Boletim Letras 360º #466

 
 
DO EDITOR
 
1. Caro leitor, foi divulgado quais os livros que formam o Kit para o sorteio no terceiro bimestre do pequeno clube de apoios ao Letras. Essa criação foi sugestão de um dos nossos leitores e visa levantar fundos para o pagamento das despesas anuais de hospedagem e domínio do blog.
 
2. A editora parceira da vez é a Bandeirola. A casa disponibiliza três livros do seu catálogo: A espinha dorsal da memória, premiado livro e entre os melhores da nossa ficção científica brasileira de Braulio Tavares; Vestígios, de Sandra Abrano, um thriller político que já foi resenhado aqui; e Eu e Cervantes.
3. E detalhe: pensando em oferecer mais oportunidade aos participantes, as inscrições no sorteio deste bimestre estão com desconto exclusivo. Leia tudo sobre aqui e participe!
 
4. Em nome do Letras, muito obrigado pelos apoios diversos recebidos dos que acompanham este projeto. E não esqueça, outra maneira de ajudar com o blog é: na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.

Cesare Pavese. Foto: Ghitta Carell


 
LANÇAMENTOS

A Colenda, uma nova editora e os dois primeiros títulos do seu catálogo.
 
1. Nova tradução de um dos principais livros de Cesare Pavese. Saltam dos versos de Trabalhar cansa personagens marginais e alegóricos, como camponeses, mendigos, beberrões, prostitutas e assassinos, tendo a Itália fascista dos anos 1930 como pano de fundo. É um trabalho metódico de tradução do cotidiano, ainda que Pavese não se proponha a construir rimas perfeitas. Os poemas aqui contam histórias inteiras, da mulher que arrasta o corpo do marido sob o luar ao primo que retorna após ser dado como morto. Esta obra é o registro singular de uma época estilhaçada. Conecta certo saudosismo do passado a um presente vazio. Pavese não pinta de cores bonitas sua Itália cotidiana e rústica. Não deixa a melancolia menos crua. Não por acaso, na época de sua publicação, o livro sofreu forte censura do regime fascista. A força e o encanto desse livro vêm dessa marcha que as gerações fazem, dia após dia, vivendo, replicando-se e morrendo. E trabalhando muito mais. A tradução é de Andréia Riconi.
 
2. As pequenas vilanias humanas são o fio condutor das histórias que compõem Más intenções. Elena Alonso Frayle não tem receio de explorar a intimidade dos personagens, de revirá-los ao avesso e escancarar suas intenções sombrias, nem de brincar com seus segredos. Alguns são apenas insinuados, outros estão ali, flutuando na superfície, em relatos que prendem e sufocam o leitor. No conto que dá nome ao livro, três jovens descobrem, numa ligação por engano, um divertimento cruel. O que começa como brincadeira evolui para travessuras cada vez mais sofisticadas, até chegar à raiz de uma maldade que nada tem de inocente ou juvenil. O perigo do oculto, do indizível e das vontades íntimas atravessa todo o livro, como uma presença que questiona e destrói os conceitos de moralidade. Com uma narrativa envolvente, Elena Alonso Frayle investiga as profundezas da maldade e de sentimentos inconfessáveis, ecoando a tradição de autores como Julio Cortázar e Mariana Enríquez. A angústia, a solidão e o vazio são a matéria-prima que embala personagens em um ritual de expiação e cura, deixando nas entrelinhas sua maior beleza. Este é um livro de contos poderoso e desconcertante, escrito por uma voz original e incrivelmente talentosa. A tradução é de Marina Waquil.

A estreia no Brasil de um escritor chileno que tem arrebatado leitores e críticos.
 
