Boletim Letras 360º #467
DO EDITOR
1. Caro leitor, o blog recebe
inscrições dos interessados em participar do terceiro sorteio beneficente;
sorteio patrocinado dessa vez pela editora Bandeirola. Convido a saber mais
sobre e, claro, a participar, acessando aqui. Nesta página, você encontra entra contato ainda com outras maneiras de continuar ajudando com os custos de
domínio e hospedagem do Letras para o ano de 2022.
2. Em nome do Letras, muito
obrigado tudo! E já não esqueça, uma boa maneira de contribuir é: na
aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você
tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
Stefan Zweig. Foto: Trude Fleischmann |
LANÇAMENTOS
Os lampejos de Stefan Zweig.
“Momentos carregados de fatalismo, durante os quais se consuma, em um só dia ou em uma única hora, uma decisão para toda a eternidade”, são o tema da mais famosa obra de Stefan Zweig, na qual ele atinge o clímax da sinopse histórica e literária. Os acontecimentos que ele chama de “lampejos” são extremamente variados, abrangendo desde o ocaso do Império Romano do Oriente, que teve como sinal mais visível a destruição de Constantinopla, no ano de 1453, passando pelo advento do “Messias” de Händel, em 1741, pela derrota de Napoleão, em 1815, e pelo indulto concedido a Dostojewski, no cadafalso, em 1849, até a viagem de Lenin para a Rússia, no interior de um vagão lacrado, em 1917. “Em momento algum se tentou”, escreve Stefan Zweig, “dar força ou colorido, de cunho próprio, à realidade intrínseca dos fatos históricos internos ou externos”, pois “a História não carece de braços que a auxiliem.” Todavia, isso não impede que, envoltos no suspense novelístico, aqueles acontecimentos sejam descritos de forma particularmente emocionante, assumindo as aparências de “fatos inéditos”. Com tradução de Roberto Rodrigues, Lampejos da humanidade é publicado pela editora Jaguatirica.
Nova edição do romance Margarida La Rocque, de Dinah Silveira Queiroz.
Publicado pela primeira vez em 1949, o romance há muito estava fora de circulação. Este é o segundo livro de Dinah Silveira Queiroz e um dos seus favoritos. Ao recontar sua história para um padre, Margarida La Rocque, nascida numa pequena aldeia francesa no século XVI deseja “lavar o espírito de recordações aterradoras”, a começar pela profecia que a acompanha desde o nascimento, a de que conheceria o inferno em vida. A narrativa se desenvolve pelo casamento da protagonista com o aventureiro Cristiano, que partiu numa expedição rumo à América e não mais voltou, e a decisão de, ao lado da ama Juliana, embarcar numa viagem com o mesmo destino em busca de notícias sobre o marido. É nesse percurso que Margaria se envolve com o tripulante João Maria. Os três: ela, o amante e a ama são condenados ao exílio numa ilha remota e misteriosa. O romance é reeditado pela editora Instante.
O encontro entre vítima e algoz
retratado numa valiosa peça do teatro moderno sobre a redemocratização do Chile
depois da ditadura de Pinochet.
A Morte e a Donzela, escrito pelo chileno Ariel Dorfman, é um dos mais
contundentes retratos do momento posterior às ditaduras militares da América
Latina e suas feridas. Em três atos eletrizantes, a obra narra o encontro entre
Paulina, que havia sido torturada e repetidamente estuprada na prisão, com um
de seus algozes, o médico que participava das sevícias. Entre os dois está o
marido, advogado de direitos humanos que acaba de ser nomeado para integrar a
comissão de investigação dos crimes da ditadura chilena. O pano de fundo é a
redemocratização do Chile e a tímida reconstrução histórica do período
anterior. As investigações sobre os abusos contra os direitos humanos
restringiam-se basicamente aos mortos pela repressão, deixando de lado os que
sobreviveram, com profundas cicatrizes físicas e psicológicas, como as deixadas
em Paulina. É essa a discussão que se estabelece entre ela e o marido, enquanto
o médico aguarda seu destino ser decidido pelas mãos da antiga vítima. Com
tradução de Sergio Molina e com prefácio de Elie Wiesel, o livro é publicado
pela editora Carambaia.
