para além do seu prazo de validade do jornal, Rubem Braga. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Uma das últimas publicações da
extinta Cosac Naify foi a antologia Poemas, organizada por Alfonso
Berardinelli, e que aqui teve tradução de Maurício Santana Dias. Do livro, o
blog da Revista 7faces copia três poemas.
2. No nosso arquivo de vídeos na
página do Facebook, encontram duas entradas com imagens de Pier Paolo Pasolini.
Destacamos a mais recente: o excerto de uma entrevista a Marco Blaser para a
Rádio e Televisão Suíça (1969). Ele responde a por que escrever e qual o papel
da escrita. E, para quem entende italiano, recomendamos essa enorme lista com entrevistas de Pasolini, incluindo esta da qual publicamos um fragmento no Facebook.
3. No YouTube da Global é possível
encontrar este vídeo em que Humberto Werneck lê dois poemas incluídos na
antologia referida na seção anterior, comenta sobre a vivência de Paulo Mendes
Campos na poesia e sobre sua própria relação — a do antologista — com a obra do
cronista mineiro.
4. A Companhia das Letras marcará o centenário de José Saramago, também celebrado em 2022, com a realização de uma jornada durante todo este mês de março. Serão cinco encontros transmitidos nos canais da editora: no dia 10 de março, às 19h, Julián Fuks fala sobre Ensaio sobre a cegueira; no dia 16, às 17h, Leyla Perrone-Moisés faz “Um sobrevoo da obra de Saramago”; no dia 24, às 19h, Andréa del Fuego conversa sobre O evangelho segundo Jesus Cristo; no dia 28, às 19h, conversam Pilar del Río e Ricardo Viel sobre o pensamento humanista saramaguiano. O evento encerra com Jeferson Tenório que comenta sobre A jangada de pedra — isso no dia 31 de março, às 19h.
BAÚ DE LETRAS
1. O baú de Letras ainda receberá
pelo menos outras três entradas sobre a obra de Pier Paolo Pasolini ao longo deste
ano do seu centenário; duas já estão prontas: uma post com recomendações de
leitura da e sobre sua obra; um texto sobre um seu trabalho com o cinema.
Enquanto isso, o leitor encontra várias outras publicações por aqui, como mostramos
nesta seleção:
a) A primeira vez que o nome de Pier Paolo
Pasolini aparece no blog data de março de 2010; foi a publicação da tradução deste texto de Alberto Giordano, “Metáfora por metáfora”.
b) No mesmo ano, nosso editor publica
algumas anotações sobre Salò, os 120 dias de Sodoma — o último filme de Pasolini
ou sua entrada definitiva no centro do pensamento sobre a entrada da civilização
outra vez em tempos sombrios.
c) Abel Ferrara compôs uma
cinebiografia sobre Pasolini, interpretado por Willem Dafoe. Em 2014, editamos
esta matéria sobre o filme.
d) Ainda o cinema pasoliniano. Interessado
em recuperar certa natureza do mito arcaico que prevalece entre nós, Pasolini
revisitou várias das tragédias gregas. Uma delas, a Medeia, de
Eurípides. O filme de 1969-70 foi comentado aqui.
e) A já referida, na seção
anterior, antologia Poemas (Cosac Naify, 2015) foi comentada no blog em
dezembro de 2018. Leia o texto aqui.
f) Em fevereiro do ano passado,
nosso colunista André Cupone Gatti comenta dois poemas em diálogo comparado; à
luz dos conceitos de maldição e dessacralização, Angiolieri e Pasolini.
g) Findamos esta lista com a entrada mais recente neste pequeno dossiê sobre a obra e Pier Paolo Pasolini
com este “A revolução permanente”, uma revisitação biobibliográfica sobre o
multiartista italiano.
DUAS PALAVRINHAS
Na morre jamais numa vida. Tudo sobrevive.
Nós, ao mesmo tempo, vivemos e sobrevivemos. Assim também toda cultura é sempre
entretecida de sobrevivências.
― Pier Paolo Pasolini
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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