Em 2012, o matemático japonês Shinichi Mochizuki publicou artigos provando uma das mais importantes conjecturas da teoria dos números. Quando sua prova foi considerada impossível de entender pelos maiores especialistas da área, Mochizuki terminou por se excluir da sociedade, evocando o autoexílio de outro matemático, o lendário Alexander Grothendieck. Haveria alguma conexão enigmática entre esses dois homens? Esse é o ponto de partida de “O coração do coração”, uma das narrativas que o chileno Benjamín Labatut reuniu neste livro que o tornaria uma sensação mundial. Elementos parecidos figuram nos outros textos: cientistas tão geniais quanto atormentados perseguem suas ambições ao custo da saúde física e mental, enquanto os desdobramentos pessoais e históricos de suas descobertas atravessam o tempo e o espaço. Baseando-se em biografias e teorias reais, mas recorrendo à ficção para produzir efeitos estéticos e associações de ideias, o autor explora em seus relatos o entrelaçamento entre a vida íntima e o desbravamento científico. Com um estilo em que ouvimos ecos de W. G. Sebald e Roberto Bolaño, o leitor pode sentir que está diante da montagem hábil de “um quebra-cabeça cuja tampa se perdeu” — para aproveitar a metáfora com que Labatut descreve o jovem Heisenberg brincando com as matrizes que o levarão a formular a mecânica quântica. Protagonizado não somente por cientistas famosos como Einstein e Schrödinger, mas também por figuras menos conhecidas e igualmente fascinantes, o livro é uma investigação literária sobre homens que atingiram o “ponto de não retorno” do pensamento e nos revelaram em alguma medida o “núcleo escuro no centro das coisas”. Com tradução de Paloma Vidal, Quando deixamos de entender o mundo é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
O testemunho teatral de um veterano de 1964 sobre nossos últimos anos.
 
Rainha Lira é o testemunho teatral de um veterano de 1964 sobre nossos últimos anos. “Últimos”, nesta peça de Roberto Schwarz, possuem também um sentido menos comezinho. De fato, de 2013 para cá, a autoimagem do Brasil oscilou turbulentamente de um extremo ao outro, a ponto de nos perguntarmos se sobrará pedra sobre pedra num horizonte próximo. Escrevendo sobre Brecht, o autor notou que o escritor alemão buscava em suas peças “orquestrar a cena ideológica em sua amplitude e cacofonia reais”. O leitor logo reconhecerá em Rainha Lira algo dessa mesma ordem. Reconhecerá também pessoas em personagens, mas aqui — como em Marx e Brecht — estas são acima de tudo figuras dos interesses de classe que se engalfinharam em nosso mais recente transe. Para Roberto Schwarz, ele aponta, além do mais, para impasses do capitalismo contemporâneo, cada vez mais excludente, esgarçando a vida social na direção de um vale-tudo que não se sabe o que prenuncia. O livro é publicado pela Editora 34.
 
Giorgio Agamben retorna ao Éden.
 
Há mais de dois milênios o paraíso terrestre, o jardim plantado por Deus no Éden, constituiu para o mundo ocidental o paradigma de toda felicidade possível sobre a Terra. No entanto, desde o início, foi também o lugar de onde a natureza humana, decaída e corrompida, foi expulsa para sempre. De um lado, todos os sonhos revolucionários da humanidade podem ser vistos como uma tentativa incansável de voltar ao Éden, desafiando os guardiães que proibiram seu acesso; de outro, o Jardim persiste como um traumatismo original que condena ao fracasso toda busca da felicidade terrestre. Em ambos os casos, o paraíso é essencialmente um paraíso perdido e a natureza humana algo de radicalmente defeituoso. Através de Agostinho e Dante, Agamben tenta pensar o paraíso terrestre não como um passado perdido nem como um futuro por vir, mas como a figura ainda e sempre presente da natureza humana e da justa morada dos homens sobre a Terra. Com tradução de Vinícius Nicastro Honesko, O reino e o jardim é publicado pela N-1 Edições. Você pode comprar o livro aqui.
 
Histórias que se entrelaçam e revelam algo da tragédia de suas personagens.
 
No dia do aniversário de sete anos de Claire Limyè Lanmè, seu pai decide entregá-la para uma vendedora de tecidos para que ela dê à menina uma vida melhor. Pouco a pouco, somos apresentados a outros moradores do vilarejo de Claire, e um mundo de lembranças que deveriam permanecer enterrados vem à tona. Como num tecido, as vidas da história se entrelaçam, revelando algo da tragédia de todos eles, mas também momentos de força e esperança. Com tradução de Ana Ban, Clara da luz do mar é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma dinamarquesa ainda de um todo inédita entre nós. Bom, agora não mais.
 