Último livro de Leonard Cohen
confirma sua extraordinária vocação literária. Para Adam Cohen, filho do poeta
e compositor, “escrever era o seu único consolo, o seu propósito mais
verdadeiro”.
Seguindo as instruções deixadas
por Leonard Cohen, falecido em 2016, este volume é dividido em três partes. A
primeira reúne 63 poemas escritos ao longo de décadas, extraídos de um precioso
baú de inéditos. A segunda abarca os poemas que viriam a se tornar letras de
música, gravadas nos seus últimos quatro discos. Já a seção final recupera
fragmentos dos cadernos do poeta e compositor — um material burilado a partir
de três mil páginas, trabalhadas por cerca de sessenta anos. A chama
inclui ainda dezenas de autorretratos e outros desenhos, além do discurso que o
compositor proferiu ao receber o prêmio Príncipe das Astúrias, na Espanha, em
2011. “Fui tão longe atrás da beleza, deixei tanto para trás”, escreve Leonard
Cohen em uma de suas músicas. Aqui estão os bastidores de um artista singular,
cuja obra — capaz de descrever o arrebatamento, o desejo, a melancolia, a morte
e a solidão — conquistou gerações de admiradores. Com tradução de Caetano W.
Galindo, o livro é publicado pela Companhia das Letras em edição bilíngue. Você pode comprar o livro aqui.
Romance turco revisita confrontos
de ideologia na Istambul dos anos setenta do século XX.
Com um estilo ousado e desafiador,
Leylâ Erbil, nesse seu primeiro romance (1971), tematiza questões polêmicas
para a Istambul de então: o feminismo e a ideologia socialista, o incesto, a
virgindade, a igualdade de gêneros, os dogmas religiosos, o peso do patriarcado
e a liberdade de expressão. Em Uma mulher estranha, dividido em quatro
“retratos”, acompanhamos a trajetória da protagonista Nermin e as descobertas
existenciais que ela vai engendrando a partir de suas relações com uma mãe
violentamente religiosa, um pai mais liberal, os amigos idealistas, as amigas
conformadas, os líderes políticos decepcionantes, todos emergindo de seus
conflitos cotidianos e todos, em sua paradoxal e pungente humanidade, buscando
as formas mais preciosas de amor. A tradução de Marco Syrayama é publicada pela
editora Tabla.
Um romance que despertou a
admiração de escritoras como Anaïs Nin e Doris Lessing.
Não é à toa que Jonathan Lethem
afirma no prefácio desta edição que Gelo “é uma narrativa como a lua é a
lua. Só existe uma.” Experimental, onírico e inebriante, o romance de Anna
Kavan teve um percurso particular desde sua primeira publicação, em 1967. Se
por um lado Kavan foi consagrada pela crítica — que a filiou a escritores
canônicos como Kafka, Woolf ou Beckett — e despertou a admiração de autoras
como Anaïs Nin e Doris Lessing, por outro lado, a ficcionista inglesa que
adotava como pseudônimo o nome de uma de suas personagens foi menos lida do que
merecia, de certo em razão de suas rupturas narrativas desconcertantes. Em meio
a uma iminente catástrofe ambiental que destruirá o planeta com uma avalanche
de gelo, três protagonistas inominados e envolvidos em um suposto triângulo
amoroso tentam se salvar a um só tempo da destruição que se aproxima e uns dos
outros. O narrador, “a garota” e o “guardião” estão sempre a um passo da
aniquilação, da guerra dos homens diante da escassez de recursos, da violência
de seu próprio relacionamento e das imensas paredes gélidas que engolfam seus
caminhos em ambiente e tempo não definidos. Sempre no encalço da garota
cristalina de cabelos brancos de tão loiros, os dois homens não poupam
brutalidade para protegê-la, tratando-a como vítima incapaz e indefesa. Tudo em
Gelo parece ruir e escapar inclusive da leitura mais atenta, como se a
brancura gélida cegasse a percepção. Mas, como é comum acontecer com obras de
vanguarda, o tempo vem realçando o caráter antecipatório do livro ao evidenciar
mais de um aspecto central da narrativa: ao lado do protofeminismo do romance,
subjaz nele a certeza de que ação destrutiva do homem sobre a natureza
invariavelmente o levará à extinção. Embora temas pós-apocalípticos já fossem