Poucas obras literárias conseguem entregar precisamente aquilo que seus títulos haviam prometido. O engano, por vezes, é parte do próprio recurso literário. Em outros casos, o título é apenas mais um elemento externo à obra em si, algo que se encontra na soleira, mas que nunca chega a adentrar completamente naquele universo ficcional. Publicada em 1828 de forma anônima Uma história cotidiana realiza esse feito, pois o que está ali presente é uma história de cada [hver] dia [dag], uma história que, portanto, é cotidiana em todo seu sentido. Um noivado impulsivo e o pedido de um amigo fazem o narrador conhecer Maja, uma jovem que foi abandonada pelo noivo. O que poderia ser apenas um acontecimento cotidiano transforma-se em algo que irá definir o destino de todos. É assim que Gyllembourg constrói esta bela narrativa, pequenos acontecimentos, gestos que não daríamos importância por se repetirem todos os dias levam a momentos decisivos. Uma história de amor que não se repete todos os dias, mas é feita pelo cotidiano. O livro de Thomasine Gyllembourg é publicado pela Arte & Letra com tradução do original de Lucas Lazzaretti.
 
Albert Camus e a guilhotina.
 
Em Reflexões sobre a guilhotina, ensaio inédito no Brasil do vencedor do Prêmio Nobel, Albert Camus, o autor demarca sua posição contrária à pena de morte. O livro ainda conta com um prefácio à edição brasileira escrito por Manuel da Costa Pinto. Em 1914, o pai de Camus, descrito como um homem bom, comparece a uma execução pública. Após a decapitação do assassino, considerada por muitos uma pena “suave demais” por conta de seus crimes, ele volta para casa em choque, em completo silêncio, passa mal e vomita. Como essa “justiça” pode deixar um homem nesse estado?, questiona o autor argelino. O que há de errado com essa condenação? Esse é o ponto de partida de "Reflexões sobre a guilhotina", ensaio em que Camus discute a pena de morte, em especial a morte na guilhotina. Para tanto, ele tece críticas a qualquer argumento em defesa da pena capital. Para Camus, numa sociedade dessacralizada não pode haver uma pena definitiva. Enquanto para a Igreja católica a pena de morte não é o fim — afinal, é provisória: o condenado é arrancado da sociedade, mas com chance de redenção no pós-vida —, na sociedade em que vivemos a pena capital é, sim, definitiva. É uma afirmação de que alguém é absolutamente mau enquanto a sociedade seria absolutamente boa, e coloca o juiz no lugar de Deus. Além disso, Camus argumenta que, para se acreditar que a morte na guilhotina teria um caráter exemplar, seria preciso partir do pressuposto de que a morte de um criminoso condenado num processo judicial, sujeito a falhas, impediria crimes que poderiam nunca ser cometidos. Ou seja, mata-se uma pessoa por uma hipótese. Camus percebe a pena de morte como nada mais que uma lei de talião da sociedade — um “olho por olho”. E vê nela uma contradição: como pode uma lei responder a um instinto natural quando o papel da legislação é justamente inibir os ímpetos mais animalescos da humanidade? Em sua análise, o Estado e a sociedade, mais que cúmplices, são responsáveis por essas mortes; Estado este que mata o indivíduo condenado à morte duas vezes: uma quando o condena e o faz viver com a expectativa do fim; outra quando de fato dá cabo à sua vida. A última morte por guilhotina na França aconteceu ainda no século XX, em 1977. O autor de grandes livros como O estrangeiro, A peste e O mito de Sísifo apontou as contradições dessa prática em 1957 em um contexto muito específico da França, mas seus argumentos reverberam ainda hoje em nossa sociedade. A tradução de Valerie Rumjanek é publicada pela editora Record.
 
Leslie Jamison traça um panorama de como as drogas moldaram a arte ao longo dos séculos.
 