comuns na literatura do período pós Segunda Guerra Mundial, sobretudo pela
falta de saída em que se encontravam os indivíduos fraturados, é inevitável ler
Gelo nos dias de hoje sem associá-lo ao panorama das mudanças
climáticas, tema do posfácio desta edição, assinado pela pesquisadora inglesa
Victoria Walker. Não apenas pela escolha temática, mas por sua linguagem e
forma, o romance pode ser lido como uma poderosa representação literária do
antropoceno e do apocalipse ecológico prenunciado pela genialidade fugidia de
Kavan. O livro é publicado pela editora Fósforo com tradução de Camila von Holdefer.
A punição como um sistema.
Ao longo das últimas décadas, a
maior parte das sociedades se tornou mais repressiva, suas leis mais severas,
seus julgamentos mais inflexíveis, e isso não tem correlação direta com a
evolução da delinquência e da criminalidade. Neste livro, que trabalha com uma
abordagem tanto genealógica quanto etnográfica, Didier Fassin se dedica a
apreender os desdobramentos desse momento punitivo “(re)partindo” dos próprios
fundamentos do castigo. O que é punir? Quem é punido? Por que se pune? Por meio
dessas três perguntas, o autor engaja um diálogo crítico com a filosofia moral
e a teoria jurídica. Ele mostra de modo notável, ao preenchê-lo com suas
ilustrações de contextos históricos e nacionais variados, que a resposta ao
crime não esteve sempre associada à inflição de um sofrimento, que o castigo
não procede apenas de lógicas racionais que servem para legitimá-lo e que o
aumento das penas frequentemente tem como resultado diferenciá-las socialmente,
portanto, em aumentar as desigualdades. Ao contrário do populismo penal
triunfante, este estudo propõe uma salutar revisão dos pressupostos que
estimulam a paixão de punir e convida a repensar o lugar do castigo no mundo
contemporâneo. Punir: uma paixão contemporânea é publicado pela Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
Nova tradução e edição de uma
das peças mais conhecidas de William Shakespeare.
Repleta de mistérios, esta peça
tem como cenário uma ilha habitada por um poderoso feiticeiro em busca de
vingança. Embora seja um dos textos mais breves do autor, sua trama é cheia de
reviravoltas que abordam os temas universais da liberdade e do perdão. Considerado
o último texto escrito pelo lendário Shakespeare, A tempestade segue
provocando interpretações radicalmente diversas, que vão da releitura
fantástica de Neil Gaiman, passando pela psicanálise e chegando ao feminismo
pós-colonial de Silvia Frederici. Em uma ilha desabitada que
pertencia a uma velha bruxa, Próspero, o antigo duque de Milão, provoca uma
tempestade sobrenatural que naufraga o navio onde se encontra seu irmão, que
lhe usurpou o título real. É o primeiro passo de um projeto de vingança que
sofre diversos imprevistos — em parte graças à figura misteriosa de Calibã, um
dos personagens mais instigantes do autor. Escravo deformado, filho da bruxa
que governara a ilha, seu ódio pelo duque é interpretado pelos críticos
contemporâneos à luz da revolta dos povos colonizados. A tempestade evoca tanto
discussões extremamente atuais sobre a relação entre os seres humanos e a
natureza, que segue misteriosa para os olhos científicos e desencantados do
homem ocidental, quanto questões de disputas políticas, desforra e até uma
história de amor temperada pela magia, mantendo um movimento constante no
enredo e divertindo os leitores de todas as épocas. A tradução do premiado José
Francisco Botelho valoriza a métrica, dando características oratórias
diferentes a cada personagem e reconstruindo o marejar das ondas que circundam
a ilha onde se passa a ação. Ao mesmo tempo, sua fluidez e clareza oferecem um
Shakespeare acessível para leitores de todas as idades e para aqueles que nunca
leram uma obra do autor. O livro é publicado pela Penguin/ Companhia das
Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Primeira tradução integral da
versão final das memórias de Frederik Douglass.