A autora expõe os tabus de nossa relação com os entorpecentes e nossos próprios desejos sombrios em um relato sincero, ousado e verdadeiro, impossível de ser esquecido. Com o talento que se tornou sua marca registrada, Leslie Jamison revisita histórias sobre reabilitação — tanto a sua quanto a de outras pessoas — e examina porque essas narrativas, mesmo quando não são bem-sucedidas, nos atraem e fazem parte da mitologia contemporânea. A autora nos oferece um fascinante panorama da cultura da reabilitação, que movimenta milhões de dólares por ano e muitas vezes se usa de promessas milagrosas, premissas equivocadas e práticas no mínimo questionáveis. A narrativa revisita as trajetórias de gênios da literatura e de outras expressões artísticas cujas vidas e obras foram marcadas pelo alcoolismo e o abuso de diferentes substâncias, como Billie Holiday, Raymond Carver e David Foster Wallace, para citar apenas alguns, assim como outras figuras brilhantes, mas que tiveram o devido reconhecimento obscurecido por seus vícios. E, por meio da relação visceral da autora com seus próprios tormentos, A reabilitação se torna igualmente uma investigação sobre como nossos desejos mais latentes podem nos destruir, ao mesmo tempo que moldam quem nós somos. Com tradução de Santiago Nazarian, o livro é publicado pela Globo Livros.
 
Romance revisita os impasses raciais no sul dos Estados Unidos.
 
Um homem negro compra uma fração da fazenda onde trabalha no Sul dos Estados Unidos. Um dia, sem nenhuma razão, e sob os olhos de seus vizinhos, brancos e negros, ele salga a terra, mata os animais, incendeia a casa e parte com a família. Atravessamos a leitura em busca das motivações para o ato, mas o autor não se rende a explicações fáceis. Pelo contrário: escolhe narrar o trágico evento a partir das personagens brancas, que parecem assustadas e indignadas. Um tambor diferente tem tradução de Heloísa Mourão e Luisa Geisler e é publicado pela editora Todavia.
 
O novo livro de João Anzanello Carrascoza.
 
Inventário do azul é um marco na obra de João Anzanello Carrascoza. Por meio de lembranças e ponderações sobre o que significa crescer e amadurecer, ele recria todo um arco de vida, com seus momentos fugazes de felicidade e a melancolia do que se perdeu. A narrativa de Carrascoza é sutil, composta pelo fascínio e pela precisão do autor em captar imagens da poesia vivida, quase imperceptível, que acontece diante de nossos olhos e mal temos tempo de notar. Inventário do azul reconta a jornada de um narrador sem nome, de seu nascimento até a meia-idade, com seus erros e incertezas, em que a “alegria é não esperar pela alegria, sequer cogitá-la, e, de repente, ela aportar, incontornável e avassaladora”. Esta narrativa de fôlego, composta de lembranças, pensamentos e descrições singelas, sintetiza com maestria o estilo narrativo que consagrou Carrascoza na literatura brasileira. Ao mesmo tempo, ela vai além, abrindo novos caminhos para sua arte. É um livro para se aprofundar em sua escrita, e para se perder nela. O livro é publicado pela editora Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
 
O romance póstumo do autor de Graça infinita, em tradução de Caetano W. Galindo.
 
O Internal Revenue Service de Peoria, Illinois, parece tão comum quanto os próprios agentes do fisco — pelo menos é essa a impressão do recém-chegado David Wallace. No entanto, à medida que mergulha em uma morosa e repetitiva rotina, David passa a conhecer mais a fundo a ampla gama de personalidades atraídas pela curiosa vocação daquele ofício. E tudo isso em um momento em que forças internas do departamento parecem conspirar para extinguir até mesmo a pouca humanidade e dignidade que ainda restam à repartição. Em O rei pálido, David Foster Wallace discute temas fundamentais de nossa existência: a monotonia, a depressão, o sentido da vida e o valor do trabalho. Genial, hilário e comovente, eis um livro incontornável de uma das mentes mais originais da literatura contemporânea. O livro é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
O segundo volume de Artes plásticas e trabalho livre.
 
O livro cobre momentos decisivos do embate entre arte acadêmica e arte moderna, entre meados do século XIX e o início do século XX. O foco está no arco de obras que vai de Manet (incluindo um inovador e minucioso estudo do quadro Um bar no Folies-Bergère) até Braque e Picasso, passando pelo Impressionismo, por Van Gogh e Cézanne. Foi um período de profundas transformações econômicas, sociais e políticas, diretamente ligadas ao crescente domínio do capitalismo industrial. Período em que, não por acaso, “técnica, material, dimensões, temática, ideologia... todo o arcabouço da pintura entra em reforma”. Nas análises de Sérgio Ferro — arquiteto, pintor e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1962-1971) e da École d’Architecture de Grenoble (1973-2003) — as artes plásticas são atividades materiais como todo e qualquer trabalho social, mas as únicas que, a despeito da classe social de seus produtores, “subsistem à sua subordinação produtiva pelo capital”. Esse processo de insubordinação varia, é claro, de artista para artista, mas a tônica aqui vai para as contradições, bem ou mal resolvidas, do fazer artístico de cada qual. Com as colagens de Picasso e Braque (1912-1914), pela primeira vez a arte moderna acerta o passo com a revolução social, deixando entrever possibilidades utópicas que, cem anos depois, ainda estão por realizar: “o encanto do fazer autogerido, a fertilidade da autonomia, a variedade de seus possíveis, a imprevisibilidade do caminho e do ponto de chegada”. O livro é publicado pela Editora 34.

Nova tradução brasileira para um dos livros que melhor apresenta o trabalho ensaístico de Susan Sontag.
 
Nascido sob o signo de Saturno, o “planeta de desvios e atrasos”, Walter Benjamin explorou a solidão e o devaneio em sua obra. Intelectual de temperamento melancólico, imprimiu em seus ensaios uma autoconsciência implacável e o gosto por labirintos filosóficos — duas entre várias características que partilha com Susan Sontag. Para a personalidade saturnina, “o tempo é um meio de coerção, inadequação, repetição, mera realização”, diz a autora no ensaio que dá nome a esta coletânea. Publicado pela primeira vez em 1980, na New York Review of BooksSob o signo de Saturno reúne sete textos que abordam desde o modernismo na literatura até a busca pelo belo no cinema alemão. Com a sagacidade que a consagrou como uma das maiores críticas do século XX, Sontag traz uma série de provocações sobre a escrita, a história e a herança de alguns dos mais importantes artistas e pensadores dos últimos tempos. A influência do escritor Paul Goodman em sua vida, a obra múltipla do francês Antonin Artaud, as polêmicas envolvendo a cineasta nazista Leni Riefenstahl, as potencialidades simbolistas do cinema de Hans-Jürgen Syberberg, a singularidade de Roland Barthes, o legado literário de Elias Canetti e, é claro, a complexidade de pensamento de Walter Benjamin são os temas deste volume. Para Sontag, nada era indecifrável. Seja demolindo falsos mitos, seja prestando tributo a figuras injustiçadas, as páginas deste livro apresentam ao leitor a mais fina crítica da cultura contemporânea por uma de suas maiores expoentes. Com tradução de Rubens Figueiredo, o livro é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição com a poesia de Castro Alves.
 
Este é o primeiro livro de poesia editado pela Antofágica, editora que se tem feito com reedições de obras em domínio público repaginadas. O navio negreiro e outros poemas inclui uma seleção dos textos que tornaram Castro Alves o poeta dos escravizados — ou, como ele queria, o poeta da Liberdade. O livro inclui ilustrações de Mulambö, apresentação de Pétala e Isa Souza, posfácios do professor Luiz Henrique Oliveira, da atriz Elisa Lucinda, do escritor e jornalista Tom Farias e da historiadora Mônica Lima e Souza. O projeto gráfico é de Oga Mendonça. Você pode comprar o livro aqui.
 
Com surpreendente vigor e concisão, Padre Sérgio é uma obra singular da literatura russa.
 
A um mês de se casar, para espanto geral, o príncipe Stiepán Kassátski decide deixar tudo de lado. Pede afastamento do cargo, interrompe o noivado, abandona a vida elegante e luxuosa da corte de São Petersburgo e segue para o monastério, onde pretende se tornar monge. Escrito em 1890, Padre Sérgio consegue reunir as principais preocupações e motivações que marcaram o fim da vida de Liev Tolstói. A súbita conversão do protagonista diz muito a respeito do que o autor pensava sobre a vida mundana — repleta de tentações, ambições e sensualidade — em oposição à rigorosa escolha eclesiástica. Ao refletir sobre os dilemas do príncipe, a novela joga luz não só sobre a religião e a moral, mas também sobre as verdadeiras aspirações do protagonista, que não se mostram tão puras quanto pareceriam ser. O livro tem posfácios de Samuel Titan Jr. e Boris Schnaiderman e tradução de Beatriz Morabito. Publicada inicialmente pela Cosac Naify, esta tradução é agora reeditada pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
RARIDADES
 
Afinal, não era nada demais. O que diz as primeiras revelações de uma carta de Charles Dickens há muito ilegível.
 