“Meu papel foi contar a história
do escravo. Para a história do senhor nunca faltaram narradores.” Assim
Frederick Douglass (1818-1895) resume seu objetivo ao publicar, em 1893, esta
que foi a versão definitiva de sua autobiografia. Neste volume, o homem que se
tornaria o funcionário negro mais graduado do governo dos Estados Unidos e voz
proeminente no movimento abolicionista narra toda a trajetória de sua vida, da
infância como escravizado em uma plantation em Maryland, passando pela
conquista da liberdade e por uma brilhante carreira pública como escritor,
orador, intelectual, líder abolicionista e político. Entre as três
autobiografias escritas pelo intelectual abolicionista, a filósofa Angela Davis
escolheu esta, que é cronologicamente a última (publicada em 1893), como tema
das Palestras sobre libertação que ministrou em 1969 na Universidade da
Califórnia. Esta edição de A vida e a época de Frederick Douglass, até
agora inédita no Brasil, vem acompanhada desses célebres (e também inéditos) textos
de Angela Davis. O volume foi traduzido por Rogerio W. Galindo e conta com o
posfácio de Luciana da Cruz Brito, historiadora e professora da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia. Frederick Douglass, que conheceu a vida no
cativeiro e a condição de liberto e semiliberto, foi — por suas atividades de
orador, escritor e editor — um dos maiores líderes abolicionistas e figura
importante nos bastidores da política dos Estados Unidos enquanto o sistema
ainda estava em vigência e mesmo depois do fim da Guerra de Secessão. Várias
passagens dessas suas memórias se tornaram clássicos literários, como a luta
física contra um “domador de escravos”. Douglass também é famoso por ter sido o
americano mais fotografado do século XIX, em imagens que tinham a intenção
deliberada de se opor aos estereótipos afro-americanos da época. “Não haveria
texto melhor para começar do que a autobiografia de Frederick Douglass” escreve
Davis na Introdução. A partir dela, “os estudantes seguiriam uma trajetória do
cativeiro à liberdade, o que os ajudaria a compreender melhor a natureza da
liberdade nos termos em que ela foi forjada por aqueles que tinham mais a
perder na luta pela libertação.” Na autobiografia, Douglass teve o propósito
claro de contrapor-se à versão oficial da história. Diferentemente das
anteriores, a versão final da autobiografia de Douglass é a única que inclui
não apenas os detalhes de sua fuga do cativeiro como descreve o período da
Guerra Civil (1861-1865) e o pós-abolição nos Estados Unidos, quando o autor
registra a permanência do produto mais nefasto da escravidão: o preconceito
racial, como analisa Cruz Brito no posfácio. A historiadora aponta como
Douglass, corajosamente, denunciou o exército da União por perseguir ferozmente
homens e mulheres negras do Sul que aproveitavam o momento para fugir da
escravidão. Isso não o impediu de trabalhar como conselheiro do presidente
Abraham Lincoln, tendo um papel crucial em convencê-lo a armar pessoas
escravizadas e priorizar a abolição entre os objetivos do conflito. Durante a
reconstrução, Douglass se tornou o funcionário negro mais graduado do governo
Lincoln e, nos últimos anos de vida, assumiu postos diplomáticos, representando
os EUA no exterior. Essa percepção das contradições daquele momento histórico
torna evidente que Douglass foi muito mais do que uma testemunha dos horrores
infligidos aos escravizados — o que já seria suficiente para tornar seus livros
os clássicos inestimáveis que são. Ele também foi capaz de analisar
profundamente o sistema escravocrata, numa perspectiva que vai além das
percepções dos abolicionistas de seu tempo. O livro é publicado pela editora
Carambaia. Você pode comprar o livro aqui.
Publica-se no Brasil a obra
considerada mais popular da ficção eslovena.
E se lhe pedissem para pular de um
precipício? E se exigissem que matasse homens e mulheres sem hesitar? Sua
resposta mudaria se você tivesse certeza de que isso o levaria ao paraíso? Em Alamut,
Vladimir Bartol reimagina a história de Hasan Ibn Sabbah, conhecido como “O
velho da montanha”, que no século XI fundou A Ordem dos Assassinos, uma tropa
suicida de elite alimentada por uma intensa paixão religiosa e pela promessa de
paraíso que os aguardava. Ambientada na imponente fortaleza de Alamut, situada
nas montanhas de Elburz no atual Irã, a narrativa aborda questões como fé,
retórica, fanatismo e a real finalidade do poder. Publicada originalmente em
1938, a obra é constantemente utilizada na análise de novos levantes
totalitários e também ganhou os holofotes nos eventos de 11 de Setembro. Mas,
muito além de uma religião ou regime específicos, o livro se propõe a examinar
como ideologias podem ser manipuladas por um líder carismático e transformar
crenças individuais em fanatismo. Alamut é considerada a obra de ficção
eslovena mais popular de todos os tempos e serviu como inspiração para a
criação de diversas outras mídias, como a série de jogos Assassin’s Creed. Com
tradução de Alexandre Boid, o livro é publicado pela editora Morro Branco.
Um dos primeiros livros da
literatura estadunidense a abordar temas caros à identidade feminina em nova
tradução.
Edna Pontellier passa as férias
com a família nos chalés de praia alugados dos Lebrun, perto de Nova Orleans,
onde moram. Os dias escorrem entre chás na varanda, agradáveis caminhadas na
praia acompanhada de outros hóspedes, um olhar desatento para as crianças que
são seguidas pelas criadas. Às noites, seu marido Léonce Pontellier vai no
clube encontrar outros maridos para jogar cartas. Entre os interlocutores de
Edna está o jovem Robert Lebrun, cuja companhia lhe é cada vez mais cara à
medida que os dias avançam. Edna Pontellier não saberia dizer por que, mesmo
desejando ir à praia com Robert, ela primeiro declinara, para logo depois
seguir, obediente, a um dos dois impulsos contraditórios que a impeliram. Uma
certa luz estava começando a despontar debilmente dentro dela — a luz que,
mostrando o caminho, também o proíbe. No fim das férias, Robert diz que está de
partida para o México, decisão tomada abruptamente para surpresa e aflição
dela. De volta a Nova Orleans, Edna começa um processo interno de
autorrealização que traduz em ações. O despertar, este livro em que uma
mulher casada busca sua liberdade plena, foi massacrado pela crítica e taxado
como um livro mórbido e vulgar quando publicado em 1899, por abordar temas como
sexualidade feminina, maternidade e infidelidade. Banido por décadas, foi
redescoberto em 1970 pelo movimento feminista e é hoje considerado uma das
obras essenciais da literatura estadunidense. O livro é publicado na coleção A
arte da novela editada pela Grua Livros; a tradução é de Jane Pessoa.
Regresso, memória e violência dão
cores ao primeiro romance de Tito Leite.