O ano é 1859. E o autor de Grandes esperanças e outros clássicos da literatura inglesa escreve uma carta para si mesmo com base na versão completa escrita para John Thaddeus Delane, então editor do The Times de Londres, valendo-se de símbolos, pontos e rabiscos. Por mais de um século estudiosos da obra de Dickens tentaram, sem sucesso, decifrar o conteúdo do manuscrito agora 70% conhecido. O que sobrou da missiva — o original completo está perdido — é parte do arquivo da Morgan Library & Museum em Nova York. E, graças a um desafio lançado pela Universidade de Leicester, que postou uma cópia online prometendo 300 libras esterlinas a quem conseguisse entender a tal carta, agora sabemos mais alguma coisa. Shane Baggs, vencedor da competição é especialista em suporte técnico para computadores na Califórnia e nunca leu um romance do escritor inglês. O seu trabalho de investigação consumiu seis meses e realizou-se com alguma formação de decifrador: Baggs participou de workshops organizados por Claire Wood, professora de literatura vitoriana em Leicester e Hugo Bowles, linguista forense na Universidade de Foggia, Itália. As descobertas revelam melhor sobre uma disputa que o autor teve com The Times; ele diz que um funcionário do jornal londrino errou ao rejeitar um anúncio enviado por ele para promover uma nova publicação literária e pede outra vez, agora diretamente ao editor, que a posição seja revista e o material veiculado. As descobertas permitirão, sobretudo, a que os pesquisadores saibam mais sobre o funcionamento do “selvagem mistério estenográfico” (cf. diz em David Copperfield) de Dickens.
 
DICAS DE LEITURA
 
Nos cem anos da semana que não foi uma semana e para incentivar os leitores à desconstrução de algumas outras circunstâncias transformadas em pontos definitivos a partir de quando se descobre o potencial de vanguarda do modernismo, três livros. As recomendações deste Boletim se oferecem como pontos que poderão levá-los ao vastíssimo universo que agora se pensa como modernismos. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. 22 por 22. A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos, organizado por Maria Eugenia Boaventura. Este livro não está na extensa lista de lançamentos que desde o final de 2021 começa a chegar entre as publicações mais recentes sobre o evento realizado em São Paulo. Mas é indispensável porque oferece ao leitor um panorama sobre a Semana de Arte Moderna do seu interior. São documentos que evidenciam como o acontecimento que produziu seu estopim de ocasião se restringiu com uma série de polêmicas entre passadistas e futuristas, como ficaram conhecidos os modernistas primeiramente até depois passar ao esquecimento para só em efemérides como a deste ano voltar ao centro de interesse do debate cultural e literário. O livro está publicado pela Edusp. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. Modernismos 1922-2022, organizado por Gênese Andrade. Este livro talvez seja, dos lançamentos do ano do centenário da Semana de Arte Moderna, o mais importante pela pluralidade com a qual se dispõe a pensar temas e questões estabelecidos a partir daqueles dias do encontro no Teatro Municipal de São Paulo. É uma coletânea de ensaios que se preocupa desde aspectos miúdos dos seus elementos, como o trabalho gráfico das revistas modernistas, aos mais amplos, como a necessidade do desfazimento da imposição centralizadora que se forjou como herança da Semana de 22. O livro está publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. O antimodernista: Graciliano Ramos e 1922, organizado por Thiago Mio Salla e Ieda Lebensztayn. “Os modernistas brasileiros, confundindo o ambiente literário do país com a Academia, traçaram linhas divisórias rígidas (mas arbitrárias) entre o bom e o mau. E, querendo destruir tudo que ficara para trás, condenaram, por ignorância ou safadeza, muita coisa que merecia ser salva. Vendo em Coelho Neto a encarnação da literatura brasileira ― o que era um erro ― fingiram esquecer tudo quanto havia antes, e nessa condenação maciça cometeram injustiças tremendas.” A resposta é de Graciliano Ramos numa entrevista copiada neste livro que reúne ainda cartas e crônicas que questionam os protocolos do movimento modernista brasileiro, oferecendo aberturas para a ruptura com certa postura radical assumida por parte de alguns protagonistas da Semana de 22. O livro está publicado pela editora Record.  Você pode comprar o livro aqui.
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. No YouTube da Companhia das Letras, uma série de debates com parte dos vinte e nove autores que compõem o livro Modernismos 1922-2002. Cada mesa reúne quatro ou cinco aulas importantes para entender questões e desmembramento de questões em torno e a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.