Leonardo volta ao Nordeste, a
Dilúvio das Almas, sua cidade natal, depois de muitos anos vivendo de todas as
formas em São Paulo. Mas o retorno ao sertão semiárido está longe de ser
idílico: a violência e a ignorância que o fizeram migrar continuam ali. Escrito
num tom por vezes filosófico e desencantado, que contrasta com o extremo
realismo das cenas e a secura dos diálogos, este é um romance potente sobre
como pode ser difícil reinventar o próprio passado. Dilúvio das Almas,
livro de Tito Leite é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Um dos maiores fenômenos
editoriais da Europa dos últimos anos, Água fresca para as flores
traz uma sensível história de amor no peculiar cenário de um cemitério.
Os dias de Violette Toussaint são
marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes
queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante
da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de
café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região,
Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o
trágico e o excêntrico se combinam? Com quase cinquenta anos, a zeladora
coleciona fantasmas — uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas
ainda mais profundas —, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de
seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien
Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo
desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado
difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito
esquecidos. À medida que os laços entre os
vivos e os mortos são expostos, acompanhamos a história dessa mulher que
acredita de forma obstinada na felicidade, mesmo após tantas provações. Com sua
comovente e poética ode ao cotidiano, Água fresca para as flores é um
relato íntimo e atemporal sobre a capacidade de redenção do amor. Com tradução
de Carolina Selvatici, o livro é publicado pela editora Intrínseca. Você pode comprar o livro aqui.
Livro revisita quatro pensadoras para a terceira década do século XX.
A década de 1933 a 1943 marcou um
dos capítulos mais tenebrosos da humanidade. Em meio ao horror da ascensão do
nazismo e da carnificina da Segunda Guerra, quatro mulheres ― Simone de
Beauvoir, Simone Weil, Ayn Rand e Hannah Arendt ― libertaram-se dos grilhões do
gênero e provaram que a emancipação do pensamento podia ocorrer mesmo em meio a
situações extremas. Com grande habilidade narrativa e um equilíbrio magistral
entre a apresentação biográfica e a análise acurada de ideias, Wolfram
Eilenberger nos oferece a história de quatro vidas hoje legendárias que, em
meio à convulsão, mudaram nossa forma de entender o mundo e lançaram as bases
para uma sociedade muito mais livre. Seus reflexos chegam até os nossos dias em
temas como gênero, identidade, religião, liberdade, sexo e autonomia. As
pensadoras estavam na casa dos trinta anos no período coberto pelo livro e
ainda não tinham alcançado a fama que teriam nas décadas posteriores. E, na
verdade, quase todas tiveram problemas para editar suas obras. Mesmo quando
suas experiências de vida diferem marcadamente, elas têm ainda um denominador
comum: eram mulheres cuja inteligência lhes permitiu romper os moldes da época.
As aventuras dessas quatro visionárias as levaram da Leningrado de Stálin à
Hollywood da era dos grandes estúdios; da Berlim das batalhas campais entre
nazistas e comunistas à Paris ocupada por Hitler; das brutalizantes fábricas
europeias a Nova York, que recebia, generosa, os refugiados do Velho Mundo.
Mas, sobretudo, é a jornada do pensamento delas que daria origem às ideias
revolucionárias sem as quais o nosso presente e o nosso futuro não seriam os
mesmos. As visionárias: Quatro mulheres e a salvação da filosofia em tempos
sombrio tem tradução de Claudia Abeling e é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Um retrato cáustico do universo
de pais e filhos ricos e privilegiados.
Vivian é uma jovem curadora de
trinta e poucos anos que vive entre Rio e São Paulo. Seu currículo impecável só
existe por conta dos diversos trabalhos mal remunerados em instituições
prestigiadas, uma vez que vive do dinheiro da família. Quando um episódio
trágico faz com que sua vida se cruze com a de Darlene, uma ambulante que vende
cervejas em frente a seu apartamento, o mundo de Vivian ganha um rumo sombrio e
imprevisível. O elo invisível entre seu conforto financeiro e a violência que
mora ao lado nos convida a uma jornada ímpar na literatura brasileira
contemporânea. Entre o delírio narcisista, personagens obcecados por manter sua
posição social a qualquer custo e um retrato cáustico do universo de pais e
filhos ricos e privilegiados, a narradora de Clara Drummond nos convida a olhar
para a tragédia humana e de um país. Os coadjuvantes é publicado pela
Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Nova edição de um dos
principais romances da literatura brasileira, acrescida de conto inédito.
Janeiro de 1937. Graciliano Ramos
é libertado da prisão onde passara os últimos dez meses e dez dias, sem saber o
motivo. Ao sair, o escritor — transformado neste romance em personagem — começa
a escrever um diário que retrata cerca de dois meses de sua nova vida fora das
grades. “Não sinto o meu corpo. Não quero sentir meu corpo agora, porque é pura
fonte de sofrimento. Existe uma memória desses últimos acontecimentos nos
braços, nas pernas, nas costas, nesta cicatriz na barriga, que quero apagar”,
registra o autor, narrador deste livro. Publicado pela primeira vez em 1981,
este trabalho ímpar de ficção mostra toda a potência de Silviano Santiago e
continua absurdamente atual em sua crítica a um Estado que oprime e desumaniza.
Misto de biografia, autobiografia, relato histórico, ensaio, crítica e romance,
Em liberdade é uma das maiores obras da literatura brasileira dos
últimos anos. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição do livro que desfaz
mitos antigos e recentes sobre a Guerra do Paraguai.
Com sólida base metodológica e
documental, Doratioto analisa as origens e a dinâmica militar da Guerra do
Paraguai e descobre ou recupera informações surpreendentes sobre os cinco anos
de luta. Este vasto trabalho é acrescido, nesta terceira edição, de novas
pesquisas e estudos recentes proporcionados pelo avanço historiográfico. Escrito
em linguagem clara e objetiva, este livro é fruto de mais de quinze anos de
pesquisas em arquivos e bibliotecas do Brasil, do Rio da Prata e da Europa.
Francisco Doratioto, graduado em história pela USP e doutor em história das
relações internacionais pela Universidade de Brasília, viveu durante três anos
no Paraguai, o que lhe permitiu visitar locais e conhecer a memória oral ainda
existente sobre a guerra. A utilização de fontes tão diversificadas resultou em
descobertas surpreendentes e na recuperação de informações publicadas no final
do século XIX e começo do XX. Doratioto explica o início do conflito através do
processo histórico regional, rejeitando a interpretação de que o imperialismo
inglês seria o responsável pelo desencadear da luta. O autor relata o duro
cotidiano das tropas aliadas e paraguaias, mostrando toda a dinâmica da guerra
e reavaliando a atuação de chefes militares como Mitre, Tamandaré e Caxias. As
principais batalhas são contextualizadas de forma didática em 23 mapas,
enquanto personagens e situações encontram-se representados num interessante
conjunto de ilustrações e fotografias. Outro aspecto investigado é o contexto
internacional do conflito: a simpatia da opinião pública pelo lado paraguaio, a
neutralidade das potências europeias e a postura favorável ao Paraguai por
parte dos Estados Unidos e países sul-americanos. A Guerra do Paraguai foi um marco
na história dos países envolvidos. No caso do Brasil, sorveu recursos humanos e
financeiros de que a economia brasileira carecia para sua expansão. Com sólida
base documental e metodológica, Maldita guerra desfaz mitos antigos e recentes
sobre o conflito, constituindo-se em obra de referência sobre o tema. O livro é
reeditado pela Companhia das Letras.
DICAS DE LEITURA
Literatura Latino-americana,
literatura holandesa, literatura nórdica, literatura oriental, literatura
italiana. Importa a literatura. Mas alguns movimentos de divulgação nos últimos
no Brasil ora restabelecem alguns interesses adormecidos durante um tempo ora
buscam levar os leitores encontrar obras e de escritores ainda novos para muitos.