2. No mesmo tema, é indispensável a edição recente do programa Roda viva, da TV Cultura. Embora a bancada tenha desperdiçado a oportunidade de conversar melhor sobre o trabalho e a obra de Ruy Castro, tudo pela querela inaugurada pelo conjunto de artigos que tem publicado na Folha de São Paulo sobre a Semana de 22, vale pelo ponto de vista da dissidência em relação ao tom celebrativo desse centenário. Também no YouTube.

3. Durante 2021, o Instituto Moreira Salles reuniu um grupo de especialistas das mais diversas áreas que se debruçaram sobre questões das mais variadas sobre e dos desdobramentos da Semana de Arte Moderna. Foram dez encontros e 41 convidados em mais de 300 horas de conteúdo. “1922: Modernismos em Debate”. O material está disponível no canal do YouTube da instituição.
 
4. José Luís Peixoto esteve em digressão no Brasil para uma série de eventos em torno da apresentação do seu romance Autobiografia, publicado por aqui pela Companhia das Letras no final de 2021. Nesta quarta-feira, 9 fev., ele participou do Sempre um papo, projeto do jornalista mineiro Afonso Borges. Você pode assistir a conversa online no YouTube
 
BAÚ DE LETRAS
 
Poderíamos chamar excepcionalmente esta seção do Boletim de “Pequeno baú modernista”. Acrescentamos aqui alguns dos textos possíveis de encontrar no nosso arquivo sobre a Semana de Arte Moderna, algumas das suas personagens e os descentramentos que começávamos a pensar muito antes dos cem anos desta jovem rebelde.
 
1. Texto de Pedro Fernandes sobre a Semana de 22 a partir da leitura do livro 1922. A semana que não terminou, de Marcos Augusto Gonçalves (Companhia das Letras). A partir deste texto você acessa outras duas posts: sobre a revista Klaxon e a Revista de Antropofagia e um breve perfil sobre Oswald de Andrade, uma das personagens do evento.  
 
2. E, por aqui, encontra um texto sobre Mário de Andrade. A partir da postagem, encontrará vários outros caminhos para saber mais sobre algumas das facetas dessa outra personagem do evento de 1922. 
 
3. Este texto sobre o livro Poesias reunidas, de Oswald de Andrade. Publicado pela Companhia das Letras em 2017, a edição reuniu além dos títulos conhecidos do poeta paulista alguns inéditos. 
 
4. A prova da necessidade de descentramento do modernismo brasileiro se dá pela variedade de circunstâncias desenvolvidas, por exemplo, no Rio Grande do Norte à época. Uma delas, a presença de Jorge Fernandes. Neste link você encontra uma resenha sobre o livro Jorge Fernandes: o viajante do tempo modernista, de Maria Lúcia de Amorim Garcia e o caminho para uma série de postagens neste blog sobre o poeta. 
 
5. Algo sobre Ronald de Carvalho, o autor que buscou intersecções entre o modernismo a partir do Rio de Janeiro e a geração de Orpheu em Portugal. 
 
6. Um breve perfil sobre Raul Bopp. A partir da post revista antes da publicação deste Boletim, o leitor encontra caminhos para uma leitura acerca do poema Cobra Norato, escrita aquando da reedição do livro de Bopp pela José Olympio em 2016. 
 
7. O modernismo em Minas Gerais. Uma pequena matéria sobre o envolvimento de Carlos Drummond de Andrade com a cena modernista a partir da sua A Revista
 
DUAS PALAVRINHAS

O fim para que os homens inventaram os livros foi para conservar a memória das coisas passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é maior tirania.
 
— António Vieira, em Sermões

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas. 
 
 

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