Nessa ideia das heterogeneidades culturais, algumas pequenas editoras têm se
especializados em publicações da literatura de determinada parte do globo de difícil
acesso por aqui. Bom, recomendamos três livros recentes que se encaixam nessa
proposta. Muitos outros já passaram por essa seção sem pensar em rótulos. O
importante é ler. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links
ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
1. O amigo perdido, de
Hella Haasse. Publicado pela editora Rua do Sabão, o livro de 1948 considerado
a obra-prima da grande dama da literatura holandesa tem tradução do mais ativo
divulgador no Brasil da produção literária do país de Van Gogh. A narrativa desse
romance que cabe bem na leitura de um final de semana conta a história de um
menino criado numa plantação colonial nas Índias Orientais Holandesas (atual
Indonésia). Evidenciando os impasses raciais e históricos, tudo aparece
problematizado pela amizade entre este garoto, também o narrador, e seu amigo
de infância, Urug, da sua idade, mas de ascendência nativa. Você pode comprar o livro aqui.
2. Memória para o esquecimento,
de Mahmud Darwich. O livro saiu por uma casa editorial que tem se especializado
na publicação de literatura do Oriente Médio. Do grande poeta da Palestina e um
dos mais importantes do mundo árabe, a Tabla já publicou outros dois livros,
além desse título. Aqui, ele reflete acerca da invasão israelense e suas consequências
política e histórica no seu país. O autor faz isso a partir de uma perspectiva
intimista, uma vez que o relato se intercala com os registros da sua própria
memória. A tradução é de Safra Jubran. Você pode comprar o livro aqui.
3. Ano da fome, de Aki
Ollikainem. O livro recupera um título que torna conhecido outro romance dos
mais importantes na literatura norueguesa — Fome, de Knut Hamsun, um
título em falta entre nós desde a edição de 2004. No caso do finlandês, a
narrativa recupera o trágico ano de 1867, quando mais de 250 mil pessoas
morreram de fome. Com tradução de Pasi e Lilia Loman, o livro está publicado
pela editora Numa. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. No YouTube da Companhia das Letras, aconteceu no último dia 16 de fevereiro a apresentação da edição
especial que assinala o centenário de publicação de Ulysses. Na mesa, o
tradutor Caetano Galindo e outros especialistas que colaboram com os estudos e
a divulgação da obra de James Joyce no Brasil e participam no livro com textos
de apoio.
2. A revista Continente
revelou na edição de janeiro de 2022 algum detalhe sobre o poeta russo Boris
Rýji, incluindo a tradução de poemas. O material está disponível online, aqui.
3. É possível encontrar online várias
entrevistas (incluindo vídeos com o que divulgamos em nossa página no Facebook)
com Tarsila do Amaral. A pintora mesmo não participando da Semana de Arte
Moderna em 1922 se tornou um dos ícones do modernismo brasileiro. Uma delas
pode ser ouvida diretamente no arquivo online do Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Do seu anedotário, ela conta de quando passou na alfândega
parisiense com uma dúzia de garrafas de pinga.
BAÚ DE LETRAS
1. Na edição passada deste
Boletim, falamos sobre a passagem de José Luís Peixoto pelo Brasil para
apresentação do seu romance mais recente entre nós, Autobiografia.
Voltamos ao assunto para lembrar este texto de Pedro Fernandes saído por aqui
quando o livro começou a chegar nas livrarias.
2. Dois em um. E, por falar em resenhas
de livros, chamamos atenção para este texto de Tiago D. Oliveira sobre o
romance Vestígios, de Sandra Abrano. Publicado pela editora Bandeirola,
o livro parte do Kit oferecido aos apoiadores do Letras. E, claro, deixamos o convite
para que se inscreva no sorteio. Vai que... Saiba tudo aqui.
DUAS PALAVRINHAS
“Toda poesia já tem em si mesma
uma dimensão política. Em essência, o poeta está em estado de greve.”
— Augusto de Campos.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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